sexta-feira, 28 de maio de 2010

Mais monopólio da terra para os agrocombustíveis

23 de abril de 2010
Maria Luisa Mendonça*
(Artigo publicado na Revista Caros Amigos)
http://www.mst.org.br/node/9709


O monopólio da terra segue como tema central diante do avanço do capital sobre recursos estratégicos em todo o mundo. Nesse contexto, a produção de agocombustíveis cumpre o papel de justificar este processo, a pretexto de servir como suposta alternativa para a crise climática. Porém, quando falamos sobre mudanças climáticas, estamos realmente nos referindo a mudanças no uso do solo, com a expansão dos monocultivos, da mineração, das grandes barragens, e outros projetos de controle de recursos energéticos, que estão na raiz da crise climática.
No Brasil, os velhos usineiros, agora travestidos de empresários “modernos”, em conseqüência da propaganda sobre as supostas vantagens do etanol, intensificam suas campanhas internacionais para vender o produto. Recentemente, ganharam um reforço especial, com o anúncio do governo sobre acordos trabalhistas e de zoneamento ambiental. Porém, um breve relato sobre as atuais tendências do setor é suficiente para mostrar que estas são apenas medidas de fachada.
As características que historicamente marcaram a oligarquia rural no Brasil permanecem inalteradas. Ou seja, o monopólio da terra, a exploração do trabalho e de recursos naturais estratégicos. A principal mudança tem sido a presença crescente do capital internacional na indústria dos agrocombustíveis. Há alguns anos verifica-se um aumento do ritmo de aquisições no setor sucro-alcooleiro, com um crescimento na participação de empresas estrangeiras e um aumento na concentração do poder econômico de determinados grupos.


A participação de empresas estrangeiras na indústria da cana no Brasil cresceu de 1% em 2000 para 20% em 2010. Existem cerca de 450 usinas no Brasil, controladas por 160 empresas nacionais e estrangeiras. De acordo com estudo do grupo KPMG Corporate Finance, de 2000 a setembro de 2009, ocorreram 99 fusões e aquisições de usinas no Brasil. Entre estas, 45 negociações aconteceram no período de 2007 a 2009, sendo que em 22 casos ocorreu a compra de uma usina nacional por um grupo estrangeiro.
Em outubro de 2009, a empresa francesa Louis Dreyfus Commodities anunciou a compra de cinco usinas da Santelisa Vale, de Ribeirão Preto (SP). A fusão criou o grupo LDC-SEV Bioenergia, tornando-se o segundo maior produtor mundial de açúcar e etanol. O grupo pretende produzir 40 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano e tem participação acionária das famílias Biaggi e Junqueira, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do banco Goldman Sachs.


Uma nova característica da indústria do etanol, se comparada ao Pró-Alcool da década de 1970, é a aliança entre setores do agronegócio com empresas petroleiras, automotivas, de biotecnologia, mineração, infra-estrutura e fundos de investimento. Neste cenário, não existe nenhuma contradição destes setores com a oligarquia latifundista, que se beneficia da expansão do capital no campo e do abandono de um projeto de reforma agrária.


Em 2009, a empresa petroleira britânica British Petroleum (BP) anunciou que irá produzir etanol no Brasil, com um investimento de US$ 6 bilhões de dólares nos próximos dez anos. A BP irá atuar através da Tropical Bioenergia, em associação com o Grupo Maeda e a Santelisa Vale, em Goiás, que contam com uma área de 60 mil hectares para a produção de cana no estado.


Em julho de 2009, a Syngenta divulgou a aquisição de terras para produzir mudas de cana-de-açúcar na região de Itápolis (SP). O projeto inclui a produção de mudas transgênicas e pretende se expandir para outros estados, como Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul.


No início de 2010, ocorreram novas fusões. Em janeiro, a multinacional agrícola Bunge anunciou a compra de quatro usinas do Grupo Moema, incluindo a usina Itapagipe que tinha participação acionária de 43,75% da empresa norte-americana Cargill. Com a negociação, a Bunge passará a controlar 89% da produção de cana do Grupo Moema, estimada em 15,4 milhões de toneladas por ano.


Em fevereiro, foi anunciada a fusão da ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht, com a Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco), que pretende se tornar a maior empresa de etanol no Brasil, com capacidade para produzir três bilhões de litros por ano. Alguns dos acionistas da Brenco são Vinod Khosla (fundador da Sun Microsystems), James Wolfensohn (ex-presidente do Banco Mundial), Henri Philippe Reichstul (ex-presidente da Petrobrás), além da participação do BNDES. Já a Odebrecht tem sociedade com a empresa japonesa Sojitz. O novo grupo irá controlar cinco usinas: Alcídia (SP), Conquista do Pontal (SP), Rio Claro (GO), Eldorado (MS) e Santa Luzia (MS).


O conglomerado ainda participa da construção de um alcoolduto entre o Alto Taquari e o porto de Santos, e pretende instalar usinas na África. A empresa pretende captar R$ 3,5 bilhões até 2012, dos quais pelo menos 20% virão do BNDES, além de outros R$ 2 bilhões que o banco já investiu anteriormente na Brenco.
Nesta mesma linha, em fevereiro de 2010, a gigante petroleira holandesa Shell anunciou uma associação com a Cosan para a produção e distribuição de etanol, com o objetivo de produzir 4 bilhões de litros até 2014. Ao divulgar a operação, a nota da Shell afirmava que pretende criar “um rio de etanol, correndo desde as plantações no Brasil até a América do Norte e a Europa”. Apesar da repercussão internacional da prática de trabalho escravo na Cosan, a empresa segue como líder no setor.


Seguindo esta tendência, a Vale anunciou que pretende produzir diesel a partir do óleo de palma na região amazônica a partir de 2014, através de uma parceria com a empresa Biopalma da Amazônia S.A. A intenção é produzir 500 mil toneladas de óleo de palma por ano. Parte do combustível será utilizada nas locomotivas da estrada de ferro e nas minas de Carajás, no Pará.


A expansão do monocultivo de cana-de-açúcar
Em relação ao avanço territorial do monocultivo de cana, dados da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) mostram que, em 2006, eram 4,5 milhões de hectares e, em 2008, chegaram a 8,5 milhões de hectares. Na a safra de 2009 houve um aumento de 7,1% em relação a 2008. Esta expansão é estimulada por recursos públicos. Entre 2008 e 2009, estima-se que o setor sucroalcooleiro tenha recebi do mais de R$ 12 bilhões do BNDES. Esta verba é extraída, em grande medida, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).


Segundo a CONAB, 45,08% da safra foi destinada à produção de açúcar e 54,9% à produção de etanol, que resultou em 25,87 bilhões de litros do produto. A expansão da área plantada foi de 6,7%, ou cerca de 473 mil hectares. A maior expansão ocorreu na região do Cerrado, principalmente em Mato Grosso do Sul (38,80%) e Goiás (50,10%).


Dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás, indicam que o ritmo atual de desmatamento do Cerrado poderá elevar de 39% para 47% o percentual devastado do bioma até 2050. A pesquisa demonstra ainda que a destruição do Cerrado coloca em risco a disponibilidade de recursos hídricos para o Pantanal e a Amazônia, pois estes biomas estão interligados.


Trabalho escravo
As usinas de cana se tornaram campeãs em trabalho escravo nos últimos anos. De acordo com dados da Campanha Nacional de Combate ao Trabalho Escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2007, dos 5.974 trabalhadores resgatados da escravidão no campo brasileiro, 3.060, ou 51%, foram encontrados no monocultivo da cana de açúcar. Em 2008, dos 5.266 resgatados, 2.553, ou 48% dos trabalhadores mantidos escravos no país estavam em plantações de cana. De janeiro a junho de 2009, este número era de 951 trabalhadores, que representavam 52% do total. Ao final de 2009, o Ministério do Trabalho registrou a libertação de 1.911 trabalhadores nas usinas de cana nos estados de Goiás, Mato Grosso, Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Em 2009, o Ministério do Trabalho inclui grandes usinas na chamada "lista suja" do trabalho escravo. Uma delas foi a Brenco, que tem participação acionária de 20% do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Entre 2008 e 2009, o BNDES liberou R$ 1 bilhão para usinas da Brenco em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Ao mesmo tempo, o Grupo Móvel expediu 107 autos de infração contra a empresa, que é presidida pelo ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul. Apesar da prática de trabalho escravo, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, anunciou a continuidade do financiamento para a Brenco.


Em 31 de dezembro de 2009, foi a vez do grupo Cosan -- a maior empresa do setor sucroalcooleiro do país, com produção anual de 60 milhões de toneladas de cana. Apesar da prática de trabalho escravo, a Cosan recebeu R$ 635,7 milhões do BNDES em junho de 2009, para a construção de uma usina de etanol em Goiás. O BNDES manteve o financiamento para a Cosan, mesmo após a evidência de trabalho escravo. A Cosan possui 23 usinas, controla os postos da Exxon (Esso do Brasil) e teve um faturamento de R$ 14 bilhões de reais em 2008.

Em outubro de 2009, o Grupo Móvel libertou 55 trabalhadores escravizados na Destilaria Araguaia (chamada anteriormente de Gameleira), no Mato Grosso. Segundo o auditor fiscal Leandro de Andrade Carvalho, que coordenou a operação, os trabalhadores estavam sem receber salário há três meses. Esta foi a terceira libertação realizada em oito anos na mesma usina! A Destilaria Araguaia pertence ao Grupo Eduardo Queiroz Monteiro (EQM) – um grande conglomerado econômico com sede em Pernambuco. O grupo controla outras usinas em Pernambuco, Tocantins e Maranhão, além de participar como acionista em veículos de comunicação como o jornal Folha de Pernambuco, a Rádio Folha de Pernambuco, Folha Digital de Pernambuco e Agência Nordeste.

Em junho de 2009, fiscais do Ministério do Trabalho e do Ministério Público detectaram irregularidades em usinas fiscalizadas na região de Ribeirão Preto, em São Paulo, entre elas a Bazan, Andrade, Central Energética Moreno Açúcar e Álcool, e Nardini Agroindustrial. As usinas não forneciam equipamento adequado (como luvas, sapatos e caneleiras) e foram constatadas irregularidades no pagamento da jornada de trabalho. Os trabalhadores declararam que cortam cerca de 20 toneladas de cana por dia. Os fiscais também registraram condições precárias de moradia, como superlotação, locais com risco de incêndio e falta de condições de higiene.

Ainda em 2009, o Ministério Público do Trabalho (MPT) conseguiu uma liminar que obriga a usina São Martinho, em Limeira (SP), a corrigir irregularidades trabalhistas. Durante fiscalizações nas safras de 2007 e 2008, o MPT constatou a falta de equipamentos de proteção, de segurança no trabalho, de cuidados médicos, de condições de higiene e de alimentação adequadas. A ação judicial inclui ainda a condenação da empresa ao pagamento de R$2 milhões aos trabalhadores por dano moral.


Desemprego e trabalho degradante
A expansão de monocultivos para a produção de agroenergia gera desemprego, pois causa a expulsão de camponeses de suas terras, impede que outros setores econômicos se desenvolvam e gera dependência dos trabalhadores a empregos precários e temporários.

José Alves é cortador de cana no interior de São Paulo e explica, “Esse serviço é muito ruim, a gente só vem porque precisa mesmo. Eu vim de Minas e lá não tem outro serviço. Mas a gente nunca sabe quanto vai receber, porque tem muito desconto do salário. Eu recebo uma média de $700 por mês, mas tudo é caro -- aluguel, alimentação, e não sobra nada. A gente sabe que a usina rouba no pagamento, mas temos que ficar calados."

A expansão e a crescente mecanização do setor canavieiro têm gerado maior exploração da força de trabalho. A maioria dos trabalhadores não tem controle da pesagem de sua produção diária. “A gente nunca sabe quanto vai ganhar e o pagamento vem com muitos descontos. A usina rouba no peso ou na qualidade da cana cortada. Por exemplo, uma cana que vale $5 reais a tonelada, eles pagam só $3 reais. É assim que a usina engana os trabalhadores”, denuncia D.S., cortador de cana em Engenheiro Coelho, SP.[1]

Outro trabalhador da região, Jacir Pereira, confirma a denúncia: “A gente ganha pouco e o salário não confere com o que a gente corta, nem com o acordo coletivo. O acordo diz que o preço da tonelada é $5,85, mas a usina paga só $3,87. Eu tenho que cortar 18 toneladas de cana por dia, trabalhando de segunda a sábado. Só de aluguel eu pago $700,00 e não sobra quase nada”.

As mulheres, apesar de discriminadas pelas usinas, também se arriscam no trabalho pesado, como conta a trabalhadora Odete Mendes, “Eu corto dez toneladas de cana por dia e ganho $190 reais por semana. Só de aluguel, eu gasto $270 por mês. Eu vim do Paraná, mas não quero ficar mais aqui. A gente vive num quarto muito pequeno, tem que dormir no chão. Eu já quebrei o braço e nem agüento mais pegar no facão. Sinto falta de ar, às vezes parece que vou morrer”.


Os movimentos repetitivos no corte da cana causam tendinites e problemas de coluna, descolamento de articulações e câimbras, provocadas por perda excessiva de potássio. Carlita da Costa, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Cosmópolis, conta que “Quando começa a safra, você vai na roça e vê o pessoal todo com o pulso enfaixado, porque abre o pulso e eles não conseguem movimentar a mão, não agüentam a dor. O pessoal tem muita tosse, muita dor de cabeça, muita câimbra”.


Os ferimentos e mutilações causados por cortes de facão são freqüentes. Porém, raramente as empresas reconhecem estes casos como acidentes de trabalho. Muitos trabalhadores doentes ou mutilados, apesar de impedidos de trabalhar, não conseguem aposentadoria por invalidez. “Já quebrei o braço duas vezes. Quando alguém passa mal durante o trabalho, não recebe atendimento. Outro dia um companheiro feriu o olho e a enfermeira da usina não quis atender. Querem o nosso serviço, mas não temos assistência médica quando alguém se machuca”, diz J.S., trabalhador da usina Ester em São Paulo.

Como forma de evitar que os trabalhadores morram de exaustão, as usinas passaram a distribuir estimulantes com sais minerais, após a divulgação de dezenas de casos de morte nos canaviais. “Um dos trabalhadores que cortava mais cana na usina Ester era o Luquinha, conhecido como “podão de ouro”. Em pouco tempo, ele ficou doente, sentia dores em todo o corpo, não conseguia comer nem andar. Morreu aos 34 anos. O sistema do pagamento por produção é que causa a morte dos trabalhadores”, explica Carlita da Costa, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Cosmópolis, SP.

“É comum ouvir tosse e gritos nos canaviais. Temos que inalar os agrotóxicos e a cinza da cana queimada o dia todo. Uma vez eu caí no monte de cana e senti um gosto de sangue na boca. Percebi que o corte da cana estava me matando”, completa Carlita.


Migração
Em São Paulo (maior produtor do País), a maioria dos trabalhadores no corte da cana é formada por migrantes. O desemprego causado pelo modelo agrícola baseado no monocultivo e no latifúndio aumenta o contingente de trabalhadores que se submetem a trabalhar em lugares distantes de sua origem, em condições degradantes. Estes trabalhadores são aliciados por “gatos” ou “turmeiros”, que realizam o transporte e fazem a intermediação das contratações com as usinas.
A história do trabalhador E. S. ilustra a situação dos migrantes, “Tenho 27 anos e vim da Paraíba, porque lá não tem trabalho. Tem muito nordestino aqui. A gente ganha uns $20 reais por dia, mas o custo de vida é muito alto. A usina baixa o preço da cana e não temos controle”.
Ana Célia tem uma história parecida, “Tenho 24 anos e vim de Pernambuco. A usina rouba no peso da cana. A gente corta 60 quilos e recebemos somente por 50 quilos. Tenho problema na coluna, sinto dor no corpo todo. Já emagreci nove quilos nessa safra. Meu marido cortava cana, mas foi afastado porque ficou doente. Quero ir embora”.
A trabalhadora Edite Rodrigues resume a situação no corte da cana. “Tenho 31 anos e vim de Minas Gerais. Tenho três filhos e preciso trabalhar, mas a gente não vê a hora de ir embora. Quando termina o dia, o corpo está todo quebrado, sinto câimbra e ânsia de vômito. Mas no outro dia, começa tudo de novo. A cinza da cana ataca o pulmão e não sara nunca. A terra fica seca com o sol quente e vem aquele pó. Às vezes só ganho $50 reais por semana porque a usina engana a gente.”
Carlita da Costa conclui que “Vai continuar morrendo gente, o roubo vai continuar até o dia que acabar o trabalho por produção. Esse método de pagamento mata os trabalhadores”.


Luta camponesa
Apesar de ocupar apenas um quarto da área, o Censo mais recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) constatou que a agricultura camponesa responde por 38% do valor da produção (ou R$ 54,4 bilhões). Em relação à geração de empregos, de cada dez trabalhadores no campo, sete estão na agricultura camponesa, que emprega 15,3 pessoas por 100 hectares. No caso da agricultura extensiva, em cada 100 hectares são gerados apenas dois empregos.
Segundo análise de Frei Sergio Gorgen, dirigente do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), “no Plano Safra 2009/2010 foram destinados R$ 93 bilhões para o agronegócio e R$15 bilhões para a agricultura camponesa, sendo que 1 hectare da agricultura camponesa teve, em média, uma renda de R$ 677,00, enquanto que 1 hectare do agronegócio teve, em média, uma renda de apenas R$ 368,00. Daquilo que vai para a mesa dos brasileiros, 70% é produzido pelos pequenos agricultores”.
Além de receber subsídios de forma desproporcional, o latifúndio se beneficia com outras formas de privilégio, como a Medida Provisória que legaliza a grilagem de terras na Amazônia, a “flexibilização” da legislação ambiental e trabalhista, a continuidade da prática de trabalho escravo, entre outras. O monopólio da terra impede que outros setores econômicos se desenvolvam, gerando desemprego, estimulando a migração e a submissão de trabalhadores a condições degradantes. Este cenário significa que a resistência dos camponeses é estratégica, já que se encontram no centro da disputa por recursos estratégicos, com o avanço do capital no meio rural.

O modelo dos capitalistas é uma aliança entre grandes proprietários de terras, empresas transnacionais e sistema financeiro. As empresas fornecem insumos, compram os produtos, controlam o mercado e fixam preços dos produtos agrícolas.
Os grandes proprietários (cerca de apenas 40 mil, que possuem mais de mil hectares) entram com a terra, destruindo a biodiversidade e superexplorando os trabalhadores, para repartir a taxa de lucro da agricultura das empresas.
Esse modelo foi autodenominado de agronegócio. Adota a monocultura, para ampliar a escala de produção, com o uso intensivo de venenos e maquinaria pesada.
Essa matriz tecnológica provoca um desequilíbrio climático e ambiental para obter lucros e fazer negócios a quaisquer custos.
O próprio sindicato das empresas de defensivos agrícolas anunciou exultante que, na safra passada, utilizou 1 bilhão de litros de agrotóxicos (cinco litros por habitante). Somos o maior consumidor mundial de venenos.
Isso degrada o solo, afeta o lençol freático, contamina até as chuvas, além dos alimentos.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Instituto Nacional do Câncer têm alertado que o aumento de câncer está ligado ao crescente uso de agrotóxicos
.
Os ricos e a classe média alta compram produtos orgânicos, mais caros. No entanto, o povo está à mercê dos produtos contaminados.
O agronegócio ainda aumenta a concentração da terra e da produção, pela necessidade de ganhar escala no plantio. O Censo de 2006 aponta que a concentração da terra é maior do que na década de 1920.
Estamos fazendo o caminho inverso ao da reforma agrária. Cerca de 80% das nossas melhores terras são usadas para produzir para exportação três produtos: soja, milho e cana. Além disso, o agronegócio é cada vez mais dependente do financiamento público.
Para produzir um valor anual de R$ 120 bilhões, esse modelo retira crédito nos bancos públicos (da poupança recolhida nos depósitos à vista), ao redor de R$ 90 bilhões.
Ou seja, é a população brasileira que financia o agronegócio, ao contrário da propaganda mentirosa que só exalta seus "benefícios".

