terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Número de contratações de seguro rural registra alta no Brasil em 2011


Cerca de 57 mil apólices foram contratadas durante o ano no país


  • João Henrique Bosco | Mogi das Cruzes (SP)

Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Agencia RBS
Produtor de São Paulo protegeu a plantação de caqui, que sofre com a queda de granizo
O número de contratações do seguro rural registrado no país aumentou em 2011. Em todo Brasil, 57 mil apólices foram contratadas durante o ano. Em São Paulo, terceiro Estado que mais contrata o seguro, o mercado também cresceu. Nos municípios que formam o Cinturão Verde, a presença do seguro é a garantia para os produtores não sofrerem novamente com as perdas que foram vítimas no passado.
O produtor rural Mark Ide lembra dos prejuízos acumulados na plantação de caqui. Culpa da chuva e do granizo.
– Prejuízo era quase 100%. Danificou os frutos e os que sobraram não ficaram sadios, perdendo a qualidade – conta.
A situação só começou a ficar mais tranquila a partir de 2006 quando a família de Mark resolveu contratar o seguro agrícola. Desde então foram várias chuvas de granizo e muitas perdas, mas a dor de cabeça diminuiu.
A mais recente ocorreu na véspera do Natal. Outra vez o granizo castigou folhas e frutos. O caqui deve perder a qualidade e se não fosse o seguro o produtor ficaria no prejuízo.
– Infelizmente teve uma chuva de granizo, danificando as frutas. Foi bem grave em toda a região. Mas agora o seguro ajuda bastante – relata.
O caqui é cultivado em dois mil hectares espalhados pelo Cinturão Verde de São Paulo. São mais de 300 propriedades e uma produção anual de 50 mil toneladas. Praticamente todos os produtores tem seguro. Do valor total, O governo federal subsidia 60%, o estadual 20% e o produtor fica responsável pelos outros 20%.
Os números mostram que as contratações aumentaram em São Paulo. O número de contratos em 2011 chegou a 7,8 mil, 700 a mais do que em 2010. A área total segurada passou de 377 mil hectares.
– As contratações vem aumentando porque são culturas mais sensíveis e a perda para este produtor é maior do que produtos de grãos – explica o secretário executivo do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista, Fernando Penteado.
Em todo Brasil o aumento foi mais significativo, 57 mil apólices foram contratadas em 2011, quase cinco mil a mais do que em 2010. A área segurada foi de cinco milhões de hectares.
– É uma cultura que vem mudando. O brasileiro não tinha esta cultura de fazer seguro agrícola. Quem tem o seguro vê a diferença. A diferença se sente no bolso – conclui Penteado.
CANAL RURA
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Seguro: perdas no Sul expõem fraca cobertura da agricultura
Prejuízos com a estiagem na região já ultrapassaram os 10 milhões de toneladas de grãos
Agência Estado
A forte estiagem que atinge o Sul do Brasil desde o final do ano passado e que causou perdas superiores a 10 milhões de toneladas de grãos evidenciou um problema antigo da agricultura nacional: a insignificante cobertura da safra pelo seguro rural. 

Dos 50 milhões de hectares plantados em 2010, apenas 4,78 milhões de ha, ou menos de 10%, tinham algum tipo de seguro, segundo o Ministério da Agricultura. 

Em valores, apenas R$ 6,54 bilhões estavam assegurados, ou 3,6% de uma produção estimada naquele ano em R$ 181 bilhões. Os porcentuais não mudaram muito em 2011. 

Rio Grande do Sul e Paraná estimaram ontem perdas de R$ 5,38 bilhões com a estiagem. O valor representa quase todo o montante segurado pelos produtores do País em 2010. 

Nos dois Estados, muitos produtores se enquadram no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), vinculado ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e devem ter parte das perdas ressarcidas. 

Quando um produtor dessa categoria solicita financiamento – que não pode passar de R$ 150 mil, automaticamente entra no Proagro, que cobre algumas obrigações financeiras em caso de perda da produção por causa do clima. 

No Rio Grande do Sul, há mais de 13 mil pedidos de indenização pelo Proagro. No Paraná, são cerca de 6 mil. Mas ainda que todos os pedidos sejam atendidos, Eumar Konrad, presidente comissão de crédito da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), diz que as perdas financeiras serão grandes. 

“O seguro cobre apenas uma parcela do custo de produção, o resto do prejuízo fica na mão do produtor”, afirma. No caso do seguro privado, a região Sul é uma das que mais contrata, mas ainda assim a cobertura é pequena ali. 

Nas palavras do economista da Federação de Agricultura do Estado (Faep), Pedro Loyola, o instrumento “não cabe na planilha de custos do produtor”. 

“Geralmente, o médio e o grande produtor, que não entra no Proagro, fica com o prejuízo e cai na renegociação das dívidas”, afirma. 

Ele explica que, quando não há subvenção do governo, o prêmio deve ser pago integralmente pelo produtor, que desembolsa cerca de 5% a 7% da cobertura no caso da safra verão e até 13%, no caso dos grãos de inverno, milho safrinha e trigo. 

Neste sentido, preocupa o setor a diminuição dos recursos que o governo concede para ajudar o produtor a pagar o prêmio do seguro, a chamada subvenção ao prêmio do seguro rural. 

“O governo tem falhado no desembolso desses recursos”, diz Loyola, da Faep. Ele relembra que, em 2012, o setor agrícola pediu R$ 600 milhões para a subvenção, o governo aprovou R$ 406 milhões e foram liberados, de fato, R$ 252 milhões. 

Para 2012, dos R$ 670 milhões pedidos, apenas R$ 174 milhões foram aprovados. Nada foi liberado até agora. “Este é um dos menores valores dos últimos anos. 

Se tudo for liberado dará para cobrir apenas 6% da área agrícola do País”, afirma o economista. Luiz Roberto Foz, presidente da comissão de seguro rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), diz que o aumento dos recursos destinados à subvenção é necessário para elevar a base de segurados e diluir as perdas das companhias que operam neste segmento, que é de alto risco. 

Segundo ele, a relação entre prêmios pagos pelos produtores e indenizações varia muito de ano a ano. “Mas, na média, dá prejuízo. 

É difícil convencer uma empresa privada a investir nesse segmento”, afirmou. Ele defende, contudo, que governos estaduais e municipais também deveriam destinar recursos para ajudar os produtores a pagar o prêmio do seguro. 

“Há municípios e mesmo Estados que dependem muito da agricultura”, argumenta. Poucas companhias trabalham com seguro agrícola no Brasil, segundo Loyola. 

Ele cita entre elas a do Banco do Brasil, a Allianz, Porto Seguro, UBF e Nobre. Foz afirma que as seguradoras já estão recebendo avisos de sinistros das perdas no Sul, mas ainda não há estimativa da quantidade. 

“Há um volume razoável de pedidos chegando”, afirmou. Mas uma ideia mais precisa só será possível depois da colheita, quando as perdas serão de fato apuradas.

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