sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Campo à prova de crise

Veículo:
ISTO É DINHEIRO 
Editoria:
ECONOMIA 
Data:
01/01/2012 
Assunto:
CONAB 
Tamanho
da fonte
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01/01/2012 - 
A agricultura brasileira viverá um ano decisivo. A demanda continua aquecida, os preços elevados e as exportações são recordes. É hora de plantar.
Por Hugo CILO e Denize BACOCCINA

Há uma expressão muito conhecida entre agricultores brasileiros que diz seguinte: em tempos de fartura, é hora de guardar; em tempos de escassez, é hora de plantar. Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro aprendeu a fazer os dois movimentos ao mesmo tempo. Isso porque, nos últimos dez anos, a combinação de uma série de acontecimentos positivos e de perspectivas nebulosas fez nascer um novo dito popular: seja qual for o ambiente, é hora de plantar. Esse empenho, evidenciado na expansão das áreas cultivadas e da produção, tem sido cultivado pela ideia de que, mesmo com um eventual agravamento da crise nos países desenvolvidos em 2012, que hoje são grandes compradores dos alimentos produzidos por aqui, o mundo não perderá o apetite. Somente a China, dona de uma população de 1,4 bilhão de pessoas, foi responsável por comprar quase 65% das exportações brasileiras de produtos agrícolas em 2011 - entre eles soja, feijão, milho e açúcar. E os chineses não foram os únicos.

As exportações de carne brasileira dispararam 131% para os Estados Unidos, que em 2012 abrirão totalmente suas portas para o etanol de cana-de-açúcar brasileiro. Os embarques de café e aves saltaram quase 30% no ano passado, puxado especialmente pelo consumo dos países árabes, e até os mercados africanos abriram as portas para a agricultura nacional. Além de desbravar novos mercados no mundo e aprimorar suas relações comerciais com antigos clientes, outros fatores impulsionam o otimismo com o agronegócio brasileiro. O Brasil continuará sendo o País com a maior disponibilidade de área para plantio no planeta - e pode ampliar sua agricultura nos próximos anos, colaborando no combate à escassez de alimentos no mundo. Outra razão que alimenta as perspectivas no campo é a maturidade tecnológica na agricultura nacional, em função de seus recentes investimentos no desenvolvimento em pesquisa e inovação tecnológica.
"O Brasil conquistou nos últimos anos uma incrível solidez na agroindústria, avanço que consolidará o País como um pilar de estabilidade na economia mundial por muitas décadas", diz José Francisco Riguetti, professor de economia e agricultura da Universidade Federal da Bahia. Diante desse horizonte, as oportunidades de investimento são imensas e a expectativa é de que 2012 seja um ano bom para diversas culturas, sobretudo a soja. Durante os últimos anos, a demanda pelo grão tem crescido a passos largos, independentemente dos ciclos de baixa e de alta na economia. Não por acaso, as exportações já superavam, no fechamento de novembro, a meta do Ministério da Agricultura para 2011. A previsão inicial de vendas ao Exterior era de US$ 85 bilhões no ano, mas o total exportado de janeiro a novembro alcançou os US$ 87,6 bilhões, número 24,4% superior ao registrado no mesmo período de 2010.

Todo esse dinheiro levou força e prosperidade ao campo, embalando outros setores da economia. Capitalizados, graças aos bons preços obtidos para a maioria das commodities nas últimas safras, produtores rurais de todo o País investem altas cifras na compra de máquinas com tecnologia sofisticada, para melhorar a produtividade das lavouras. De janeiro a novembro, em comparação ao mesmo período do ano passado, as vendas de tratores aumentaram 45,1% , segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). "O ano foi ótimo para o setor", diz Milton Rego, vice-presidente da Anfavea e diretor da CNH, fabricante de implementos agrícolas. A projeção não se sustenta apenas pelo otimismo dos empresários.