* Maria Luisa Mendonça é jornalista e coordenadora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
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[1] Estas entrevistas foram realizadas em setembro de 2009. Alguns nomes de trabalhadores foram substituídos por suas iniciais, para evitar retaliação por parte das usinas. A autora agradece o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Cosmópolis, ao Movimento Sem Terra e a Comissão Pastoral da Terra pelo apoio a pesquisa.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Algumas Questões Sobre as Guerrilhas no Brasil - Carlos Mariguella

Escrito em: Havana, Cuba, 1967.
Fonte: Jornal do Brasil, edição de 05 de setembro de 1968.
Transcrição e HTML por: Pablo de Freitas Lopes para Marxists Internet Archive.

Com este trabalho queremos homenagear a memória do Comandante Che Guevara, cujo exemplo de Guerrilheiro Heróico perdurará pelos tempos e frutificará em toda a América Latina.
Carlos Marighella
A luta de guerrilhas, através da história, sempre foi um instrumento de libertação dos povos e a experiência provou, inúmeras vezes, quão importante é e que valor tem na mão dos explorados.
Além desta inapreciável importância, a guerrilha assumiu, nos dias de hoje, uma nova dimensão, ao lhe ser atribuído o papel estratégico decisivo na libertação dos povos. Quer dizer, a guerrilha incorporou-se definitivamente à vida dos povos como a própria estratégia de sua libertação, o caminho fundamental, e mesmo único, para expulsar o imperialismo e destruir as oligarquias, levando as massas ao poder.
Tal formulação do problema, como seja o do papel estratégico da guerrilha, não surgiu casualmente e sim porque a revolução cubana o introduziu no cenário da história.
Até então a experiência das revoluções de caráter marxista-leninista assentara suas bases na transformação da guerra antiimperialista mundial em guerra civil pela tomada do poder. Esta situação, com suas indispensáveis variantes, assinalou o desenvolvimento da história dos povos pelo menos durante quatro décadas, a partir do triunfo da Grande Revolução Socialista de Outubro.
A revolução cubana, como parte integrante da revolução socialista mundial, trouxe ao marxismo-leninismo um novo conceito: o da possibilidade de conquistar o poder através da guerra de guerrilhas, e expulsar o imperialismo quando não há guerra mundial e não se pode, portanto, transformá-la em guerra civil.
Esta contribuição teórica e prática da revolução cubana ao marxismo-leninismo elevou a um plano inteiramente novo a guerrilha, colocando-a na ordem-do-dia por toda parte, em especial na América Latina.
No Brasil este assunto é da maior atualidade e, por isso, apesar da vigilância e da repressão da ditadura militar que massacra nosso povo, em todo o país aumenta o interesse sobre a guerrilha e são discutidos os temas mais importantes.
Que há de fundamental e ao mesmo tempo de mais elementar nas guerrilhas no Brasil? Quais os problemas que nos chamam a atenção?
É uma visão geral desses problemas o que pretendemos apresentar a seguir, tomando como apoio a incipiente experiência brasileira sobre guerrilhas.

Aniquilar as Forças do Inimigo: Tarefa Fundamental da Guerrilha

O Brasil é um país de quase 90 milhões de habitantes, dispondo de uma imensa extensão territorial. Em área contínua, no mundo, só é superado pela União Soviética, a China e o Canadá.
As condições histórico-sociais e geográficas favorecem no Brasil – tal como aconteceu com a URSS e a China – o desencadeamento da revolução e sua vitória.
Em nossa maneira de pensar, a revolução no Brasil é a guerra revolucionária, em cujo centro se encontra a luta de guerrilhas.
A tarefa estratégica fundamental da guerrilha brasileira é a libertação do Brasil, com a expulsão do imperialismo dos Estados Unidos. Falando em termos de guerra, essa tarefa estratégica fundamental consiste em aniquilar as forças do inimigo, compreendendo-se como tal não só as forças militares do imperialismo dos Estados Unidos, como as forças militares convencionais dos "gorilas" brasileiros.
"Aniquilar" quer dizer tirar ao inimigo a capacidade de agir militarmente, destruindo e capturando suas armas e impossibilitando-o de prosseguir na guerra de manobras.
Quando se trata das forças militares dos "gorilas" brasileiros, "aniquilar" também quer dizer desgastá-las, esgotá-las, desmoralizá-las e separá-las, no final, das forças militares dos Estados Unidos, deixando os imperialistas sozinhos e as reacionárias forças armadas nacionais completamente destruídas. Sempre que os Estados Unidos estiverem acompanhados de forças militares "gorilas" de países latino-americanos, é necessário "aniquilar" o inimigo um a um e deixar os imperialistas combatendo isolados. Será este sempre o sentido em que empregamos o termo "aniquilar".

A Estratégia Global da Guerrilha

O imperialismo norte-americano adota uma estratégia global contra os povos e aplicará tal estratégia contra a guerrilha brasileira, que será combatida pelas forças militares dos Estados Unidos e seus títeres latino-americanos.
Responderemos com a mesma moeda, combatendo o imperialismo e sua estratégia global com uma estratégia global latino-americana.
A estratégia global da guerrilha, no Brasil, baseia-se no internacionalismo proletário dos revolucionários brasileiros e no seu elevado espírito de solidariedade aos povos que lutam de armas na mão.
Em conseqüência desse internacionalismo, um dos objetivos da estratégia global de nossa guerrilha é lutar para tornar efetiva a palavra de ordem de "criar dois, três... muitos Vietnãs".
Outro objetivo de nossa estratégia global é concretizar a solidariedade a Cuba através da luta armada em nosso país. A revolução cubana e Cuba socialista são vanguardas da revolução latino-americana, constituem nossos aliados fundamentais e nosso mais firme ponto-de-apoio em virtude de sua luta contra o imperialismo norte-americano, Para nós, é uma questão de princípio estar a favor da revolução cubana e encaminhar a guerrilha brasileira por uma estratégia global, capaz de criar obstáculos ao bloqueio e à posição agressiva dos Estados Unidos contra Cuba.
Nossa guerrilha visa, fundamentalmente, à conflagração de toda a América Latina. Quer dizer, trata-se de entrelaçar as guerrilhas dos países limítrofes, e de que os revolucionários dos países em luta se apoiem uns nos outros para o aniquilamento dos "gorilas" latino-americanos.
O imperialismo dos Estados Unidos, nosso inimigo comum, deverá ficar reduzido à situação de ver seus aliados destruídos e ter que lutar sem eles contra todos os povos latino-americanos.

A Ofensiva Estratégica como Principal Método de Condução da Guerrilha no Brasil

Nos países que estão em guerra regular com o inimigo e onde ocorrem guerrilhas, estas desempenham um papel de complemento da guerra regular em curso. Temos dois exemplos clássicos desse tipo, na Segunda Guerra Mundial, com os casos da URSS e da China.
Este não é o caso do Brasil atual, onde a guerra de guerrilhas não desempenha o papel de complemento de uma guerra regular, que não existe, não é para se desincumbir de uma missão tática, e sim para cumprir uma função estratégica.
O problema do Brasil é que as forças populares e revolucionárias sofreram uma derrota com o golpe de abril de 1964 e bateram em retirada com pesadas perdas.
Para livrar-se da ditadura e do imperialismo e de suas forças armadas de repressão, as forças populares e revolucionárias têm que sair da defensiva e passar à luta de guerrilhas, enfrentando o inimigo. Nesse caso, o principal método de condução da luta armada é a ofensiva estratégica.
O Brasil é um país de área continental e, por conseguinte, apropriado para a ofensiva estratégica da guerrilha, que precisa de espaço para mover-se.
A guerrilha brasileira tem que estar educada para operações móveis, desde as mais elementares até as mais complexas, pois uma guerra revolucionária prolongada no Brasil será uma guerra de movimento.
A ofensiva estratégica, como método principal de conduzir a luta armada, proporciona o máximo de iniciativa à guerrilha e uma liberdade de movimentos que não é permitida ao inimigo, lançado aos azares de uma perseguição interminável, em áreas rurais tremendamente hostis e desconhecidas.
Além disso, a diversidade de territórios e a variedade de ocupações da numerosa população do país possibilitam à guerrilha dispor de reservas estratégicas tais como: recursos em potencial humano amplamente reforçados pelos contingentes de operários e camponeses, recursos provindos das atividades dos trabalhadores rurais e recursos oriundos do potencial econômico das áreas urbanas.
Contando com tais reservas estratégicas e pugnando por objetivos políticos patrióticos, como a expulsão do imperialismo e a tomada do poder para a total libertação do país e sua radical transformação, a guerrilha brasileira tem na ofensiva estratégica um método invencível de condução da guerra revolucionária.

Evitar o Cerco Estratégico do Inimigo

Devido às condições históricas brasileiras, a concentração da superestrutura das classes dominantes e de suas forças repressivas se verifica na extensa faixa à margem do Atlântico, a região mais bem povoada do Brasil, de maior penetração do capitalismo, servida por modernas ferrovias e rodovias.
Esta é a região do cerco estratégico. Tal cerco ocorre por diversos fatores, dentre os quais destacamos os dois seguintes:
1. o inimigo tem suas tropas acampadas em toda a região litorânea, onde proliferam as relações capitalistas, com inumeráveis facilidades para comunicações e transportes, além dos recursos da técnica moderna;
2. o inimigo domina com suas forças militares o relevo norte-sul, bem como o mais importante sistema orográfico do país, projetado sobre o Atlântico, e erguido dentro da faixa litorânea, entre os maiores centros urbanos brasileiros.
A guerrilha brasileira deve evitar o confronto com a esmagadora superioridade do inimigo na faixa Atlântica, onde este tem suas forças concentradas. Se optar por esta solução, a guerrilha, mesmo que disponha de meios para instalar-se no sistema orográfico existente dentro da área inimiga, estará por sua própria iniciativa dentro das condições de um cerco estratégico.
Ao contrário, lançar a luta guerrilheira na área fora das condições do cerco é iniciar o caminho da ofensiva estratégica contra o inimigo, obrigando-o a deslocar-se da faixa litorânea para perseguir a guerrilha.
Tal situação permitirá o crescimento da ação das forças revolucionárias urbanas, que poderão cortar vias de abastecimento e comunicações, dificultar o transporte de tropas e intensificar o apoio logístico à guerrilha.
Assim, as conseqüências para as forças armadas convencionais serão desastrosas, não só por terem de combater fora do seu "habitat" natural, como porque se verão obrigadas a enfrentar o castigo das forças urbanas revolucionárias na retaguarda.

As Fases Fundamentais da Luta de Guerrilhas

A luta de guerrilhas não se desenvolve jamais de um só jato, isto é, desde quando se inicia até quando termina, com a vitória ou o fracasso. Pensar que isto pudesse ser assim significaria considerar a guerrilha como uma luta improvisada e arbitrária e não como uma luta de classes que se desenvolve segundo as leis da guerra.
Ainda que seja um prolongamento da política, a guerra tem suas leis específicas. Quando estamos em guerra, devemos saber que sua lei básica é a preservação de nossas próprias forças e o aniquilamento das forças do inimigo.
Nenhuma destas duas coisas pode se obter de uma só vez, e é obrigatoriamente necessário passar por um certo número de fases para atingir os objetivos previstos.
É por isso que o desenvolvimento da luta guerrilheira se processa por meio de fases distintas e bem características, interdependentes e relacionadas entre si.
Não se trata de fases determinadas arbitrariamente, mas presididas por leis inerentes à atividade consciente dos homens e das classes em luta. Essas leis têm traços comuns. O traço comum fundamental de qualquer delas consiste em sua subordinação total à lei básica da guerra: preservar nossas próprias forças e aniquilar as do inimigo.
Mas cada fase tem seus objetivos e suas particularidades e deve conter em si mesma os elementos e requisitos indispensáveis para a passagem à fase posterior.
Assim, na luta guerrilheira no Brasil distinguem-se três fases fundamentais.
A primeira é a do planejamento e preparação da guerrilha.
A segunda é a do lançamento e sobrevivência da guerrilha.
A terceira é a do crescimento da guerrilha e sua transformação em guerra de manobras.
O tempo de duração de todas ou de cada uma dessas fases não importa, como ensina a história, pois os povos que lutam pela libertação jamais se preocupam com o tempo de duração de sua luta.

Planejamento e Preparação da Guerrilha

Um dos requisitos básicos para a primeira fase da guerrilha é a existência de um pequeno núcleo de combatentes, surgido em condições histórico-sociais determinadas. Esse requisito constitui uma regra geral. Sua única exceção é em caso de guerra regular, quando a guerrilha preenche um papel tático, e o seu surgimento se dá por variadas maneiras.
O núcleo inicial de combatentes deve ser imune ao convencionalismo dos partidos políticos de esquerda tradicional e suas lideranças oportunistas, e ter condições para enfrentar e conduzir a luta ideológica e política contra o grupo de direita oposto ao caminho armado.
A luta ideológica deve ser levada ao conhecimento do povo com enorme audácia, confiança e amplitude, tendo em vista assegurar o apoio político e revolucionário das massas.
Deve ser exposto às massas com muita clareza o objetivo político da guerrilha, ou seja, a expulsão do imperialismo dos Estado Unidos e a destruição total da ditadura e suas forças militares, para, em consequência, estabelecer-se o poder do povo.
Não se deve, entretanto, empreender a guerrilha sem um plano estratégico e tático global, com base na realidade objetiva. Tal plano é necessário para que a guerrilha não venha a ser uma iniciativa isolada, desligada dos grandes objetivos patrióticos perseguidos por nosso povo, e sem a imprescindível visão do processo de aniquilamento das forças do inimigo.
Além do plano, a guerrilha requer preparação. Uma boa preparação começa com a seleção cuidadosa dos homens, que devem advir, isto é chegar depois, particularmente, do setor de operários e camponeses.
A preparação da guerrilha exige ainda o adestramento do combatente, sobretudo para o tiro e a marcha a pé, algumas armas e munições, a exploração do terreno, noções de sobrevivência e orientação, e a organização inicial de apoio logístico, incluindo a coleta de recursos de todos os tipo.
O que caracteriza o planejamento e a preparação da guerrilha é o segredo, a vigilância e a segurança mais absoluta, a proibição rigorosa do uso de papéis e cadernetas com nomes e endereços escritos, planos e apontamentos que podem vir a cair nas mãos do inimigo.
Sem esses cuidados, a primeira fase da guerrilha não tem condições de ir adiante.

Lançamento e Sobrevivência da Guerrilha

Apesar de que o inimigo no Brasil já está prevenido e reprime violentamente as tentativas de guerrilha, a primeira fase da luta guerrilheira ainda prossegue.
Quanto à Segunda fase, está é a do lançamento e sobrevivência da guerrilha, e se destina a converter uma situação política em situação militar.
Com esta segunda fase, as tarefas políticas convencionais propostas pelos direitistas, como sejam eleições, "frente ampla", luta pacífica, etc., caem no descrédito público. Surgem métodos de luta revolucionários e de apoio à guerrilha, com a finalidade de aniquilar as forças do inimigo.
Esta mudança é muito violenta e produz um impacto em todos os setores da luta.
O "gorilas" se defrontarão com uma situação militar, que procurarão resolver segundo os métodos convencionais do militarismo profissional. Estes métodos serão confrontados com os métodos não convencionais da guerrilha. A vitória será de quem melhor o emprego fizer da lei básica da guerra. Ou de quem tenha melhores condições no meio do povo para fazê-lo. A vitória será da guerrilha.
O lançamento da guerrilha deve constituir obrigatoriamente uma surpresa para o inimigo, como decorrência de dois fatores. Um deles é que, na segunda fase da luta de guerrilhas no Brasil, a forma principal das ações de combate consiste nas ações de surpresa e na emboscada. O outro é que o método principal de condição da luta de guerrilhas nesta fase reside na ofensiva, cujo papel decisivo se revela no aniquilamento das forças do inimigo.
Em matéria de formas de ação de combate e métodos de conduzir a luta armada, a derrota da guerrilha no ato de seu lançamento é produzida pelos seguintes erros:
a) não utilizar a surpresa contra o inimigo;
b) deixar-se surpreender pelo inimigo ou cair no seu cerco tático;
c) travar combates decisivos em pontos onde o inimigo, mesmo eventualmente, tenha superioridade;
d) começar a luta nas condições do cerco estratégico do inimigo e não ter plano estratégico e tático global, não conhecer o terreno e violar grosseiramente as leis da guerra.
Na maioria desses casos estão incursas as tentativas de guerrilhas fracassadas no Brasil, incluindo Caparaó.

Fatores de que Depende a Sobrevivência

Quando a guerrilha é lançada com êxito, o problema da sua sobrevivência passa a ter prioridade e uma importância fundamental e decisiva. A sobrevivência da guerrilha depende então:
a) dos seus objetivos políticos;
b) do método de condução da luta armada;
c) da estreita relação entre a guerrilha e o povo.
Quanto aos Objetivos Políticos
Nesse particular, os princípios são os seguintes:
a) procurar despertar o povo e particularmente os camponeses com a contínua presença dos combatentes guerrilheiros e a repercussão de sua ação política e revolucionária;
b) tornar conhecido do povo o objetivo político da guerrilha (a expulsão do imperialismo dos Estados Unidos e a destruição total da ditadura e suas forças "gorilas"). A guerrilha deve contar para isso com aparelhamento e organizações revolucionárias clandestinas, além de pontos de apoio em todo país.
Quanto aos Métodos de Condução da Luta Armada
Sob tal aspecto, são estes os princípios:
a) o princípio básico da guerrilha é partir de uma situação em que temos inferioridade e o nosso inimigo superioridade, e chegar a uma situação em que temos superioridade e o nosso inimigo inferioridade. Nesse caso não só as armas decidem. O fator decisivo mesmo é o homem, que maneja as armas e captura o inimigo. Se o decisivo fossem as armas, venceriam os "gorilas";
b) subordinar todas as ações de combate à lei básica da guerra, não se deixando aniquilar e aniquilando o inimigo nas variadas oportunidades, para crescer às suas custas e preservar as forças da guerrilha;
c) a ofensiva é o melhor meio de aniquilar o inimigo, porém jamais devemos esquecer o princípio de combinar a ofensiva e a retirada;
d) toda operação estratégica deve ser bem planificada para nunca nos determos a meio caminho;
e) o objetivo de nossa estratégia não é solucionar problemas econômicos no curso da guerra de guerrilhas, e sim aniquilar o inimigo. Daí por que jamais devemos ter bases fixas, ocupar ou defender territórios;
f) devemos deixar ao inimigo a tarefa de defender suas bases fixas e territórios ameaçados de incursão, ocupá-los ou recuperá-los. Isto põe o inimigo na defensiva, enquanto a guerrilha goza de liberdade de ação e iniciativa, desde que não se deixe aniquilar e preserve suas forças;
g) os combates, ações de surpresa, emboscadas e pequenas manobras táticas têm como objetivo principal capturar armas e munições;
h) além da extrema mobilidade, rapidez e decisão nas ações de combate, a norma de conduta da guerrilha é o permanente deslocamento, favorecido pela extensão continental do país e a diversidade das condições do terreno;
i) a guerrilha deve exercer severa vigilância e exigir rigoroso cumprimento das normas de segurança.
Quanto às Relações entre a Guerrilha e o Povo
Os princípios da sobrevivência aqui são os seguintes:
a) a guerrilha deve ter uma conduta honesta e leal, não fazer injustiças e dizer a verdade. Estimar, respeitar, ajudar o povo e jamais violentar os seus interesses;
b) a guerrilha deve viver e nutrir-se no meio dos camponeses, identificando-se com eles e respeitando seus costumes e religião. Explicar-lhes a natureza de classe do inimigo, o papel da guerrilha e o seu objetivo político. Organizar entre eles o trabalho de informação e o apoio logístico da guerrilha;
c) a guerrilha deve abster-se de aplicar qualquer método de banditismo, levar a efeito qualquer ato próprio de bandido ou juntar-se a eles.
Quando a Segunda fase da guerrilha é conduzida de tal modo que os erros são corrigidos no processo da luta, a estagnação e a passividade são abolidas e a sobrevivência da guerrilha fica assegurada; estão preenchidas as condições para a passagem à terceira fase.

