quinta-feira, 26 de abril de 2012

Banco Mundial dá crédito recorde ao Nordeste



Autor(es): Por Murillo Camarotto | Do Recife
Valor Econômico - 25/04/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/4/25/banco-mundial-da-credito-recorde-ao-nordeste
 

Quase um ano após baterem à porta do Banco Mundial (Bird) em busca de mais dinheiro para suportar o crescimento econômico acelerado dos últimos anos, os governadores do Nordeste começam a colher os resultados. No primeiro quadrimestre deste ano, a instituição aprovou pouco mais de US$ 1,1 bilhão em empréstimos para a região, montante superior ao total registrado entre 2007 e 2011. Se considerados os projetos em análise, o valor supera todo o volume emprestado desde 2000.
Além da expansão significativa das cifras, o banco lançou uma linha de crédito mais flexível, conhecida por DPL, sigla em inglês para "empréstimos para políticas de desenvolvimento". Por essa modalidade, o dinheiro entra como um reforço direto ao Orçamento estadual e não tem destinação obrigatória, como ocorria nos financiamentos oferecidos até então, quase sempre atrelados a ações específicas.
"A DPL tem um perfil moderno e de aplicação flexível, podendo financiar quaisquer despesas de capital do Orçamento, desde que previstas no plano plurianual", explica o secretário de Fazenda de Pernambuco, Paulo Câmara. "A exigência é que a aplicação dos recursos esteja atrelada à diminuição da pobreza e desigualdade." Em março, o Estado obteve um DPL de US$ 500 milhões, maior empréstimo já tomado pelo governo pernambucano com o Banco Mundial. O contrato foi assinado e o dinheiro deve entrar em breve.
De acordo com o secretário, parte dos recursos será aplicada na construção de um hospital no município de Caruaru e de novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Também estão previstas obras de infraestrutura nos portos do Recife e de Suape, bem como projetos de abastecimento de água, mobilidade urbana e habitação popular. O empréstimo tem carência de cinco anos e prazo máximo de amortização de 25 anos. O juro anual será de cerca de 2% mais a variação cambial.
O baixo custo e a flexibilidade do financiamento serão aproveitados pelo governo do Piauí para dar fôlego às contas do Estado, que nos próximos dias deve começar a receber US$ 350 milhões do Banco Mundial, também via DPL. O coordenador de comunicação do governo, Fenelon Rocha, informou que cerca de R$ 200 milhões serão utilizados na amortização de parte da dívida do Estado com a União. O restante irá para projetos na área de educação.
"O serviço [da dívida] consome hoje algo em torno de R$ 65 milhões por mês. Para um Estado pobre, isso faz muita diferença. Vamos trocar uma dívida de 16% ao ano por uma de 2%. Isso vai reduzir o desembolso mensal em cerca de R$ 25 milhões e nos dará alguma capacidade de investimento próprio, que hoje inexiste", explicou Rocha. Segundo ele, o governo do Piauí tem outros US$ 200 milhões (R$ 378 milhões) em análise no Banco Mundial.
O banco espera aprovar, até junho, um DPL de US$ 700 milhões para o governo da Bahia, maior volume já tomado pelo Estado com a instituição. A expectativa em Salvador é que a primeira metade do dinheiro seja depositada ainda este ano.
Comandada pelo ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, a Secretaria de Planejamento do Estado informa que os recursos vão ser destinados ao "fortalecimento de programas estruturantes relativos aos esforços da inclusão social e produtiva; ao desenvolvimento de infraestrutura social, físico e institucional para o crescimento sustentável; e ao fortalecimento do planejamento e gestão do setor público".
A possibilidade de investimento na profissionalização do serviço público é outra novidade na relação entre o Banco Mundial e o Nordeste. O presidente do banco, Robert Zoellick, se reuniu com os governadores da região no dia 10, em Washington. Na ocasião, ressaltou o crescimento econômico acima da média nacional apresentado pelo Nordeste nos últimos anos, mas ponderou o fato de o PIB regional responder por apenas 14% do nacional, ante uma representatividade populacional de 29%.
O executivo falou da importância da gestão eficiente e da necessidade de investimentos em infraestrutura para sustentar o crescimento da economia. "Com a continuidade do crescimento econômico do Nordeste, haverá benefícios para todo o Brasil. Para os vizinhos mais próximos, como a Amazônia e o Cerrado, a construção de um motor de crescimento no Nordeste pode reduzir as pressões de migração, reduzindo as tensões sociais e ajudando na sustentabilidade ambiental", disse Zoellick.
A profissionalização da gestão pública está entre as prioridades do governo do Rio Grande do Norte para os US$ 360 milhões que o Estado espera receber ainda este ano do Banco Mundial. O pedido está em análise na instituição, mas a expectativa é que o dinheiro seja liberado em dezembro. De acordo com a gerente de projetos da Secretaria de Administração do Estado, Ana Cristina Guedes, estão previstos investimentos em novos modelos de processo nas áreas de segurança, saúde e educação, bem como a adoção de controles organizacionais e financeiros.
O empréstimo do Banco Mundial, ela explica, é multissetorial e envolve nove secretarias. Além da modernização da gestão, os recursos serão direcionados ao fortalecimento das cadeias produtivas agrícolas e a investimentos em saúde e educação. Também estão programados aportes em estradas, políticas de incentivo ao turismo, inovação tecnológica e em novas centrais de comercialização dos produtos locais, como mel, peixes e artesanato. Segundo Ana Cristina, há outros US$ 180 milhões em negociação com o banco.
O empréstimo para o Rio Grande do Norte será feito na modalidade de investimento específico, pelo qual o governo define com o banco a destinação exata do dinheiro e recebe mediante a prestação de contas. Por essa mesma ferramenta, o Banco Mundial aprovou este ano US$ 100 milhões para o Ceará, R$ 70 milhões para Sergipe e outros US$ 100 milhões para Pernambuco.
Apesar do salto no volume das operações, sobrou dinheiro. Na reunião realizada em junho do ano passado, no Recife, Zoellick se comprometeu a liberar US$ 3,7 bilhões para os Estados do Nordeste durante o ano fiscal que termina em 30 de junho. Mesmo se todos os pedidos pendentes forem aprovados, o valor total não deve atingir esse montante.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Preâmbulo às instruções para dar corda no relógio


por Julio Cortázar, em Histórias de Cronópios e de Famas., 1962.
“Quando dão a você de presente um relógio estão dando um pequeno inferno enfeitado, uma corrente de rosas, um calabouço de ar. Não dão somente o relógio, muitas felicidades e esperamos que dure porque é de boa marca, suíço com âncora de rubis; não dão de presente somente esse miúdo quebra-pedras que você atará ao pulso e levará a passear. Dão a você — eles não sabem, o terrível é que não sabem — dão a você um novo pedaço frágil e precário de você mesmo, algo que lhe pertence mas não é seu corpo, que deve ser atado a seu corpo com sua correia como um bracinho desesperado pendurado a seu pulso. Dão a necessidade de dar corda todos os dias, a obrigação de dar-lhe corda para que continue sendo um relógio; dão a obsessão de olhar a hora certa nas vitrines das joalherias, na notícia do rádio, no serviço telefônico. Dão o medo de perdê-lo, de que seja roubado, de que possa cair no chão e se quebrar. Dão sua marca e a certeza de que é uma marca melhor do que as outras, dão o costume de comparar seu relógio aos outros relógios. Não dão um relógio, o presente é você, é a você que oferecem para o aniversário do relógio.
Instruções para dar corda no relógio: Lá no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, pegue com dois dedos o pino da corda, puxe-o suavemente. Agora se abre outro prazo, as árvores soltam suas folhas, os barcos correm regata, o tempo como um leque vai se enchendo de si mesmo e dele brotam o ar, as brisas da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão. Que mais quer, que mais quer? Amarre-o depressa a seu pulso, deixe-o bater em liberdade, imite-o anelante. O medo enferruja as âncoras, cada coisa que pôde ser alcançada e foi esquecida começa a corroer as veias do relógio, gangrenando o frio sangue de seus pequenos rubis. E lá no fundo está a morte se não corremos, e chegamos antes e compreendemos que já não tem importância.”

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"Os homens assemelham-se a relógios a que se dá corda e trabalham sem saber a razão. E sempre que um homem vem a este mundo, o relógio da vida humana recebe corda novamente, para repetir, mais uma vez, o velho e gasto refrão da eterna caixa de música, frase por frase, com variações imperceptíveis."
(atribuída a Schopenhauer)

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CAPÍTULO QUINTO
Experiências e raciocínios dos dois viajantes


