sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Castigado por décadas de monocultura da soja e do arroz, perda de fertilidade do solo preocupa extensionistas no RS

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Entidades de pesquisa buscam soluções para garantir sustentabilidade do solo no Estado gaúcho
O solo castigado por décadas de monocultura da soja e do arroz está pedindo socorro no Rio Grande do Sul. Preocupados com a perda de fertilidade e até a inviabilização de terras no Estado em um horizonte não tão longo, instituições que têm a responsabilidade de produzir e difundir as soluções para manter a agricultura gaúcha sustentável correm contra o tempo para levar a campo técnicas que podem ser a salvação da lavoura.
Na década de 1970, o plantio direto surgiu no Rio Grande do Sul como a única saída viável para estancar a sangria da erosão das áreas de culturas de sequeiro e, ao mesmo tempo, evitar a perda de nutrientes com a palha cobrindo o solo. Cerca de quatro décadas depois, a adoção incompleta da técnica na maior parte das áreas, agravada pela falta de rotação de cultura, tem levado a um empobrecimento da terra pelo pouco material orgânico deixado pelas plantas antecedentes, um problema que também acaba expondo mais a terra à perda de nutrientes e camadas superficiais de solo quando há chuva forte.
– A cada dia o solo fica mais degradado pela compactação – diz o pesquisador da Embrapa Trigo, de Passo Fundo (RS), José Eloir Denardin.
A compactação, também consequência disso, dificulta a infiltração da água no solo e impede que a raiz busque umidade em camadas mais profundas.
– O resultado é que com cinco dias, sem chuva a planta começa a murchar e em 10 dias se transformam em uma estiagem – observa Denardin.
O assistente técnico estadual de Solos da Emater, Edemar Streck, estima que, no Estado, não chega a 10% da área cultivada a extensão onde é empregado um manejo que segue todos os preceitos do plantio direto.
– Precisamos trabalhar na qualificação do sistema de plantio direto. Hoje, a qualidade está aquém do desejado – diz Streck, que considera preocupante o quadro hoje no Rio Grande do Sul.
Para começar a reverter o cenário, técnicos da Emater e Embrapa Trigo estão tentando aprovar um projeto que pretende espalhar cem unidades demonstrativas no Estado a partir de 2012 para aplicar toda a tecnologia e métodos conservacionistas existentes e mostrar aos extensionistas e produtores as diferenças nos resultados.
– O primeiro passo é qualificar os nossos técnicos. E depois mostrar aos agricultores que desenvolvendo um bom sistema de manejo, um plantio direto de qualidade, se consegue mais produtividade e, em longo prazo, redução de custos pela necessidade de menor uso de fertilizantes – diz Streck.
O projeto, ao custo de R$ 800 mil, está em análise pela Embrapa, e uma definição deve ocorrer até novembro.

Safras sem fertilizantes na Fazenda Falcão
Produtor de sementes na região de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, o agricultor Humberto Falcão é considerado um exemplo na conciliação entre de práticas sustentáveis e rentabilidade. Convicto de que só existe plantio direto com lavoura de inverno, cultiva trigo, aveia branca e canola. No verão, um terço da área é destinada ao milho e o restante, à soja. Apesar de a oleaginosa ter maior liquidez, um preço remunerador e ser mais resistente ao déficit hídrico, Falcão não abre mão do milho para plantar somente soja.
– Hoje, a propriedade é nossa. Quiçá, no futuro, dos filhos. Mas, daqui a algum tempo, continuará sendo do país e precisará se manter produzindo alimentos. Não poderemos suportar esse aumento populacional que virá sem conservação do solo – entende.
Com os ganhos da incorporação de nutrientes graças aos resíduos das plantas que permanecem na terra, Falcão chegou até a se dar ao luxo de, em algumas safras, não precisar adquirir e aplicar fertilizantes após realizar análise do solo, utilizando instrumentos da agricultura de precisão. Foram anos em que até colheu menos soja, mas, como não precisou comprar os insumos, em um momento de alta teve maior lucratividade.
Outra técnica resgatada por Falcão foi o terraceamento, evitando a perda de nutrientes que ocorre em casos de enxurradas. Para não ter o trânsito de máquinas agrícolas prejudicado, adotou um espaçamento superior ao tradicional.
– É preciso alinhar o processo de conservação do solo com a mecanização – afirma.
O problema
> Como nos últimos anos se acentuou a diferença de rentabilidade entre a soja e o milho, se reduziu drasticamente no Estado a rotação de cultura. A aposta se concentrou na soja, enquanto foi reduzida a área de milho, que deixa um volume maior de resíduos culturais na terra em comparação à oleaginosa

> No inverno, a maioria dos agricultores deixa crescer a aveia e o azevém guachos, ou seja, que brotam espontaneamente. Se não forem cultivados, não vão produzir um volume de massa vegetal ideal para proteger o solo e deixar na terra um nível satisfatório de nutrientes

> Outra alternativa de inverno seria o trigo, mas também há uma barreira econômica, já que a cultura vem perdendo área devido a dificuldades de comercialização

> Outra técnica abandonada foi o terraceamento, uma barreira para que água, nutrientes e o solo – sem a devida proteção – não escorram para as baixadas.

A rotação de culturas
> É o cultivo alternado e sucessivo de espécies em uma mesma área, em safras agrícolas consecutivas

O plantio direto
> Cultivo sem o revolvimento do solo, mantendo a palha da cultura anterior na superfície. Evita erosão, ajuda na absorção do impacto da gota das chuvas, no controle de plantas daninhas, na reciclagem de nutrientes e a atividade biológica do solo

Os benefícios da rotação
> Favorece o controle de pragas, doenças e plantas daninhas
> Produz maior quantidade de resíduos culturais e proporciona melhor cobertura do solo
> Recicla e disponibiliza nutrientes às culturas
> Aporta maior quantidade de nitrogênio ao sistema produtivo, principalmente quando na rotação estiverem presentes plantas leguminosas
> Promove a biodiversidade da fauna do solo
> Diversifica e aumenta a produtividade e a produção
ZERO HORA

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