O Crescimento da guerrilha e sua Transformação em Guerra de Manobras

A terceira fase da guerrilha é a última, da guerra revolucionária.
É a fase do crescimento da guerrilha e sua transformação em guerra de manobras, a fase decisiva de aniquilamento do inimigo.
O desenvolvimento desta fase é impossível sem uma série de condições entre as quais se destacam:
a) o crescimento político da guerrilha;
b) o crescimento de sua potência de fogo;
c) o aparecimento da retaguarda;
d) a criação do exército revolucionário;
e) a mudança na forma principal das ações de combate.
O Crescimento Político da Guerrilha
Na terceira fase, o objetivo político da guerrilha passa a ser conhecido do povo, terminando a situação em que era conhecido apenas um círculo limitado de pessoas.
O objetivo político da guerrilha transforma-se, então, no mesmo objetivo de grandes massas do povo. Decorre daí o crescimento da autoridade política do comando da guerrilha. Seu trabalho ideológico se torna mais eficiente. As palavras-de-ordem da guerrilha passam a influir nas cidades. O comando total da luta se transfere para a guerrilha.

O Crescimento da Potência de Fogo da Guerrilha

Com o sucesso das formas de ações de combate da Segunda fase, a guerrilha passa a Ter novos tipos de armas. Melhora a qualidade do armamento. Pode dispor de mais animais de transporte, chegar à motorização e a operações com aviação. Melhora o serviço de comunicações e informações e de socorro médico. Consolida-se a rádio rebelde clandestina, cuja instalação pode fazer parte da fase anterior da luta. Aumenta a experiência da guerrilha. Seu heroísmo, perseverança e capacidade combativa se reforçam.
Todos estes fatores combinados determinam o aumento da potência de fogo da guerrilha.
Quando aumenta sua potência de fogo, a guerrilha deve aplicar os dois princípios seguintes, tendo em mira o aniquilamento do inimigo:
1 – Passar de uma situação sem muita capacidade de fogo para a situação de estender a linha de fogo.
2 – Aumentar o espírito combativo da guerrilha e fazer vacilar o espírito combativo do inimigo.

O Aparecimento da Retaguarda

A característica da guerrilha em suas duas fases anteriores é operar sem retaguarda e somente com pontos de apoio. O crescimento político da guerrilha lhe dá pontos de apoio coletivos e leva à criação de uma retaguarda.
Na fase final, a guerrilha brasileira dispõe de uma retaguarda interna e de uma retaguarda externa, esta última pelas forças dos países socialistas, as forças dos países do terceiro mundo e as forças progressistas do mundo capitalista.
A retaguarda interna da guerrilha brasileira será constituída por toda a área do apoio logístico e da luta complementar da guerrilha.
A guerrilha passará, assim, de uma situação sem retaguarda para uma situação em que terá retaguarda. Isto levará o apoio logístico a um avanço jamais atingido em qualquer fase anterior e, graças ao apoio do povo, o abastecimento da guerrilha se transformará num sistema regular de abastecimento.
Dispondo de retaguarda, a guerrilha terá em suas mãos reservas estratégicas que poderá, então, manejar em larga escala.

A Criação do Exército Revolucionário

Para que seja atingido o objetivo fundamental da guerrilha, é necessário criar o exército de origem guerrilheira, exército revolucionário capaz de aniquilar as forças armadas convencionais e de conduzir as massas à tomada do poder, destruindo o aparelho burocrático-militar do atual Estado brasileiro e substituindo-o pelo povo armado.
A criação de um exército dessa natureza é um princípio geral da revolução, princípio sobre o qual Lenin insistia, ao afirmar o seguinte:
"O exército revolucionário corresponde a uma necessidade porque os grandes problemas históricos só pdoem resolver-se pela força, e a organização da força é, na luta moderna, a organização militar" (Artigo publicado no "Proletari", em 1905, sob o título "Exército Revolucionário e o Governo Revolucionário").
No mesmo artigo, Lenin acrescenta:
"O governo revolucionário é necessário para assegurar a direção política das massas do povo".
Partindo do marco zero, a guerrilha possibilita a organização da força do povo, a princípio sob a forma de um pequeno núcleo de combatentes que se lança à luta, dentro de um plano estratégico e tático global. E, em seguida, sob a forma de um exército combatente, que nada tem a ver com o convencionalismo militar.
Uma das indispensáveis tarefas da estratégia da guerrilha no Brasil, é a criação desse exército genuinamente popular, que parte do nada e, através da guerra revolucionária, chega a uma organização militar capaz de praticar a guerra de manobras, vencer o inimigo, e, em consequência, conquistar o poder para o povo.
O crescimento da guerrilha em prestígio político, potência de fogo e apoio de massas produz modificações no curso da luta, atingindo a organização militar, os métodos de conduzir a guerra, as ações de combate e o emprego das forças da guerrilha.
A guerrilha dá um salto para a frente. E passa do tipo de organização de grupos guerrilheiros para o tipo de organização de um exército revolucionário. Mas um exército revolucionário não convencional, surgido da guerrilha, com base na alianã armada de operários e camponeses, aos quais se reunirão estudantes, intelectuais e outras forças da revolução brasileira.
Destacamentos, coluna e outras formas revolucionárias de organização militar constituirão o exército do povo que libertará o país.

A Mudança da Forma Principal das Ações de Combate

Na terceira fase da guerrilha, a forma principal das ações de combate são as ações de manobras e não mais as ações de surpresa da segunda fase.
Isto significa uma mudança de qualidade na luta de guerrilhas. Trata-se agora da transformação da guerrilha em guerra de manobras. É possível agora à guerrilha concentrar forças ou deslocá-las para aniquilar o inimigo e realizar operações de cerco e aniquilamento.
O método principal de conduzir a guerra de manobras continua sendo a ofensiva. Mais do que nunca, porém, nesta fase a guerrilha deve estar atenta a dois princípios:
1. Não somente avançar, mas também admitir a retirada.
2. Não expor as forças principais da guerrilha a um golpe inimigo de relevo na condução da luta ou no desfecho da guerra revolucionária.
A sorte da guerra se decide por suas ações de manobras. O inimigo, em inferioridade de forças, é obrigado a passar para a guerra de posições ou render-se e desintegrar-se, com o aniquilamento total.

O Núcleo Operário-Camponês e o Apoio do Povo - Segredo da Vitória

Quando se desencadeou o golpe de abril de 64, no Brasil, não houve resistência. O imperialismo norte-americano e os "gorilas" nacionais se aproveitaram disso e estão massacrando o nosso povo. Se fizermos a resistência, eles tentarão aniquilá-la, para que tenha prosseguimento a exploração do Brasil. Mas a resistência deve ser feita. A resistência do povo brasileiro é a guerrilha.
A guerrilha é para defender a causa dos pobres, dos humilhados e ofendidos, dos homens e mulheres de pés descalços. É para conquistar a libertação do Brasil, expulsar o imperialismo norte-americano, aniquilar a ditadura e suas forças armadas, derrubar seu poder, e instaurar o poder do povo.
Nossa guerrilha não tem base fixa. Sua base é o povo, é o homem brasileiro. Seu principal sustentáculo é o núcleo operário-camponês, a aliança armada de operários e camponeses brasileiros, que constituem a maioria da nação.
A guerrilha brasileira não ocupará terras nem adotará a tática de autodefesa dos camponeses, para não ter que defender territórios e bases fixas e desviar-se de sua rota de ofensiva estratégica, caindo na defensiva. A defensiva é a morte.
As dívidas dos camponeses serão canceladas. Os papéis e comprovantes de suas dívidas serão queimados. Os camponeses que ocupam terras, os arrendatários, os parceiros, posseiros que lutam contra os despejos, os assalariados agrícolas que queimam canaviais, os trabalhadores rurais que fazem greve no campo, lutam por suas reivindicações e são perseguidos pela polícia e o exército, por sua atividade organizando sindicatos, ligas camponesas e associações, podem ingressar na guerrilha e, dentro dela, prosseguir na luta pela revolução agrária, pelo aniquilamento do inimigo e a tomada do poder.
A guerrilha brasileira castigará os latifundiários norte-americanos que são donos de terra no Brasil e os latifundiários brasileiros contra-revolucionários, bem como os seus capangas e os que abusam das mulheres dos camponeses.
O que a guerrilha deve fazer é convulsionar o campo, levando aí a bandeira da luta armada.
A guerrilha brasileira incursionará nos povoados, mas só em defesa dos interesses do povo e em busca de seu apoio político e logístico. Para isso, formará secretos destacamentos armados da população local e organizará o povo sob formas revolucionárias.
A guerrilha brasileira será dotada de um espírito político avançado e progressista, guiando-se pelos princípios do marxismo leninismo, com o que conquistará o apoio do povo. O apoio da população deve existir para excluir a possibilidade de filtração de informação da guerrilha ao campo inimigo. A tarefa de eliminar os delatores será confiada ao povo.
A causa do inimigo é injusta. E ele sabe disso, pois tem consciência de que é um explorador. Ao ver-se acuado no campo pela guerrilha, o inimigo tornar-se-á mais cruel. Essa crueldade nos dará o apoio de milhões de pessoas. A guerrilha será o oposto da crueldade, dará um tratamento humano aos prisioneiros, os respeitará e socorrerá os feridos.
No seio do inimigo há muitos militares que individualmente apóiam o povo. Esses militares, no momento oportuno, devem desertar com suas armas e apetrechos e ingressar na guerrilha.
O fator decisivo da vitória da guerrilha está no apoio do povo, na confiança cega e absoluta nas massas. A guerrilha deve fazer a mobilização política do povo, uma ardente agitação no meio dele. Nos ombros de milhões de mulheres e homens do povo, particularmente entre a juventude, devem ser colocadas as tarefas de responsabilidade: coletar fundos, conseguir armas, munições, remédios, recursos de toda natureza, enviar combatentes e voluntários à guerrilha.
Para vencer é preciso unidade. O povo deve unir-se pela base, em suas organizações, e com isto chegar à unidade das forças populares e revolucionárias e jamais permitir o engodo das frentes burguesas do tipo "frente ampla".
O segredo da vitória é o povo.
Havana, Outubro de 1967.


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http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=50148

5/12/2011
 
Governo concede status de anistiado político a Marighella
 
A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concederá hoje o status de anistiado político ao guerrilheiro comunista Carlos Marighella (1911-1969), que foi líder da ALN (Ação Libertadora Nacional) e um dos principais opositores à ditadura militar.

A notícia é do jornal Folha de S. Paulo, 05-12-2011.

A homenagem acontecerá em Salvador, no dia dos cem anos de seu nascimento. Seus familiares não pediram reparação econômica.

Na cerimônia, conselheiros pedirão desculpas, em nome do Estado brasileiro, pela perseguição empreendida contra o guerrilheiro.

À noite, será exibido o documentário "Marighella", dirigido por Isa Ferraz, sobrinha do guerrilheiro, na praça Castro Alves. Também será lançado um memorial.

Amanhã, os conselheiros julgarão os pedidos de outros resistentes ao regime.

A atuação de Marighella se deu, por décadas, no PCB. Preso na ditadura de Getúlio Vargas, chegou a ser eleito deputado em 1946.

Em 1968, após romper com o partido, fundou a ALN para combater, por meio da luta armada, a ditadura.

A ação mais conhecida do grupo foi o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick em 1969, feita com o MR-8, outra organização guerrilheira de esquerda.

Dois meses depois do sequestro, Marighella foi morto por agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) em uma emboscada em São Paulo. 

Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano - Marighella

http://www.marxists.org/portugues/marighella/1969/manual/index.htm

Escrito:
Junho de 1969.

Fonte: Material mimeografado datado de 1970. [Note-se que não possuímos um fonte fidedigna deste documento. O documento existe em várias versões e não possuímos o conhecimento nem os recursos para identificar correctamente a versão mais fiel do presente trabalho].

Direito de Reprodução: Marighella Internet Archive (marxists.org) 2002. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Transcrição e HTML de: Pablo de Freitas Lopes para Marxists Internet Archive, Novembro de 2004.


1. Uma Definição do Guerrilheiro Urbano
2. Como Deve Viver e Subsistir o Guerrilheiro Urbano
3. Preparação Técnica do Guerrilheiro Urbano
4. As Armas do Guerrilheiro Urbano
5. O Tiro: A Razão para a Existência do Guerrilheiro Urbano
6. O Grupo de Fogo
7. A Logística do Guerrilheiro Urbano
8. A Técnica do Guerrilheiro Urbano
9. Características da Técnica das Guerrilhas

9.1. A Vantagem Inicial da Guerrilha Urbana

Surpresa

Conhecimento do Terreno

Mobilidade e Velocidade

Informação

Decisão

9.2. Objetivos das Ações de Guerrilha Urbana
9.3. Sobre os Tipos e Natureza de Modelos de Ação para os Guerrilheiros Urbanos

Assaltos

O Assalto a Banco como Modelo Popular

Batidas

Ocupações

Emboscada

Táticas de Rua

Greves e Interrupções de Trabalho

Deserções, Desvios, Confiscos, Expropriações de Armas, Munições e Explosivos

Libertação de Prisioneiros

Execuções

Seqüestros

Sabotagem

Terrorismo

Propaganda Armada

Guerra de Nervos

9.4. Como Executar a Ação

Algumas Observações nas Táticas

Resgate de Feridos

10. Segurança da Guerrilha
11. Os Sete Pecados da Guerrilha Urbana
12. Apoio Popular
13. Guerrilha Urbana, Escola para Selecionar o Guerrilheiro


Introdução

Eu gostaria de fazer uma dupla dedicatória deste trabalho; primeiro, em memória de Edson Souto, Marco Antônio Brás de Carvalho, Nelson José de Almeida ("Escoteiro") e a tantos outros heróicos combatentes e guerrilheiros urbanos que caíram nas mãos dos assassinos da polícia militar, do exército, da marinha, da aeronáutica, e também do DOPS, instrumentos odiados da repressora ditadura militar.
Segundo, aos bravos camaradas - homens e mulheres - aprisionados em calabouços medievais do governo brasileiro e sujeitos a torturas que se igualam ou superam os horrendos crimes cometidos pelos nazistas. Como aqueles camaradas cujas lembranças nós reverenciamos, bem como aqueles feitos prisioneiros em combate, o que devemos fazer é lutar.
Cada camarada que se opõe a ditadura militar e deseja resistir fazendo alguma coisa, mesmo pequena que a tarefa possa parecer. Eu desejo que todos que leram este manual e decidiram que não podem permanecer inativos, sigam as instruções e juntem-se a luta agora. Eu solicito isto porque, baixo qualquer teoria e qualquer circunstâncias, a obrigação de todo revolucionário é fazer a revolução.
Um outro ponto importante é não somente ler este manual aqui e agora, mas difundir seu conteúdo. Esta circulação será possível se aqueles que concordam com estas idéias façam cópias mimeografadas ou folhetos impressos, (sendo que neste último caso, a própria luta armada será necessária).
Finalmente, a razão porque este manual leva minha assinatura é que as idéias expressadas ou sistematizadas aqui refletem as experiências pessoais de um grupos de pessoas engajadas na luta armada no Brasil, entre os quais eu tenho a honra de estar incluído. De maneira que certos indivíduos não terão dúvidas sobre o que este manual diz, e podem sem demora negar os fatos ou continuar dizendo que as condições para a luta armada não existem, é necessário assumir a responsabilidade do que é dito e feito. Portanto, anonimato torna-se um problema num trabalho com este. O fato importante é que existem patriotas preparados para lutar como soldados.
A acusação de "violência" ou "terrorismo" sem demora tem um significado negativo. Ele tem adquirido uma nova roupagem, uma nova cor. Ele não divide, ele não desacredita, pelo contrário, ele representa o centro da atração. Hoje, ser "violento" ou um "terrorista" é uma qualidade que enobrece qualquer pessoa honrada, porque é um ato digno de um revolucionário engajado na luta armada contra a vergonhosa ditadura militar e suas atrocidades.
Carlos Marighella, 1969

Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano

Capitulos 1 a 8


1. Uma Definição do Guerrilheiro Urbano

A crise estrutural crônica característica do Brasil de hoje, e sua resultante instabilidade política, são as razões pelo abrupto surgimento da guerra revolucionária no país. A guerra revolucionária se manifesta na forma de guerra de guerrilha urbana, guerra psicológica, ou guerra guerrilheira rural. A guerra guerrilheira urbana ou a guerra psicológica na cidade depende da guerrilha urbana.
O guerrilheiro urbano é um homem que luta contra uma ditadura militar com armas, utilizando métodos não convencionais. Um revolucionário político e um patriota ardente, ele é um lutador pela libertação de seu país, um amigo de sua gente e da liberdade. A área na qual o guerrilheiro urbano atua são as grandes cidades brasileiras. Também há muitos bandidos, conhecidos como delinqüentes, que atuam nas grandes cidades. Muitas vezes assaltos pelos delinqüentes são interpretados como ações de guerrilheiros.
O guerrilheiro urbano, no entanto, difere radicalmente dos delinqüentes. O delinqüente se beneficia pessoalmente por suas ações, e ataca indiscriminadamente sem distinção entre explorados e exploradores, por isso há tantos homens e mulheres cotidianos entre suas vítimas. O guerrilheiro urbano segue uma meta política e somente ataca o governo, os grandes capitalistas, os imperialistas norte-americanos.
Outro elemento igualmente prejudicial como o delinqüente, e que também opera no ambiente urbano é o contra-revolucionário direitista que cria a confusão, assalta bancos, joga bombas, seqüestra, assassina, e comete o crimes mais atrozes imagináveis contra os guerrilheiros urbanos, o sacerdotes revolucionários, os estudantes e os cidadãos que se opõem ao fascismo e buscam a liberdade.
O guerrilheiro urbano é um inimigo implacável do governo e infringe dano sistemático às autoridades e aos homens que dominam e exercem o poder. O trabalho principal do guerrilheiro urbano é de distrair, cansar e desmoralizar os militares, a ditadura militar e as forças repressivas, como também atacar e destruir as riquezas dos norte-americanos, os gerentes estrangeiros, e a alta classe brasileira.
O guerrilheiro urbano não teme desmantelar ou destruir o presente sistema econômico, político e social brasileiro, já que sua meta é ajudar ao guerrilheiro rural e colaborar para a criação de um sistema totalmente novo e uma estrutura revolucionária social e política, com as massas armadas no poder.
O guerrilheiro urbano tem que ter um mínimo de entendimento político. Para conseguir isto tem que ler certos trabalhos impressos ou mimeografados, como:
Guerra de Guerrilha por Che Guevara; Memórias de um Terrorista; Algumas Perguntas dos Guerrilheiros Brasileiros Sobre Problemas e Princípios estratégicos; Certos Princípios Táticos para Camaradas; Levando em Conta Operações de Guerrilha; Perguntas Organizacionais; O Guerrilheiro; Jornal dos Grupos Revolucionários Brasileiros; Qualidades Pessoais de um Guerrilheiro Urbano.
O guerrilheiro urbano é caracterizado por sua valentia e sua natureza decisiva. Tem que ser bom taticamente e ser um líder hábil. O guerrilheiro urbano tem que ser uma pessoa preparada para compensar o fato de que não tem suficientes armas, munições e equipe.
Os militares de carreira ou a polícia governamental tem armas e transportes modernos e podem viajar com liberdade, utilizando a força de seu poder. O guerrilheiro urbano não tem tais recursos a sua disposição e leva uma vida clandestina. Algumas vezes é uma pessoa sentenciada ou esta sob liberdade condicional, e é obrigado a usar documentos falsos.
No entanto, o guerrilheiro urbano tem certa vantagem sobre o exército convencional ou sobre a polícia. Esta é, enquanto a polícia e os militares atuam a favor do inimigo, a quem as pessoas odeiam, o guerrilheiro urbano defende uma causa justa, que é a causa do povo.
As armas do guerrilheiro urbano são inferiores às do seu inimigo, mas vendo desde o ponto de vista moral, o guerrilheiro urbano tem uma vantagem que não se pode negar. Esta superioridade moral é o que sustem ao guerrilheiro urbano. Graças a ela, o guerrilheiro urbano pode levar ao fim seu trabalho principal, o qual é atacar e sobreviver.
O guerrilheiro urbano tem que capturar ou desviar armas do inimigo para poder lutar. Devido a que suas armas não são uniformes, já que o que possui foi tomado ou chegou a suas mãos de diferentes formas, o guerrilheiro urbano se vê com o problema de que tem uma variedade de armas e uma escassez de munições. Além disso, não tem onde treinar o tiro.
Estas dificuldades tem que ser superadas, o qual força ao guerrilheiro urbano a ser imaginativo e criativo, qualidades que sem as quais seria impossível para ele exercer seu papel como revolucionário.
O guerrilheiro urbano tem que ter a iniciativa, mobilidade, e flexibilidade, como também versatilidade e um comando para qualquer situação. A iniciativa é uma qualidade especialmente indispensável. Nem sempre é possível se antecipar tudo, e o guerrilheiro não pode deixar se confundir, ou esperar por ordens.
Seu dever é o de atuar, de encontrar soluções adequadas para cada problema que encontrar, e não se retirar. É melhor cometer erros atuando a não fazer nada por medo de cometer erros. Sem a iniciativa não pode haver guerrilha urbana.
Outras qualidades importantes no guerrilheiro urbano são as seguintes: que possa caminhar bastante; que seja resistente à fadiga, fome, chuva e calor; conhecer como se esconder e vigiar, conquistar a arte de ter paciência ilimitada; manter-se calmo e tranqüilo nas piores condições e circunstâncias; nunca deixar pistas ou traços. Na frente das dificuldades quase impossíveis da guerra urbana, muitos camaradas enfraquecem, se vão, ou deixam o trabalho revolucionário.
O guerrilheiro urbano não é um homem de negócios em uma empresa comercial, nem é um artista numa obra. A guerrilha urbana, assim como a guerrilha rural, é uma promessa que o guerrilheiro se faz a si mesmo. Quando já não pode fazer frente às dificuldades, ou reconhece que lhe falta paciência para esperar, então é melhor entregar seu posto antes de trair sua promessa, já que lhe faltam as qualidades básicas necessárias para ser um guerrilheiro.

2. Como Deve Viver e Subsistir o Guerrilheiro Urbano

O guerrilheiro urbano deve saber como viver entre as pessoas e se cuidar para não aparentar ser estranho ou distante da vida normal da cidade
Não deve usar roupas diferentes da que outras pessoas utilizam. Roupas caras e elaboradas para os homens ou para as mulheres podem ser um impedimento para o guerrilheiro urbano, caso seu trabalho o levar a bairros onde este tipo de roupa não seja comum. O mesmo serve se o trabalho for na ala inversa.
O guerrilheiro urbano tem que viver do seu trabalho ou atividade profissional, se é conhecido ou procurado pela polícia, se esta sentenciado ou esta sob liberdade condicional, tem que viver clandestinamente. Sob tais condições, o guerrilheiro urbano não pode revelar suas atividades a ninguém, já que isso é sempre e unicamente de responsabilidade da organização revolucionária a qual pertence.
O guerrilheiro urbano tem que ter uma grande capacidade de observação, tem que estar bem informado a respeito de tudo, em particular dos movimentos de seu inimigo, tem que estar constantemente alerta, procurando, e ter grande conhecimento sobre a área em que vive, opera, ou através da qual se movimenta.
Mas a característica fundamental e decisiva do guerrilheiro urbano é que é um homem que luta com armas; dada esta condição, há poucas probabilidades de que possa seguir sua profissão normal por muito tempo ou o referencial da luta de classes, já que é inevitável e esperado necessariamente, o conflito armado do guerrilheiro urbano contra os objetivos essenciais:

a. A exterminação física dos chefes e assistentes das forças armadas e da polícia.

b. A expropriação dos recursos do governo e daqueles que pertencem aos grandes capitalistas, latifundiários, e imperialistas, com pequenas exropriações usadas para o mantimento do guerrilheiro urbano individual e grandes expropriações para o sustento da mesma revolução.

É claro que o conflito armado do guerrilheiro urbano também tem outro objetivo. Mas aqui nos referimos aos objetivos básicos, sobre tudo às expropriações. É necessário que todo guerrilheiro urbano tenha em mente que somente poderá sobreviver se está disposto a matar os policiais e todos aqueles dedicados à repressão, e se está verdadeiramente dedicado a expropriar a riqueza dos grandes capitalistas, dos latifundiários, e dos imperialistas.
Uma das características fundamentais da revolução brasileira é que desde o começo se desenvolveu ao redor de expropriações da riqueza da burguesia maior, imperialista, e dos interesses latifundiários, sem a exclusão dos elementos mais ricos e dos elementos comerciais mais poderosos envolvidos com a importação e exportação de negócios.
E mediante a expropriação da riqueza dos principais inimigos do povo, a revolução brasileira foi capaz de golpeá-los em seus centros vitais, com ataques preferenciais e sistemáticos na rede bancária, isto é, os golpes mas contundentes foram contra o sistema nervoso capitalista.
Os roubos a bancos realizados pelos guerrilheiros urbanos brasileiros machucaram os grandes capitalistas tais como Moreira Salles e outros, as empresas estrangeiras que asseguram e reasseguram o capital bancário, as companhias imperialistas e os governos estatais e federais, todos eles sistematicamente expropriados desde agora.
Os frutos destas expropriações tem sido dedicados ao trabalho de aprender e aperfeiçoar as técnicas de guerrilha urbana, à compra, à produção, e ao transporte de armas e munições das áreas rurais, ao aparelho de segurança dos revolucionários, ao mantimento diário dos soldados, àqueles que foram libertados da prisão por forças armadas e àqueles que foram feridos ou perseguidos pela polícia, ou a qualquer tipo de problema que envolva camaradas que foram libertados da cadeia, ou assassinados pelos policiais e pela ditadura militar.
No Brasil, o número de ações violentas realizadas pelos guerrilheiros urbanos, incluindo mortes, explosões, capturas de armas, munições, e explosivos, assaltos a bancos e prisões, etc., é o suficientemente significativo como para não deixar dúvida em relação as verdadeiras intenções dos revolucionários.
A execução do espião da CIA Charles Chandler, um membro do Exército dos EUA que venho da guerra do Vietnã para se infiltrar no movimento estudantil brasileiro, os lacaios dos militares mortos em encontros sangrentos com os guerrilheiros urbanos, todos são testemunhas do fato que estamos em uma guerra revolucionária completa e que a guerra somente pode ser livrada por meios violentos.
Esta é a razão pela qual o guerrilheiro urbano utiliza a luta e pela qual continua concentrando sua atividade no extermínio físico dos agentes da repressão, e a dedicar 24 horas do dia à expropriação dos exploradores da população.

3. Preparação Técnica do Guerrilheiro Urbano

Ninguém pode se converter em guerrilheiro urbano sem prestar particular atenção à preparação técnica.
Esta preparação técnica do guerrilheiro urbano baseia-se na sua preocupação pela preparação física, seu conhecimento e no aprendizado de profissões e habilidades de todas classes, particularmente as habilidades manuais.
O guerrilheiro urbano somente pode ter uma forte resistência física se treinar sistematicamente. Não pode ser um bom soldado se não estudou a arte de lutar. Por esta razão o guerrilheiro urbano tem que aprender e praticar vários tipos de luta, de ataque e de defesa pessoal.
Outras formas úteis de preparação física são caminhadas, acampar, e treinar sobrevivência na selva, escalar montanhas, remar, nadar, mergulhar, pescar, caçar pássaros, e animais grandes e pequenos.
É muito importante aprender a dirigir, pilotar um avião, manejar um pequeno bote, entender mecânica, rádio, telefone, eletricidade, e ter algum conhecimento das técnicas eletrônicas.
Também é importante ter conhecimentos de informação topográfica, poder localizar a posição através de instrumentos ou outros recursos disponíveis, calcular distâncias, fazer mapas e planos, desenhar escalas, calcular tempos, trabalhar com escalonamentos, compasso, etc.
Um conhecimento de química e da combinação de cores, a confecção de selos, o domínio da arte da caligrafia e de copiar letras em conjunto com outras habilidades são parte da preparação técnica do guerrilheiro urbano, que é obrigado a falsificar documentos para poder viver dentro de uma sociedade que ele busca destruir.
Na área de medicina auxiliar ele tem o papel especial de ser doutor ou entender de medicina, enfermaria, farmacologia, drogas, cirurgia elementar, e primeiros socorros de emergência.
A questão básica na preparação técnica do guerrilheiro urbano é o manejo de armas, tais como a metralhadora, o revólver automático, FAL, vários tipos de escopetas, carabinas, morteiros, bazucas, etc.
O conhecimento de vários tipos de munições e explosivos é outro aspecto a considerar. Entre os explosivos, a dinamite tem que ser bem entendida. O uso de bombas incendiárias, de bombas de fumaça, e de outros tipos são conhecimentos prévios indispensáveis.
Aprender a fazer e construir armas, preparar bombas Molotov, granadas, minas, artefatos destrutivos caseiros, como destruir pontes, e destruir trilhos de trem são conhecimentos indispensáveis a preparação técnica do guerrilheiro.
O nível mais alto de preparação do guerrilheiro urbano é o centro para treinamento técnico. Mas somente o guerrilheiro que passou pelo exame preliminar pode atender a esta escola, isto é, um que tenha passado a prova de fogo em ação revolucionária, em combate verdadeiro contra o inimigo.

4. As Armas do Guerrilheiro Urbano

As armas do guerrilheiro urbano são armas leves, facilmente trocadas, usualmente capturadas do inimigo, compradas ou feitas no momento.
As armas leves têm a vantagem de que são de manejo rápido e de fácil transporte. Em geral, as armas leves são caracterizadas por serem de barris curtos. Isto inclui muitas armas automáticas.
As armas automáticas e semi-automáticas aumentam consideravelmente o poder de fogo do guerrilheiro urbano. A desvantagem deste tipo de arma para nós é a dificuldade em controlá-la, resultando no desperdício de munições, compensado somente pela sua ótima precisão. Homens que estão pobremente treinados transformam as armas automáticas num dreno de munições.
A experiência tem demostrado que a arma básica do guerrilheiro urbano é a metralhadora leve. Esta arma, além de ser eficiente e de fácil disparos, numa área urbana, tem a vantagem de ser muito respeitada pelo inimigo. O guerrilheiro tem que conhecer, completamente, o manejo da metralhadora, sendo que a mesma é agora muito popular e indispensável ao guerrilheiro urbano brasileiro.
A metralhadora ideal para o guerrilheiro urbano é a INA calibre .45. Outros tipos de metralhadoras de diferentes calibres podem ser usadas - com o prévio conhecimento, dos problemas de munições. É preferível que o potencial industrial do guerrilheiro urbano permita a produção de um só tipo de metralhadora, para que a munição utilizada possa ser padronizada.
Cada grupo de tiro das guerrilhas urbanas tem que ter uma metralhadora manejada por um bom atirador. Os outros componentes dos grupos têm que estarem armados com revólveres calibre .38, nossa arma "padrão". O calibre .32 também é útil para aqueles que querem participar. Mas o .38 é preferível já que seu impacto usualmente põe o inimigo fora de ação.
As granadas de mão e as bombas convencionais de fumaça podem ser consideradas como armamento leve. Com poder defensivo para a cobertura e retirada.
As armas de carregador longo são mais difíceis de transportar para o guerrilheiro urbano já que atraem muita atenção devido seu tamanho. Entre as armas de carregador longo estão a FAL, as armas e rifles Máuser, as armas de caça tais como a Winchester, e outras.
Espingardas de cano curto podem ser úteis se são usados a pequenas distâncias. São úteis até para pessoas com má pontaria, especialmente pela noite quando a precisão não é de muita ajuda. Bazucas e morteiros podem ser usados em ação mas as condições para utilizá-los tem que serem preparadas e as pessoas que as vão utilizar devem ser treinadas.
O guerrilheiro urbano não deve basear suas ações no uso de armas pesadas, que possuem sérias desvantagens no tipo de luta que exige armamento leve, que garanta mobilidade e velocidade.As armas caseiras são muitas vezes tão eficientes como as melhores armas produzidas em fábricas convencionais, e até uma espingarda cortada é uma boa arma para um guerrilheiro urbano.
O papel do guerrilheiro urbano como produtor de armas é de fundamental importância. Cuidar de suas armas, saber como arrumá-las, e em muitos casos poder estabelecer uma pequena estação para improvisar a produção de armas pequenas e eficientes.
O trabalho em metalurgia e no torno mecânico são habilidades básicas que o guerrilheiro urbano deve de incorporar na sua planificação industrial, que é a planificação de armas caseiras.
Estas construções e cursos com explosivos e sabotagem devem ser organizados. Os materiais primários para prática destes cursos devem ser obtidos com antecedência para evitar um aprendizado incompleto, ou seja, para deixar espaço suficiente para a experiência.
Os coquetéis Molotov, gasolina e artefatos caseiros tais como caixas de tubos e latas, bombas de fumaça, minas, explosivos convencionais tais como dinamite e cloreto de potássio, explosivos plásticos, cápsulas de gelatina, e munições de todo tipo são necessários para a missão do guerrilheiro urbano.
O método de obter os materiais necessários e munições será o de comprá-los ou o de levá-los pela força em expropriações planejadas e executadas especialmente.
O guerrilheiro urbano terá o cuidado de não guardar explosivos e materiais por muito tempo já que podem causar acidentes, mas tratará de utilizá-los imediatamente em objetivos pré-selecionados.
As armas do guerrilheiro urbano e sua habilidade de mantê-las constituem seu poder de fogo. Tomando vantagem do uso de armas e munições modernas e introduzindo inovações no seu poder de fogo e com a utilização de certas armas o guerrilheiro urbano pode mudar muitas de suas táticas de guerra urbana. Um exemplo disto foi a inovação feita pelos guerrilheiros urbanos no Brasil quando introduziram o uso da metralhadora nos ataques a bancos.
Quando o uso massivo de metralhadoras uniformes se faz possível, haverá novas mudanças nas táticas de guerra urbana. O grupo de fogo que utiliza armas uniformes e munições correspondentes, com apoio razoável para seu mantimento, alcançará um nível considerável de eficiência. O guerrilheiro urbano aumenta sua eficiência a medida que aumenta seu potencial de tiro.

5. O Tiro: A Razão para a Existência do Guerrilheiro Urbano

A razão para a existência do guerrilheiro urbano, a condição básica para qual atua e sobrevive, é o de atirar. O guerrilheiro urbano tem que saber disparar bem porque é requerido por este tipo de combate.
Na guerra convencional, o combate é geralmente a distância com armas de longo alcance. Na guerra não-convencional, na qual a guerra guerrilheira urbana está incluída, o combate é a curta distância, muito curta. Para evitar sua própria extinção, o guerrilheiro urbano tem que atirar primeiro e não pode errar em seu disparo.
Não pode desperdiçar suas munições porque não tem grandes quantidades, por isso tem que economizar. Tampouco pode recarregar suas munições rapidamente, porque é parte de um grupo pequeno na qual cada guerrilheiro tem que se cuidar sozinho. O guerrilheiro urbano não pode perder tempo e deve poder atirar de uma só vez.
Um fato fundamental, que queremos enfatizar completamente e cuja importância fundamental não pode ser subestimada, é que o guerrilheiro urbano não deve de disparar continuamente, utilizando todas suas munições.
Pode ser que o inimigo não esteja disparando precisamente, e esteja esperando que as munições do guerrilheiro hajam gastado. Em tal momento, sem ter tempo para recarregar suas munições, o guerrilheiro urbano enfrentará uma chuva de fogo inimigo e pode ser aprisionado ou morto.
A pesar do valor do fator surpresa que muitas vezes faz com que seja desnecessário o uso de suas armas, não pode ser permitido o luxo de entrar em combate sem saber atirar. Cara a cara com o inimigo, tem que estar em movimento constante de uma, posição a outra, porque o ficar em uma só posição o converte num alvo fixo e, como tal, muito vulnerável.
A vida do guerrilheiro urbano depende de atirar, na sua habilidade de manejar bem as armas de pequeno calibre como também em evitar ser alvo. Quando falamos de atirar, falamos de pontaria também. A pontaria deve de ser treinada até que se converta num reflexo por parte do guerrilheiro urbano.
Para aprender a atirar e ter boa pontaria, o guerrilheiro urbano tem que treinar sistematicamente, utilizando todos métodos de aprendizado, atirando em alvos, até em parques de diversão e em casa.
Tiro e pontaria são água e ar de um guerrilheiro urbano. Sua perfeição na arte de atirar o fazem um tipo especial de guerrilheiro urbano - ou seja, um franco-atirador, uma categoria de combatente solitário indispensável em ações isoladas. O franco-atirador sabe como atirar, a pouca distância ou a longa distância e suas armas são apropriadas para qualquer tipo de disparo.