Para a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a necessidade de ampliar ainda mais os estoques e a demanda superaquecida dentro e fora do País devem manter os preços elevados para os produtos agropecuários, em 2012. Embora ainda exista um certo receio sobre o efeito da crise na Europa e nos Estados Unidos sobre os preços das commodities, a CNA acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deve repetir no próximo ano o desempenho de 2011. "A crise da Europa pode atrapalhar um pouco, mas o saldo tende a ser positivo, pois os destinos das exportações brasileiras estão mais diversificados", diz a senadora Kátia Abreu, presidente da CNA. As exportações brasileiras do setor devem crescer 2,22%, com um volume de US$ 92,9 bilhões. O saldo da balança comercial agrícola deve aumentar 11%, para US$ 82,4 bilhões.


O ano só não será melhor para o agronegócio porque oscilações climáticas causadas pelo efeito da La Niña e o esfriamento das águas do Oceano Pacífico são esperadas. Embora a área plantada tenha aumentado 1,1%, a COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB) estima que a produção fique estável ou, na pior das hipóteses, recue 2,4% em relação ao ano passado, justamente por uma eventual piora das condições do clima. "Há uma certa incerteza em relação a 2012 na questão climática", disse a superintendente técnica da CNA, Rosemeire Cristina dos Santos. "É difícil projetar o preço e o consumo porque deve ter volatilidade de preços." Afora os caprichos da natureza, o sucesso do agronegócio brasileiro no próximo ano e a rentabilidade dos produtos também dependerão da combinação consumo e preços.

Com o crescimento da China desacelerando de uma média de 10% nos últimos anos para algo entre 7,5% e 8%, diminui também a pressão pelos preços das commodities agrícolas. "A China é um mercado muito importante para nós", diz Kátia Abreu. Já a crise na Europa não deve ter consequências nos preços, mas na oferta de crédito. "O maior problema é o financiamento, já que as tradings financiam 65% da produção brasileira e muitas delas são europeias." A CNA estima que serão necessários R$ 174 bilhões para a safra 2011/2012 e R$ 188 bilhões para a seguinte. Diante deste horizonte de receios e oportunidades, o agronegócio brasileiro, ao que tudo indica, está pronto para dias de sol ou tempestades. Afinal, os empresários do setor já aprenderam que, seja qual for o ambiente, é hora de plantar.


O ano só não será melhor para o agronegócio porque oscilações climáticas causadas pelo efeito da La Niña e o esfriamento das águas do Oceano Pacífico são esperadas. Embora a área plantada tenha aumentado 1,1%, a COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB) estima que a produção fique estável ou, na pior das hipóteses, recue 2,4% em relação ao ano passado, justamente por uma eventual piora das condições do clima. "Há uma certa incerteza em relação a 2012 na questão climática", disse a superintendente técnica da CNA, Rosemeire Cristina dos Santos. "É difícil projetar o preço e o consumo porque deve ter volatilidade de preços." Afora os caprichos da natureza, o sucesso do agronegócio brasileiro no próximo ano e a rentabilidade dos produtos também dependerão da combinação consumo e preços.

Com o crescimento da China desacelerando de uma média de 10% nos últimos anos para algo entre 7,5% e 8%, diminui também a pressão pelos preços das commodities agrícolas. "A China é um mercado muito importante para nós", diz Kátia Abreu. Já a crise na Europa não deve ter consequências nos preços, mas na oferta de crédito. "O maior problema é o financiamento, já que as tradings financiam 65% da produção brasileira e muitas delas são europeias." A CNA estima que serão necessários R$ 174 bilhões para a safra 2011/2012 e R$ 188 bilhões para a seguinte. Diante deste horizonte de receios e oportunidades, o agronegócio brasileiro, ao que tudo indica, está pronto para dias de sol ou tempestades. Afinal, os empresários do setor já aprenderam que, seja qual for o ambiente, é hora de plantar.

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