sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Relação de troca entre milho e arroba do boi gordo piora em setembro

http://pecuaria.ruralbr.com.br/gado-de-corte/noticia/2011/09/relacao-de-troca-entre-milho-e-arroba-do-boi-gordo-piora-em-setembro-3508406.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+RuralBR+%28Not%C3%ADcias+-+RuralBR%29



Em São Paulo, são necessárias 5,36 arrobas de boi gordo para aquisição de uma tonelada de milho grão, 4% a mais na comparação com agosto
O preço do milho voltou a subir em setembro. Segundo levantamento da Scot Consultoria, a tonelada do grão está cotada em R$525 (preço médio) em São Paulo. Alta de 2% em relação a agosto. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o milho está 22,6% mais caro.
Para o pecuarista, a relação de troca entre a arroba do boi gordo e o grão piorou em setembro. Considerando a praça de São Paulo, são necessárias 5,36 arrobas de boi gordo para a aquisição de uma tonelada de milho grão. Isto significa 4% mais arrobas para a compra da mesma quantidade de milho na comparação com agosto. Em relação ao mesmo período do ano passado, são 15,1% a mais.
SCOT CONSULTORIA

Depois de 13 anos, Brasil tem déficit na balança de frutas


Autor(es): Por Luiz Henrique Mendes | De São Paulo
Valor Econômico - 30/09/2011
 

Maurício de Sá Ferraz, gerente do Ibraf, afirma que real valorizado não consegue remunerar o exportador de frutas
Pela primeira vez desde 1998, a balança comercial de frutas está no vermelho. Nos primeiros oito meses deste ano, o setor acumula déficit de US$ 43,8 milhões, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf).
Entre janeiro e agosto de 2011, as importações de frutas frescas do exterior atingiram US$ 300,8 milhões, incremento de 34,6% sobre o mesmo intervalo do ano passado. As exportações, por sua vez, somaram US$ 257 milhões até agosto, queda de 3,3% sobre os oito primeiros meses de 2010.
Em volume, as vendas externas já recuaram 21,8% na mesma base de comparação, passando das 419 mil toneladas em 2010 para 328 mil toneladas este ano.
O total de frutas importado alcançou 292,8 mil toneladas até agosto de 2011, 26,8% mais que as 223,5 mil toneladas contabilizadas em igual período do ano anterior, com destaque para compras de maçã, que cresceram 47,7% e atingiram 50,8 mil toneladas.
Surpreso diante do saldo negativo, o gerente da central de serviços de exportação do Ibraf, Maurício de Sá Ferraz, diz confiar na reversão do quadro até o fim do ano. "Com a chegada do inverno no Hemisfério Norte, a produção de frutas importadas cai bastante", explica o gerente do Ibraf. As vendas nacionais ao exterior, acrescenta ele, costumam aumentar nos últimos três meses do ano, com as exportações de uva, mamão e melão.

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Ainda que termine 2011 com saldo positivo, afirma Ferraz, o resultado final será mais fraco em relação ao ano passado, cujo superávit foi de US$ 242 milhões, reforçando a tendência de piora da balança comercial de frutas nos últimos anos.
O saldo comercial do segmento vem caindo desde 2009, quando caiu 43,2% em relação ao pico histórico de 2008, que registrou superávit recorde de US$ 451 milhões. O período coincide com o início da crise financeira internacional, que derrubou as encomendas de frutas do mundo desenvolvido, em especial nos "países europeus, que são nossos principais compradores", diz Ferraz.
A crise, no entanto, não é a única explicação para a debilidade da balança comercial de frutas, segundo o gerente do Ibraf. O executivo atribui parcela significativa das perdas do setor à combinação entre a valorização da moeda brasileira e o aquecimento do mercado interno.
"O real valorizado não consegue remunerar o exportador" que, com a alta do consumo no país, prefere vender parte de sua produção no mercado interno, onde os preços estão mais vantajosos, segundo Ferraz. "A demanda aquecida também estimula as importações", acrescenta.
Na avaliação do executivo, a recente desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar - o real acumula queda de 13,61% em setembro -, não vai compensar as perdas neste ano, já que os fruticultores trabalham com contratos antecipados. "Se o câmbio ficar neste nível, cotado a R$ 1,80, podemos melhorar nossas exportações em 2012", conclui.

Pernambuco atrai mais 15 empresas


Autor(es): Ivo Ribeiro | De São Paulo
Valor Econômico - 30/09/2011
 

Atraído por um mercado em expansão, o do Nordeste, e por incentivos fiscais e tributários, além de facilidades logísticas, um grupo de 15 empresas firmam hoje em Recife, com o governo pernambucano, cartas de intenção de investimentos no Estado. Ao todo, o pacote de propostas de empresas de vários setores soma quase R$ 800 milhões e prevê gerar 3,3 mil empregos diretos.
As propostas de investimentos vão abranger vários municípios: desde Ipojuca, que abriga o complexo industrial portuário de Suape, aos de Timbaúba, conhecido como terra dos calçados, e de Goiana, na Zona da Mata Norte, que já conta com um polo farmacoquímico. Goiana, no norte, ganhou expressão com a ida da nova fábrica da Fiat para lá.
Em Suape estão com planos de se instalar as operadoras de logística Tegma, JSL (grupos Júlio Simões) e Shipserv no vizinho município de Cabo. Ipojuca vai abrigar a ABB Turbochargers Compressores, especializada na manutenção de motores para navios.
Juntas, essas quatro indústrias deverão investir R$ 104 milhões, sendo R$ 50 milhões apenas da JSL. A empresa de logística confirmou ontem que firmaria a carta de intenção de investimento.
Do pacote, informou o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Geraldo Júlio, o maior aporte de recursos será da WHB Fundição, fabricante de autopeças do Paraná. Com investimento de R$ 300 milhões, a empresa planeja instalar uma fábrica em Glória do Goitá, gerando cerca de 1 mil empregos. Procurada, a fabricante confirmou a assinatura do memorando hoje.
Para Jaboatão, na região metropolitana do Recife, tem plano de ir a Bettanin, especializada em utensílios domésticos e produtos para limpeza. O investimento é de R$ 80 milhões. A gaúcha Dell Anno, de móveis modulados, escolheu a cidade de Moreno, onde prevê aplicar R$ 61 milhões.
O secretário disse que os incentivos fiscais que Pernambuco oferece a quem quer investir no Estado são nos mesmos padrões de outros estados do Nordeste, por meio de leis estaduais: redução do ICMS, do IPTU - por alguns anos - e, em alguns casos, cobrança da taxa mínima de ISS, que é de 2%. "Além disso, temos boa posição geográfica, infraestrutura rodoviária e portuária e pessoal capacitado". Ele menciona ainda os federais especiais no Imposto de Renda e taxas de financiamentos diferenciadas.
Em Goiana, cinco empresas têm planos de se instalar no polo farmacoquímico: Hair Fly, Imbesa-Rishon (cosméticos), Ionquímica, Multisaúde Farmacêutica e AC Diagnósticos. Ao todo, com investimentos de R$ 62 milhões.
Timbaúba deverá abrigar a Alka Negócios, numa fábrica de solados e artefatos de borracha. Já para, Bonito, no agreste meridional, planeja ir a SAN Indústria de Águas e Bebidas, com uma fábrica de refrigerantes e bebidas e energéticos. A Sonobom de colchões, escolheu Ribeiro, na Zona da Mata Sul.
"Essa diversificação de localidades é saudável para Pernambuco", ressaltou o secretário. A região do porto de Suape é a grande concentradora hoje, com um estaleiro e dois em implantação, a refinaria Abreu e Lima, uma futura siderúrgica, a fábrica de aerogeradores da Impsa. "Já temos 89 empresas em operação e 45 em implantação no polo de Suape".
Para atender esse complexo industrial, como empresas da cadeia de navipeças que supririam os estaleiros com componentes diversos para a montagem de navios e embarcacões, o governo pernambucano busca atrair fabricantes e prestadoras de serviços de pequeno e médio porte.
Com uma economia que cresce acima da média brasileira, segundo o secretário - 5,2% em 2009, 9,3% no ano passado e 5,7% no primeiro semestre -, ele diz dispor de um variado cardápio de oportunidades de negócios. É o que buscará mostrar aos participantes do "Pernambuco Petroleum Business", encontro internacional que vai promover com o IBP - Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis de 18 a 20 de outubro no balneário turístico de Porto de Galinhas (PE), que fica próximo de Suape.
Os investimentos na região são elevados. Só da Petrobras, com a refinaria Abreu e Lima (US$ 13,4 bilhões) e o complexo petroquímico de Suape chegam a US$ 20 bilhões. Júlio destaca que o polo naval local já concentra 50% das encomendas de navios e plataformas contratadas no Brasil, devendo receber boa parte dos US$ 224 bilhões de encomendas da Petrobras nos próximos cinco anos.