6. O Grupo de Fogo

Para poder funcionar, o guerrilheiro urbano tem que estar organizado em pequenos grupos, dirigidos e coordenados por uma ou duas pessoas, isto é o que constitui um grupo de fogo.
Dentro do grupo de fogo tem que haver confiança plena entre os camaradas. O melhor atirador e o que melhor sabe manejar a metralhadora é a pessoa encarregada pelas operações.
Quando existem tarefas planejadas pelo comando estratégico, estas tarefas tomam preferência. Mas não há tal coisa com um grupo de fogo sem sua própria iniciativa. Por esta razão é essencial evitar qualquer rigidez na organização para permitir uma maior quantidade de iniciativa possível por parte do grupo de fogo. O velho tipo de hierarquia, o estilo do esquerdista tradicional não existe em nossa organização.
Isto significa que, a exceção da prioridade de objetivos designados pelo comando estratégico, qualquer grupo de fogo pode decidir em assaltar um banco, seqüestrar ou executar um agente da ditadura, uma figura , identificada com a reação, ou um espião norte-americano, e pode levar até o fim qualquer tipo de guerra de propaganda ou de nervos em contra de um inimigo sem a necessidade de consultar o comando geral
Nenhum grupo de fogo pode permanecer inativo esperando ordens de "cima". Sua obrigação é de atuar. Qualquer guerrilheiro urbano que quer estabelecer um grupo de fogo e começar a ação pode fazê-lo e desta forma fazer-se parte da organização.
Este método de ação elimina a necessidade de conhecer quem esta realizando as ações, já que existe a livre iniciativa e o único ponto de importância é aumentar substancialmente o volume da atividade guerrilheira para desgastar ao governo e obrigá-lo à defensiva. O grupo de fogo é o instrumento de ação organizada.
Com ele, as operações da guerrilha e as táticas são planejadas, lançadas e executadas com êxito.
O comando geral conta com o grupo de fogo para realizar seus objetivos de natureza estratégica e para fazê-lo em qualquer parte do país. Por sua parte, ajuda aos grupos de fogo com suas dificuldades e necessidades
A organização é uma rede indestrutível de grupos de fogo e de coordenações entre eles, que funciona simples e praticamente com o comando geral e que também participam nos ataques; e organização que existe com o único propósito, simples e puro, de ação revolucionária.

7. A Logística do Guerrilheiro Urbano

A logística convencional pode ser expressada com a simples fórmula CCEM:

C- Comida

C - Combustível

E - Equipamento

M - Munições

A lógica convencional se refere aos problemas de mantimento para um exército regular das forças armadas, transportada em veículos com bases fixas e linhas de fornecimentos.
As guerrilhas urbanas, pelo contrário, não são um exército senão um pequeno grupo armado, fragmentado intencionalmente. Não possuem veículos nem bases fixas. Suas linhas de fornecimentos são precárias e insuficientes, e não têm bases estabelecidas exceto no sentido rudimentar de uma fábrica de armas com uma casa.
Enquanto que o objetivo da logística convencional é o fornecer as necessidades de guerra do exército para reprimir a rebelião rural e urbana, as logísticas da guerrilha urbana têm como objetivo sustentar as operações e táticas que não tem nada em comum com a guerra convencional e que são dirigidas contra a ditadura militar e a dominação norte-americana do país.
Para o guerrilheiro urbano, que começa do nada e não tem apoio ao princípio, as logísticas são expressas pela fórmula MDAME que é:

M - mecanização

D - dinheiro

A - armas

M - munições

E - explosivos

As logísticas revolucionárias tomam a mecânica como uma de suas bases. No entanto, a mecânica é inseparável do motorista. O motorista da guerrilha urbana é tão importante como o experto em metralhadoras da guerrilha. Sem um, as máquinas não trabalham e coisas como os automóveis e as metralhadoras, quando não trabalham tornam-se objetos mortos.
Um motorista experiente não se faz em um só dia, e seu aprendizado começa cedo. Todo bom guerrilheiro urbano tem que ser um bom motorista. Em relação ao veículo, o guerrilheiro urbano tem que expropriar o que necessita.
Quando já tem os recursos, o guerrilheiro urbano pode combinar a expropriação de veículos com outros métodos de aquisição.
Dinheiro, armas, munições e explosivos, como também veículos tem que ser expropriados. O guerrilheiro urbano tem que roubar bancos e lojas de armas, e conseguir explosivos e munições onde queira que os encontre.Nenhuma destas operações se realizam com um só propósito. No entanto quando o assalto é somente pelo dinheiro as armas dos guardas também são tomadas.
A expropriação é o primeiro passo para a organização de nossas logísticas, que por si assume um caráter armado e permanentemente móvel.
O segundo passo é o de reforçar e estender a logística, dependendo das emboscadas e armadilhas em que o inimigo será surpreendido e suas armas, munições, veículos, e outros recursos capturados.
Uma vez que o guerrilheiro urbano tem as armas, munições, e explosivos, um dos problemas de logística mais sérios que terá em qualquer situação, é encontrar um lugar de esconderijo no qual deixar o material e conseguir os meios de transportá-lo e montá-lo onde é necessitado. Isto tem que ser completado mesmo quando o inimigo estiver vigiando e tiver as estradas bloqueadas.
O conhecimento que tem o guerrilheiro urbano do terreno, e os aparelhos que utiliza ou é capaz de utilizar, tais como os guias preparados especialmente e recrutados para esta missão, são os elementos básicos na solução do problema eterno de logística das forças revolucionárias.

8. A Técnica do Guerrilheiro Urbano

Em seu sentido mais geral, técnica é a combinação de métodos que o homem utiliza para executar qualquer atividade. A atividade do guerrilheiro urbano consiste em realizar guerra de guerrilha e guerra psicológica.
A técnica do guerrilheiro urbano tem cinco componentes básicos:

a. Uma parte é relacionada aos requisitos que se agrupam a estas características, requisitos representados por uma série de vantagens iniciais sem as quais o guerrilheiro urbano não pode completar seus objetivos;

b. Uma parte concerne certos objetivos definitivos nas ações iniciadas pela guerrilha urbana;

c. Uma parte é relacionada com os tipos e modos característicos de ação das guerrilhas urbanas;

d. Uma parte concerne o método da guerrilha urbana realizar ações específicas.


Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano

Capitulo 9


Características da Técnica das Guerrilhas

A técnica da guerrilha urbana tem as seguintes características:

a. Uma parte é relacionada aos requisitos que se agrupam a estas características, requisitos representados por uma série de vantagens iniciais sem as quais o guerrilheiro urbano não pode completar seus objetivos;

b. Uma parte concerne certos objetivos definitivos nas ações iniciadas pela guerrilha urbana;

c. Uma parte é relacionada com os tipos e modos característicos de ação das guerrilhas urbanas;

d. Uma parte concerne o método da guerrilha urbana realizar ações específicas.

A técnica da guerrilha urbana tem as seguintes características:

a. É uma técnica agressiva, isto é, tem um caráter ofensivo. Como é bem conhecido, a ação defensiva significa a morte para nós. Já que somos inferiores ao inimigo em poder de fogo e não temos nem seus recursos nem seu poderio, não podemos nos defender de uma ofensiva ou um ataque concentrado pelo exército. E esta é a razão pela qual a técnica urbana nunca pode ser de natureza permanente, nem pode defender uma base fixa nem permanecer em um só lugar esperando para repelir o círculo de reação;

b. É uma técnica de ataque e retirada pelo qual preservamos nossas forças.

c. É uma técnica que busca o desenvolvimento das guerrilhas urbanas, cuja função é desgastar, desmoralizar, e distrair as forças inimigas, permitindo o desenvolvimento e sobrevivência da guerrilha rural que esta destinada a um papel decisivo na guerra revolucionária.

9.1 A Vantagem Inicial da Guerrilha Urbana

As dinâmicas das guerrilhas urbanas consiste nos violentos choques do guerrilheiro urbano com as forças militares e policiais da ditadura. Nestes choques, os policiais tem a superioridade. O guerrilheiro urbano tem forças inferiores. O paradoxo é que o guerrilheiro urbano, a pesar de ser mais fraco, é sem dúvida o atacante.
As forças militares e policiais, por sua parte, respondem ao ataque com a mobilização e concentração de forças infinitamente superiores na perseguição e destruição das forças guerrilheiras. Somente se pode evitar a derrota quando se conta com as vantagens iniciais e sabe como explorar com fim de compensar suas vulnerabilidades e falta de material.
As vantagens iniciais são:

a. Tem que tomar o inimigo de surpresa;

b. Tem que conhecer o terreno de encontro melhor que o inimigo;

c. Tem que ter maior mobilidade e velocidade que a polícia e as outras forças repressoras;

d. Seu serviço de informação tem que ser melhor que o do inimigo;

e. Tem que estar no comando da situação e demonstrar uma confiança tão grande que todos de nosso lado sejam inspirados e nunca pensem em hesitar, enquanto que os do outro bando estão atordoados e incapazes de responder.

Surpresa
Para compensar por sua debilidade geral e falta de armas comparado com o inimigo, o guerrilheiro urbano utiliza a surpresa. O inimigo não tem nenhuma forma de lutar contra a surpresa e se torna confuso ou é destruído.
Quando a guerra de guerrilhas urbanas iniciou no Brasil, a experiência demonstrou que a surpresa era essencial para o êxito de qualquer operação de guerrilha.
A técnica de surpresa baseia-se em quatro requisitos essenciais:

a. conhecemos a situação do inimigo que vamos a atacar usualmente por meio de informação precisa e observação meticulosa, enquanto que o inimigo não sabe se será atacado ou não sabe nada em relação ao atacante;

b. conhecemos a força do inimigo que será atacado e o inimigo não sabe nada sobre a nossa;

c. atacando por surpresa, nós economizamos e conservamos nossas forças, enquanto que o inimigo não é capaz de fazer o mesmo e é deixado a mercê dos eventos;

d. determinamos a hora e o lugar do ataque, combinamos sua duração, e estabelecemos seu objetivo. O inimigo permanece ignorante de tudo isto.

Conhecimento do Terreno
O melhor aliado do guerrilheiro é o terreno porque o conhece como a palma de sua mão.
Ter o terreno como um aliado significa saber como utilizar suas irregularidades com inteligência, seus pontos mais altos e baixos, suas curvas, suas passagens regulares e secretas, áreas abandonadas, terrenos baldios, etc., tirando a vantagem máxima de tudo isto para o êxito das ações armadas, fugas, retiradas, encobrimento e esconderijos.
Os lugares impenetráveis e os lugares estreitos, as ruas sob construção, pontos de controle de polícia, zonas militares e ruas fechadas, entradas e saídas de túneis e aqueles que o inimigo possa bloquear, viadutos que devem ser cruzados, esquinas controladas pela polícia ou vigiadas, suas luzes e sinais, tudo isto tem que ser completamente estudado para poder evitar erros fatais.
Nosso problema é o de passar e saber onde e como esconder-nos, deixando o inimigo confuso em áreas que ele não conhece.
O guerrilheiro urbano familiarizado com o terreno difícil e irregular, avenidas, ruas, estradas, entradas e saídas, esquinas dos centros urbanos, suas passagens e atalhos, os lotes vazios, suas passagens subterrâneas, seus tubos e sistemas de esgoto pode cruzar com segurança pelo terreno não familiar para a polícia, onde podem ser surpreendidos em uma emboscada fatal em qualquer momento.
Por conhecer o terreno o guerrilheiro pode passar a pé, em bicicleta, em automóvel, 4x4, ou caminhão e nunca ser apanhado. Atuando em grupos pequenos com umas quantas pessoas, os guerrilheiros podem se reunir em uma hora em lugares determinados, prosseguindo o ataque, com novas operações de guerrilha, ou evadindo o círculo da polícia e desorientando o inimigo com sua audácia sem precedente.
É um problema sem solução para a polícia, num terreno tipo labirinto do guerrilheiro urbano, prender a alguém que não pode ver, ou tratar de fazer contato com alguém que não podem encontrar.
Nossa experiência é que o guerrilheiro urbano ideal é alguém que opera em sua própria cidade e que conhece completamente a cidade e suas ruas, suas vizinhanças, seus problemas de trânsito, e outras peculiaridades.
O guerrilheiro estrangeiro, que vem a cidade na qual o terreno não é familiar para ele, é um ponto fraco e se é designado para certas operações, pode colocá-la em perigo. Para evitar erros graves, é necessário que o primeiro conheça bem a localização das diferentes ruas.
Mobilidade e Velocidade
Para assegurar a mobilidade e a velocidade que a polícia não pode alcançar, o guerrilheiro urbano necessita dos seguintes pré-requisitos:

a. mecânicos;

b. conhecimento do terreno;

c. uma ruptura ou suspensão das comunicações e transportes do inimigo;

d. armamento leve.

Há que ter cuidado na execução de operações que duram escassamente uns momentos, e partindo do lugar em, veículos, o guerrilheiro urbano faz uma retirada rápida, escapando da perseguição
O guerrilheiro urbano tem que saber o caminho em detalhe e, neste sentido, tem que praticar o itinerário antes de tempo como treinamento para evitar caminhos que não tenham saída, ou acabanando em engarrafamentos, ou terminar paralisado por construções do Departamento de Trânsito.
A polícia persegue ao guerrilheiro urbano cegamente sem o conhecimento de que estrada ele vai tomar para sua fuga.
Enquanto o guerrilheiro urbano foge rapidamente porque conhece o terreno, a polícia perde a pista e dão por terminada a perseguição.
O guerrilheiro urbano deve lançar suas operações longe das bases logísticas da polícia. Uma vantagem inicial deste método de operação é que nos coloca a uma distância razoável da possibilidade de perseguição, o que facilita a evasão.
Em adição a esta precaução necessária, o guerrilheiro urbano tem que estar preocupado com o sistema de comunicação do inimigo. O telefone é o alvo primário para prevenir o acesso inimigo à informação mediante a sabotagem de seu sistema de comunicações.
Ainda tendo conhecimento da operação guerrilheira, o inimigo depende de transporte moderno para seu apoio logístico, e seus veículos necessariamente perdem tempo ao leva-lo pelo trânsito pesado das grandes cidades.
É claro que o trânsito congestionado e perigoso é uma desvantagem para o inimigo, como também o seria para nós se não estivéssemos adiantados em relação ao inimigo.
Se queremos uma margem de segurança e estar seguros de não deixar pistas para o futuro, podemos adotar as seguintes medidas:

a. interceptar de propósito a polícia com outros veículos ou por inconveniências casuais ou danos; mas neste caso o veículo em questão não deve ser legal ou ter placas de licença verdadeiras;

b. obstruir a estrada com árvores caídas, pedras, valas, letreiros de trânsito falsos, estradas obstruídas ou desvios, e outros meios engenhosos;

c. colocar minas caseiras no caminho da polícia, utilizar gasolina, ou jogar bombas Molotov para incendiar seus veículos;

d. disparar uma rajada de balas de metralhadora ou armas tais como a FAL contra o motor e pneus dos veículos envolvidos na perseguição.

Com a arrogância típica da polícia e das autoridades militares fascistas, o inimigo virá lutar com armas pesadas e equipamento, e com manobras elaboradas de homens armados até os dentes. O guerrilheiro urbano tem que responder a isto com armas leves facilmente transportáveis, para que sempre possa escapar com velocidade máxima, sem aceitar uma luta aberta. O guerrilheiro urbano não tem outra missão do que atacar e retirar-se.
Nos exporíamos a derrotas mais contundentes se nos sobrecarregamos com armamento pesado e com o peso tremendo das munições necessárias para disparar, na mesma perdendo o presente precioso da mobilidade.
Quando o inimigo luta contra nos a cavalo não temos desvantagem sempre e quando temos veículos. O automóvel anda mais rápido que o cavalo. Desde o interior do automóvel também temos o alvo do policial montado, derrubá-lo com metralhadora, revólver ou com coquetéis Molotov e granadas.
Por outro lado, não é tão difícil para um guerrilheiro urbano a pé fazer de um policial a cavalo um alvo. Acima de tudo, cordas estendidas ao longo de estradas, bolas de gude e rolhas são métodos muito eficientes de fazer ambos caírem. A grande desvantagem do policial montado é que se apresenta ao guerrilheiro urbano como dois alvos excelentes: o cavalo e seu cavaleiro.
À parte de ser mais rápido que um cavalo, o helicóptero não tem melhores oportunidades em uma perseguição. Se o cavalo é muito lento comparado com o automóvel do guerrilheiro urbano, o helicóptero é muito rápido.
Movendo-se a 200 quilômetros por hora nunca terá êxito em atingir desde cima a um alvo perdido entre as multidões e os veículos da rua, nem tampouco pode aterrizar em ruas para capturar alguém. Além disso, quando tenta voar a baixas alturas torna-se extremadamente vulnerável ao fogo do guerrilheiro urbano.
Informação
As possibilidades que o governo tem de descobrir e destruir o guerrilheiro urbano diminuem a medida que o potencial dos inimigos do ditador tornam-se maiores e mais concentrados entre as massas populares. A concentração de oponentes da ditadura exerce um papel muito importante na obtenção de informação dos movimentos de polícia e de homens do governo, como também ocultar nossas atividades.
O inimigo pode ser enganado por informação falsa, o qual é pior para ele porque independente de seu significado, as fontes de informação a disposição do guerrilheiro urbano são potencialmente melhores que as dos policiais. O inimigo é observado pela população, mas desconhece quem dentre a população passa informações aos guerrilheiros urbanos. Os militares e a polícia são odiados pelas injustiças e violência que tem cometido contra a população, e isto facilita a obtenção de informação prejudicial às atividades de agentes do inimigo.
A informação, que é somente uma pequena parte do apoio popular, representa um potencial extraordinário nas mãos do guerrilheiro urbano. A criação de um serviço de inteligência com uma estrutura organizada é uma necessidade básica para nós. O guerrilheiro urbano tem que ter informação essencial dos planos e movimentos do inimigo, onde se encontra, e como se movem, os recursos da rede bancária, os meios de comunicação e seus movimentos secretos.
A informação confiável passada ao guerrilheiro urbano representa um golpe certeiro contra a ditadura. Não há forma de defender-se quando se enfrenta uma perda importante de informação que põe em perigo seus interesses e facilita nosso ataque destrutivo.
O inimigo também quer conhecer que passos estamos tomando para que possa nos destruir ou prevenir de atuar. Neste sentido o perigo da traição esta presente e o inimigo o fomenta e nutre, e infiltra espiões na organização. As técnicas do guerrilheiro urbano usadas contra esta tática do inimigo é de denunciar publicamente os traidores, espiões, informantes e provocadores.
Já que nossa luta toma lugar entre as massas e depende de sua simpatia - enquanto que o governo tem uma má reputação devido a sua brutalidade, corrupção e incompetência - os informantes, espiões, traidores, e a polícia vem a serem os inimigos da população sem apoiadores, denunciados aos guerrilheiro urbanos, e em muitos casos, devidamente castigados.
Por sua parte os guerrilheiros urbanos não devem de evitar sua responsabilidade - uma vez que sabem quem é o espião ou informante - de liquidá-lo. Este é o método correto, aprovado pela população, e minimiza consideravelmente a incidência de infiltração ou espionagem inimiga.
Para o completo êxito na batalha contra os espiões é essencial a organização de um serviço de contra-espionagem ou contra-inteligência. No entanto, com respeito à informação, não pode ser reduzida a somente saber os movimentos do inimigo e evitar a infiltração de seus espiões. A informação tem que ser ampla, tem que incluir tudo, incluindo os dados mais significativos. Há uma técnica de obter informação e o guerrilheiro urbano a tem que dominar. Seguindo esta técnica, a informação é obtida naturalmente, como uma parte da vida das pessoas.
O guerrilheiro urbano, vivendo em meio da população e movendo-se entre eles, tem que prestar atenção a todo tipo de conversação e reações humanas, aprendendo a esconder seus interesses com grande juízo e destreza.
Em lugares onde as pessoas trabalham, estudam e vivem, é fácil obter todo tipo de informação de pagamentos, negócios, pontos de vista, opiniões, estado de mente das pessoas, viagens, interiores de edifícios, oficinas e habitações, centros de operações etc. A observação, investigação, reconhecimento, e exploração do terreno também são fontes excelentes de informação.
O guerrilheiro urbano nunca vai a nenhum lugar sem prestar atenção e sem precaução revolucionária, sempre alerta por se acontece algo. Olhos e ouvidos abertos, sentidos alertas, a memória gravada com todo o necessário para agora ou para o futuro, e para a continuação da atividade do soldado guerrilheiro.
A leitura cuidadosa da imprensa com atenção particular aos órgãos de comunicação em massa, a investigação de fatos acumulados, a transmissão de notícias e tudo observado, uma persistência em ser informado e em informando os outros, tudo isto compõe a questão intrincada e imensamente complicada de informação que lhe dá ao guerrilheiro urbano a vantagem decisiva.
Decisão
Não é suficiente para o guerrilheiro urbano ter a seu favor surpresa, velocidade, conhecimento do terreno e informação. Ele também deve demonstrar seu comando em qualquer situação e uma capacidade de decisão sem a qual todas as demais vantagens lhe resultariam inúteis.
É impossível levar ao fim qualquer ação, sem estar bem planejada, se o guerrilheiro urbano resulta ser indeciso, incerto ou irresoluto.
Ainda uma ação que tenha sido começada com sucesso pode terminar em derrota sem o comando da situação e a capacidade para tomar decisões falhar em meio a execução do plano. Quando este comando da situação e a capacidade para a decisão estão ausentes, este vazio é preenchido pela hesitação e o temor. O inimigo toma vantagem desta falha e é capaz de liquidar-nos.
O segredo para o sucesso de qualquer operação, simples ou complicada, fácil ou difícil, é o de confiar em determinados homens. No sentido estrito, não existe uma operação fácil: tudo tem que ser realizado com o mesmo cuidado praticado em casos mais difíceis, começando com a eleição dos elementos humanos, que significa depender da liderança e capacidade de decisão em qualquer situação.
Pode se antecipar o resultado de uma ação pela forma em que os participantes atuam durante a fase preparatória. Aqueles que estão atrasados, que não fazem os contatos designados, são facilmente confundidos, esquecem coisas, deixam de completar os elementos básicos do trabalho, possivelmente são homens indecisos e podem ser um perigo. É melhor não incluí-los.
A decisão significa colocar em prática, o plano que foi idealizado, com determinação, com audácia, e com uma firmeza absoluta. Somente basta uma pessoa que hesita perder tudo.