          Micrômegas estendeu cuidadosamente a mão para o local onde se achava o objeto e, avançando dois dedos e retirando-os por medo de enganar-se e depois abrindo-os e fechando-os, apanhou com todo o jeito o navio que carregava os tais senhores, e colocou-o sobre a unha, sem o apertar muito, para não esmagá-lo. “Eis um animal bem diferente do primeiro” – observou o anão de Saturno; o siriano pôs o pretenso animal na palma da mão. Os passageiros e o pessoal da equipagem, que se supunham erguidos por um furacão, e que. se julgavam sobre uma espécie de rochedo, põem-se todos em movimento; os marinheiros apanham pipas de vinho, lançam-nas sobre a mão de Micrômegas, e precipitam-se em seguida. Apanham os geômetras seus esquadros seus sectores, e nativas da Lapônia, e saltam para os dedos de Micrômegas. Tanto fizerem, que este sentiu enfim mover-se qualquer coisa que lhe comichava os dedos: era um bastão ferrado que lhe fincavam no índice; julgou, por aquilo, que saíra qualquer coisa do pequeno animal que ele segurava. Mas não desconfiou de mais nada. O microscópio, que mal fazia discernir uma baleia e um navio, não alcançava seres tão imperceptíveis como os homens. Não pretendo chocar a vaidade de ninguém, mas sou obrigado a pedir às pessoas importantes que façam uma pequena observação comigo: é que, considerando a homens de cerca de cinco pés de altura, não fazemos, à face da terra, maior figura do que faria, sobre uma bola de dez pés de circunferência, um animal que medisse a seiscentésima milésima parte de uma polegada. Imaginai uma substância que pudesse sustentar a terra na mão, e que tivesse órgãos em proporção com os nossos; e bem pode acontecer que haja grande número dessas substâncias: concebei, então, o que não haveriam de pensar dessas batalhas que nos valeram duas aldeias que foi preciso restituir.
          Se algum capitão de granadeiros ler algum dia esta obra, não duvido que mande aumentar, pelo menos dois pés, os capacetes da sua tropa; mas fica avisado de que, por mais que faça, nunca passarão, ele e os seus, de infinitamente pequenos.
          Que maravilhosa habilidade não foi preciso ao nosso filósofo de Sírio para perceber os átomos de que acabo de falar! Quando Leuwenhoek e Hartsoeker viram pela primeira vez, ou julgaram ver, a semente de que nos formamos, não fizeram tão espantosa descoberta. Que prazer não sentiu Micrômegas ao ver moverem-se aquelas pequenas máquinas, examinando-lhes todos os movimentos, seguindo-as em todas as operações! Que de exclamações! Com que alegria pôs um de seus microscópios nas mãos do companheiro de viagem! “Vejo-os! – diziam ambos ao mesmo tempo. – Repara como carregam fardos, como se erguem, como se abaixam!” Assim falando, tremiam-lhes as mãos, pelo prazer de ver objetos tão novos e pelo receio de os perder. O saturniano, passando de um excesso de desconfiança a um excesso de credulidade, julgou perceber que eles trabalhavam na propagação da espécie. Ah! – dizia ele, – peguei a natureza em flagrante. – Mas enganava-se pelas aparências, o que muita vez sucede, quer a gente se sirva ou não de microscópios.

CAPÍTULO SEXTO
Do que lhes aconteceu com os homens.


          Micrômegas, melhor observador que o anão, viu claramente que os átomos se falavam; e fê-lo notar ao companheiro que, envergonhado do seu engano quanto à geração, não quis acreditar que tal espécie pudesse trocar idéias. Tinha o dom das línguas, como o siriano; não ouvia os nossos átomos falarem, e supunha que não falavam. Aliás, como poderiam aquelas criaturas imperceptíveis possuir os órgãos da voz, e que teriam a dizer-se? Para falar, é preciso pensar, ou quase; mas, se pensavam, tinham então o equivalente de uma alma. Ora, atribuir um equivalente de alma a uma espécie daquelas, parecia-lhe absurdo.           — Mas – observou Micrômegas – ainda há pouco supunhas que eles praticavam o amor. Será que julgas que se possa praticar o amor sem pensar e sem preferir alguma palavra, ou pelo menos sem fazer-se compreender? Acha, aliás, que seja mais difícil fazer um raciocínio. que fazer um filho? Quanto a mim, um e outro me parecem grandes mistérios.
          — Já não ouso nem crer nem negar – disse o homúnculo, – não tenho mais opinião. Tratemos primeiro de examinar esses insetos, arrazoaremos depois.
          — Muito bem dito – retrucou Micrômegas. Em seguida tirou do bolso uma tesourinha, com que cortou as unhas e, com uma lasca da unha do polegar fabricou uma espécie de trompa acústica, que era como um vasto funil cujo bico aplicou no ouvido. A boca do funil envolvia o navio e a toda a equipagem. A voz mais fraca penetrava nas fibras circulares da unha, de modo que, graças à sua indústria, pôde o filósofo lá do alto ouvir perfeitamente o zumbido dos insetos cá de baixo. Em poucas horas, conseguiu distinguir as palavras, e afinal compreender o francês. O anão fez o mesmo, embora com mais dificuldade. O pasmo dos viajantes redobrava a cada momento. Ouviam insetos falarem com muito bom senso: esse capricho da natureza afigurava-se-lhes inexplicável Bem podeis imaginar como Micrômegas e o seu anão ardiam de impaciência por travar conversa com os átomos.
          Temiam que a sua voz de trovão, e sobretudo a de Micrômegas, ensurdecesse os insetos, sem ser ouvida. Cumpria diminuir-lhe a força. Puseram na boca umas espécies de palitos cujas pontas afiladas vinham dar perto do navio. O siriano tinha o anão sobre os joelhos, e o navio com a equipagem sobre uma unha. Inclinava a cabeça e falava baixinho. Afinal, por meio destas e de outras precauções, começou assim o seu discurso:
          “Insetos invisíveis, que a mão do Criador se comprouve em fazer brotar no abismo do infinitamente pequeno, agradeço a Deus por se haver dignado desvendar-me segredos que pareciam impenetráveis. Na minha Corte, talvez não se dignem olhar-vos; mas eu não desprezo ninguém, e ofereço-vos a minha proteção”.
          Se alguém chegou ao cúmulo do espanto, foram sem dúvida as pessoas que ouviram tais palavras. Não podiam adivinhar de onde partiam. O capelão de bordo rezou exorcismos, os marinheiros praguejaram, e os filósofos do navio elaboraram um sistema; mas, por mais sistemas que fizessem, não atinavam com quem lhes falava. O anão de Saturno, que tinha a voz mais suave que a de Micrômegas, informou-lhes então com quem estavam tratando. Contou-lhes a partida de. Saturno, disse-lhes quem era o senhor Micrômegas, e, depois de os ter lamentado por serem tão pequenos, perguntou-lhes se sempre haviam estado naquela miserável condição tão vizinha do aniquilamento, o que faziam num globo que parecia pertencer às baleias, se eram felizes, se se multiplicavam, se tinham uma alma, e mil outras questões dessa natureza.
          Um sábio do grupo, mais audaz que os outros e chocado de que duvidassem da sua alma, observou o interlocutor por intermédio de pínulas assestadas sobre um esquadro, fez duas miras e, na terceira, assim lhe falou:
          — Julga então, senhor, só porque tem mil toesas da cabeça aos pés, que é um...
          — Mil toesas! – exclamou o anão. – Meu Deus! Como pode ele saber a minha altura? Mil toesas! Não se engana por uma polegada. Como! Esse átomo mediu-me! É geômetra, conhece as minhas dimensões; e eu, que o vejo através de um microscópio, ainda não conheço as suas.
          — Sim, medi-o – disse o físico – e medirei também o seu grande companheiro.
          Aceita a proposta, deitou-se Sua Excelência ao comprido; pois, se se pusesse de pé, ficaria com a cabeça muito acima das nuvens. Os nossos filósofos plantaram-lhe uma grande árvore num lugar que o doutor Swift nomearia, mas que me guardo de chamar pelo nome, devido a meu grande respeito ás damas. Depois, por uma seqüência de triângulos, concluíram que aquilo que eles viam era com efeito um jovem de cento e vinte mil pés de altura.
          Micrômegas pronunciou então estas palavras:
          “Reconheço, mais do que nunca, que nada devemos julgar por sua grandeza aparente. Ó Deus, que destes uma inteligência a substâncias que parecem tão desprezíveis, o infinitamente pequeno vos custa tão pouco como o infinitamente grande; e, se é possível que haja seres ainda mais pequenos do que estes, podem ainda ter um espírito superior ao daqueles soberbos animais que vi no céu e cujo pé bastaria para cobrir o globo a que desci”.
          Respondeu-lhe um dos filósofos que ele poderia com toda a segurança acreditar que há de fato seres inteligentes muito menores que o homem. Contou-lhe, não tudo o que Virgílio diz de fabuloso sobre as abelhas, mas o que Swammerdam descobriu, e o que Réaumur dissecou. Disse-lhe, enfim, – que há animais que estão para as abelhas como as abelhas estão para os homens, e como Micrômegas estava para aqueles imensos animais a que se referira, e como aqueles estão para outras substâncias, diante das quais não passam de átomos. Pouco a pouco a conversa se tornava interessante, e Micrômegas assim falou.

Micrômegas (1752)
Voltaire (1694-1778)

CAPÍTULO SÉTIMO
Conversação com os homens.