Gestores fundem carteiras para esconder fraco retorno


Autor(es): Por Alice Ross | Financial Times.
Valor Econômico - 30/09/2011
 

Consultores financeiros estão acusando gestores de recursos de continuarem fundindo seus fundos com fraco desempenho com outros melhores, com a finalidade de ocultar o verdadeiro histórico dessas carteiras. Essas reclamações ocorrem no momento em que uma nova pesquisa revela que as fusões de fundos estão novamente em alta - com a previsão de que 50 carteiras deverão desaparecer das tabelas de desempenho somente neste ano.
Dados da Lipper mostram que 39 fundos de investimento foram fundidos a outros gerenciados pela mesma instituição no ano passado, enquanto 81 foram completamente fechados. Em 2009, quando muitos fundos encolheram a tamanhos impossíveis de serem mantidos, após a crise financeira, houve 56 fusões de portfólios e 127 foram fechamentos.
Com o aumento da volatilidade do mercado, as fusões passaram a ocorrer com mais frequência. A Lipper calcula que, até o fim de julho, elas somaram 29 e o número deverá subir para 50 até o fim do ano. A instituição projeta que outros 72 serão fechados até lá.
As empresas que gerenciam fundos de investimento tendem a fechar ou fundir portfólios com concorrentes de melhor desempenho após um período de atuação fraca - ou quando eles ficam tão pequenos que seus custos fixos levam suas despesas a níveis não competitivos.
"Com muita frequência, isso é uma desculpa para se conseguir ocultar um desempenho fraco, ou porque um fundo ficou pequeno demais", afirma Justin Urquhart Stewart, da 7 Investment Managers. "Quando uma carteira é fundido silenciosamente a outra, ou tem seu nome mudado, as pessoas do fundo original podem se ver em algo completamente diferente. Isso se tornou uma norma no setor e eu acho que não está certo."
Várias gestoras conhecidas fundiram carteiras recentemente. Nos 12 meses até o fim de abril, o Schroder Pacific proporcionou um retorno de 8,3% para os investidores, antes de ser absorvido pelo Schroder Asian Alpha Plus, que teve ganho de 17,2%.
O Henderson Multi-Manager Tactical Fund perdeu 1,6% antes de ser combinado com o Henderson Multi-Manager Active Fund, que teve rentabilidade de 6,8% no mesmo período de tempo.
E antes de ser fundido ao F&C UK Alpha, que proporcionou um retorno de 22,6% para os investidores, o F&C UK Opportunities Fund teve alta de apenas 14,3%.
Entretanto, Ed Moisson, diretor de análise de fundos da Lipper, afirma que fundir um portfólio nem sempre é uma coisa ruim para os cotistas. "Um grande número de investidores fecha os olhos e não liga para os comunicados de seus fundos, de modo que eles podem estar tendo um desempenho inferior sem saber disso. Se o setor lidasse com isso de uma maneira preventiva, isso poderia ser uma coisa boa", afirma ele.
Mesmo assim, Moisson admite que as fusões também podem ser um sinal de que os gestores de fundos foram rápidos demais ao seguir uma tendência e lançar fundos para aproveitar o sentimento do público - sem considerar se tinham ou não algum conhecimento específico na área.
"A bolha tecnológica é o melhor exemplo: houve um grande repique nos fundos de tecnologia que aconteceu tarde demais e muitos deles nem deveriam ter sido lançados", afirma Moisson.
O fechamento de fundos com desempenho fraco também cria um "viés de sobrevivência", em que o desempenho de longo prazo de fundos com gestão ativa parece mais promissor, uma vez que as carteiras com fraco desempenho foram ocultadas.
Cartas enviadas por gestores de fundos a investidores e consultores informando-os sobre fusões ou fechamentos também vêm provocando confusão.
Na semana passada, a Franklin Templeton enviou uma carta aos investidores informando-os sobre os planos de fusão do Rensburg UK Select Growth Trust, um fundo mútuo, em um novo "subfundo" da Franklin Templeton. A carta informou que as despesas continuariam as mesmas, no valor de 1,5% ao mês.
Mas um investidor descobriu que o novo fundo terá uma "despesa de administração" de 0,05% ao ano. "Os cotistas do fundo mútuo estão sendo solicitados a votar uma mudança que levará a um aumento das despesas", diz Moisson. "Isso, por si só, já é ruim, mas piora pelo fato de que isso envolve um fundo que vem tendo um desempenho bem mediano", diz o executivo.
A BNY Mellon escreveu a consultores financeiros na semana passada para informá-los dos planos de fusão dos fundos Newton Growth Fund e Newton Income Fund em uma nova carteira chamada de Newton UK Equity Fund.
Contribuindo para a confusão sobre os nomes dos fundos, um porta-voz disse que o Newton Income Fund era, na verdade, um "fundo de growth" - aquele que aposta em ações com bom potencial de valorização - do setor UK All Companies.
David Barnett, analista financeiro independente de Middlesex, diz que a carta que ele recebeu da BNY Mellon sobre a fusão dos fundos não estava clara. "Nunca recebi uma carta desse tipo tão confusa", diz ele. "Ela faz você imaginar o que eles estão fazendo com os portfólios - por quê eles estão fazendo essa confusão com os fundos?"
A BNY Mellon disse que mais informações serão enviadas para os investidores oportunamente, uma vez que as fusões são apenas uma proposta no estágio em que estão. Mas Urquhart Stewart, da 7 Investment Managers, acredita que parte do problema poderia ser resolvido se os investidores prestassem mais atenção ao desempenho de suas carteiras, antes que um gestor pense em fechá-las.
"Acho que os investidores deveriam observar o que seus portfólios estão fazendo, e se não estiverem fazendo o que deveriam estar, eles devem se mudar para outro lugar", aconselha.

O mundo pode exportar deflação em 2012


Autor(es): Claudia Safatle
Valor Econômico - 30/09/2011

"Os bancos centrais do Brasil e de Israel estão certíssimos. Os mercados ainda estão flertando com o impossível." Foi com essa visão que o gestor de um fundo de hedge de US$ 45 bilhões, sediado em Nova York e forte presença na Ásia e no Brasil, deixou Washington no fim de semana, depois de conversar com vários presidentes de bancos centrais, durante a reunião anual do FMI/Banco Mundial. Ontem, mesmo depois que o Parlamento alemão aprovou o pacote de ajuda à Grécia divulgado em julho, seu pessimismo se manteve. "Esta crise será pior do que a de 2008/2009. A ruptura do sistema financeiro europeu está sendo subestimada pelos mercados, que ainda sonham com uma solução totalmente improvável."
O cenário, para ele, é de uma "japonização" da Europa e dos Estados Unidos - economias que podem viver uma "década perdida", com crescimento baixíssimo tal como ocorre há anos com o Japão.
Para 2012, a expectativa que poucos se arriscam a verbalizar, mas que está no radar dos banco centrais, não é só de desinflação, mas de deflação nas economias avançadas. O que se agrava diante da realidade de que esses países não dispõem mais de instrumentos monetários e fiscais para buscar a retomada do crescimento.
A crise na visão de um grande hedge fund
Frente a esse quadro, tanto o presidente do BC do Brasil, Alexandre Tombini, quanto o de Israel, Stanley Fischer, saíram na frente e cortaram a taxa de juros. A decisão de ambos foi acertada, segundo esse gestor, porque inflação, agora, é o menor dos problemas. As economias desenvolvidas vão exportar deflação. "Não haverá inflação se não houver consumo nem produção", radicalizou.
Com grandes aplicações na China, essa fonte, que preferiu o anonimato, vê uma redução nas exportações chinesas para a Europa e Estados Unidos. "Já há um zum-zum-zum lá, pois o desaquecimento das exportações das companhias chinesas vai reduzir os fluxos de recursos para as províncias. São esses recursos que sustentam a expansão do mercado imobiliário e de consumo no país. E tem problema também nos bancos pequenos de lá", disse. A China tem munição para contornar os efeitos da crise externa sobre sua economia, mas não para sustentar o crescimento do mundo. "Ela é o último pilar que sustenta as "Pollyannas" do mercado", comentou essa fonte.
O temor aumenta na medida que os mercados percebem que as lideranças políticas americanas e europeias estão "mais preocupadas com suas carreiras políticas" do que com os países que governam e não percebem que "essa morte em câmara lenta está matando os espíritos animais como um todo". A Europa deverá ter uma contração do PIB no último trimestre deste ano e o mesmo deverá ocorrer com a economia americana no primeiro trimestre de 2012.
Para o mercado internacional, o pacote de ajuda à Zona do Euro, aprovado ontem pelo Parlamento alemão - que prevê o aporte de € 440 bilhões no fundo europeu de estabilização financeira -, foi uma boa medida, mas insuficiente. A saída mais visível para a Grécia seria a reestruturação da dívida (equivalente a 165,6% do PIB) com um generoso desconto, algo como 50%, avaliou. Nesse caso, Portugal e Espanha não passariam incólumes. O dominó derrubaria a Itália, terceiro maior mercado de bônus do mundo e poderia levar a uma crise bancária sem precedentes envolvendo, também, o sistema financeiro francês.
O problema é que quanto mais tempo durar essa agonia, mais cara será a saída. Em conversa recente com um interlocutor, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comentou que há seis meses com US$ 400 bilhões se enfrentava o problema na Grécia. Hoje, pela contaminação de outros países, não se sabe se US$ 2 trilhões seriam suficientes para socorrer boa parte da Europa.
Os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), chamados a participar de um pacote de ajuda à Zona do Euro, na visão desse gestor, não deveriam cogitar de tal alternativa sob o risco de ficarem "reféns" de novos aportes no futuro.
A aversão a risco está secando a liquidez em mercados importantes e, com a chegada do fim do ano, a tendência dos grandes fundos será a de proteger o desempenho obtido até agora. Quem estiver aplicado em commodities muito provavelmente vai querer sair, o que resultaria em queda mais acentuada nas suas cotações. A expectativa dos mercados, segundo ele, é de que o Banco Central Europeu corte a taxa de juros em 0,5 ponto percentual na próxima semana.
Essa leitura nua e crua da cena externa explicaria melhor as razões do Banco Central brasileiro para iniciar a redução dos juros em 31 de agosto.
Uma leitura convencional do Relatório de Inflação, divulgado ontem pelo BC, traz bons argumentos para interromper o aumento da Selic, mas não propriamente para reduzi-la.
É no "cenário alternativo" com o qual o Comitê de Política Monetária (Copom) trabalha, cujos pressupostos são desconhecidos, que estão as expectativas do BC para o mundo em crise. E essas são, certamente, bem piores que as do mercado.