9.2 Objetivos das Ações de Guerrilha Urbana

Com suas técnicas desenvolvidas e estabelecidas, o guerrilheiro urbano baseia-se em modelos de ação que o conduzem a atacar e, no Brasil, com os seguintes objetivos:

a. ameaçar o triângulo no qual os sistemas de dominação do estado brasileiro e norte-americano são mantidos no Brasil, um triângulo cujos pontos são Rio, São Paulo, e Belo Horizonte e cuja base é o eixo Rio-São Paulo, onde o gigante complexo industrial, econômico, político, cultural, militar, policial que sustenta o poder decisivo do país está localizado;

b. debilitar os guardas locais ou os sistemas de segurança da ditadura, dado o fato de que estamos atacando e os militares defendendo, o qual significa capturando as forças governamentais em posições defensivas, com suas tropas imobilizadas em defesa de todo complexo de manutenção nacional, e com seu medo onipresente de um ataque em seus centros nervosos estratégicos, e sem saber onde, como, e quando virá o ataque;

c. atacar em todos lados, com muitos grupos armados diferentes, pequenos em números, cada um independente e operando por separado, para dispersar as forças do governo em sua perseguição de uma organização extremadamente fragmentada em vez de oferecer-lhes à ditadura a oportunidade de concentrar suas forças repressivas na destruição de um sistema altamente organizado e estruturado operando em todo o pais;

d. provar sua combatividade, decisão, firmeza, determinação, e persistência no ataque contra a ditadura militar para permitir que todos os inconformes sigam nosso exemplo e lutem com táticas de guerrilha urbana. Enquanto tanto, o governo, com todos os problemas, incapaz de deter as operações da guerrilha na cidade, perderam o tempo e sofreram desgastes, o que finalmente ocasionará que retirem suas tropas para poder vigiar os bancos, industrias, armarias, barracas militares, televisão, escritórios norte-americanas, tanques de armazenamento de gás, refinarias de petróleo, barcos, aviões, portos, aeroportos, hospitais, centros de saúde, bancos de sangue, lojas, garagens, embaixadas, residências de membros proeminentes do regime, tais como ministros e generais, estações de policia, e organizações oficiais, etc.

e. aumentar os distúrbios dos guerrilheiros urbanos gradualmente em ascendência interminável de tal maneira que as tropas do governo não possam deixar a área urbana para perseguir o guerrilheiro sem arriscar abandonar a cidade, e permitir que aumente a rebelião na costa como também no interior do pais;

f. para obrigar o exército e a policia, com os comandantes e seus assistentes, a mudar a acomodação e tranqüilidade relativa das barracas e seu relativo descanso, por um estado de alarme e tensão em aumento da expectativa de ataque ou a busca de pistas que se desvanecem sem deixar traço algum;

g. para evitar batalhas abertas e combate decisivo com as forças do governo, limitando a luta a ataques rápidos e breves com resultados relâmpagos;

h. para assegurar aos guerrilheiros urbanos um máximo de liberdade de ação e movimento sem ter que evitar o uso de violência armada, permanecendo firmemente orientado até o começo da guerra de guerrilha rural e apoiando a construção de um exército revolucionário para a libertação nacional.

9.3 Sobre os Tipos e Natureza de Modelos de Ação para os Guerrilheiros Urbanos

Para poder alcançar os objetivos previamente enumerados, o guerrilheiro urbano está obrigado, em sua técnica, a seguir uma ação cuja natureza seja tão diferente e diversificada como seja possível. O guerrilheiro urbano não escolhe arbitrariamente este ou aquele modelo de ação.
Algumas ações são simples, outras são complicados. O guerrilheiro urbano sem experiência tem que ser incorporado gradualmente em ações ou operações que correm desde as mais simples até as mais complicadas. Começa com missões e trabalhos pequenos até que se converta completamente em um guerrilheiro urbano com experiência.
Antes de qualquer ação, o guerrilheiro urbano tem que pensar nos métodos e no pessoal disponível para realizar a ação. As operações e ações que demanda a preparação técnica do guerrilheiro urbano não podem ser executadas por alguém que carece de destrezas técnicas. Com estas precauções, os modelos de ação que o guerrilheiro urbano pode realizar são os seguintes:

a. assaltos

b. invasões

c. ocupações

d. emboscadas

e. táticas de rua

f. greves e interrupções de trabalho

g. deserções, desvios, tomas, expropriações de armas, munições e explosivos

h. libertação de prisioneiros

i. execuções

j. seqüestros

l. sabotagem

m. terrorismo

n. propaganda armada

o. guerra de nervos

Assaltos
O assalto é o ataque armado com o qual fazemos expropriações, libertamos prisioneiros, capturamos explosivos, metralhadoras, e outras armas típicas e munições.
Os assaltos podem ser realizados de noite ou de dia. O assalto de noite é usualmente o mais vantajoso às guerrilhas urbanas. A idéia é que o assalto seja executado de noite quando as condições para um ataque de surpresa são mais favoráveis e a obscuridade facilita a fuga e esconde a identidade dos participantes. O guerrilheiro urbano tem que preparar-se, no entanto, para atuar baixo qualquer condição, de noite ou de dia.
Os alvos mais vulneráveis para o assalto são os seguintes:

a. bancos e estabelecimentos de crédito

b. negócios comerciais ou industriais, incluindo a produção de armas e explosivos

c. estabelecimentos militares

d. delegacias e estações de policia

e. presídios

f. propriedade do governo

g. meios de comunicação de massa

h. escritórios e propriedades norte-americanas

i. veículos do governo, incluindo veículos militares e da polícia, caminhões, veículos armados, carregadores de dinheiro, trens, barcos, e aviões.

O assalto em estabelecimentos são da mesma natureza porque em cada caso a propriedade e os edifícios representam um alvo fixo.
Os assaltos aos edifícios concebidos como operações de guerrilha, variam de acordo a se são bancos, negócios comerciais, industrias, acampamentos militares, delegacias, presídios, estações de rádio, armazéns de empresas imperialistas, etc.
Os assaltos em veículos - carros blindados, trens, barcos, aviões - são de outra natureza já que envolvem um alvo em movimento. A natureza da operação varia de acordo à situação e a possibilidade - isto é, se o alvo é estacionário ou móvel.
Os carros blindados, incluindo veículos militares, não são imunes às minas. Estradas obstruídas, armadilhas, enganos, intercepção de outros veículos, bombas Molotov, atirar com armamento pesado, são métodos eficientes de assaltar veículos.
Os veículos pesados, aviões em terra, barcos ancorados, podem ser tomados e as tripulações capturadas. Os aviões em vôo podem ser desviados de seu curso pela ação guerrilheira ou por uma pessoa.
Os barcos e trens em movimento podem ser assaltados ou tomados por operações de guerrilha para poder capturar as armas e munições ou para evitar o deslocamento de tropas.
O Assalto a Banco como Modelo Popular
O modelo de assalto mais popular é o assalto à banco. No Brasil, a guerrilha urbana começou um tipo de assalto organizado em bancos como uma operação guerrilheira. Hoje este tipo de assalto é utilizado comumente e tem servido como um tipo de exame preliminar para o guerrilheiro urbano em seu processo de aprendizagem da guerra revolucionária.
Tem se desenvolvido inovações importantes na técnica de assalto à bancos, o qual assegura a fuga, a retirada de dinheiro, e o anonimato das pessoas envolvidas. Entre estas inovações temos atirar nos pneus dos carros para evitar que sejamos perseguidos, trancar as pessoas nos banheiros dos bancos, obrigá-los a que se sentem no chão do banheiro; imobilizar os guardas do banco e tomar seu armamento, obrigar a alguém a abrir a caixa forte; e a utilização de disfarces.
Tentativas para instalar alarmes de bancos, ou para utilizar guardas ou aparelhos de detecção eletrônicos de origem norte-americana, são de pouca utilidade quando o assalto é de tipo político e executado de acordo com as técnicas de guerrilha urbana.
Esta técnica trata de utilizar novos recursos para alcançar as mudanças táticas do inimigo, tem acesso a poder de fogo que esta em crescimento todos os dias, se faz mais astuta e audaz, e utiliza um grande número de revolucionários todas as vezes, todas para garantir o êxito das operações planejadas até o ultimo detalhe.
O assalto à banco é a expropriação típica. Mas, como é certo para qualquer tipo de expropriação armada, o revolucionário esta em desvantagem por dois competidores:

a. competição por delinqüentes;

b. competição por contra-revolucionários de direita;

Esta competição produz confusão, o qual é refletido em incerteza da população. Depende do guerrilheiro urbano prevenir que isto aconteça, e para conseguir isto utiliza dois métodos;

a. tem que evitar a técnica de bandidos, o qual é o uso de violência desnecessária e da expropriação de mercadorias e posses da população;

b. tem que usar o assalto para propósitos de propaganda, no mesmo momento em que esta acontecendo, e depois distribuir material, papéis, e todo meio possível de explicar os objetivos e os princípios do guerrilheiro urbano como expropriador do governo, das classes governantes, e do imperialismo.

Batidas
As batidas são ataques rápidos em estabelecimentos localizados na vizinhança ou até no centro da cidade, tal como unidades militares pequenas, delegacias, hospitais, para causar problemas, tomar armas, castigar e aterrorizar o inimigo, tomar represálias, ou resgatar prisioneiros feridos, ou aqueles hospitalizados baixo vigilância da policia.
As batidas também são lançadas em garagens e estacionamentos para destruir veículos e danificar instalações, especialmente se são empresas e propriedades norte-americanas.
Quando tomam lugar em certas extensões de estrada ou em certas vizinhanças distantes, os ataques podem servir para obrigar o inimigo a mover grandes números de tropas, um esforço totalmente inútil já que não encontraram ninguém com quem lutar.
Quando são realizadas em certas casas, escritórios, arquivos, ou escritórios públicos, seu propósito é de capturar ou buscar papéis secretos e documentos com os quais denunciar o envolvimento, os compromissos, e a corrupção dos homens no governo, seus negócios sujos e as transações criminosas com os norte-americanos. As batidas são mais efetivas se são realizadas de noite.
Ocupações
As ocupações são um tipo de ataque realizado quando um guerrilheiro urbano se estaciona em estabelecimentos e localizações específicas, para uma resistência temporal contra o inimigo ou para algum propósito de propaganda.
A ocupação de fábricas e escolas durante greves ou em outros momentos é um método de protesto ou de distrair a atenção do inimigo.
A ocupação das estações de rádio é para propósitos de propaganda.
A ocupação é um método muito efetivo para a ação mas, para prevenir perdas e danos materiais a nossas forças, é sempre uma boa idéia o contar com a possibilidade de retirada. Sempre tem que ser meticulosamente planejada e executada no momento oportuno. A ocupação sempre tem um limite de tempo e enquanto mais rápido se realize, melhor.
Emboscada
As emboscadas são ataques tipificados por surpresa quando o inimigo é apanhado em uma estrada ou quando faz que uma rede de policiais rodeie uma casa ou propriedade. Uma mensagem falsa pode trazer o inimigo a um lugar onde caia em uma armadilha.
O objeto principal da tática de emboscada é de capturar as armas e castigá-los com a morte.
As emboscadas para deter trens de passageiros são para propósitos de propaganda, e quando são trens de tropas, o objetivo é de eliminar o inimigo e tomar suas armas.
O franco-atirador guerrilheiro é o tipo de lutador ideal especialmente para as emboscada porque pode se esconder facilmente nas irregularidade do terreno, nos trechos dos edifícios e dos apartamentos sob construção. Desde janelas e lugares escuros pode mirar cuidadosamente a seu alvo escolhido.
As emboscadas tem efeitos devastadores no inimigo, deixando o nervoso, inseguro e cheio de temor.
Táticas de Rua
As táticas de rua são usadas para lutar com o inimigo nas ruas, utilizando a participação das massas contra ele.
Em 1968, os estudantes Brasileiros utilizaram táticas de rua excelentes contra as tropas da polícia, tais como marchar pelas ruas contra o trânsito, e utilizar estilingues e bolas de gude contra a polícia montada.
Outras táticas de rua consistem na construção de barricadas, atirando garrafas, tijolos, e outros projéteis desde o telhado de apartamentos e edifícios de negócios contra a polícia; utilizando edifícios sob construção para sua fuga, para esconder-se, e para apoiar os ataques surpresa.
É igualmente necessário saber como responder às táticas do inimigo. Quando as tropas de policiais vêm protegidas com capacetes para defender-se de objetos lançados, nos dividimos em duas equipes; uma para atacar o inimigo de frente, ou outra para atacá-lo desde a retaguarda, retirando um à medida que o outro avança para prevenir que o primeiro se converta em um alvo dos projéteis atirados pelo segundo.
De igual forma é importante saber como responder a uma rede de polícias. Quando a policia designa uma certa área para que seus homens entrem em massa para prender a um manifestante, um grupo maior de guerrilheiros urbanos tem que rodear o grupo da polícia, desarmá-los, surrando-os e na mesma hora permitir que o prisioneiro fuja. Esta operação de guerrilha urbana se chama a rede dentro de uma rede.
Quando a rede policial se forma em um edifício de escola, uma fábrica, um lugar onde as massas se congregam, ou algum outro ponto, o guerrilheiro urbano não deve render-se ou que o tomem por surpresa. Para assegurar que sua rede funcione o inimigo se vera na obrigação de transportar a polícia em veículos e carros especiais para ocupar pontos estratégicos nas ruas para invadir edifícios ou locais selecionados.
O guerrilheiro urbano, por sua parte, nunca deve de sair de um edifício ou uma área ou entrar nela sem primeiro conhecer todas as saídas, a forma de romper o círculo, os pontos estratégicos que a policia poderia ocupar, e as estradas que inevitavelmente conduzem até a rede, e deve apoderar-se de outros pontos estratégicos desde os quais possa golpear o inimigo.
As estradas seguidas pelos veículos da polícia tem que serem minadas em pontos chaves e a pontos forçados de parada. Quando as minas explodem, os veículos voaram pelos ares. Os policiais cairão na armadilha e sofreram perdas ou serão vítimas de uma emboscada. A rede tem que ser quebrada por rotas de fuga desconhecidas para a polícia. O rigoroso plano de retirada é a melhor maneira de frustrar qualquer esforço de acercamento por parte do inimigo.
Quando não há a possibilidade do plano de fuga, a guerrilha urbana não deve esperar reunir-se, agrupar-se, ou fazer qualquer outra coisa, já que fazê-lo evitará sua possibilidade de romper a rede do inimigo, que seguramente tentará atirar a redor dele.
As táticas de rua têm revelado um novo tipo de guerrilheiro urbano, o guerrilheiro urbano que participa dos protestos em massa. Este é o tipo que designaremos como o guerrilheiro urbano manifestante, que se une à multidão e participa das marchas populares com fins específicos e definitivos.
Estes fins consistem em atirar pedras e projéteis de todo tipo, utilizando gasolina para começar incêndios, utilizando a polícia como alvo para suas armas de fogo, capturando as armas dos policiais, seqüestrando agentes do inimigo e provocadores, disparar cuidadosamente aos chefes de polícia que vem em carros especiais com placas falsas para não atrair a atenção.
O guerrilheiro urbano manifestante ensina aos grupos nas manifestações as rotas de fuga se é necessário. Coloca minas, atira bombas Molotov, prepara emboscadas e explosões.
O guerrilheiro urbano manifestante também tem que iniciar a rede dentro da rede, revistando os veículos do governo, os carros oficiais, e os veículos da polícia para ver se tem dinheiro ou armas antes de virá-los e colocá-los fogo.
Os franco-atiradores são muito bons para as manifestações em massa e, juntos com os guerrilheiros urbanos manifestantes, podem exercer um papel chave. Escondidos em pontos estratégicos, os franco-atiradores tem completo êxito, utilizando escopetas, metralhadoras, etc., cujo fogo e rebote causam perdas entre os inimigos.
Greves e Interrupções de Trabalho
A greve é o modelo de ação empregado pelo guerrilheiro urbano em centros de trabalho e escolas para prejudicar o inimigo por meio da detenção do trabalho e das atividades de estudo. Já que é uma das armas mas temidas pelos exploradores e opressores, o inimigo utiliza um tremendo poder ofensivo e incrível violência contra. Os grevistas são levados à prisão, sofrem golpes, e muitos terminam assassinados.
O guerrilheiro urbano tem que preparar a greve de tal forma como para não deixar indícios ou pistas que possam identificar os líderes da ação. Uma greve é bem sucedida quando é organizada por meio da ação de um grupo pequeno, se é preparado cuidadosamente em segredo e pelos métodos mais clandestinos.
As armas, munições, Molotovs, armas caseiras de destruição e ataque, tudo isto tem que ser suprido previamente para antecipar o inimigo. Para que possa causar a maior quantidade de dano possível, é uma boa idéia estudar e por em prática um plano de sabotagem.
As interrupções de trabalho e estudo, apesar de serem de breve duração, causam dano severo ao inimigo. É suficiente para eles surgir em pontos diferentes e em diferentes setores nas mesmas áreas, interrompendo a vida diária, ocorrendo, sem fim, um dia depois do outro, de forma autenticamente guerrilheira.
Em greves ou simples interrupções de trabalho, o guerrilheiro urbano tem o recurso de ocupar ou penetrar no local ou simplesmente fazer um ataque. Nesse caso, seu objetivo é o de tomar reféns, capturar prisioneiros ou capturar agentes inimigos e propor um intercâmbio de prisioneiros (para liberar os grevistas).
Em certos casos, as greves e as breves interrupções de trânsito podem oferecer uma excelente oportunidade para a preparação de emboscadas ou armadilhas cujo fim é o de destruição física da cruel e sanguinária polícia.
O fato básico é que o inimigo sofre perdas em pessoal e material e danos morais, e é debilitado pela ação.
Deserções, Desvios, Confiscos, Expropriações de Armas, Munições e Explosivos
Deserções e desvios de armas são ações efetuadas em campos militares, hospitais militares, etc. O soldado da guerrilha urbana, o chefe, sargento, suboficial, e o oficial devem desertar no momento mais oportuno com armas modernas e munições, para entregá-las à guerrilha.
Um dos momentos mais oportunos é quando a guerrilha urbana militar é chamada para perseguir e lutar contra seus camaradas guerrilheiros fora dos quartéis militares. Em vez de seguir as ordens dos oficiais, a guerrilha urbana militar deve juntar-se aos revolucionários dando-os as armas e munições que carregam, ou o veículo militar que ele opera.
A vantagem deste método é que os revolucionários recebem as armas e munições do exército, marinha, força área, polícia, guarda civil, ou dos bombeiros sem nenhum trabalho, porque lhes chega em mãos por meio de transporte do governo.
Outras oportunidades podem ocorrer nas barracas, e a guerrilha urbana militar deve estar alerta a isso. Em caso de descuido de parte dos comandantes ou em outras condições favoráveis, assim como as atividades burocratas ou o relaxamento de disciplina por parte dos suboficiais ou outro pessoal interno, a guerrilha urbana militar não pode esperar, mas tem que tratar de avisar os guerrilheiros e desertar sós ou acompanhados, mas com uma quantidade de armas tão grande como seja possível.
Com a informação e a participação da guerrilha urbana militar, ataques em barracas e outros estabelecimentos militares com o propósito de capturar armas, podem ser organizados.
Quando não há a possibilidade de desertar com as armas e munições, a guerrilha urbana deve se engajar na sabotagem, começando com explosões e incêndios em depósitos de munições e pólvora.
Esta técnica de desertar com armas e munições, atacando e sabotando os centros militares, é a melhor maneira de cansar e de desmoralizar aos soldados, deixando-os confusos.
O propósito da guerrilha urbana em desarmar um inimigo individual é o de capturar suas armas. Estas armas estão usualmente nas mãos dos sentinelas e outros que estão executando a guarda ou repressão.
A captura das armas podem ser completadas por meios violentos ou pela astúcia ou armadilhas. Quando o inimigo esta desarmado, ele deve ser revistado em busca de outras armas que não sejam as que já foram retiradas. Se nos descuidamos, ele pode usar essas armas para disparar nos guerrilheiros urbanos.
O confisco de armas é um método eficaz para adquirir metralhadoras, a arma mais importante da guerrilha.
Quando executamos pequenas operações ou ações para confiscar armamentos e munições, o material capturado pode ser para uso pessoal ou armamento e abastecimento dos grupos de tiro.
A necessidade de prover um poder disparador para a guerrilha urbana é tão grande que, em ordem para começar do ponto zero as vezes temos que comprar uma arma, desviar, ou capturar uma só arma. O ponto básico é começar, e começar com um espírito de determinação e coragem. A posse de uma simples metralhadora multiplica nossas forças.
Em um assalto a banco, devemos ser cuidadosos de confiscar as armas dos guardas. O resto das armas as encontraremos com o tesoureiro, o caixa, ou o administrador, e também devem ser confiscadas.
O outro método que podemos utilizar é a preparação de emboscadas contra a polícia e os automóveis que usam para locomover-se.
Realmente muitas vezes, nós tivemos êxito capturando armas em estações policiais, como um resultado de ataques repentinos.
As vezes triunfamos em capturar armas em delegacias de polícia, como resultado de ataques repentinos.
A expropriação de armas, munições e explosivos é a meta da guerrilha urbana em assaltar locais comerciais, industrias e quartéis.
Libertação de Prisioneiros
A libertação de prisioneiros é uma operação armada designada para libertar guerrilheiros urbanos presos. Na luta diária contra o inimigo, a guerrilha urbana esta sujeita a prisões e podem ser sentenciados a ilimitados anos na cadeia. Isto não quer dizer que a batalha revolucionária acabe aqui. Para o guerrilheiro, sua experiência é aprofundada pela prisão e a luta continua igualmente até nos calabouços onde se encontram prisioneiros.
O guerrilheiro urbano encarcerado vê a prisão como um terreno que deve dominar e entender para libertar-se por meio de uma operação da guerrilha. Não há prisão, nem uma ilha, ou uma penitenciária da cidade, ou uma fazenda, que seja inpregnável pela astúcia, perseverança e pelo potencial de fogo dos revolucionários.
O guerrilheiro urbano que é livre vê os estabelecimentos penais do inimigo como um lugar inevitável da ação guerrilheira designada a libertar seus irmãos ideológicos que estão aprisionados.
É a combinação do guerrilheiro urbano livre e o guerrilheiro urbano aprisionado que resulta nas operações armadas a que nos referimos como a libertação de prisioneiros.
As operações de guerrilha que se podem usar para libertar os prisioneiros são as seguintes:

a. ataques a estabelecimentos penais, em colônias de correção ou ilhas, ou transportes ou barcos de prisioneiros;

b. assaltos a penitenciárias rurais ou urbanas, casas de detenção, delegacias, depósitos de prisioneiros, ou outros lugares permanentes, ocasionais ou temporários, onde se encontram os prisioneiros.

c. assaltos a transportes de prisioneiros, trens e automóveis;

d. ataques e batidas em prisões;

e. emboscadas a guardas que estão movendo prisioneiros.

Execuções
Execução é matar um espião norte-americano, um agente da ditadura, um torturador da policia, ou uma personalidade fascista no governo que está envolvido em crimes e perseguições contra os patriotas, ou de um "dedo duro", informante, agente policial, um provocador da policia.
Aqueles que vão à polícia por sua própria vontade fazer denúncias e acusações, aqueles que suprem a polícia com pistas e informações e apontam a gente, também devem ser executados quando são pegos pela guerrilha.
A execução é uma ação secreta na qual um número pequeno de pessoas da guerrilha se encontram envolvidos. Em muitos casos, a execução pode ser realizada por um franco-atirador, paciente, sozinho e desconhecido, e operando absolutamente secreto e a sangue-frio.
Seqüestros
Seqüestrar é capturar e assegurar em um lugar secreto um agente policial, um espião norte-americano, uma personalidade política ou um notório e perigoso inimigo do movimento revolucionário.
O seqüestro é usado para trocar ou libertar camaradas revolucionários aprisionados, ou para forçar a suspensão da tortura nas cadeias de uma ditadura militar.
O seqüestro de personalidades que são artistas conhecidos, figuras do esporte ou que são grandiosos em algum campo, mas que não tem evidência de um interesse político, podem ser uma forma de propaganda para os princípios patrióticos e revolucionários da guerrilha urbana sendo que ocorra baixo circunstâncias especiais, e o seqüestro seja manipulado de uma maneira que o público simpatize com ele e o aceite.
O seqüestro de residentes norte-americanos ou visitantes no Brasil constituem uma forma de protesto contra a penetração e a dominação do imperialismo dos Estados Unidos em nosso país.
Sabotagem
O sabotagem é um tipo de ataque altamente destrutivo usando somente várias pessoas e as vezes requerendo somente uma para terminar o resultado desejado. Quando a guerrilha urbana usa a sabotagem, a primeira fase é a sabotagem isolada. Então vem a fase de sabotagem dispersada ou generalizada, levando a população.
Um plano de sabotagem bem executado demanda estudo, planejamento e cuidadosa execução. Uma forma característica da sabotagem é a explosão usando dinamite, incêndio e a implantação de minas.
Um pouco de areia, uma gota de qualquer tipo de combustível, ou pouca lubrificação, um parafuso removido, um curto-circuito, peças de madeira ou ferro, podem causar danos irreparáveis.
O objetivo da sabotagem é para doer, danificar, deixar sem uso e para destruir pontos vitais do inimigo assim como os seguintes:

a. a economia de um país;

b. a produção agrícola e industrial;

c. sistemas de comunicação e transporte;

d. sistemas policiais e militares e seus estabelecimentos e depósitos;

e. o sistema repressor do sistema militar-policial;

f. empresas e propriedades norte-americanas no país.

A guerrilha urbana deve pôr em perigo a economia do país, particularmente seus aspectos financeiros e econômicos, assim como as redes comerciais domésticas e estrangeiras, suas mudanças nos sistemas bancários, seu sistema de coleta de impostos, e outros.
Escritórios públicos, centros de serviços do governo, armazéns do governo, são alvos fáceis para sabotagem. Não vai ser fácil prevenir a sabotagem da produção agrícola e industrial pela guerrilha urbana, com sua sabedoria completa da situação.
Trabalhadores industriais atuando como guerrilheiros urbanos são excelentes para a sabotagem industrial já que sabem, melhor que ninguém, entendem a indústria, a fábrica, a maquinária, e talvez possam destruir toda a operação, fazendo mais dano que uma pessoa mal informada.
A respeito dos sistemas de comunicações e de transportes do inimigo, começando com o tráfego ferroviário, é necessário atacá-lo sistematicamente com as armas de sabotagem.
A única precaução é a de não causar a morte ou ferimento fatal aos passageiros, especialmente aos que viajam com regularidade nestes trens suburbanos ou de longa distância.
Ataques a trens de carga, em movimento ou estacionados, parar os sistemas de comunicação e de transporte militar, são os maiores objetivo da sabotagem nesta área.
Vagões podem ser danificados e retirados, assim como os trilhos. Um túnel bloqueado depois de uma explosão, uma obstrução de um vagão descarrilado, causam tremendo dano.
O descarrilamento de um trem de carga contendo combustível é um dos maiores danos que se podem fazer ao inimigo. Assim como dinamitar pontes de vias. Num sistema onde o peso e o tamanho do equipamento rodante é enorme, leva-se meses para reparar ou reconstruir a destruição ou o dano.
As rodovias, podem ser obstruídas por árvores, veículos estacionados, valas, deslocação de barreiras por dinamite e pontes destruídas por explosões.
Os barcos podem ser danificados enquanto ancorados em portos marítimos, ou de rios, ou em estaleiros. Os aviões podem ser destruídos ou sabotados na pista.
As linhas telefônicas e telegráficas podem ser sistematicamente danificadas, suas torres serem destruídas, e suas linhas ficarem sem uso algum.
As comunicações e o transporte devem ser sabotados imediatamente, porque a guerra revolucionária já começou no Brasil e é essencial impedir o movimento de tropas e munições do inimigo.
Oleodutos, instalações de combustível, depósitos de bombas e munições, armazéns de pólvora e arsenais, campos militares e bases, devem tornar-se alvos de operações de sabotagem por excelência, enquanto que os veículos, caminhões do exército, e outros automóveis militares e policiais podem ser destruídos ao encontrá-los.
Os centros de repressão militares e policiais e seus específicos e especializados órgãos, devem também chamar a atenção do sabotador da guerrilha urbana.
As empresas e propriedades norte-americanas no país, por sua parte, devem ser alvos tão freqüentes de sabotagem que o volume das ações dirigidas sobrepasse o total de todas outras ações contra os pontos vitais do inimigo.
Terrorismo
O terrorismo é uma ação, usualmente envolvendo a colocação de uma bomba ou uma bomba de fogo de grande poder destrutivo, o qual é capaz de influir perdas irreparáveis ao inimigo.
O terrorismo requer que a guerrilha urbana tenha um conhecimento teórico e prático de como fazer explosivos.
O ato do terrorismo, fora a facilidade aparente na qual se pode realizar, não é diferente dos outros atos da guerrilha urbana e ações na qual o triunfo depende do plano e da determinação da organização revolucionária. É uma ação que a guerrilha urbana deve executar com muita calma, decisão e sangue frio.
Ainda que o terrorismo geralmente envolva uma explosão, há casos no qual pode ser realizado execução ou incêndio sistemático de instalações, propriedades e depósitos norte-americanos, fazendas, etc.
É essencial assinalar a importância dos incêndios e da construção de bombas incendiárias como bombas de gasolina na técnica de terrorismo revolucionário. Outra coisa importante é o material que a guerrilha urbana pode persuadir o povo a expropriar em momentos de fome e escassez, resultados dos grandes interesses comerciais.
O terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode abandonar.
Propaganda Armada
A coordenação das ações da guerrilha urbana, incluindo cada ação armada, é a principal forma de fazer propaganda armada.
Estas ações, feitas com determinados e específicos objetivos, inevitavelmente se fazem material de propaganda para o sistema de comunicação das massas.
Assaltos a bancos, emboscadas, deserções, resgate de prisioneiros, execuções, seqüestros, sabotagem, terrorismo e a guerra de nervos são todos casos em ponto.
Aviões com rotas de vôo trocados pela ação revolucionária, barcos e trens em movimento assaltados e capturados por guerrilheiros, podem ser usados somente para efeitos de propaganda.
Mas a guerrilha urbana nunca deve fracassar em instalar uma imprensa clandestina e deve poder fazer cópias mimeografadas usando álcool ou pranchas elétricas ou outros aparelhos duplicadores, expropriando o que não pode comprar em ordem de produzir um jornal pequeno, panfletos, volantes e estampas para a propaganda e agitação contra a ditadura.
A guerrilha urbana comprometida com a imprensa clandestinas facilita enormemente a incorporação de um grande número de gente na batalha revolucionária, abrindo um trabalho permanente para aqueles que desejam trabalhar com a propaganda revolucionária, mesmo que quando fazê-lo signifique trabalhar sozinho e arriscar sua vida como revolucionário.
Com a existência de propaganda clandestina e material agitador, o espírito inventor da guerrilha urbana expande e cria catapultas, artefatos, morteiros e outros instrumentos com os quais distribuir os panfletos anti-governo a distância.
Gravações em fita, a ocupação de estações de rádio, o uso de alto falantes, desenhos em paredes e em outros lugares inacessíveis são outras formas de propaganda. Em usá-las, a guerrilha urbana deve dar-lhes um caráter de operações armadas.
Uma propaganda consistente de cartas enviadas a endereços específicos, explicando o significado das ações armadas da guerrilha urbana, isto produz consideráveis resultados e é um método de influenciar certos segmentos da população.
Se esta influência é exercitada no coração das pessoas por todo possível mecanismo de propaganda girando em torno da atividade da guerrilha urbana, isto não indica que nossas forças tem o suporte de todos.
É suficiente ganhar o suporte de parte da população e isto pode ser feito popularizando uma frase: "Deixe que aquele que não quer fazer nada pelos revolucionários, faça nada contra."
Guerra de Nervos
A guerra de nervos ou guerra psicológica é uma técnica agressiva, baseada no direto ou indireto uso dos meios de comunicação de massas e notícias transmitidas oralmente com o propósito de desmoralizar o governo.
Na guerra psicológica, o governo esta sempre em desvantagem, porque impõe censura nas massas e termina numa posição defensiva por não deixar nada contrário infiltrar-se.
Neste ponto desespera-se, envolve-se em grandes contradições e perda de prestígio, perde tempo e energias num cansado esforço ao controle, qual é sujeito a romper-se em qualquer momento.
O objeto da guerra de nervos é para enganar, propagar mentiras entre as autoridades na qual todos podem participar, assim criando um ar de nervosismo, descrédito, insegurança e preocupação por parte do governo.
Os melhores métodos usados pela guerrilha urbana na guerra de nervos são os seguintes:

a. usando o telefone e o correio para anunciar falsas pistas à polícia e ao governo, incluindo informação de bombas e qualquer outro ato de terrorismo em escritórios públicos e outros lugares, planos de seqüestro e assassinato, etc, para obrigar as autoridades a cansar-se, dando seguimento à falsa informação que foi alimentada;

b. permitindo que planos falsos caiam nas mãos da polícia para desviar sua atenção;

c. plantar rumores para deixar o governo nervoso;

d. explorando cada meio possível de corrupção, de erros e de falhas do governo e seus representantes, forçando-os a explicações desmoralizantes e justificações nos meios de comunicação de massas que mantém baixo censura;

e. apresentando denúncias a embaixadas estrangeiras, às Nações Unidas, a nunciatura do papa, e as comissões internacionais judiciais defensoras dos direitos humanos ou da liberdade de imprensa, expondo cada violação concreta e o uso de violência pela ditadura militar e fazendo conhecer que a guerra revolucionária irá continuar seu curso com perigos sérios para os inimigos da população.

9.4 Como Executar a Ação

A guerrilha urbana que corretamente passa através de seu aprendizado e seu treinamento deve dar grande importância a sua tática de executar sua ação, por isso não se deve cometer o mais pequeno erro.
Qualquer descuido na assimilação do método e seu uso, convida certo desastre, assim como a experiência nos ensina cada dia.
Os bandidos cometem erros freqüentemente por seus métodos, e esta é uma das razões pela qual a guerrilha urbana deve estar tão intensamente preocupada por seguir a técnica revolucionária e não a técnica dos bandidos.
Não há guerrilha urbana merecedora do nome que ignore a tática revolucionária de ação e fracasse em praticar rigorosamente o planejamento e a execução de suas atividades.
O gigante é conhecido por seus dedos. O mesmo pode ser dito da guerrilha urbana que é conhecida tão longe como seus métodos corretos e sua fidelidade absoluta aos princípios.
O método revolucionário de execução de uma ação é fortemente baseado no conhecimento e no uso dos seguintes elementos:

a. investigação de informação;

b. observação e vigilância;

c. reconhecimento ou exploração do terreno;

d. estudo e tempo das rotas;

e. mapas;

f. mecanização;

g. cuidadosa seleção de pessoal;

h. seleção do poder de fogo;

i. estudo e prática em êxito;

j. êxito;

l. disfarce;

m. retirada;

n. dispersão;

o. libertação e troca de prisioneiros;

p. eliminação de pistas;

q. resgate de feridos.