          — Ó átomos inteligentes, em quem o Ser Eterno se comprazeu em manifestar seu engenho e poderio, deveis sem dúvida gozar das mais puras alegrias sobre o vosso globo; pois, tende tão pouca matéria e parecendo puro espírito, deveis passar a vida a amar e a pensar, que é o que constitui a verdadeira vida dos espíritos. A verdadeira felicidade, que não vi em parte nenhuma, com certeza é aqui que existe.
          A tais palavras, todos os filósofos abanaram a cabeça; e um deles, mais franco que os outros, confessou de boa fé que, excetuando um pequeno número de habitantes muito pouco considerados, o resto é tudo uma assembléia de loucos, de maus e de infelizes.
          — Nós temos mais matéria do que é necessário – disse ele – para fazer muito mal, se o mal vem da matéria, e temos espírito em demasia, se o mal vem do espírito. Não sabeis, por exemplo que, no instante em que vos falo, há cem mil loucos da nossa espécie, cobertos de chapéus, que matam cem mil outros animais cobertos de um turbante, ou que são massacrados por estes e que, quase por toda a terra, é assim que se faz, desde tempos imemoriais?
          O siriano estremeceu e perguntou qual poderia ser o motivo dessas terríveis querelas entre tão mesquinhos animais.
          — Trata-se – disse o filósofo – de uma porção de lama do tamanho de vosso calcanhar. Não que algum desses milhões de homens que se exterminam pretenda um palmo que seja dessa lama. Trata-se apenas de saber se pertencerá a certo homem a que chamam Sultão, ou a outro homem a que chamam César, não sei por quê. Nenhum dos dois viu, ou jamais verá, o pedacinho de terra em questão, e quase nenhum desses animais que mutuamente se degolam já viu algum dia o animal pelo qual se degolam.
          — Infelizes! – exclamou o siriano indignado. – Pode-se acaso conceber mais furiosa loucura? Vem-me até vontade de dar três passos e esmagar com três patadas esse formigueiro de ridículos assassinos.
          — Não vos deis a esse incômodo; eles já trabalham bastante para a sua própria ruína. Ficai sabendo que, passados dez anos, já não resta nem a centésima parte desses miseráveis, e, mesmo que não tivessem puxado da espada, a fome, a fadiga ou a intemperança os levam ,a quase todos. Aliás, não é a estes que é preciso punir, mas sim a esses bárbaros sedentários que, do fundo de seu gabinete, ordenam, durante a digestão, o massacre de um milhão de homens, e em seguida o agradecem solenemente a Deus.
          O viajante sentia-se apiedado da pequena raça humana, na qual descobria tão espantosos contrastes.
          — Já que pertenceis ao pequeno número dos sábios – disse-lhes ele – e aparentemente não matais a ninguém por dinheiro, dizei-me em que vos ocupam então.
          — Dissecamos moscas – respondeu o filósofo, – medimos linhas, encordoamos números, pomo-nos de acordo acerca de dois ou três pontos que entendemos, e disputamos sobre dois ou três mil que não entendemos.
          Ocorreu então ao siriano e ao companheiro a fantasia de interrogar aqueles átomos pensantes sobre coisas que ambos conheciam.
          — Quanto contais – Indagou Micrômegas – da estrela da Canícula à grande estrela dos Gêmeos?
          — Trinta e dois graus e meio – responderam todos ao mesmo tempo.
          — Quanto contais daqui até a lua?
          — Sessenta semidiâmetros da terra, em números redondos.
          — Quanto pesa o vosso ar?
          Supunha confundi-los nesse ponto, mas todos responderam que o ar pesa cerca de novecentas vezes menos que igual volume d’água e dezenove mil vezes menos que o ouro.
          O anãozinho, de Saturno, atônito das suas respostas, sentiu-se tentado a tomar como feiticeiros àqueles mesmos a quem havia negado uma alma quinze minutos antes. Afinal lhes disse Micrômegas:
          — Já que sabeis tão bem o que se acha fora de vós, decerto sabeis ainda melhor o que tendes por dentro. Dizei-me o que é a vossa alma e como formais as vossas idéias. Os filósofos falaram todos ao mesmo tempo, como antes, mas foram de diferentes opiniões. O mais velho citava Aristóteles, outro pronunciava o nome de Descartes, este o de Malebranche, aquele o de Leibnitz, aqueloutros o de Locke. Um velho peripatético disse em voz alta com toda a segurança: A alma é uma enteléquia, razão pela qual tem o poder de ser o que é. É o que declara expressamente Aristóteles, página 633 da edição do Louvre: “entelequia esti” etc.
          Não entendo muito bem o grego – disse o gigante.
          Nem eu tampouco – replicou o inseto filosófico.
          — Por que então – tornou o siriano – citais um certo Aristóteles em grego?
          É que – replicou o sábio – cumpre citar aquilo de que não se compreende nada na língua que menos se entende.
          O cartesiano tomou a palavra e disse:
          — A alma é um espírito puro, que recebeu no ventre da mãe todas as idéias metafísicas, e que, ao sair de lá, é obrigada a ir para a escola e aprender de novo tudo o que tão bem sabia é que não mais saberá!
          — Então não valia a pena – retrucou o animal de oito léguas – que a tua alma fosse tão sábia no ventre de tua mãe, para ser tão ignorante quando tivesses barba no queixo. Mas que entendes por espírito?
          — Bela pergunta! – exclamou o raciocinante. – Não tenho disso a mínima idéia: dizem que não é matéria.
          — Mas sabes ao menos o que é a matéria?
          — Perfeitamente – respondeu o homem. – Por exemplo, esta pedra é cinzenta, e de determinada forma, tem as suas – três dimensões, é pesada e divisível.
          — Pois bem – disse o siriano – e essa coisa que te parece divisível, pesada e cinzenta, saberás dizer-me exatamente o que seja? Tu lhe vês alguns atributos; mas o fundo da coisa, acaso o conheces?
          — Não – disse o outro.
          — Não sabes, pois, o que é a matéria.
          Então o senhor Micrômegas, dirigindo a palavra a outro sábio, a quem equilibrava sobre o polegar, perguntou-lhe o que era a sua alma, e o que fazia.
          — Absolutamente nada – respondeu o filósofo malebranchiste, – é Deus que faz tudo por mim; vejo tudo em Deus, faço tudo em Deus: é Ele quem faz tudo, sem que eu me preocupe.
          — É o mesmo que se não existisses – tornou o sábio de Sírio. – E tu, meu amigo – disse a um leibnitziano que ali – se achava, – que vem a ser a tua alma?
          — É – respondeu o leibnitziano – um ponteiro que indica as horas, enquanto o meu corpo toca o carrilhão; ou, se quiserdes, é ela quem carrilhona, enquanto o meu corpo marca a hora
; ou então, é minh’alma o espelho do universo, e meu corpo a moldura do espelho: isso é bem claro.
          Um minúsculo partidário de Locke achava-se ali perto; e quando afinal lhe dirigiram a palavra:
          — Eu não sei como é que penso – respondeu, – mas sei que nunca pude pensar senão com o auxilio de meus sentidos. Que haja substâncias imateriais e inteligentes, eu não duvido; mas também não nego que Deus possa comunicar pensamento à matéria. Venero o poder eterno, não me cabe limitá-lo; nada afirmo, contento-me em acreditar que há mais coisas possíveis do que se pensa.
          O animal de Sírio sorriu: não achou que fosse aquele o menos sábio; e o anão de Saturno teria abraçado o sectário de Locke, se não fora a extrema desproporção entre ambos. Mas, por desgraça, havia ali um animalículo de capelo que cortou a palavra a todos os animalículos filosofantes: disse que sabia o segredo de tudo, o qual se achava na Suma de Santo Tomás; mediu de alto a baixo os dois habitantes celestes; sustentou-lhes que as suas pessoas, os seus mundos, sois e estrelas, tudo era feito unicamente para o homem. A isto, os nossos dois viajantes tombaram um nos braços do outro, sufocados de riso, esse riso inextinguível que, segundo Homero, é próprio dos deuses; seus ombros e ventres agitavam-se e, nessas convulsões, o navio que Micrômegas trazia na unha caiu no bolso das calças do saturniano. Os dois o procuraram por muito tempo; afinal encontraram e reajustaram tudo convenientemente. O siriano retomou os pequenos insetos; falou-lhes de novo com muita bondade, embora no íntimo se achasse um tanto agastado de ver que os infinitamente pequenos tivessem um orgulho quase infinitamente grande. Prometeu-lhes que redigiria um belo livro de filosofia, escrito bem miudinho, para seu uso, e que, nesse livro, veriam eles o fim de todas as coisas. Com efeito, entregou-lhes esse volume, que foi levado para a Academia de Ciências de Paris. Mas, quando o secretário o abriu, viu apenas um livro em branco. – Ah! bem que eu desconfiava... – disse ele.


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Produtores podem abandonar produção de suínos por aumento no custo de alimentação


Veículo:
PORKWORLD 
Editoria:
 
Data:
23/04/2012 
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Altas nos preços da soja, bem como dos preços de milho no Brasil são bons para os produtores de GRÃOS, mas eles têm sido um desastre para os produtores de suínos no país. De acordo com a Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), para um produtor de porco típico de MT, rações perfazem 70% do seu custo de produção, e 80% da alimentação é composta de milho e farelo de soja. A Acrismat estima que o custo total de produção de suínos em Mato Grosso é de aproximadamente R$ 2,20 a R$ 2,30 por quilo vivo. Infelizmente, os preços que agricultores estão recebendo para seus porcos vivos é na faixa de R$ 1,50 a R$ 1,65 por quilo. A esses preços, os produtores estão perdendo cerca de R$ 65 a R$ 71 por cabeça.

há poucos anos, os produtores de suínos no estado poderiam comprar um saco de milho por R$ 6 ou R$ 7, mas hoje o mesmo saco está sendo vendido por R$ 22 ou R$ 23. Uma tonelada de farelo de soja passou de R$ 300 a R$ 700 durante o mesmo tempo.

Com o embargo russo da carne suína brasileira em junho de 2011, a Acrismat solicitou ao estado e o governo federal para ajudar a indústria em dificuldade. A Rússia tinha sido o destino número um para o que era produzido em Mato Grosso, mas o mercado de repente não estava mais disponível, e os preços dos suínos cairam ao mesmo tempo que os preços de milho e soja subiram - uma combinação ruim para os produtores de porcos.

Ao mesmo tempo, os produtores perderam um desconto de 50% sobre o impostos sobre a electricidade e se depararam com um aumento de 17% sobre o valor adicionado fiscal do milho comprado da CONAB, durante uma de suas aspirações. Quando os produtores foram a CONAB eles pensavam que estavam indo para pagar R$ 18,44 por saca, mas com impostos e taxas, acabaram pagando R$ 23 por saca.

Produtores afirmam que se o governo não quer subsidiar o preço do milho, ou aumentar o preço mínimo para a carne de porco, muitos dos produtores de suínos no estado simplesmente podem sair do negócio.
Fonte: Cenário MT

Conheça pontos de tensão para povos indígenas na América Latina



Atualizado em 23 de abril, 2012 - 11:15 (Brasília) 14:15 GMT


Há, atualmente, centenas de conflitos em curso na América Latina que opõem povos indígenas a empresas, políticos e governos locais.

Para especialistas ouvidos pela BBC Brasil, esses confrontos têm ganhado força à medida que pouca ou quase nenhuma garantia é oferecida a essas comunidades de que seus direitos e territórios serão preservados face à expansão urbana.

Índios sem fronteiras

Na fronteira Brasil-Peru, índios se mobilizam contra obras binacionais
Indígenas desafiam fronteiras e se unem contra grandes obras na América Latina
Conheça pontos de tensão para povos indígenas na América Latina

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Brasil

Muitos deles envolvem a construção de obras de infraestrutura e a exploração de recursos naturais.