Pronaf para de financiar máquina importada


Autor(es): Por Tarso Veloso | De Brasília
Valor Econômico - 30/09/2011
 

O Ministério da Fazenda adotou ontem mais uma medida protecionista para conter a importação de produtos. O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu que todas as linhas de crédito de investimentos do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) só poderão ser usadas para importação de máquinas e equipamentos agrícolas que tiverem um mínimo de 60% de conteúdo nacional, como definido pelo BNDES e o Finame Agrícola.
O secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt, explicou que o governo avalia ampliar essa medida a todos os financiamentos com juros subsidiados pelo Tesouro Nacional. "Essa medida visa, unicamente, fortalecer a produção nacional", disse Bittencourt. O precedente para a decisão foi aberto há duas semanas. Na ocasião, o governo elevou em 30 pontos percentuais a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos com menos de 65% de conteúdo nacional.
Com a mudança nos financiamentos para aquisições de máquinas e equipamentos novos com recursos de qualquer linha de crédito do Pronaf, o governo limita as compras a produtos nacionais. "Somente serão aceitos os financiamentos de máquinas produzidas aqui", disse Gilson Bittencourt. "As compras de máquinas importadas representavam uma pequena margem em relação aos financiamentos do Pronaf, mas vinham aumentando nos últimos meses", disse o secretário-adjunto. A linha Pronaf Investimento, cujo orçamento para esta safra soma R$ 1,1 bilhão, emprestou R$ 82 milhões desde julho deste ano em mais de 1.444 operações.
Apesar do faturamento deflacionado do setor de máquinas brasileiro ter atingido R$ 45,8 bilhões no período de janeiro a julho de 2011 o resultado continua 2,6% abaixo do desempenho alcançado nos sete primeiros meses de 2008, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq)
Além dessa medida, o CMN autorizou o financiamento de máquinas e equipamentos usados de até R$ 30 mil e que tenham, no máximo, sete anos de uso, além de certificado de garantia ou laudo atestando o seu "bom estado".
O CMN também definiu novas regras para o reembolso do crédito de operações de estocagem do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé). A partir de agora, o prazo para pagamento do financiamento passa a contar a partir da liberação do crédito e não mais da data de contratação da operação. A mudança, segundo Bittencourt, ajudará os produtores, que demoravam a receber o dinheiro após a assinatura do contrato.
Para auxiliar os produtores de café, o CMN concedeu um novo prazo até 20 de dezembro para a contração das operações da linha extraordinária de crédito destinada a composição de dívidas. A linha ficou disponível no início deste ano, com R$ 300 milhões em créditos. Mas, até o mês de agosto, só foram liberados R$ 72 milhões.
Para tornar a operação de crédito mais vantajosa para os bancos, o conselho decidiu elevar o spread dos novos financiamentos de 2% ao ano para 3,5% ao ano, o que deve estimular o aumento das operações de crédito, disse Bittencourt.

Brasileiro vai comandar órgão do café


Valor Econômico - 30/09/2011
 

Três meses depois de eleger o agrônomo José Graziano para a presidência da FAO, órgão das Nações Unidas para alimentação, o Brasil conseguiu nomear outro brasileiro para a direção de uma organização internacional: o diretor do Departamento de Café do Ministério da Agricultura, Robério Silva, foi eleito ontem presidente da Organização Internacional do Café (OIC). Economista pela Universidade Federal de Minas Gerais, Robério Silva é um negociador respeitado internacionalmente e tem entre suas prioridades enfrentar os riscos de queda no preço da commodity e incentivar a expansão do consumo do produto.
A eleição de Robério é considerada estratégica pelo Itamaraty. Atuante na área desde o fim dos anos 80, quando foi secretário-geral da Federação dos Produtores de Café, fez parte da comissão do Banco Mundial para apontar soluções para a volatilidade dos preços das commodities. Desde os anos 80 ocupou cargos em diferentes ministérios e na Presidência da República. Na segunda metade dos anos 90, e até 2002, foi secretário-geral, em Londres, da Associação Internacional dos produtores de café.
A campanha para a OIC foi mantida de maneira discreta enquanto o governo dava prioridade a obter a presidência da FAO. Em junho, com o sucesso da campanha vitoriosa de Graziano, o governo passou a dar ênfase à busca de votos para Robério Silva, que teve a candidatura lançada pelo então ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Ele concorria com um candidato mexicano e um indiano.
O Brasil obteve o apoio dos dois maiores produtores de café, o Vietnã e a Colômbia e produtores menores, como Cuba. Passou a buscar apoio dos grandes consumidores na União Europeia, que também fazem parte da organização. Ontem, com a retirada da candidatura mexicana, Robério Silva foi eleito por aclamação. Com estoques baixos e consumo em alta (com um mercado gigantesco, a China, ainda pouco explorado) o café foi uma das poucas commodities a não sentir o impacto do agravamento da crise mundial.
A OIC vinha sendo dirigida interinamente pelo brasileiro José Sette, em substituição ao colombiano Néstor Osório que saiu para um cargo nas Nações Unidas.

Câmbio afeta fluxo de comércio


Para OMC, oscilação cambial afeta comércio
Autor(es): Por Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico - 30/09/2011
 