Algumas Observações nas Táticas
Quando não há informação, o ponto de saída do plano de ação deve ser investigação, observação e vigilância. Este método também da bons resultados.
Em qualquer evento, incluindo quando há informação, é essencial fazer observações para ver se a informação esta a par com a observação ou vice-versa.
Reconhecimento ou exploração do terreno, estudo e o tempo das rotas, são tão importantes que quando omitidos seria como tentar apunhalar no escuro.
Mecanização, em geral, é um fator subestimado no método de conduzir uma ação. Freqüentemente a mecanização é deixada para o fim, antes de que se faça algo sobre isso.
Isto é um erro. A mecanização deve de ser considerada seriamente, deve ser colhida com ampla vista e de acordo com um plano cuidadoso, também baseado na informação e observação, e deve ser executado com cuidado rigoroso e precisão. O cuidado, conservação, manutenção e camuflagem dos veículos expropriados são detalhes bem importantes da mecanização.
Quando o transporte falha, a ação principal falha com sérias conseqüências morais e materiais para a atividade da guerrilha urbana.
A seleção de pessoal requer grande cuidado para evitar a inclusão de pessoas indecisas e vacilantes que presentes com perigo possam contaminar os outros participantes, uma dificuldade que deve ser evitada.
A retirada é igual ou mais importante que a operação em si, ao ponto de ter que ser planejada rigorosamente, incluindo a possibilidade de falha.
Deve-se evitar o resgate ou a transferência de prisioneiros com crianças presentes, ou qualquer coisa que atraia a atenção das pessoas em trânsito casual na área. O melhor é fazer o resgate tão natural quanto seja possível, sempre passando ao redor, ou usando estradas diferentes ou ruas estreitas que quase não permitam a passagem a pé, para evitar o encontro dos carros.
A eliminação das pistas é obrigatório e demanda grande precaução ao esconder as impressões digitais e outras classes de indícios que informem o inimigo. A falta de cuidado na eliminação dos vestígios e das pistas é um fator que aumenta o nervosismo em nossas patentes que o inimigo as vezes explora.
Resgate de Feridos
O problema com os feridos na guerrilha urbana merece atenção especial. Durante operações da guerrilha na zona urbana pode ocorrer que algum camarada seja ferido acidentalmente ou atingido pela policia. Quando um da guerrilha esta num grupo de atiradores tem o conhecimento de primeiros socorros e pode fazer algo pelo camarada ferido. Em nenhuma circunstância pode ser abandonado o guerrilheiro e ser deixado em mãos do inimigo.
Uma das precauções que devemos tomar é de treinar a homens e mulheres em cursos de enfermaria, nos quais guerrilheiros podem matricular-se e aprender técnicas de primeiros-socorros. O doutor da guerrilha urbana, estudante de medicina, enfermeiro, farmacêutico ou simplesmente uma pessoa treinada em primeiros-socorros, é de necessidade numa batalha revolucionária moderna.
Um pequeno manual de primeiros-socorros para a guerrilha urbana, impresso ou em mimeógrafo, pode ser compreendido por uma pessoa que tenha suficiente conhecimento.
No planejamento ou execução de uma ação armada, a guerrilha urbana não pode esquecer a organização logística médica. Isto pode ser completado por meio de uma clínica móvel ou motorizada. Você também pode estabelecer uma estação de primeiros-socorros e utilizar os conhecimentos de um camarada da guerrilha que esperará com equipamentos num lugar designado onde os feridos são trazidos.
O ideal seria ter uma clínica bem equipada, mas é bem custoso a menos que usemos materiais expropriados.
Quando tudo falha, as vezes é necessário recorrer a clínicas legais, usando a força se necessário para que os doutores atendam aos nossos feridos.
Na eventualidade que recorrermos a bancos de sangre para comprar sangue ou plasma completo, não deveremos usar endereços legais e certamente endereços onde feridos poderiam ser encontrados, porque eles estão baixo nossa proteção e cuidado.
Nem deveríamos dar endereços destes que estão envolvidos no trabalho clandestino da organização que trabalham nos hospitais e nas clínicas de onde os colhemos. Essas preocupações são indispensáveis para cobrir qualquer pista.
As casa onde os feridos ficam não pode ser conhecida por ninguém com exclusiva exceção de um pequeno grupo de camaradas que estão responsáveis pelo tratamento e transporte.
Cobertores, roupa ensangüentada, medicamentos e outros tipos de indícios de tratamento de um camarada ferido em combate com a polícia, deve ser completamente eliminado dos lugares que eles visitam para receber tratamento.

Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano

Capitulos 10 a 13


10. Segurança da Guerrilha

A guerrilha urbana vive em constante perigo da possibilidade de ser descoberta ou denunciada. O primeiro problema de segurança é ter certeza de que estamos bem escondidos e bem seguros, e de que há métodos seguros de manter-se fora do alcance da polícia.
O pior inimigo da guerrilha e o maior perigo que corremos é a infiltração em nossa organização de um espião ou um informante.
O espião apreendido dentro de nossa organização será castigado com a morte. O mesmo vai para o que deserta e informa a polícia.
Uma boa segurança é a certeza de que o inimigo não tem espiões ou agentes infiltrados em nosso meio e não pode receber informação de nossos por meios distantes ou indiretos. A maneira fundamental para assegurarmos isto é de ser rigorosos e cautelosos no recrutamento.
Nem é permitido alguém conhecer todos e tudo. Cada pessoa somente deve saber o que se relaciona com seu trabalho. Esta rega é o ponto fundamental no ABC da segurança da guerrilha urbana.
A batalha a qual estamos enfrentando o inimigo é árdua e dificultosa porque é uma luta das massas. Cada classe luta numa batalha de vida ou morte quando as classes são antagônicas.
O inimigo quer nos aniquilar e luta para encontrar-nos e destruir-nos, assim que nossa grande arma consiste em esconder-nos dele e atacá-lo de surpresa.
O perigo para guerrilha urbana que ele possa revelar-se por meio da imprudência ou por meio da falta de classe vigilante. Não se admite que a guerrilha urbana dê seu próprio ou outro endereço clandestino ao inimigo ou que fale muito. Anotações nas margens dos jornais, documentos perdidos, cartões de chamadas, cartas ou notas, todas estas são pistas para a polícia.
Endereços e livros de telefones devem ser destruídos e não se deve escrever ou guardar papéis; é necessário evitar manter arquivos de nomes legais ou ilegais, informação biográfica, mapas e planos. Os pontos de contato não se deve escrever, mas simplesmente memorizá-los.
O guerrilheiro que viola estas regras deve ser advertido pelo primeiro que se der conta, e se continuar, deve-se deixar de trabalhar com ele.
A necessidade da guerrilha de mover-se constantemente e a relativa proximidade da polícia, dadas as circunstâncias de uma rede policial estratégica que esta ao redor da cidade, forças que adotam métodos variáveis de segurança dependendo dos movimentos do inimigo.
Por esta razão é necessário manter um serviço de notícias diário perto do que o inimigo parece fazer, onde está a rede da polícia operando e em que lugares eles vigiam. A leitura diária das notícias policiais nos jornais é uma grande função de informação nesses casos.
A lição mais importante de segurança, sob nenhuma circunstância, permitir o mais remoto indício de relaxamento com a manutenção das medidas de segurança e regulamentos dentro da organização.
A segurança da guerrilha deve ser mantida também e principalmente em casos de prisão. O guerrilheiro preso não pode revelar nada à polícia que possa prejudicar à organização. Não pode dizer nada que de pistas, como conseqüência, as prisões de outros camaradas, a descoberta de endereços e lugares de esconderijo, a perda de armas e munições.

11. Os Sete Pecados da Guerrilha Urbana

Assim como a guerrilha urbana aplica suas técnicas revolucionárias com rigorosidade e precisão, obedece às regras de segurança, ela ainda está vulnerável aos erros. Não há uma guerrilha urbana perfeita. O que se pode fazer é manter seu esforço em diminuir sua margem de erro porque não é perfeita.
Um dos métodos que podemos utilizar para diminuir a margem de erro é conhecer os sete pecados da guerrilha urbana e tratar de evitá-los.
O primeiro pecado da guerrilha urbana é a pouca experiência. A guerrilha urbana, cega por seu pecado, pensa que o inimigo é estúpido, não considera sua inteligência, crendo que tudo é fácil e, como resultado, deixa pistas que podem causar seu desastre.
Por sua pouca experiência, a guerrilha urbana pode sobrestimar as forças do inimigo, crendo que eles são mais fortes que ela. Deixando-se enganar por sua presunção, a guerrilha urbana então se intimida, fica insegura e indecisa, paralisada e falta de audácia.
O segundo pecado da guerrilha urbana é vangloriar-se de suas ações completadas e espalhá-lo aos quatro ventos.
O terceiro pecado da guerrilha urbana é vaidade. A guerrilha urbana que padece deste pecado trata de resolver seus problemas da revolução com ações nas cidade, mas sem preocupar-se com os princípios e sobrevivência da guerrilha em zonas rurais.
Cegada por seu triunfo, ela começa a organizar ações que considera decisivas e que colocam em jogo todas as forças e recursos da organização. Já que não podemos interromper a luta guerrilheira nas cidades enquanto que a guerra rural não tenha estourado, nós sempre corremos o erro fatal de permitir que o inimigo nos ataque com golpes decisivos.
O quarto pecado da guerrilha urbana é de exagerar sua força e tentar fazer projetos que lhe faltam forças e, ainda, não tem a infra-estrutura requerida.
O quinto pecado do guerrilheiro urbano é a ação precipitada. O guerrilheiro urbano que comete este pecado perde a paciência, sofre um ataque de nervos, não espera por nada, e se joga impetuosamente na ação, sofrendo perdas inapreciáveis.
O sexto pecado do guerrilheiro urbano é atacar o inimigo quando eles estão mais enfurecidos.
O sétimo pecado do guerrilheiro urbano é o de não planejar as coisas e atuar improvisadamente.

12. Apoio Popular

Um dos problemas principais do guerrilheiro é sua identificação com as causas populares para ganhar o apoio popular.
Quando as ações governamentais se tornam corruptas e ineptas, o guerrilheiro urbano, não deve hesitar em demostrar que ele se opõe ao governo e ganhar a simpatia das massas. O presente governo, por exemplo, impõe pesadas cargas financeiras à população na forma de impostos. É responsabilidade do guerrilheiro urbano então atacar o sistema de pagamento de impostos e de obstruir sua atividade financeira, tirando todo o peso da atividade revolucionária contra ela.
O guerrilheiro urbano luta não somente por transtornar o sistema de coleta de impostos; o braço da violência revolucionária também tem que estar dirigido contra os órgãos do governo que levantam os preços e aqueles que os dirigem, como também contra os mais ricos capitalistas nacionais e estrangeiros e os donos de propriedades importantes; em resumo, todos aqueles que acumulam fortunas com o alto custo de vida, salário de fome, preços e aluguéis excessivos.
Monopólios estrangeiros, tais como a refrigeração e outras instalações norte-americanas que monopolizam o mercado e a manufatura de suprimentos de comida gerais, tem que ser sistematicamente atacados pelo guerrilheiro urbano.
A rebelião do guerrilheiro urbano e sua persistência na intervenção de questões políticas é a melhor forma de assegurar o apoio popular na causa que defendemos. Repetimos e insistimos em repetir: é a melhor forma de assegurar o apoio popular. Tão pronto uma porção razoável da população começa a levar a sério a ação do guerrilheiro urbano, seu êxito é garantido.
O governo não tem alternativa exceto intensificar sua repressão. A rede da polícia, as buscas em casas, a prisão de pessoas inocentes e de suspeitos, ou fechar as ruas, e fazer a cidade insuportável. A ditadura militar embarca na perseguição política. Os assassinatos políticos e o terror policial se fazem rotina.
A pesar de tudo isto, a polícia sistematicamente perde. As forças armadas, a marinha e a força aérea são mobilizadas para executar as funções policiais rotineiras. Ainda assim não encontram uma forma de deter as operações da guerrilha, nem tampouco de acabar com a organização revolucionária com seus grupos fragmentados que se movem e operam através do território nacional contagiosa e persistentemente.
A pessoas se recusam a colaborar com as autoridades, e o sentimento geral é o de que o governo é injusto, incapaz de resolver problemas, e recorre somente a liquidação de seus oponentes.
A situação política no país é transformada numa situação militar na qual os militares aparentam ser mais e mais responsáveis pelos erros e a violência, enquanto que os problemas das vidas das pessoas se fazem verdadeiramente catastróficas.
Quando vêem que os militares e a ditadura estão a ponto do abismo, e temendo as conseqüências de uma guerra civil que já esta a caminho, os pacificadores (que sempre se encontram dentro de as classes governantes), e os oportunistas de ala direita, amigos da luta sem violência, se unem e começam a circular rumores detrás "das cortinas", pedindo ao carrasco eleições, "redemocratização", reformas constitucionais, e outras bobagens desenhadas para confundir as massas e fazê-las parar a rebelião revolucionária nas cidades e nas áreas rurais do país.
Mas, observando os revolucionários, as pessoas agora entendem que seria uma farsa elas votarem em eleições que tem como único objetivo, garantir a continuação da ditadura militar e cobrir os crimes do estado.
Atacando de coração esta falsa eleição e a chamada "solução política" tão apeladora aos oportunistas, o guerrilheiro urbano tem que se fazer mais agressivo e violento, girando em torno da sabotagem, do terrorismo, das expropriações, dos assaltos, dos seqüestros, das execuções, etc.
Isto contestaria qualquer tentativa de enganar às massas com a abertura de um Congresso e a reorganização dos partidos políticos--partidos do governo e os de oposição que permitira--quando todo o tempo o parlamento e os chamados partidos políticos funcionam graças a uma licença da ditadura militar num verdadeiro espetáculo de marionetes e cachorros numa corda.
O papel do guerrilheiro urbano, para poder ganhar o apoio das pessoas, é o de continuar lutando, mantendo em mente os interesses das massas e a intensificação de uma situação desastrosa no qual o governo tem que atuar. Estas são as circunstâncias, desastrosas para a ditadura, que permitirão aos revolucionários abrir a guerrilha rural no meio de uma expansão incontrolável da rebelião urbana.
O guerrilheiro urbano está envolvido na ação revolucionária a favor do povo e busca nela a participação das massas numa luta contra a ditadura militar e para a libertação do país. Começando com a cidade e com o apoio do povo, a guerrilha rural se desenrola rapidamente, estabelecendo sua infra-estrutura cuidadosamente enquanto que a área urbana continua sua rebelião.

13. Guerrilha Urbana, Escola para Selecionar o Guerrilheiro

A revolução é um fenômeno social que depende dos homens, das armas e dos recursos. As armas e os recursos existem no país e podem ser tomados e usados, mas para fazer isto é necessário contar com homens. Sem eles, as armas e os recursos não tem nem uso nem valor.
Por sua parte, os homens tem que ter duas qualidades básicas e indispensáveis:

a. tem que ter uma motivação político-revolucionária;

b. tem que ter a necessária preparação técnica-revolucionária.

Os homens com a preparação político-revolucionária se encontram entre os vastos contingentes dos inimigos da ditadura militar e do domínio do imperialismo dos EUA.
Os homens que estão melhor treinados, mais experientes, e dedicados à guerrilha urbana, constituem a base para a guerra revolucionária, e por tanto, da revolução brasileira. Desta base é que surge o núcleo do exército revolucionário de libertação nacional, levantando-se da guerra revolucionária.
Este é o núcleo central, não de burocratas e oportunistas escondidos na estrutura organizacional, não de conferenciantes vazios, de escritores de resoluções que permanecem no papel, senão de homens que lutam. Os homens que desde o principio tem a determinação e tem estado prontos para qualquer coisa, que pessoalmente participam nas ações revolucionárias, que não tem dúvidas e nem enganam.
Este é o núcleo doutrinado e disciplinado com uma estratégia de longo alcance e uma visão tática consistente com a aplicação da teoria Marxista, dos desenvolvimentos do Leninismo e CastroGuevaristas, aplicados às condições específicas da situação revolucionária. Este é o núcleo que dirigirá a rebelião à fase de guerra de guerrilha.
Dela surgiram os homens e mulheres com o desenvolvimento político-militar, um indivisível, cujo trabalho será o dos líderes futuros depois do triunfo da revolução, na construção de uma nova sociedade Brasileira.
Desde agora, os homens e mulheres escolhidos para a guerra de guerrilha urbana são trabalhadores; camponeses a quem a cidade atraiu por seu potencial de trabalho e quem regressarão à área rural completamente doutrinados e tecnicamente preparados; estudantes, intelectuais e sacerdotes. Este é o material com o qual estamos construindo-- começando a guerra de guerrilhas--a aliança armada de trabalhadores e camponeses, com estudantes, intelectuais e sacerdotes.
Os trabalhadores tem conhecimento infinito da esfera industrial e são os melhores nos trabalhos revolucionários urbanos. O trabalhador guerrilheiro urbano participa na luta mediante a construção de armas, sabotando e preparando sabotadores e dinamiteiros, e pessoalmente participando em ações envolvendo armas de mão, ou organizando greves e paradas parciais com a violência em massa característica em fábricas, centros de trabalho e outros lugares de trabalho.
Os camponeses tem uma intuição extraordinária de conhecimento da terra, juízo no confronto do inimigo, e a indispensável habilidade de comunicar com as massas humildes.
O guerrilheiro camponês esta participando já em nossa luta e é quem chega ao núcleo da guerrilha, estabelece pontos de apoio nas áreas rurais, encontra lugares para esconder indivíduos, armas, munições, suprimentos, organiza a colheita de grãos utilizados na guerra de guerrilhas, escolhe os pontos de transporte, pontos de criação de gado, e as fontes de suprimentos de carnes, treina os guias que ensinam ao guerrilheiro urbano as estradas, e cria um sistema de informação na área rural.
Os estudantes se destacam por ser politicamente cruéis e rudes e por tanto rompem todas as regras. Quando são integrados na guerrilha urbana, como esta ocorrendo agora em grande escala, ensinam um talento especial para a violência revolucionária e pronto adquirem um alto nível de destreza político-técnico-militar.
Os estudantes tem bastante tempo livre em suas mãos porque são sistematicamente separados, suspendidos e expulsos da escola pela ditadura e assim começam a usar seu tempo vantajosamente a favor de a revolução.
Os intelectuais constituem a vvanguarda da resistência aos atos ariorbitrás, às injustiças sociais e à inumanidade terrível da ditadura. Eles expandem a chamada reolucionária e tem uma grande influência na população. O guerrilheiro urbano intelectual é o aderente ás moderno da revolução brasileira.
Os homens da igreja, isto é, aqueles ministros ou sacerdotes de várias hierarquias e denominações, representam um setor que tem habilidade especial para comunicar-se com o povo, particularmente os trabalhadores, camponeses, e a mulher brasileira. O sacerdote que é um guerrilheiro urbano é um ingrediente poderoso na guerra revolucionária brasileira, e constituem uma arma poderosa contra o poder militar e o imperialismo norte-americano.
Com respeito à mulher brasileira, sua participação na guerra revolucionária, em particular na guerrilha urbana, tem sido distinguido por seu espírito lutador e tenacidade sem limite, não é somente por sorte que tantas mulheres tem sido acusadas de participação nas ações de guerrilha contra bancos, centros militares, etc., e que tantas estão em prisões enquanto que tantas outras ainda são procuradas pela polícia.
Como uma escola para escolher o guerrilheiro, a guerra de guerrilha urbana prepara e coloca ao mesmo nível de responsabilidade e eficiência a homens e mulheres que compartilham os mesmos perigos de lutar, buscar suprimentos, servir como mensageiros ou corredores, ou motoristas, ou navegantes, ou pilotos de aviões, obtendo informação secreta, e ajudando com a propaganda ou o trabalho de doutrinação.

Carlos Marighella
Junho 1969