Confira alguns desses conflitos ainda em andamento na região:


Mapa de pontos de tensão para indígenas na América Latina




ARGENTINA




Onde: Neuquén

O quê: Exploração de cobre

Índios mapuche das comunidades de Mellao Morales e Huenctru Trawel Leufú tentam desde 2008 anular um contrato para exploração de cobre dentro de suas reservas. Segundo eles, a extração do metal viola legislações indígena e ambiental. Obras foram paralisadas por decisões judiciais até que eles sejam consultados.

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BOLÍVIA




Onde: Território Indígena Parque Nacional Isiboro Secure (Tipnis), províncias de Beni e Cochabamba.

O quê: Construção de estrada.

Indígenas dizem que a rodovia, que será financiada com dinheiro do BNDES e construída por uma empresa brasileira, afetará povos do parque Tipnis. Protestos realizados no ano passado paralisaram a construção. O governo local alega que consultará os índios antes de retomá-la.

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Onde: Pacajes, La Paz.

O quê: Exploração de cobre.

Índios afirmam que a exploração de minerais na reserva de Jach’a Suyu Pakajaqui, com investimentos de US$ 200 milhões, foi iniciada sem licença ambiental , além de ter desviado o curso de um rio e tê-lo poluído. A comunidade recorreu à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para tentar paralisar o empreendimento.

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BRASIL




Onde: Altamira (Estado do Pará).

O quê: Usina hidrelétrica de Belo Monte.

Índios de 28 etnias que vivem na bacia do rio Xingu dizem que a obra reduzirá o fluxo do rio, afetando os peixes, e atrairá imigrantes à região. Eles também afirmam que não foram consultados sobre o empreendimento e tentam paralisá-lo na Justiça.

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Onde: Nordeste de Minas Gerais e região Nordeste.

O quê: Transposição do rio São Francisco.

Movimentos indígenas dizem que ao menos 18 povos, alguns dos quais não têm territórios demarcados pelo Estado, podem ser afetados pela obra com as mudanças n a transposição do rio. Também alegam não ter sido consultados. Um grupo denunciou as consequências desastrosas da obra à ONU.

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CHILE




Onde: Fronteira com Argentina.

O quê: Exploração de ouro.

Indígenas huascoaltinos se opõem ao Projeto Pascua Lama, iniciado há dez anos. Os índios dizem arcar com prejuízos ambientais causados pelo empreendimento e denunciaram o Estado chileno na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

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COLÔMBIA

Onde: Tumaco (Nariño) - Puerto Assis (Putumayo).

O quê: Corredor de transporte intermodal.

Índios dizem que o projeto bilionário, que está em fase de estudos e busca ligar Tumaco, no Pacífico, a Belém, no Brasil, atravessaria territórios indígenas ancestrais e não foi submetido à consulta prévia, conforme determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

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EQUADOR

Onde: Manta (Manabí).

O quê: Corredor de transporte intermodal.

Em curso, as obras destinadas a ligar a cidade equatoriana de Manta, no Pacífico, a Manaus, incluem estradas, aeroportos e conex ões fluvia is . Índios afirmam que elas afetarão territórios ao longo do rio Napo e alegam não ter sido consultados sobre projeto.

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Onde: Parque Nacional Yasuní (Pastaza, Orellana).

O quê : Exploração petrolífera.

Batizado de Projeto ITT, o empreendimento ameaça povos equatorianos não contatados, segundo organizações indígenas locais. Elas exigem que o governo garanta a integridade dos territórios indígenas, conforme diretriz da ONU para povos isolados.

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GUATEMALA




Onde: San Juan Ostuncalco, Cabricán e Huitán (Quetzaltenango).

O quê: Mineração de ouro.

Índios tentam paralisar exploração aurífera iniciada em 2005 na região. Eles dizem que os rios foram contaminados e que a riqueza não beneficia a população local.

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MÉXICO




Onde: Bolaños-Huejuquilla (Jalisco).

O quê: Construção de estrada.

Comunidade indígena dos huicholes (wixárika) lutam desde 2005 contra a construção da rodovia , que ligará Bolaños a Huejuquilla. Eles dizem que as obras estão desalojando índios, destruindo locais sagrados e afetando mananciais.

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PANAMÁ




Onde: Panamá.

O quê: Estradas e integração elétrica.

Destinado a integrar a América Central com a Colômbia, ao sul, e com o México, ao norte, o plano Puebla-Panamá (rebatizado de Projeto Mesoamérica) prevê investimentos bilionários em rodovias e instalações elétricas. Povos indígenas da região reivindicam serem consultados sobre obras e temem seus efeitos.

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PERU




Onde: Departamento de Madre de Díos.

O quê: Rodovia e exploração de petróleo e gás.

Movimentos indígenas dizem que estrada Interoceânica, ligando o Peru ao Brasil, facilitou migração para a Amazônia peruana de mineradores, que invadem territórios indígenas, poluem rios e caçam ilegalmente. Eles cobram que governo restrinja a ação desses grupos e freie a prospecção de petróleo e gás na região.

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Índios sem fronteiras

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Indígenas desafiam fronteiras e se unem contra grandes obras na América Latina


João Fellet

Enviado especial da BBC Brasil à fronteira Brasil-Peru


Atualizado em 23 de abril, 2012 - 11:15 (Brasília) 14:15 GMT


Grupos buscam trocar experiências bem-sucedidas e unificar posição junto a organizações internacionais

Desafiando as fronteiras nacionais, indígenas de países latino-americanos estão se articulando de forma inédita na oposição a obras que afetam seus territórios e a políticas transnacionais de integração.

Com o auxílio de tecnologias modernas e de conexões históricas, índios de diferentes grupos têm buscado unificar posições em organizações internacionais como ONU e a OEA (Organização dos Estados Americanos). Experiências bem-sucedidas por toda a América Latina em disputas com governos e empresas também vêm sendo compartilhadas.

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"Estamos mapeando todas as conquistas dos nossos parentes (povos indígenas) no continente para aproveitarmos as experiências deles aqui no Brasil", afirma Marcos Apurinã, coordenador-geral da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).

"Nossos problemas são praticamente idênticos aos dos indígenas dos outros países", diz ele à BBC Brasil.

Essa aproximação tem sido liderada pelas grandes organizações indígenas nacionais e por movimentos regionais, como a Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), que agrega grupos do Equador, Bolívia, Brasil, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

Além de manter as organizações filiadas informadas sobre disputas envolvendo indígenas nos países membros, a Coica tem promovido encontros entre seus integrantes.

Nas reuniões, discutem-se, entre outros temas, formas de pressionar os governos a demarcar territórios, como recorrer a organismos internacionais para fazer valer os direitos indígenas e o impacto de grandes obras nas comunidades tradicionais.

"Nos preocupa a nova forma de desenvolvimento conhecida como economia verde. Entendemos isso como um esforço para a exploração dos recursos naturais nos territórios indígenas", diz à BBC Brasil Rodrigo de la Cruz, coordenador técnico da Coica.

Cruz cita algumas obras que considera dramáticas para indígenas na América Latina: no Brasil, a hidrelétrica de Belo Monte; na Bolívia, a construção de estrada que atravessaria o parque nacional Tipnis; no Equador, a exploração petrolífera na Reserva Faunística Yasuní; no México, a estrada Bolaños-Huejuquilla; e na América Central, o Projeto Mesoamérica (integração de redes elétrica e de transporte do México à Colômbia).

CliqueLeia mais: Na fronteira Brasil-Peru, índios se mobilizam contra obras binacionais

Todas as obras acima são ou foram objeto de protestos de indígenas. E, como parte delas afeta povos tradicionais em mais de um país, também entraram na pauta dos encontros entre índios de regiões fronteiriças.

Obras transnacionais

A reportagem da BBC Brasil esteve na divisa com o Peru, onde índios dos dois lados têm se reunido para tratar dos efeitos de uma série de obras destinadas a ampliar a integração binacional nos próximos anos.

A primeira delas – a rodovia Interoceânica, que liga o noroeste brasileiro a portos peruanos no Pacífico – saiu do papel em 2011 e trouxe, segundo os indígenas, vários problemas à região, como desmatamento e mineração ilegal.

Jaime Corisepa, presidente da Federação Nativa do Rio Madre de Dios e Afluentes (Fenamad), principal movimento indígena do Departamento (Estado) peruano de Madre de Dios, diz temer um agravamento das condições caso os próximos projetos de integração saiam do papel. Um deles é o acordo energético que prevê a construção de seis hidrelétricas no Peru para abastecer o mercado brasileiro.

Protestos de índios contra o acordo fizeram o governo peruano suspendê-lo e anunciar que ele só vigorará após as comunidades tradicionais serem consultadas, conforme determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

CliqueVeja mapa: Conheça pontos de tensão para povos indígenas na América Latina
Laços históricos

A articulação entre povos indígenas dos países amazônicos também é facilitada por fatores históricos. Marcela Vecchione, consultora da Comissão Pró-Índio (CPI) do Acre, diz que as fronteiras na região foram definidas conforme critérios econômicos e não levaram em conta as comunidades presentes, que, em muitos casos, foram divididas pelos limites nacionais.

Ao longo de várias décadas, segundo ela, esses povos mantiveram relação intensa com os dos países vizinhos, cruzando as fronteiras livremente. Com a demarcação de terras indígenas pelos governos nacionais nas últimas décadas, porém, esse fluxo migratório foi reduzido, embora muitos povos binacionais (ou até trinacionais, em alguns casos) mantenham alianças por meio de casamentos e relações de parentesco com índios de países vizinhos.


Muitos machineri passam parte do ano em um país e o resto, no outro

É o caso dos manchineri, que vivem na região da divisa Brasil-Peru. São comuns os casos de índios desse grupo que passam parte do ano em um país e o resto, no outro.

Geraldo Manchineri, que vive em uma aldeia indígena no Peru, sempre visita os parentes do lado brasileiro – a reportagem da BBC Brasil o encontrou numa praça em Brasileia (AC).

Segundo Ricardo Verdum, doutor em Antropologia pela Universidade de Brasília, os povos indígenas começaram a se articular em encontros internacionais nas décadas de 1960 e 1970, quando países africanos e asiáticos lutavam para se livrar do jugo europeu. A evolução do diálogo resultou na Convenção 169 da OIT, de 1989, e na Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, de 2007.