Em atitude inédita, a Organização Mundial do Comércio (OMC) reconheceu em um documento que as oscilações de curto prazo nas taxas de câmbio afetam os fluxos do comércio internacional, dependendo do país ou empresa. A constatação, mesmo com nuances, confere legitimidade à preocupação do Brasil com os desalinhamentos cambiais, que fizeram o país levar o tema à entidade.
Em uma fase posterior, o Brasil poderá tomar a iniciativa de propor que se examine o que fazer concretamente. A expectativa brasileira é tentar convencer gradualmente os outros membros da OMC a negociar regras para um país aumentar tarifas de importação a fim de compensar o câmbio desvalorizado dos parceiros.
Em documento sem precedentes, a Organização Mundial do Comércio (OMC) reconhece que as oscilações nas taxas de câmbio no curto prazo afetam os fluxos do comércio internacional, dependendo do país ou empresa. A constatação, mesmo com nuances, dá, na prática, legitimidade à preocupação do Brasil com desalinhamentos cambiais que levaram o país a trazer o tema para a entidade.
O secretariado da OMC examinou mais de 40 estudos internacionais. No levantamento, 19 deles apontam efeito negativo do câmbio sobre o comércio, 14 veem pouco ou nenhum impacto e 6 acham que o impacto é positivo para os fluxos internacionais.
O documento de 32 páginas quebra um tabu, já que, até recentemente, o câmbio era totalmente ignorado na OMC. Ele será discutido pelos países em reunião no dia 24 de outubro, em meio aos temores de recessão global e tensão sobre manipulação cambial.
Na semana que vem, o Senado dos Estados Unidos deverá votar uma lei visando punir a China por manipular sua moeda e subsidiar suas exportações.
Prudentemente, o documento da OMC, que circula entre os países, conclui que os resultados sobre câmbio nos fluxos comerciais são "ambíguos" e condicionados a uma variedade de razões. A entidade é cuidadosa, mas deixa evidente que há uma relação entre desalinhamento cambial e comércio. O que varia é como se desenvolve, dependendo do país, do setor e da empresa. Mas a relação é inevitável.
Uma parte do estudo aborda o impacto sobre o comércio internacional como um todo. Nesse caso, se houver flutuação cambial, não é tão prejudicial, porque os efeitos se anulariam no longo prazo.
A maioria dos estudos, porém, mostra também que, no caso do comércio bilateral, a mudança de câmbio entre dois países tem impacto mais evidente. Além disso, no longo prazo é mais difícil estabelecer o impacto entre câmbio e comércio, mas no curto prazo ele é melhor percebido.
Para a OMC, a média dos efeitos comerciais provocados pelo câmbio não é suficiente para ser generalizada. Nota que, enquanto empresas exportadoras podem, em princípio, ser mais sensíveis que companhias domésticas a flutuações do câmbio, sua sensibilidade pode ser reduzida por fatores como instrumentos de hedge, insumos importados (que compensariam o efeito do câmbio sobre o preço de exportação), a presença de firmas nos mercados globais, a possibilidade de cobrar em moedas locais e a capacidade de absorver perdas provocadas pelo câmbio nas margens de lucros.
A OMC reconhece, porém, que no curto prazo, quando alguns preços na economia podem ser estáveis, movimentos nas taxas nominais de câmbio podem alterar os preços relativos e afetar os fluxos comerciais internacionais. O documento ressalva que esses efeitos de curto prazo não são tão diretos, já que dependem, por exemplo, da moeda na qual os produtores fazem a cobrança das mercadorias e a estrutura do comércio.
"A complexidade da relação entre desalinhamentos de taxa de câmbio e comércio é mista", diz o documento. "Uma moeda desvalorizada pode ter, algumas vezes, impacto positivo nas exportações, mas a presença, peso e persistência desses efeitos não são consistentes entre diferentes estudos."
A iniciativa brasileira de levar o tema cambial para a OMC, na fase inicial apenas para discussões, deverá passar, numa fase posterior, ao exame do que fazer concretamente. A expectativa brasileira é tentar convencer gradualmente os outros países, a partir de estudos sérios, como os examinados agora pela OMC, a negociar regras para, por exemplo, um país aumentar a tarifa de importação a fim de compensar o câmbio desvalorizado dos parceiros.

COMMODITIES TÊM MAIOR RECUO DESDE A CRISE DE 2008


COMMODITIES TÊM PIOR MÊS DESDE 2008
Autor(es): Por Gerson Freitas Jr. | De São Paulo
Valor Econômico - 30/09/2011
 

As cotações das commodities tiveram em setembro o pior desempenho desde outubro de 2008, ápice da crise financeira detonada pela quebra do banco Lehman Brothers. A nova crise que se desenha agora na zona do euro, que pode se transformar em nova crise bancária, a instabilidade dos mercados e a ameaça de recessão na Europa e EUA estão forçando uma correção de rumos que pode pôr fim a um ciclo exuberante de demanda aquecida e preços estratosféricos. Tudo dependerá em grande parte da China, a grande consumidora, e uma ampla pesquisa feita entre investidores pela Bloomberg apontou que a economia chinesa vai desacelerar nos próximos anos e avançar a um ritmo de 5%.
Segundo o Valor Data, os contratos futuros de segunda posição nas bolsas de Nova York e Chicago - geralmente os de maior liquidez - tiveram desvalorização em sete de dez commodities agrícolas monitoradas, se considerar-se a a cotação média do mês contra a média do mês anterior. Quando considerada a variação acumulada no mês, as perdas foram generalizadas, sendo que a maioria dos mercados agrícolas amargou recuos de dois dígitos. O grupo de commodities agrícolas do índice Dow Jones-UBS, que compõe uma cesta de produtos alimentícios negociados nas bolsas internacionais, apontou queda de 15,2% - a maior desde outubro de 2008.
As commodities agrícolas tiveram em setembro, até o fechamento de ontem, o pior desempenho desde o ápice de crise financeira detonada pela quebra do banco Lehman Brothers, em 2008. Segundo o Valor Data, os contratos futuros de segunda posição - geralmente, os de maior liquidez - recuaram em sete dos dez mercados monitorados, considerando-se os preços médios praticados.
Na bolsa de Chicago, o trigo registrou a maior queda média mensal (-4,23%), seguido por milho (-2,54%), farelo (-2,10%) e soja (-0,94%). No mercado nova-iorquino, a maior queda foi a do cacau (-5,60%), acompanhada por açúcar (-4,23%) e suco de laranja (3,84%). Na contramão, tiveram ganhos os contratos de algodão (2,96%), café (0,99%) e óleo de soja (0,08%).
Mas as médias mensais não captaram o tamanho do estrago provocado pelo recrudescimento da crise nos países desenvolvidos. Quando considerada a variação acumulada no mês, as perdas foram generalizadas, sendo que a maioria dos mercados agrícolas amargou perdas de dois dígitos.
Mesmo com a recuperação de ontem, uma reação dos investidores à divulgação de notícias positivas na Europa e nos Estados Unidos, os contratos de milho acumulavam queda de 15,86%, os de soja, 14,84% e os de trigo, 13,36%. Em Nova York, o café registrava queda de 18,68%, acompanhada por açúcar e suco de laranja, que recuavam respectivamente 10,42% e 5,6% em setembro. O melhor desempenho foi o do algodão, que recuou apenas 3,39% desde o fechamento do dia 31 de agosto.
O grupo de commodities agrícolas do índice Dow Jones-UBS, que monitora uma cesta de produtos alimentícios negociados nas bolsas internacionais, registrou queda de 15,2% - a maior desde outubro de 2008. Os produtos agrícolas caíram mais que a média das commodities. Em setembro, o índice CRB, que acompanha também matérias-primas metálicas e energéticas, caiu 10,69% - também neste caso, o maior recuo desde outubro de 2008.
As commodities, como um todo, sofreram com a piora dos indicadores econômicos globais. Os sinais de recessão nas economias maduras e os temores de um calote soberano por parte da Grécia fizeram crescer a aversão dos investidores a ativos de risco. De acordo com o analista do Jefferies Bache, em Nova York, Vinícius Ito, fundos liquidaram quase 100 mil contratos futuros de soja, 50 mil de milho e 17 mil de trigo ao longo do mês.
Segundo Ito, fatores sazonais também influenciaram a aposta contra os mercados agrícolas. "A colheita da safra de grãos nos Estados Unidos exerce uma pressão natural nesta época do ano. Além disso, o mercado havia exagerado na precificação dos problemas climáticos americanos e da demanda chinesa", avalia.
A desvalorização do real frente o dólar também influenciou diretamente as commodities agrícolas. "O "crash" da moeda brasileira mudou dramaticamente a estrutura de preços necessária para uma equação adequada de oferta e demanda para a maioria das commodities agrícolas nos Estados Unidos", afirma Shawn Hacket, presidente da Hackett Financial Advisors em um relatório enviado por e-mail. Ele lembra que o real é uma das moedas mais correlacionadas aos preços agrícolas internacionais. "Ainda há espaço para mais correções até que o novo regime de preços encontre um equilíbrio", alerta.
Contudo, analistas ainda rejeitam uma comparação com o cenário observado em 2008, após a quebra do Lehman Brothers. "Tudo ainda é muito incerto, mas a situação, embora muito grave, é melhor do que a de 2008. Havia então a expectativa real de um colapso do sistema financeiro, o que parece não haver agora", afirma Ito.
Rodrigo Costa, analista de mercado da Caturra Coffee Corporation, em Nova York, observa que o nível de alavancagem é muito menor do que nos meses que precederam a crise americana, razão pela qual não vê muito espaço para um grande volume de liquidações nos próximos meses. "Tudo vai depender do quão grave vai ser a recessão, de que forma vai atingir os Estados Unidos e se vamos ter a quebra de bancos nos países desenvolvidos. Mas é claro que, se tivermos novos surtos de aversão a risco, as commodities serão afetadas, principalmente pela via do câmbio".
Ito acredita que os preços podem experimentar uma retomada no início de outubro, encerrado o período de ajuste nos portólios dos fundos de investimento. "No mercado da soja, os compradores veem a queda dos preços como uma oportunidade. Os fundamentos são positivos. Os estoques estão em níveis historicamente baixos, e há uma procura muito grande por parte da China e da União Europeia por soja e derivados", conta.
Com a queda deste mês, praticamente todas as mercadorias estão no vermelho em 2011. A exceção fica por conta do milho, que até ontem acumulava valorização de 1,18%. Nos 12 meses, porém, a maioria ainda contabiliza ganhos - destaque para o milho, com valorização de 26,71%, e o café, com 28,31%.

Valdelice Veron: 'Meu partido político é o meu povo Kaiowá-Guarani’

Comisão Pastoral da Terra. Assessoria de Comunicação. Secretaria Nacional.
CPT Nacional
29.09.11 - Brasil
Adital
Depoimento de VALDELICE VERON, no Seminário Pró Tribunal Popular da Terra em MS
Campo Grande, 29 de setembro de 2011
comunicação cpt/ms

Na plateia, o assombro das pessoas e o que está por chegar aos ouvidos foge dos limites da imaginação. Silencio espectral. A quietude contida na respiração. O seminário pró Tribunal popular da Terra no Mato Grosso do Sul atinge um dos seus momentos mais significativos. O auditório "A” da UCDB de Campo Grande, no dia 24 de setembro, foi o cenário de denúncias e proclamações. Uma mulher indígena, professora e filha de uma das tantas lideranças assassinadas no Estado, faz um comovente depoimento. A missão dela não é fácil. Relatar como atuaram os órgãos do governo e os pistoleiros juntos em 13 de janeiro de 2003 na ação que terminou com a morte de seu pai Marcos Verón, até então cacique kaiowa-Guarani da terra indígena Taquara, município de Juti/MS. Naquela data, mais uma vez, pistoleiros atropelam a comunidade em busca de despejo, de violência. Valdelice Verón vai além. Contextualiza a luta de seu povo, de sua comunidade, de sua família nuclear extensa. Descreve com realismo e emociona-se com a forma cruel que mataram seu pai. E ainda esboça momentos atuais do sofrimento do povo Kaiowá-Guarani e de outros povos indígenas no MS por conta da violência, da discriminação e negação de direitos.
"Quando minha mãe ia nascer”
Valdelice sentença que quando sua mãe ainda estava na barriga de sua avó, seus ascendentes já se escondiam, fugiam e se espalhavam pelos matos para evitar ser caçado pelos jagunços e funcionários do SPI (Serviço de Proteção ao Índio), órgão federal. Eram tempos de criação das oito reservas indígenas de Dourados. "Não perguntaram ao povo guarani se queria deixar suas terras tradicionais”.
Conta que vindo para Campo Grande como convidada a participar do Seminário, não longe da capital do estado, sobre a BR 163 avista um gigantesco confinamento de gados, que têm como destino o abate. E fala para o auditório: "assim que nos estamos jogados hoje nas reservas; como gados para sermos abatidos de várias formas todos os dias”. Lá por 1931 jagunços e o SPI não descansavam. A correria era grande. Ao mesmo tempo em que a mãe da Valdelice ia nascer uma tia dela estava grávida também. Saem da região da aldeia Teikue e entram em Lucero, região de Caarapó/MS. Despejos e perseguição contra esse povo indígena não tem trégua. O confinamento nas reservas era a ordem do momento. A Valdelice não tinha nascido ainda; sua mãe consegue se salvar. Sua tia morreu queimada viva!
"Fiz tereré para Lula”
O Grande povo Guarani foi reduzido nas oito reservas e a época do confinamento ganhou a sangue e fogo à época da liberdade. "Eu tinha seis anos quando Lula foi visitar meu pai na reserva e fiz o tereré para eles”. A história foi contada para quem iria ser o presidente da república. Foi falado da crueldade do confinamento, do trabalho escravo, da discriminação dos "brancos”, da dependência da cesta básica. Tudo segue igual; o estado brasileiro não reverteu o genocídio causado nas terras indígenas. Os territórios Kaiowá-Guarani ao invés de serem retornados para seus legítimos donos seguem sendo moeda de troca do latifúndio, do agronegócio, do crime organizado, dos políticos corruptos e juízes venais.
Uma e outra vez; em 1953, 1960, 1997, 2001, 2003, a comunidade indígena de Taquara da qual Valdelice faz parte partiu para a retomada, tentando recuperar uma parte das terras de onde foram expulsos. Lembra a fala do pai dita em 1997, mas que foi repetida muitas vezes: "Vamos voltar a nossa terra tradicional”. E muitas vezes também foram espancados, despejados e jogados nas beiras das estradas. Em 2001 uma montagem foi orquestrada contra a comunidade para justificar um novo despejo. Acusaram aos indígenas de ter invadido e roubado alimentos de uma fazenda. Embora não tinham pegado um só grão a resposta dos pistoleiros, policias e advogados ao serviço dos fazendeiros foi brutal. Algemaram e cuspiram o Marcos Verón. Falaram para ele na hora do despejo: "você e seus cachorros nunca mais voltem aqui”.
"Todo o mundo em marcha de novo”
O depoimento da liderança Kaiowá-Guarani chega ao que seria a marcha final do cacique Marcos Verón, seu pai. Valdelice conduz aos presentes no auditório para um clímax surreal. O relato dela se ergue como nas centenas via sacra do pai a quem acompanhou desde criança. "Meu pai não queria que o acompanhasse, tinha medo de picada de cobras, mas eu igual o acompanhava”. Viu injustiças demais desde cedo que com justa razão não acredita em reparação alguma. "Não consigo acreditar na justiça; sempre experimentei a sensação de que somos como uma doença em nosso próprio território” desabafa mais uma vez durante seu depoimento.
"Vamos sair da beira da estrada; somos estrangeiros em nossa própria terra. Todo mundo em marcha até a nossa terra de novo”, foi o ultimo grito de guerra de Marcos Verón, em outro inicio de partida para a terra sem males. Foi em janeiro de 2003. A filha conta varias anedotas como símbolos premonitórios da tragédia que esperava à comunidade. Os guerreiros Kaiowa-Guarani já tinham feito a última retomada da terra tradicional. Convidado por organismos internacionais de direitos humanos Marcos Verón tinha visitado Estados Unidos e Europa, onde divulgou a luta de seu povo. Na sua última empreitada com os fazendeiros Verón fala a Valdelice da primeira noite na terra indígena de tantas voltas: "Filha, eu dormi melhor que em Nova Iorque e que na Itália, porque aqui é a nossa terra tradicional, é o nosso lugar. Quero que você repasse pelo mundo todo como é a vida tradicional dos Kaiowá-Guarani”. No outro dia tira o cocar e entrega para a filha e fala: "Você vai para Dourados, ao MPF a comunicar sobre a nossa decisão, pois, esta é a nossa terra”. Naquele dia também pede animado que seja preparada chicha para ele tomar a bebida tradicional dos Kaiowá-Guarani. Um lobão, como presságio do iminente final aparece na fonte de água da comunidade e o animal se faz ver em corpo inteiro, com muita força, o que na cultura guarani não é um bom sinal.
Em quanto Valdelice estava em Dourados aonde foi levar a mensagem de seu pai ao Ministério Publico Federal, acontece o novo ato de barbárie contra a comunidade. O grande cacique Marcos Verón é assassinado pela milícia privada do latifúndio. Valdelice se informa do ataque na aldeia através do noticiário da televisão estando na sede da FUNAI. "Vi na televisão que tinham espancado meu pai”. Funcionários da FUNAI falam para ela: "teu pai só levou um tiro na perna, ele já saiu do hospital”. Quando chegou ao hospital e pergunta pelo pai falam para ela: "teu pai já chegou morto aqui”.
"Acho que até meu medo já mataram”
Na parte final de seu depoimento um silencio sepulcral se apodera do auditório. Ela continua falando do mesmo jeito do atual sofrimento dos povos indígenas em Mato Grosso do Sul, como se falasse ainda da mesma morte do pai. Condena duramente os ataques, as mortes, as violências que no contexto atual acontecem contra seu povo. Fala de ter perdido o medo de falar o que de alguma maneira o assusta porque "acho que mataram até meu medo por tantas coisas que já passei”. Com tranqüilidade e determinação decide sentenciar: "Os brancos acham mesmo que estou sendo pacificada, mas posso testemunhar que ainda somos uma ameaça para o sistema capitalista, o agronegócio, a FAMASUL, porque seguimos escrevendo a nossa própria história”.
Já tentaram subornar ela muitas vezes, comprar seu silencio, sua dignidade. Um prefeito recentemente convida-a a se afiliar no partido dele em troca de favores. Valdelice lhe responde: "O meu partido político é o meu povo Kaiowá-Guarani”.
No auditório da UCDB o silencio respeitoso se faz emoção, a denúncia se faz bandeira e luta, e a mulher guarani é aplaudida durante um minuto de pé...
[Fonte: CPT/MS].