Ele diz, porém, que o grande desafio dos movimentos é fazer com que os países que subscreveram os documentos realmente os respeitem
.

Para isso, segundo Verdum, nos últimos anos, a articulação entre indígenas (especialmente na América Latina) tem se intensificado e ganhado contornos mais institucionais, com a criação de órgãos para fazer frente às políticas dos Estados nacionais.

"Hoje, eles estão bem mais atentos, buscando se organizar de forma politicamente autônoma", afirma à BBC Brasil.

Verdum diz esperar que, em alguns países, esse processo enseje a criação de Parlamentos dos Povos Indígenas, órgãos que seriam vinculados ao Poderes Legislativos nacionais e serviriam para a elaboração de políticas específicas para os índios.

Conferências virtuais

Além de dialogar sobre desafios comuns em reuniões internacionais, indígenas latino-americanos têm usado a internet para alinhar posições sobre temas que não necessariamente envolvam grandes obras ou conflitos com governos.

Tashka Yawanawá, líder da Associação Sociocultural Yawanawá, que atua no Acre, mantém um blog (awavena.blog.uol.com.br) e usa a internet para fazer videoconferências com povos de países vizinhos.

Nos últimos dias, ele diz ter conversado pelo Skype com índios peruanos sobre como as comunidades tradicionais podem se beneficiar dos "serviços ambientais" que prestam (como o plantio de ervas medicinais ou a preservação ambiental em seus territórios). O tema foi debatido em encontro recente nas Filipinas.

Segundo Tashka, a humanidade hoje vive "numa aldeia global em que tudo está conectado".

"Hoje os povos indígenas não podem mais fugir do homem branco, da tecnologia. Temos que nos atualizar, nos preparar para encarar esse novo mundo."




Na fronteira Brasil-Peru, índios se mobilizam contra obras binacionais


João Fellet

Enviado especial da BBC Brasil à fronteira Brasil-Peru


Atualizado em 23 de abril, 2012 - 11:15 (Brasília) 14:15 GMT



Índios temem efeitos de empreendimentos em uma das áreas mais isoladas da América do Sul

A anexação do Acre pelo Brasil em 1904 deixou em países distintos povos que habitavam uma mesma região. Mas a exploração econômica da área tem estimulado a aproximação entre esses grupos indígenas, em prol de uma estratégia comum na defesa de seus direitos.

Inaugurada em 2011 e batizada de Interoceânica, a rodovia que liga o noroeste brasileiro a portos peruanos no Pacífico foi construída com a promessa de desenvolver a região e é o carro-chefe de uma série de obras destinadas a ampliar a integração entre Brasil e Peru nos próximos anos.

Índios sem fronteiras

Na fronteira Brasil-Peru, índios se mobilizam contra obras binacionais
Indígenas desafiam fronteiras e se unem contra grandes obras na América Latina
Conheça pontos de tensão para povos indígenas na América Latina

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Índios peruanos e brasileiros, porém, temem os efeitos que esses empreendimentos possam ter numa das áreas mais isoladas da América do Sul, em território ainda largamente coberto pela floresta amazônica.

Eles também se dizem preocupados com os projetos de exploração de petróleo e gás natural nos dois lados da fronteira e com as ameaças aos índios isolados da região.

Segundo o Censo de 2010, há 15.921 índios no Acre. A maioria vive nas cerca de 30 Terras Indígenas (TI) no Estado, quase todas na região de fronteira.

No lado peruano, faltam dados precisos sobre a quantidade de índios, mas, segundo o Censo de 2007, há cerca de 270 comunidades indígenas nos Departamentos (Estados) de Uyacali e Madre de Dios, que fazem fronteira com o Acre
.

Migração massiva

Jaime Corisepa, presidente da Federação Nativa do Rio Madre de Dios e Afluentes (Fenamad), principal movimento indígena de Madre de Dios, diz que a Interoceânica causou um grande impacto na região, ao permitir a migração massiva de moradores da cordilheira dos Andes para a Amazônia peruana.

Atraídos pelo ouro em Madre de Dios, milhares desses migrantes têm se instalado em acampamentos à beira da rodovia, desmatando a floresta e poluindo os rios com o garimpo.

"Essa superpopulação destrói o meio ambiente, que é nossa fonte de comida", afirma. A BBC Brasil visitou alguns desses acampamentos, repletos de bares e casas de prostituição.

Corisepa defende, no entanto, que os índios possam explorar ouro em seus territórios, como já têm feito, para compensar a falta de atenção governamental. "As comunidades indígenas têm direito a uma melhor qualidade de vida. O Estado nunca vai investir em educação indígena, então temos que ganhar dinheiro para investir."

Corisepa diz temer um agravamento das condições na região caso os próximos projetos de integração binacional saiam do papel, como um acordo energético que prevê a construção de seis hidrelétricas no Peru para abastecer o mercado brasileiro.

"As pessoas desalojadas pelas hidrelétricas entrarão nas comunidades indígenas. Não fomos consultados sobre as obras nem informados sobre como elas vão nos beneficiar", afirma.

Nos últimos meses, protestos de indígenas fizeram o governo suspender o acordo e anunciar que ele só vigorará após as comunidades tradicionais serem consultadas, conforme determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Alcoolismo e prostituição

Em seu trecho brasileiro, a Interoceânica também impactou indígenas.

Segundo Juan Scalia, coordenador-substituto da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Rio Branco, em duas comunidades no Amazonas cortadas pela estrada houve incremento nos casos de alcoolismo entre índios (há bares a menos de 500 metros das aldeias), de caça e pesca ilegal e na ação de madeireiros.

Ele também afirma que, em obras como essa, é comum que índias sejam assediadas por operários e, não raro, acabem se prostituindo.


Casa de prostituição em acampamento de mineradores à beira da Interoceânica, no Peru



Nem todos, porém, condenam a estrada. Moradores de aldeias cortadas pela Interoceânica dizem que ela barateou produtos nos mercados locais e rompeu o isolamento da região.

"Antes a estrada era só barro e dava várias voltas. Levávamos dois dias e uma noite para percorrê-la a pé até a cidade mais próxima, porque raramente havia transporte", diz Emilda Yanarico, comerciante e moradora de Iñapari, cidade peruana na fronteira com o Brasil.

Se os planos de governantes locais forem concretizados, Iñapari ganhará outra estrada nos próximos anos. A obra a ligaria a Puerto Esperanza, cidade peruana também na fronteira com o Brasil, só que mais ao norte.

Embora a estrada só vá cortar o território peruano, índios brasileiros da região fronteiriça têm se mobilizado contra a obra.

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Tráfico de drogas

Lucas Manchineri, morador da Terra Índigena (TI) Mamoadate, no Acre, diz que a estrada intensificará a ação de madeireiros e o tráfico de drogas na fronteira, problemas que já afetam sua comunidade, segundo ele.

Manchineri afirma que, nos últimos dez anos, cerca de 50 traficantes foram detidos por índios enquanto atravessavam sua TI, tendo sido posteriormente entregues a autoridades brasileiras. "Estamos fazendo o trabalho da Polícia Federal e do Exército."

Ele também se diz preocupado com as consequências da nova estrada para os índios não contatados que habitam a região, estimados em algumas centenas pela Funai. Para Manchineri, com a estrada, essa população buscará refúgio em áreas ocupadas por outros indígenas, o que pode desencadear conflitos.

Pelas mesmas razões, outra obra planejada na região fronteiriça preocupa índios dos dois lados: a construção de uma estrada ou de uma ferrovia entre Cruzeiro do Sul (AC) e Pucallpa, no Peru.

Há ainda temores quanto à exploração de petróleo e gás natural na região. No lado peruano, vários lotes já foram cedidos a empresas privadas para a prospecção dos bens. No brasileiro, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) deve concluir neste ano testes sísmicos para avaliar a viabilidade da exploração dos recursos.

"Para o governo, progresso é extrair petróleo, abrir estrada, plantar soja, derrubar madeira. A região vai se tornar um paraíso para empresas sujas", diz o líder indígena brasileiro Tashka Yawanawá.
Reuniões

A articulação entre índios brasileiros e peruanos da região fronteiriça é facilitada por fatores históricos. Marcela Vecchione, consultora da Comissão Pró-Índio (CPI) do Acre, diz que as fronteiras amazônicas foram definidas conforme critérios econômicos e não levaram em conta as comunidades indígenas presentes, que em muitos casos foram divididas pelos limites nacionais.

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Ao longo de várias décadas, segundo Vecchione, esses povos mantiveram relação intensa com os do país vizinho, cruzando a fronteira livremente.

Com a demarcação de terras indígenas pelos governos do Brasil e do Peru nas últimas décadas, porém, esse fluxo foi em larga medida interrompido, embora muitos povos "binacionais" (ou até "trinacionais", nos casos em que também possuam integrantes na Bolívia) mantenham alianças por meio de casamentos e relações de parentesco com índios do país vizinho.

As ameaças comuns sofridas nos dois lados da fronteira, no entanto, têm encorajado uma aproximação maior entre esses povos, que promoveram numerosas reuniões nos últimos anos.

Parte desses encontros tratou da migração de índios peruanos para o Brasil. Em 2004, segundo a CPI-Acre, a extração de madeira em território indígena ashaninka no Peru (atividade permitida naquele país, desde que aprovada pela comunidade indígena local) desestabilizou as aldeias e fez muitas famílias se mudarem para um território ashaninka do lado brasileiro.

Temendo os efeitos dessa migração, os ashaninka brasileiros procuram a Funai. Estabeleceu-se, então, um grupo de trabalho transfronteiriço para tratar do assunto, que já se reuniu 13 vezes desde então.

Com as reuniões, diz Marcela Vecchione, a migração cessou. Além disso, ela diz que os ashaninka peruanos hoje se mostram dispostos a gerir o território como os índios no Brasil, onde a legislação impede exploração de recursos em terras indígenas.

Eles também passaram a alertar os ashaninka brasileiros sobre violações da fronteira por madeireiros, o que, segundo ela, já gerou uma operação da PF.

Obstáculos e estranhamentos

A disposição em frear a exploração de madeira, porém, não parece ser unânime entre índios peruanos, o que dificulta um maior entendimento com os indígenas brasileiros.

Em reunião recente na Bolívia, Letícia Yawanawá, vice-coordenadora de uma organização de mulheres indígenas brasileiras, disse ter sido questionada por índios peruanos por que os "parentes" do Brasil não recorriam à venda de madeira para amenizar a pobreza.

"Eu respondi que hoje eles podem vender, mas e daqui a 50 anos? A floresta acaba. Saí triste do encontro, fiquei com dó dos parentes."

índios peruanos afirmam que, no Brasil, o movimento indígena parece estar fragmentado e ter menos força do que ONGs ambientalistas.

Líderes indígenas dos dois países dizem desejar, contudo, que haja mais diálogo entre os povos, para afinar o discurso e resolver as diferenças.

A relação deverá ser facilitada com a inauguração, neste ano, de um prédio na Universidade Federal do Acre que terá como uma de suas funções alojar indígenas durante reuniões internacionais.

População autodeclarada indígena cresceu 178% em três décadas, diz IBGE

Atualizado em 18 de abril, 2012 - 12:49 (Brasília) 15:49 GMT

Número de pessoas que se auto-declaram indígenas cresceu 178% de 1991 a 2010.

O número de pessoas que se autodeclaram indígenas praticamente triplicou nos últimos trinta anos, passando de 294.131, em 1991, para 817.963, em 2010. Os dados constam de uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE com base nos Censos de 1991, 2000 e 2010.

Atualmente, segundo o órgão, os indígenas representam 0,4% da população brasileira.

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Em comparação ao Censo de 2000, a população indígena cresceu 11,4% (ou 84 mil pessoas), de 734.127 para 817.963, número bem menos expressivo do que no período 1991/2000, que registrou um aumento de 150% (ou 440 mil pessoas), de 294.131 para 734.127.

De acordo com o IBGE, ainda que os povos indígenas tenham experimentado crescimento acelerado em função de altas taxas de fecundidade, os dados do Censo de 2000 superaram as expectativas, com um ritmo de crescimento anual de 10,8% no período 1991/2000.

Tal fato refletiria o aumento do número de pessoas que, em 1991, se identificaram em outras categorias de "cor" ou "raça" e que, em 2000, passaram a se identificar como indígenas.

O IBGE credita esse fenômeno ao processo de "etnogênese" ou "reetinização
", quando "os povos indígenas reassumem e recriam suas tradições, após terem sido forçados a escondê-las e a negar suas identidades tribais como estratégias de sobrevivência".

População indígena no Brasil

1991
Urbana: 71.026
Rural: 223.105
Total: 294.131
2001
Urbana: 383.298
Rural: 350.829
Total: 734.127
2010
Urbana: 315.180
Rural: 502.783
Total: 817.963
Fonte: IBGE


Já os resultados do Censo 2010 revelaram, na comparação com 2000, um ritmo de crescimento anual de 1,1%.

Área Urbana x Área Rural

O Censo de 2010 também revelou que a maior parte dos indígenas (502.783 ou 61,5% da população total) reside atualmente em áreas rurais, enquanto que 315.180 moram em áreas urbanas (ou 38,5%).

Segundo o IBGE, há cada vez menos pessoas se autodeclarando indígenas nas cidades. Em 1991, esse contingente somava 71.026 pessoas, passou para 383.298 em 2000 e caiu para 315.180 em 2010.


A redução de 68 mil pessoas, a maior parte proveniente na região Sudeste, deve-se, segundo o IBGE, ao fato de que muitas pessoas deixaram de se classificar como indígenas nas cidades por não ter afinidade com seu povo de origem.

Por outro lado, no campo, o número de indígenas totalizava 223.105 em 1991, subiu para 350.829, em 2000, e chegou a 502.783 em 2010.

Entre as grandes regiões do país, a região Norte se manteve na liderança nos Censos de 1991 (42,2%), 2000 (29,1%) e 2010 (37,4%). A região também se destacou na área rural, com 50,5%, 47,6% e 48,6%, respectivamente.

Já no segmento urbano, o Sudeste concentrava 35,4% da população indígena em 1991 e 36,7% em 2000, mas o Nordeste passou a ter maior contingente de indígenas em cidades em 2010, com 33,7%
.
Amazonas na dianteira

Em números absolutos, o Amazonas concentra a maior população indígena do país (168,7 mil pessoas, ou 20,6% do total), enquanto a menor está no Rio Grande do Norte (2,5 mil ou 0,3% do total).

Apenas seis estados registraram, em 2010, mais de 1% de população autodeclarada indígena (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Roraima).

Por outro lado, 13 unidades da Federação apresentaram taxas de população indígena abaixo da média nacional (0,4%).

O Amazonas também lidera o ranking de municípios com maior população indígena. Dos dez primeiros, seis estão localizados no estado. O primeiro lugar ficou com São Gabriel da Cachoeira, com 29.017 indígenas, segundo o Censo de 2010.

No tocante à população relativa, ou seja, a proporção da população indígena na população total por municípios, quem encabeça a lista dos municípios é Uiramutã, em Roraima, onde 88,1% do total de habitantes se consideraram indígenas em 2010
.

Expansão

A população indígena não só aumentou, como também se expandiu nas últimas três décadas. Segundo o Censo de 1991, em 34,5% dos municípios brasileiros, residia pelo menos um indígena autodeclarado.

No Censo de 2000, essa taxa cresceu para 63,5% e, de acordo com o Censo de 2010, chegou a 80,5% dos municípios brasileiros
.

domingo, 22 de abril de 2012

Indústria emperra e segura o PIB no 1º trimestre


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Clima de incerteza externa, associado às dificuldades de competitividade do setor, ainda é entrave para que a produção deslanche e impulsione o PIB


20 de abril de 2012 | 17h 56

Bianca Ribeiro, da Agência Estado
SÃO PAULO - A produção industrial brasileira medida pelo IBGE (PIM) deve fechar o primeiro trimestre do ano com um resultado melhor do que a retração apurada entre outubro e dezembro, mas analistas e economistas duvidam de avanço significativo e apostam em um nível de atividade entre 0% e 0,8%. O clima de incerteza externa, associado às dificuldades de competitividade do setor, ainda é entrave para que a produção deslanche e impulsione o Produto Interno Bruto (PIB) do País no período.
Para o mês de março, na comparação com fevereiro, as previsões para a indústria variam bastante, de 1% a 2,8% de alta em termos já ajustados sazonalmente, após uma alta de 1,3% registrada em fevereiro comparativamente a janeiro. Para traçar suas projeções, os economistas fazem seus ajustes com os indicadores antecedentes já divulgados, como a produção de veículos (Anfavea) e de papelão ondulado (ABPO), bem como o fluxo de veículos em estradas pedagiadas (ABCR) e a carga de energia consumida no País (ONS), entre outros. Todos apontaram avanço no mês, mas isso não indica necessariamente uma tendência para os próximos meses.
O economista do Itaú Unibanco, Aurélio Bicalho, diz que o aumento da produção de veículos em março, de cerca de 4% (com ajuste), foi bastante forte, mas não foi acompanhado de aumento de vendas de carros no mesmo período, o que deve acarretar mais estocagem e, portanto, produção mais moderada nos próximos dois meses.
A indústria teve uma melhora no primeiro trimestre, mas a atividade ainda sofre o efeito de diversos meses de dados fracos desde o ano passado, diz Bicalho. "O resultado da indústria não vai contribuir para o crescimento do PIB no período, mas o setor deve ter um desempenho bem melhor que o do quarto trimestre de 2011", afirma. Segundo seus cálculos, a produção industrial recuou 1,4% naquele período.
Na MB Associados, a projeção para a indústria em março indica produção 2,8% maior perante fevereiro, com uma expansão de 0,6% do quarto trimestre para o primeiro trimestre deste ano. Sergio Vale, economista-chefe da consultoria, avalia que esse resultado deve garantir um avanço de pelo menos 0,6% no PIB do País dos primeiros três meses de 2012.
O número se aproxima da estimativa do economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, de expansão entre 0,5% e 0,8% para a economia brasileira no trimestre inicial de 2012 na comparação com o quarto trimestre de 2011. Serrano diz que esse resultado estaria mais amparado em um crescimento acentuado do setor de serviços do que da indústria, cuja produção deve ficar em zero no período trimestral, após expansão de 1% no mês de março ante fevereiro.
Sobre as medidas recentes da política industrial do governo, o Plano Brasil Maior, que abrigaram desonerações da folha de pagamentos para alguns setores e incentivaram o crédito a investimentos com taxas mais baixas, Bicalho lembra que os eventuais efeitos não aparecerão nos números da atividade do primeiro trimestre e ainda há dúvida sobre o poder das medidas para o resultado da produção industrial dos meses seguintes.
Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, afirma que o plano do governo não alterou suas previsões para a produção industrial neste ano, que está em crescimento de 2%, levando o PIB do País para uma alta de 3,2% em 2012. Segundo o economista, a produção industrial deve crescer 1% na passagem de fevereiro para março e ficar estagnada em zero no primeiro trimestre deste ano perante o último trimestre de 2011.
O dado dessazonalizado para o mês de março calculado pela Tendências explica a estimativa, ao mostrar um crescimento de 6,3% na produção de carros, aumento de 2,4% no fluxo de veículos nas estradas e expansão de 1% na expedição de papelão ondulado. Na avaliação de Bacciotti, o setor industrial chegou a ensaiar uma recuperação desde o fim do ano passado, mas agora voltou a "patinar".

Crescimento da força de trabalho desacelera no País



LUIZ GUILHERME GERBELLI - Agencia Estado
SÃO PAULO - A força de trabalho no Brasil vai crescer menos nesta década. Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostram que a parcela da população brasileira que integra o mercado de trabalho vai aumentar 12,97% no período. A alta do indicador é a menor desde a década de 80, período inicial do levantamento.