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

BB deixa pé no acelerador em crédito para micro e pequena empresa e rural



Autor(es): Por Cristiano Romero e Mauro Zanatta | De Brasília
Valor Econômico - 29/09/2011
 

A crise financeira mundial e seus reflexos na economia brasileira ainda não levaram o Banco do Brasil (BB) a mudar a estratégia na área de crédito. Além de aumentar os recursos disponíveis para pessoa física - com elevação dos limites de clientes em R$ 79 bilhões -, o banco vai manter o pé no acelerador no segmento de micro e pequenas empresas (MPE) e no de agronegócio.
"Trabalhamos com um cenário normal. Não existe nada que possa diminuir nosso fôlego", assegurou o vice-presidente de Agronegócio e Micro e Pequenas Empresas do BB, Osmar Dias. "O crescimento nessas duas áreas é sustentado", acrescentou Dias.
O vice-presidente assegurou que não há uma orientação do governo para socorrer a economia ou para acelerar desembolsos em caso de crise. Os números oficiais de crédito computados pelo Banco Central mostram, no entanto, que os bancos públicos estão ampliando a carteira de financiamentos numa velocidade bem superior à das instituições privadas.
Apesar da recente turbulência nos mercados internacionais e do surgimento de sinais de desaquecimento na economia doméstica, a demanda por crédito segue crescendo. Entre julho de 2010 e junho deste ano, a carteira de crédito do Banco do Brasil para micro e pequenas empresas cresceu 14,7%, chegando a R$ 59,9 bilhões.
A evolução dessa carteira nos últimos nove anos foi acelerada. Em 2003, o segmento totalizava R$ 9,95 bilhões. Hoje, o BB tem 2 milhões de contratos nesse segmento - 93% dos quais enquadrados no chamado Super Simples (faturamento anual até R$ 2,4 milhões).
Tradicionalmente, o crédito para as micro e pequenas é dominado pelas linhas de capital de giro. Isso, segundo Dias, está mudando, o que indica que as empresas estão fortalecendo a musculatura, confiantes no crescimento da economia nos próximos anos.
"O crédito para investimento das MPEs cresceu 21% nos 12 meses até junho, muito mais do que para capital de giro", revelou o vice-presidente do BB. "Hoje, a proporção entre as modalidades capital de giro e investimento é, respectivamente, de 60% para 40%."
De acordo com o diretor de MPEs do BB, Clênio Teribele, o banco está investindo bastante também no Cartão BNDES, modalidade igualmente destinada ao pequeno empresário. Com o cartão, o cliente tem um crédito pré-aprovado de R$ 1 milhão, com juros de 0,98% ao mês e prazo de 48 meses. Os recursos são do BNDES, mas o risco da operação é dos bancos que operam com o cartão. "O BB já detém 66% desse mercado."
Apesar do forte crescimento do crédito das MPEs, as operações estão concentradas nas regiões mais ricas do país - Sul e Sudeste, com 75% do total. Além disso, explicou o vice-presidente do BB, a participação das micro e pequenas no Produto Interno Bruto (PIB) ainda é modesta, quando comparada à de outros países - limita-se a 21%, enquanto, nos Estados Unidos, essa fatia chega a 51% e na China, a 60% do PIB.
Apesar da baixa participação no PIB, essas empresas respondem por 60% dos empregos no país. Esse índice, segundo Dias, sobe a 90% quando são contabilizados os empregos gerados pelas empresas do agronegócio. Outro dado curioso é que as micro e pequenas representam cerca de 50% do universo das empresas exportadoras nacionais, mas apuram apenas 1,7% do valor total das exportações.
A estratégia do BB para as pequenas está ligada aos planos para a agroindústria. Dias informou que pretende reforçar a atuação do banco nesse segmento, por meio da ampliação dos financiamentos a pequenas e médias empresas do agronegócio. "Podemos ajudar a qualificar essas empresas, adequando instalações, equipamentos e métodos com orientação e financiamento", disse o vice-presidente. "O Ministério da Agricultura pode adotar o modelo que nós financiamos".
Como primeiro esforço, Dias aponta a criação da linha Flex Agro, que beneficia agroindústrias fornecedoras e compradoras de produtores rurais, como um forte diferencial. O diretor Clênio Teribele informou que a linha já emprestou R$ 11 bilhões em apenas cinco meses de operação. "Há muita demanda", disse.
A linha ajudou a alavancar a carteira de crédito rural do BB, que atingiu R$ 81,6 bilhões com 1,5 milhão de contratos. "Somos o maior banco agrícola do mundo", afirmou Dias. E o resultado veio acompanhado de uma redução da inadimplência, de 2,3% para 0,9% nos 12 meses encerrados em junho.
O "rating" das operações melhorou no período. O crédito classificado entre os riscos "AA" (superior) e "C" (médio) passou de 89,5% para 92,7%. A carteira com vencimentos prorrogados recuou de R$ 9,6 bilhões para R$ 6,37 bilhões em igual período. E as perdas nessas operações caíram de R$ 419 milhões para R$ 229 milhões.

Estrangeiros tiram US$2 bi do país em dois dias



Autor(es): agência o globo: Gabriela Valente Vinicius Neder
O Globo - 29/09/2011

Movimento maior de entrada de recursos de exportadores compensou forte saída de investimentos externos

BRASÍLIA e RIO. O Brasil teve uma grande virada no saldo de entradas e saídas de dólares na semana passada. Na conta financeira, que inclui aplicações externas em ações e renda fixa (títulos do governo), além de investimentos estrangeiros diretos (setor produtivo), as retiradas de recursos do país superaram os ingressos em US$2,3 bilhões, sendo US$ 2 bilhões só nos últimos dois dias da semana. O rombo no fluxo cambial total - que abrange também a conta comercial, ou seja, exportações e importações - só não foi maior porque, enquanto os investidores externos tiravam dinheiro do país, os exportadores traziam dólares. Os dados foram divulgados ontem pelo Banco Central (BC).
O saldo comercial da semana ficou positivo em US$1,887 bilhões. E, com isso, no total, o saldo total do fluxo cambial ficou negativo em apenas US$431 milhões na semana passada. Com a moeda americana em alta, os exportadores entraram no país com recursos que mantinham lá fora, à espera de uma oportunidade no câmbio para lucrarem mais. Até o dia 23 deste mês, os exportadores venderam aos bancos US$20,470 bilhões, US$7,789 bilhões a mais do que foi comprado para pagamento de importações. Em todo o mês de agosto, essa diferença ficou em US$6,667 bilhões.
- Não tinha nenhum grande vencimento de bônus ou outra coisa que identificasse o que aconteceu para sair US$2 bilhões na quinta e na sexta. O que a gente sabe é que a tendência do mês é ficar negativo o fluxo financeiro - diz o especialista da BCG/Liquidez, Alfredo Barbutti.
O mês de setembro vem sendo bastante conturbado no mercado financeiro - com o dólar em alta e a Bolsa em queda, devido aos temores em relação às dívidas públicas na Europa e à especulação no câmbio no país.
O diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, também acredita que a tendência de agora em diante é de saída, com multinacionais aumentando remessas e investidores retirando recursos do Brasil para compensar perdas lá fora.
- Em perspectiva, vemos o fluxo cambial tornando-se negativo para o Brasil, tanto no comercial quanto no financeiro.
Dólar volta a subir e
fecha cotado a R$1,837
No mês, esse fluxo financeiro, que inclui ainda empréstimos intercompanhias e remessa de lucros, está positivo em apenas US$295 milhões. É muito pouco se comparado aos US$8 bilhões do saldo geral do mês. O despenho de setembro é o dobro na comparação com o mês anterior. No ano, o resultado acumula quase US$68 bilhões: mais de quatro vezes mais do que o verificado de janeiro a setembro do ano passado.
O dólar comercial interrompeu ontem uma sequência de três quedas e subiu 1,83%, a R$1,837, num dia de estresse com investidores ainda de olho na evolução da crise das dívidas na Europa. A moeda americana acelerou o movimento de alta à tarde, à medida que os mercados dos Estados Unidos e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) aprofundaram a queda. Na máxima do dia, a alta chegou a 2,11%. A alta acumulada no mês é de 15,32% e, no ano, de 10,26%. O dólar turismo avançou 2,10% no Rio, cotado a R$1,94.
Segundo Nehme, falta liquidez no mercado futuro de câmbio e provavelmente o BC terá que atuar novamente, com leilões de swap cambial (equivalente a vendas no mercado futuro).
Bolsa cai 1,21%, com temores em relação à Europa
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, índice de referência, chegou a subir 1,62% de manhã, mas inverteu de tarde e fechou em queda de 1,21%, aos 53.270 pontos.
Em Wall Street, o Dow Jones recuou 1,61%, o S&P 500 perdeu 2,07% e Nasdaq caiu 2,17%. Na Europa, a expectativa de que credores privados poderiam assumir perdas maiores na reestruturação da dívida da Grécia levou Londres a recuar 1,44%; Paris, 0,92%; e Frankfurt, 0,89%.
- O calote da Grécia continua em pauta - diz Felipe Casotti, gestor de renda variável da Máxima Asset Management.