O ritmo mais baixo do crescimento da força de trabalho faz com que o País tenha um avanço mais parecido com o desempenho da média mundial. Na década atual, o mundo crescerá 11,27%. Nos anos 90, a diferença entre o crescimento do Brasil e o do mundo chegou a ser de quase 16 pontos porcentuais.
A redução do ritmo de crescimento está atrelada ao ajuste populacional que o Brasil atravessa, sobretudo com a redução da taxa de fecundidade. De acordo com os dados do Banco Mundial, em 2010, a taxa de fecundidade no Brasil foi de 1,9 - em 1980 era de 4,1; dez anos mais tarde, passou para 2,8.
"Como tem menos nascimentos, tem menos gente entrando no mercado de trabalho", afirma André Portela, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em economia do trabalho.
O crescimento da força de trabalho no Brasil ainda é maior se comparado ao verificado nas economias mais maduras. A força de trabalho na União Europeia, por exemplo, terá uma expansão de 1,2% nesta década. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 


Desindustrialização reduz arrecadação do ICMS em São Paulo

Segundo dados do Sinafresp, em fevereiro deste ano a arrecadação do tributo caiu 4,3% em relação ao mesmo mês de 2011, somando R$ 7,860 bilhões, em valores correntes.


20 de abril de 2012 | 18h 06

Beatriz Bulla, da Agência Estado

SÃO PAULO - A desindustrialização no Estado de São Paulo é o principal motivo pela queda na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de São Paulo. Essa foi a principal conclusão do debate entre o diretor de relações internacionais e comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, o economista chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério César de Souza, e o coordenador da Administração Tributária da Secretaria da Fazenda do Estado, José Clovis Cabrera, promovido pelo Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo (Sinafresp).
Segundo dados do sindicato, em fevereiro deste ano a arrecadação do tributo caiu 4,3% em relação ao mesmo mês de 2011, somando R$ 7,860 bilhões, em valores correntes.
"Há um processo de substituição de produção interna por importações. A gente percebe isso já na prateleira do supermercado", disse Giannetti, afirmando que o índice de importações no consumo aparente dobrou nos últimos oito anos. Segundo ele, é normal que o setor de serviços tenda a crescer mais do que a indústria. "É até um sinal de evolução econômica, mas hoje estamos sofrendo reversão no processo de industrialização", disse, sobre o aumento acelerado do coeficiente dos importados na indústria brasileira. Ele afirmou que a menor produtividade nacional já está sendo sentida com a perda de dinamismo na geração de empregos, mas acredita que o País ainda está distante do patamar da geração de desemprego.
A situação da indústria paulista reflete a perda de competitividade nacional frente ao mercado externo, concordam os especialistas. "O Brasil tem conseguido exportar menos manufaturados do que no passado, e isso não é só questão de consumo interno, é um problema de custo", afirmou Giannetti. Ele alertou que até produções "campeãs" do País, como soja, celulose e açúcar, estão se tornando mais caras do que as estrangeiras. Câmbio valorizado, guerra fiscal, estrutura tributária "complexa", falta de acordos comerciais e de financiamento adequado e logística baseada no transporte rodoviário foram apontados por Giannetti como responsáveis pela baixa competitividade.
"Tivemos uma valorização de 35%, de 2004 a 2011, do real em relação ao dólar, enquanto houve países que tiveram inclusive uma desvalorização", afirmou, ressaltando o câmbio como o principal problema de competitividade do País. Sobre a agressividade chinesa, afirmou: "É inacreditável que um minério saia daqui, vá para a China e mesmo assim seu produto chegue aqui mais barato do que se fosse produzido no Brasil. Há alguma coisa muito errada na nossa economia".
Rogério César de Souza, do IEDI, completa: "Você tem, fora, economias com juros muito baixos e incentivos para produtores. Aí, chega no País e tem câmbio alto e o elevado custo Brasil". Para Souza, falta uma política industrial de longo prazo.

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EUA criaram mais vagas que o Brasil no 1º trimestre

Foram 535 mil empregos ante 442.608, o primeiro trimestre em que os EUA superam o Brasil desde setembro de 2008 


21 de abril de 2012 | 16h 52

Iuri Dantas, de O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - As empresas dos Estados Unidos, berço da crise financeira internacional, criaram no primeiro trimestre deste ano um número de empregos maior do que as concorrentes brasileiras foram capazes de gerar no mesmo período. De janeiro a março, a terra de Barack Obama criou 635 mil vagas, ante 442.608 no país governado por Dilma Rousseff.
É o primeiro trimestre em que as vagas americanas superam as brasileiras, desde a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em setembro de 2008. Mas os números refletem comportamentos distintos das economias. Enquanto os americanos parecem se recuperar do baque iniciado com a quebra do Lehman, a economia brasileira enfrenta gargalos, como falta de trabalhadores qualificados e dificuldades da indústria nacional, por causa do câmbio valorizado.
Outro indicativo do desempenho das duas economias apareceu na revisão das estimativas de crescimento dos dois países, feita na semana passada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Os técnicos do fundo elevaram em 0,3 ponto porcentual, de 1,8% para 2,1%, a previsão de crescimento da economia dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a revisão do PIB brasileiro cresceu somente 0,1 ponto porcentual, para 3%.
"Continuamos gerando empregos em um bom nível, mesmo comparando com um PIB que é seis vezes o tamanho do nosso, com uma população economicamente ativa 60% maior", analisou o diretor de Empregos e Salários do Ministério do Trabalho, Rodolfo Torelly. "Temos quase meio milhão de empregos gerados, ainda estamos tendo um ciclo virtuoso no mercado de trabalho."
Câmbio. Desde 2008, o Fed (banco central americano) tenta estimular a maior economia do planeta por meio de operações que enfraquecem o valor do dólar, tornando seus produtos mais baratos no mercado global. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou essa atuação de "guerra cambial". Em março, a indústria manufatureira perdeu 5 mil vagas, no Brasil, enquanto a americana criou 37 mil.
"Já que o governo não consegue desvalorizar o real, está ajudando a indústria", avaliou João Saboia, professor titular de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Mas, enquanto não há resultado das medidas, a indústria vai continuar com dificuldades de gerar empregos." A situação de pleno emprego em algumas regiões como Belo Horizonte e Porto Alegre limita a criação de vagas, segundo Carlos Alberto Ramos, professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB).
"Se o Brasil crescer mais, vai encontrar limitação na oferta, porque não tem trabalhadores, o que pode aumentar os salários, pressionar a inflação e levar o Banco Central a aumentar os juros", afirmou. "Em termos setoriais, da indústria, é um problema, mas em termos sociais não está se refletindo na taxa de desemprego, que ainda está muito baixa." De fato, enquanto Obama precisa encarar uma taxa de desemprego de 8,2%, registrada em março, a presidente Dilma administra desocupação de apenas 5,7% no Brasil.

Produção industrial na Colômbia sobe 3,2% no bimestre


21 de abril de 2012 | 13h 33

AE - Agencia Estado

BOGOTÁ - A produção industrial da Colômbia aumentou 4,5% em fevereiro ante o mesmo mês de 2011, de acordo com dados disponíveis no site do Departamento Administrativo Nacional de Estadística (DANE, na sigla em espanhol). No primeiro bimestre, a produção real do setor fabril aumentou 3,2%, ante igual período de 2011, quando havia registrado uma variação de 4,8%.
Segundo o comunicado do DANE, 28 dos 48 subsetores industriais registraram incremento na sua produção no comparativo de fevereiro com o mesmo mês de 2011. Os destaques foram as indústrias de ferro e aço (38,1%), confecção (28,6%), minerais não metálicos (8,7%), carnes e pescados (15,3%), outros produtos químicos (5,1%) e as usinas de açúcar e moinhos de farinha (13,5%).
O número de pessoas empregadas na indústria cresceu 1,5% em fevereiro, ante o mesmo mês de 2011, enquanto as vendas industriais apontaram expansão de 3,5%. Os dados não incluem o desempenho do setor cafeicultor do país.
As vendas do varejo colombiano aumentaram 9,4% na comparação mensal. O resultado foi liderado pelo aumento de 28% das vendas de equipamentos de informação para domicílios, enquanto as vendas de carros e motocicletas cresceram 17% na mesma base comparativa. As informações são da Dow Jones. 

Argentina tranquiliza Brasil em relação à Petrobras


20 de abril de 2012 | 19h 52

TÂNIA MONTEIRO - Agencia Estado
BRASÍLIA - Durante encontro nesta sexta-feira com a presidente Dilma Rousseff, o ministro do Planejamento e Investimentos Públicos da Argentina, Julio De Vido, tranquilizou o governo brasileiro em relação às explorações da Petrobras naquele país. O Brasil, por outro lado, informou que a Petrobras vai continuar com os investimentos na Argentina.
A informação é da secretaria de Imprensa da Presidência da República, que contou ainda que a reunião foi curta e estavam presentes, além de Dilma e De Vido, o ministro de Minas e Energia brasileiro, Edison Lobão, e o embaixador da Argentina no Brasil, Juan Pablo Lohlé. 

Suíça vai garantir manutenção da taxa de câmbio, diz BC


21 de abril de 2012 | 18h 17

FILIPE DOMINGUES - Agencia Estado
WASHINGTON - O Banco Central da Suíça vai agir como for necessário para garantir que a taxa de câmbio do franco suíço seja mantida, afirmou neste sábado o recém-nomeado presidente do Banco Nacional da Suíça, Thomas Jordan. "Nossa política monetária é clara", disse Jordan à imprensa, em Washington. "Temos um limite no valor do franco suíço e vamos reforçar essa política sob todas as circunstâncias. Esta será nossa política no futuro".
Ele acrescentou que, embora tenha sido positivo os membros do Fundo Monetário Internacional (FMI) terem concordado em impulsionar os recursos do Fundo, a Europa precisa estar preparada para ajudar a si mesma antes de pedir auxílio às instituições criadas em Bretton Woods. "O muro de proteção é a primeira linha de defesa" para a zona do euro, segundo Jordan. "Apenas quando isso não for suficiente, mais fundos podem ser disponibilizados." As informações são da Dow Jones. 

Índia: é impossível baixar mais os juros, diz ministro


21 de abril de 2012 | 18h 23

POR FILIPE DOMINGUES - Agencia Estado
WASHINGTON - O ministro de Finanças da Índia, Pranab Mukherjee, afirmou neste sábado que "não foi possível" reduzir mais a taxa de juros do país, apesar de pedidos da indústria para que se estimule o investimento doméstico e se acelere o crescimento econômico.
Na última terça-feira, o Banco de Reserva da Índia diminuiu a taxa de juros de 8,5% para 8% ao ano pela primeira vez em três anos - esperava-se queda de apenas 0,25 ponto porcentual. O movimento pretende ajudar a impulsionar o crescimento em uma economia atingida pelos custos do crédito e pela queda da demanda global.
"Não há como reduzir mais, não agora", afirmou Mukherjee em entrevista. Qualquer ação futura do banco central vai depender da possibilidade de a pressão inflacionária se tornar um problema, segundo o ministro. O comentário sugere que a autoridade monetária só irá reduzir mais as taxas de juros se a inflação não subir. As informações são da Dow Jones. 

Déficit orçamentário de Portugal sobe 84% no 1º trimestre

Déficit foi de € 1,64 bilhão; receita obtida pelo governo caiu 4,4% no período, devido a uma queda de 5,8% nas receitas fiscais


20 de abril de 2012 | 18h 29

Roberto Carlos dos Santos, da Agência Estado
LISBOA - O governo de Portugal levantou menos dinheiro de impostos e gastou mais no 1º trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2011, segundo dados divulgados pelo Ministério das Finanças. O déficit orçamentário para o trimestre foi de € 1,64 bilhão, número 84% maior do que os € 892 milhões registrados no mesmo intervalo do ano passado.
A receita obtida pelo governo caiu 4,4% no período, devido a uma queda de 5,8% nas receitas fiscais. O ministério informou que os novos aumentos de impostos não influenciaram nos números deste trimestre.
As despesas, por sua vez, aumentaram 3,5% no período, principalmente devido a uma transferência de € 348 milhões para a estatal de televisão RTP, usados para pagar uma dívida da emissora. O país também gastou mais em subsídios de desemprego.
O ministério informou, porém, que, utilizando a metodologia exigida por seus credores internacionais - a União Europeia e do Fundo Monetário Internacional - o déficit do 1º trimestre foi de € 450 milhões, muito inferior ao limite estabelecido no âmbito do seu resgate.
Portugal está no meio da implementação de severas medidas de austeridade no âmbito do programa de recuperação, que poderá levar a uma contração econômica de até 3,3% este ano. Economistas temem que as metas orçamentárias possam ser prejudicadas por uma queda nas receitas do governo e pelo aumento dos custos nos benefícios para desempregados. As informações são da Dow Jones.

Nova onda de emergentes começa a se formar, diz indiano em livro

Autor(es): Lucianne Carneiro
O Globo - 22/04/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/4/22/nova-onda-de-emergentes-comeca-a-se-formar-diz-indiano-em-livro

Economista do Morgan Stanley afirma que gastos altos deixarão o Brasil de fora

ENTREVISTA
O indiano Ruchir Sharma administra nada menos que US$ 25 bilhões em mercados emergentes pelo Morgan Stanley. E é com essa experiência que se propõe a explicar a expansão das economias emergentes na última década e apontar quais serão os novos vencedores em "Breakout Nations - In Pursuit of the Next Economic Miracles" (Nações em ascensão - em busca dos próximos milagres econômicos, em tradução livre). Recém lançado nos EUA - e previsto para chegar ao Brasil em agosto pela Campus/Elsevier - o livro lista Turquia, Indonésia, Sri Lanka, Filipinas, Tailândia, Polônia, República Tcheca, Coreia do Sul e Nigéria como nações que devem crescer acima das expectativas nos próximos anos. Sharma diz que o Brasil é um mercado chave. Mas, pressionado pelos gastos elevados do governo, deve continuar a crescer em ritmo fraco, de 3% ao ano. Além disso, a dependência de commodities deve ser tratada com atenção.
O GLOBO: O que houve de diferente para as economias emergentes na última década?
RUCHIR SHARMA: Se olharmos para os últimos 50 anos, o crescimento médio dos mercados emergentes foi de 5% ou pouco mais. Mas, se separarmos isso por décadas, o comportamento é diferente. Nos anos 50, 60 e 70, a taxa foi de 5%. Já nas décadas de 80 e 90, essa taxa desacelerou para 3,5%. O que vimos a partir de 2003 foi que a expansão dos emergentes se acelerou muito fortemente. De 2003 até 2007, antes da explosão da crise, o crescimento econômico foi de 7,5% ao ano. É uma força poderosa, quando a onda levanta todos os barcos. Em 2007, apenas três economias no mundo registraram contração, enquanto mais da metade teve crescimento superior a 5%. Este foi verdadeiramente um período de exceção, se considerarmos o contexto histórico. Em 2007, no auge do boom, esse crescimento foi tão uniforme que todos os mercados emergentes estavam indo bem e a metade deles estava crescendo acima de 5%.
SHARMA: A razão para esse crescimento excepcional é, em parte, porque se começou de uma base pequena. Mas o motivo mais forte foi a onda global de liquidez, quando bancos centrais de todo o mundo injetaram recursos na economia, que foram direcionados aos emergentes. Isso reduziu significativamente o custo do capital. Outro fator que contribuiu foi o boom de exportação dos países emergentes, favorecido pelo consumo americano. Mas acho que em muitos países isso (o crescimento) foi mal interpretado. Esses países acharam que era tudo em função deles, de como mudaram e de como foi seu desempenho. Na minha opinião, no entanto, isso é muito longe de ser uniforme. A expressão Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) se tornou popular simplesmente porque são os quatro maiores emergentes, mas são mercados diferentes. A razão de países como Brasil e Rússia terem se beneficiado foi o crescimento ainda mais acelerado da China, o que elevou a demanda por commodities.
SHARMA: As taxas de crescimento das economias emergentes estão voltando à média histórica, que é de cerca de 5% ao ano. Isso ocorre porque o ritmo de expansão da China está desacelerando - o que terá impacto sobre a demanda por commodities - e as condições de dinheiro fácil estão se alterando.
SHARMA: O apelo de mercados emergentes sempre existiu. Mas apenas alguns conseguem manter um crescimento robusto. As chances de um país emergente crescer 5% ou mais em uma década é de uma a cada três. A possibilidade cai de uma a cada quatro se pensarmos em duas décadas. Apenas seis países - Malásia, Coreia, Cingapura, Tailândia, Taiwan e Hong Kong - mantiveram essa expansão por quatro décadas. E só dois - Coreia e Taiwan - cresceram 5% por 50 anos. As chances de um emergente sustentar crescimento forte por muito tempo são poucas. Se olhar para a lista de estrelas das últimas décadas, verá que é diferente da de hoje. A taxa de mortalidade dos países é tão alta quanto a de ações no mercado financeiro. Há algumas estrelas cadentes, mas poucas vencedoras permanentes.
SHARMA: Esta resposta é complicada, não há uma única fórmula vencedora. Se olharmos para Coreia e Taiwan, as razões são muito diversas, desde ter base industrial consolidada, câmbio competitivo e orientação para o exterior. Nenhum deles produz commodities. As chances de um país com economia baseada em commodities manter crescimento sustentado são poucas, pois os preços tendem a cair em algum momento.
SHARMA: A questão das commodities sempre existiu. O verdadeiro problema do Brasil é o gasto elevado do governo e os impostos também elevados. O boom de commodities tem sido capaz de compensar esses problemas. O crescimento do Brasil de 4% na última década foi alto, se considerar a média do país, mas não foi tão impressionante que o de outros emergentes.
SHARMA: Este é um tema importante hoje e tem a ver com a taxa de câmbio. As economias que se destacaram na última década tinham taxa de câmbio competitiva, o que o Brasil não tem. É a mais cara entre os emergentes. E vemos isso nos preços de hotéis e restaurantes, por exemplo. O fato de o Brasil ter déficit em conta corrente de 3% do PIB em pleno boom de commodities é intrigante. Se os preços caem, o que ocorre? Acho que o Brasil é capaz de resolver a questão central que é um governo grande, mas não será capaz de crescer em ritmo significativo. O grande risco é se os preços de commodities caírem, que espero para os próximos anos. A economia chinesa está se movendo em direção a um crescimento mais lento. Mas não vejo uma crise (no país). O Brasil faz um belo trabalho ao administrar sua macroeconomia, mas o que eu vejo é que as taxas de crescimento não serão muito expressivas. Algo em torno de 3%, enquanto outros emergentes crescerão 5% e os EUA, 2,5%.
SHARMA: O que define uma nação em ascensão é o crescimento acima das expectativas. Se a China cresce de 6% a 7% e a Índia, entre 5% e 6%, por que não são nações em ascensão? As pessoas esperam um crescimento maior. Se a China crescer 7% nos próximos anos vai desapontar muita gente. Outra questão para definir esses países é o nível de renda per capita. É importante saber a que clube o país pertence: quanto mais rico, mais difícil é o crescimento. Para um país com renda per capita de US$ 20 mil crescer 4% é muito expressivo. Por outro lado, esse crescimento é muito baixo para um país com renda de US$ 5 mil.
SHARMA: Minha lista inclui Turquia, Indonésia, Sri Lanka, Filipinas, Tailândia, Polônia, República Tcheca, Coreia do Sul e Nigéria. Esses países serão capazes de crescer mais rápido do que as pessoas esperam. E a renda per capita também vai avançar. A Nigéria precisa de expansão de 6% a 7% para se sair bem e acho que vai conseguir. O mesmo deve ocorrer com a Indonésia. Países como Brasil e Índia terão oportunidades. Nas outras nações, no entanto, a surpresa deve ser maior e as oportunidades também.