Man Group despenca

Correio Braziliense - 29/09/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/9/29/man-group-despenca
 

O maior gestor de hedge funds (fundos altamente especulativos) listado em bolsas de valores do mundo, o Man Group, sofreu ontem o impacto conhecido no mercado financeiro como "efeito manada" e, em pouco tempo, viu a cotação de suas ações derreter quase 25%.
O ataque especulativo foi ocasionado pela divulgação de que os clientes do fundo sacaram
US$ 2,6 bilhões líquidos no trimestre encerrado em setembro, em razão da desconfiança na economia global. Para o presidente executivo da companhia, Peter Clarke, "a confiança está claramente abatida e muito do que acontecer a partir de agora será ditado por esse sentimento geral do mercado".
Os saques, efetuados durante o verão no Hemisfério Norte, foram os mais velozes desde o início de 2009, colocando o fundo em situação bastante delicada desde a quebra do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers.
Como movimentam bilhões em recursos, fundos como o Man Group podem desestabilizar rapidamente os mercados financeiros, provocando ondas de pânico. Ontem, as perdas do grupo foram um dos fatores responsáveis pelo fechamento negativo em 1,2% do FTSEurofirst 300, indicador que mede o desempenho das bolsas europeias. O impacto, porém, foi parcialmente absorvido pela recente valorização nos índices da região.

Novo mapa do leite



Produção de leite deslancha no Nordeste
Autor(es): Por Murillo Camarotto | De Imperatriz e Ribamar Fiquene (MA)
Valor Econômico - 29/09/2011

A produção de leite no Nordeste cresceu 89,5%, muito acima dos 54,8% da média nacional. Depois de aceitar a contragosto 13 vacas leiteiras como pagamento de uma dívida, Renato José Pereira acabou se tornando, dez anos depois, um dos maiores produtores do sudeste do Maranhão

Cansado de um credor que o "enrolava" havia alguns meses, o empresário mineiro Renato José Pereira acabou aceitando, relutante, 13 vacas leiteiras como pagamento da dívida. Na época, 2002, ele ainda era "carne nova" no sudeste do Maranhão, onde começava a criar gado de corte. Quase dez anos depois, Pereira é um dos principais produtores da região que recentemente passou a ser chamada, com um certo exagero, de "nova fronteira do leite no Nordeste". Luminosidade elevada, solo de boa qualidade e período seco curto (entre três e quatro meses no ano) favorecem a pecuária leiteira.
Puxada pelo crescimento do consumo das famílias, a produção de leite nordestina aumentou 89,5% entre 2000 e 2010, bem acima dos 54,8% da média nacional. No período, os Estados da região colocaram 2 bilhões de litros de "leite novo" no mercado brasileiro, quase o mesmo volume acrescentado pelo Sudeste, o maior produtor do país. O cenário positivo tem incentivado investimentos de laticínios regionais.
A principal bacia leiteira do Maranhão está na chamada região tocantina, próxima às divisas com Tocantins e Pará e distante mais de 500 quilômetros da capital, São Luís. A fazenda Medalha Milagrosa fica em Ribamar Fiquene. De lá saem todos os dias, em média, 950 litros de leite, volume que, apesar de não saltar aos olhos, põe Pereira entre os maiores da região. "A produção aqui ainda é muito picada. Tem gente que vende três litros por dia", conta Osmani Ferreira, gerente do laticínio Palate, o mais importante do Maranhão.
Segundo estimativas da Embrapa, o Maranhão produziu quase 362 milhões de litros no ano passado, o quarto maior volume do Nordeste. Nos últimos anos, porém, o Estado vem ampliando sua fatia no bolo da produção regional, assim como Bahia (1,3 bilhão de litros) e Pernambuco (861 milhões de litros), os dois maiores produtores. Já o Ceará, o terceiro, com 445 milhões de litros, perde espaço. Segundo Alexandre Ataíde, presidente do Sindicato das Indústrias de Leite e Derivados do Maranhão (Sindileite), a previsão é de um aumento de 15% no volume beneficiado este ano sobre 2010.
"É importante lembrar que viemos de uma base pequena, o que explica parte desse crescimento elevado. As principais bacias já estavam desenvolvidas nos anos anteriores, enquanto que o Maranhão estava muito aquém", diz. A formalização de muitos produtores, especialmente os menores, também ajuda a engordar os números do Estado.
É o caso de Serafim Araújo, que além de produtor de leite é dono de uma mercearia. Há pouco mais de um ano, ele ainda vendia na porta do estabelecimento os cerca de 250 litros tirados por dia em sua fazenda, em Imperatriz. Com o aperto da fiscalização, passou a entregar o leite à Palate, que chegou à cidade em fevereiro de 2010. "Antes conseguia mais de R$ 1 por litro. Agora não passa de R$ 0,70", queixa-se, carrancudo.
Já para Renato Pereira, a instalação da Palate, controlada pelo grupo paulista CBA, foi o divisor de águas da bacia leiteira local. "A história mudou, passou a ter mais seriedade a produção. Pagamento em dia, preço justo. Antes, o produtor era refém dos laticínios pequenos", recorda o fazendeiro, hoje com um rebanho de 150 animais da raça Girolando. "Até um ano e meio atrás, pagavam R$ 0,30 no litro do leite, o que não compensa nem você dar o que comer à vaca. O produtor não investia", acrescenta ele, que diz ter aplicado R$ 500 mil no negócio de leite.
Com capacidade para beneficiar 130 mil litros por dia, a Palate compra de mais de mil produtores espalhados em 21 cidades da bacia de Imperatriz. A coleta só é feita nas 350 fazendas que têm os tanques de resfriamento fornecidos pela empresa.
Ainda se preparando para sua estreia no setor leiteiro, a Sabe Alimentos, do grupo Albano Franco, de Sergipe, já distribuiu 135 tanques de resfriamento. A empresa investe R$ 80 milhões em uma planta com capacidade para 330 mil litros diários em Muribeca, a 72 quilômetros de Aracaju. Vai produzir leite longa vida, iogurtes, leite condensado, creme de leite e bebidas lácteas.
O diretor-executivo da empresa, Albérgio Lima, acredita que todo o leite para a operação poderá vir de Sergipe, onde a produção cresceu 170% nos últimos 10 anos. "Há um ano e meio estamos desenvolvendo nossos fornecedores com investimentos em infraestrutura, na higiene da ordenha, nos insumos e utensílios e em genética, na qual cada propriedade recebe treinamento para inseminação e botijão com 30 doses iniciais de sêmen", detalhou o executivo, por e-mail.
Segundo maior produtor do Nordeste e oitavo do país, Pernambuco é onde se verificam os maiores índices de crescimento da produção de leite, que triplicou entre 2000 e 2010, especialmente no agreste do Estado. O avanço pode ser explicado em parte pelo elevado consumo de queijo no Estado, o maior do Nordeste. De acordo com o Sebrae, os pernambucanos gastam cerca R$ 25 milhões por mês com queijo. Na Bahia, com população 60% maior, o gasto mensal fica em torno de R$ 16,5 milhões.
Atento ao cenário promissor, o laticínio Faco, instalado em Ribeirão, a 90 quilômetros do Recife, investe no aumento da produção de queijos, entre os quais mussarela, fresco, coalho e minas. O proprietário, Horácio Franca Corrêa, espera dobrar até o início de 2012 a capacidade de beneficiamento, hoje de 15 mil litros/ dia.
Na Bahia, principal produtora de leite do Nordeste, os laticínios mais importantes também investem em expansão, segundo Francisco Benjamin Filho, gerente de programas do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). O problema no Estado, contudo, é a produtividade do rebanho, a segunda pior do Nordeste. Segundo o IBGE, cada vaca baiana produziu 555 litros de leite em 2009, contra uma média nacional de 1.297 litros.
"Dois terços da área do Estado da Bahia estão no semi-árido, uma região sem recursos e sem clima para a produção de leite. Lá é que a gente encontra a famosa vaca "pé duro", como é conhecido o animal adaptado a esse meio", explica Benjamin.
O período sem chuvas é crítico para a cadeia do leite, pois a pastagem seca não oferece ao animal os nutrientes necessários à produção. Por esse motivo é fundamental que os produtores invistam na estocagem de alimentos, o que ainda é raro no Nordeste. "O produtor tem que fazer sua parte, com genética e alimentação. Sem suplemento alimentar, a produção cai estupidamente no tempo seco", concorda o secretário de Desenvolvimento Econômico de Imperatriz, Sabino Costa.
Sem se preocupar com "essas coisas de nutriente", Serafim Araújo viu cair pela metade o volume de leite produzido por suas vacas no último ano. "Eu tirava bem mais antes. Agora elas tão fraquinhas demais, meu filho", lamenta.


Avançam os aportes no setor de equipamentos

Valor Econômico - 29/09/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/9/29/avancam-os-aportes-no-setor-de-equipamentos

O crescimento das bacias leiteiras do Nordeste despertou o senso de oportunidade de empresários locais, que começam a investir em outros elos da cadeia produtiva, especialmente os de nutrição e equipamentos. Segundo Alexandre Rodrigues Alves, gerente do Sebrae responsável por um estudo sobre a produção de leite no Nordeste, a região precisa ter uma presença mais abrangente na cadeia.
"Com esse crescimento do consumo, é importante que a produção de insumo, tecnologia e equipamentos também seja local. Hoje vem muito de fora. Além do que, o Nordeste ainda é importador de leite e derivados, especialmente as grandes capitais. Isso representa uma oportunidade grande para os produtores locais, que ainda só atendem seus arredores", diz.
Em Imperatriz, o fazendeiro Renato José Pereira articula com potenciais parceiros um investimento na comercialização de maquinário para ordenha mecânica e de suplemento alimentar.
A 1.300 quilômetros dali, em Afogados da Ingazeira, no sertão pernambucano, o empresário Miguel Camilo também está apostando no crescimento da cadeia do leite no Estado. Sua Metalúrgica Brotas, especialista em máquinas em inox, deixou de fabricar equipamentos para beneficiamento de milho para entrar no promissor mercado dos pasteurizadores compactos.
Ele conta que o novo negócio surgiu de uma recomendação do próprio Sebrae, que além da dica o apresentou a potenciais clientes. "Hoje estou fornecendo para Sergipe e Maranhão, além de Pernambuco, é claro".

Longa vida receberá investimentos de mais de R$ 1 bi

Autor(es): Por Luiz Henrique Mendes | De São Paulo
Valor Econômico - 29/09/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/9/29/longa-vida-recebera-investimentos-de-mais-de-r-1-bi

Motivado pelo crescimento da renda das famílias brasileiras, as indústrias de leite longa vida devem realizar o maior investimento da história do setor em 2011: mais de R$ 1 bilhão entre ampliações e construção de novas plantas. Essa é a estimativa do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), Laércio Barbosa. "Não temos os números dos outros anos, mas pela nossa experiência é o maior investimento da história", afirmou.
Segundo ele, as vendas de leite longa vida, que representa 76% do total de leite fluido consumido no país, devem crescer 4% neste ano, para 5,7 bilhões de litros.
Apesar dos resultados positivos, com vendas em alta e investimentos em patamares históricos, o setor não consegue acompanhar o crescimento forte do consumo no país, intensificando as importações de lácteos. "Nossa produção não acompanhou o crescimento da demanda", reconhece Barbosa, para quem o déficit da balança de lácteos também será recorde neste ano, chegando a US$ 600 milhões. Entre janeiro e agosto de 2011, disse ele, o setor já acumulou déficit de US$ 300 milhões.
Ainda que as importações sejam estimuladas pela demanda nacional, Barbosa responsabiliza o câmbio apreciado por parte do déficit da cadeia de lácteos.
Segundo ele, o leite produzido no Brasil custa US$, 0,60 por litro, enquanto em países como Argentina, Uruguai e Nova Zelândia o custo é de US$ 0,40 por litro. Na visão do dirigente, um dólar na casa de R$ 1,50 "não é um valor real para o câmbio brasileiro" e a recente desvalorização da moeda nacional é "extremamente benéfica".
Em meio à demanda firme, os preços do leite devem continuar em alta. Para o economista Alexandre Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Agro, o produto nacional sofrerá pressões altistas por conta do clima seco que prejudica a produção em Goiás, Mato Grosso e no norte do país.
Na opinião do economista, os produtores de leite no país serão "fortemente desafiados pela concorrência com os grãos e a cana-de-açúcar", cuja área plantada deve crescer. "Tem muita gente dizendo que Goiás vai diminuir sua produção de leite".

Persiste impasse com Argentina em lácteos

Autor(es): Por Cesar Felício | De Buenos Aires
Valor Econômico - 29/09/2011
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Os produtores de leite da Argentina rechaçaram a proposta brasileira de aumentar a cota mensal de exportações de leite em pó para o Brasil de 3,3 mil para 3,6 mil toneladas, com a fixação de 600 toneladas mensais para queijos. A proposta, essencialmente a mesma que o setor privado de ambos os países já havia debatido em reunião em agosto em Porto Alegre, foi discutida ontem em encontro na secretaria de Comércio Interior da Argentina, em Buenos Aires.
Com a manutenção do impasse, a entrada de produtos argentinos continua limitada ao volume da antiga cota, expirada desde o fim de abril, após dois anos de vigência. "A proposta é inaceitável, sobretudo pelo estabelecimento de uma cota para o queijo, que é um produto final, e não um insumo para a indústria. Além disso, o volume proposto é ridículo: representa menos de 1% do mercado brasileiro de queijo", afirmou o gerente geral do Centro da Indústria do Leite da Argentina, Jorge Secco.
Os produtores brasileiros estão negociando em uma posição vantajosa, dado o pouco interesse do governo argentino em transformar a disputa em um tema da agenda bilateral entre os dois países. Segundo um dos negociadores brasileiros, o representante da Confederação Nacional da Agricultura, Rodrigo Alvim, "os governos participam apenas como espectadores". "O que gostaríamos de entender é por que as coisas estão acontecendo desta maneira", queixou-se Secco.
A cota fez com que a participação argentina no total importado pelo Brasil caísse de 70% para 50%. O espaço foi ocupado por exportadores do Uruguai e do Chile, que vendem para o Brasil sem cota, mas que têm menos excedentes para exportações. Embora a produção brasileira este ano deva ter um ligeiro crescimento, atingindo 30,2 bilhões de litros, segundo a CNA, as importações também estão em alta: no primeiro semestre do ano atingiram 85 mil toneladas, ante 113 mil toneladas importadas durante todo 2010.
A produção argentina também é crescente e deve chegar em 2011 a 11 bilhões de litros. Cerca de 80% desse total é destinado ao mercado interno. Considerando todos os derivados da cadeia láctea, o volume das exportações argentinas é consideravelmente superior a 3 mil toneladas mensais da cota do leite em pó. Segundo dados da própria Câmara argentina do leite, em 2010 foram exportados ao Brasil 86,5 mil toneladas, o que resulta em uma média mensal de 7, 2 mil toneladas.

Exportações de lácteos chilenos aumentaram em 33% no período de janeiro a agosto

postado há 4 horas e 20 minutos atrás

As exportações de produtos lácteos chilenos alcançaram um total de US$ 135,9 milhões de janeiro a agosto de 2011, com um aumento de 33% com relação ao mesmo período de 2010, segundo informou a Oficina de Estudos e Políticas Agrárias (Odepa).

O diretor da Odepa, Gustavo Rojas, disse que "a causa desse aumento foi a combinação de crescimento nos volumes colocados e o aumento dos preços". Ele detalhou que "as perspectivas do setor leiteiro são positivas e, além de um aumento das exportações, espera-se que em 2011 o consumo de leite no Chile aumente para aproximadamente 140 litros equivalentes, alcançando um recorde histórico".

Os principais produtos lácteos exportados de janeiro a agosto de 2011 foram leite em pó integral (US$ 46,3 milhões), leite condensado (US$ 32,9 milhões), queijos (US$ 30,4 milhões), leite em pó desnatado (US$ 5,9 milhões).

Os países de destinos mais importantes dos produtos lácteos chilenos foram México (23%), Venezuela (16%), Brasil (12%), Estados Unidos (8%), Peru (7%), China (6%), Colômbia (4%), Coreia do Sul (4%), Costa Rica (4%) e Argélia (3%). A reportagem é do www.elmostrador.cl.