quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O milho e a soja no nosso dia a dia

Ração básica para bois, frangos e suínos, grãos também são usados na fabricação de cosméticos, tintas, vernizes, combustíveis, entre tantos outros produtos
Juliana Ribeiro

Em agosto, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA em inglês), divulgou o relatório mensal com os dados sobre oferta e demanda mundial dos principais produtos agrícolas para a safra 2011/12.

Entre eles está o milho, que teve sua previsão revista e passou dos 872,4 milhões de toneladas para 860,5 milhões de toneladas. A soja também viu sua estimativa de produção mundial cair dos 261,4 milhões de toneladas, para 257,5 milhões de toneladas.

As oscilações na safra e no preço desses produtos, responsáveis por, muitas vezes, deixar produtores e compradores de cabelos em pé, acabam passando despercebidas para a maioria dos brasileiros. Afinal, para que produzir tantos grãos assim?
Sem milho e soja não há carne

O que muita gente talvez desconheça é que as variações nos preços do milho e da soja, além da oferta desses produtos no mercado, têm impacto direto também na carne bovina, suína e de frango que são vendidas nos açougues e supermercados em todo o País. Isso porque os animais são alimentados com farelos produzidos a partir desses grãos.

Dados do indicador Esalq/BM&F Bovespa, que medem as cotações dos preços dos principais produtos agrícolas no mercado, mostram que em 30 de agosto do ano passado, o milho era comercializado à vista, a R$ 21,82 a saca de 60 quilos. Na mesma data deste ano, o valor estava cotado em R$ 30,75. Já a soja era cotada a R$ 44,08 em 2010 e neste ano, subiu para R$ 51,2.

“Essa variação significa aumento de custo para o produtor, que alimenta seus animais com o farelo”, explica Flávio França Júnior, analista da consultoria Safras & Mercado. Ele lembra ainda que o impacto chega até o varejo. “Mais cedo ou mais tarde isso se reverte em aumento nos preços das carnes para o consumidor”.

Indústria de cosméticos e tintas 

Na outra ponta, parte da soja e do milho que são produzidas no País é destinada para a indústria alimentícia, para fabricação de óleos, bebidas, margarinas, farinhas e também na produção de biocombustíveis. Segundo dados da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja), cerca de 15% de toda a soja em grão produzida no País é destinada à fabricação de óleos vegetais.

O setor de cosméticos também se beneficia do uso de proteína de soja, para a fabricação de produtos como cremes antienvelhecimento, enquanto a indústria química a utiliza para fabricação de tintas, vernizes e revestimentos.

Para atender a esse consumo voraz, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mostram que a produtividade de soja na safra 2010/11 cresceu 9,6% em relação à safra anterior, saltando dos 68,69 milhões de toneladas, para 75,31 milhões de toneladas.

Já a produtividade do milho na primeira safra aumentou 3,6%, em relação à safra 2009/10, passando dos 4.412 quilos por hectare para 4.571 quilos por hectare. Esses dados fazem do Brasil o segundo maior produtor de soja do mundo e o quarto na produção de milho.


Tecnologia a serviço da produção

Seja para o consumo dos animais ou para o uso desses grãos pela indústria, a qualidade é fundamental. Preocupada em contribuir com a melhora da produtividade por hectare, a Embrapa desenvolve pesquisas constantemente, buscando variedades que possam oferecer resistência a doenças e ervas daninhas, o que acaba resultando na melhora da produtividade, sem que para isso seja necessário aumentar a área plantada.

“Temos quatro programas de pesquisa principais, voltados a estudar e desenvolver variedades que auxiliem o produtor rural”, diz Amélio Dall’Agnol, chefe do departamento de transferência de tecnologia da Embrapa Soja.

Ele explica que as pesquisas de produtos transgênicos são importantes porque possibilitam o desenvolvimento de sementes que resistam a pragas e até à falta de chuvas. Tudo isso é fundamental, porque garante a produtividade da lavoura e a alimentação humana e animal. “Com o aumento do consumo mundial de carnes, é primordial aumentarmos a produtividade de grãos também”, diz.

Quadrinhos































Empresa da Embratel compra dois espaços para lançar satélites

30 DE AGOSTO DE 2011 - 21H16 



A Star One, subsidiária da Embratel, venceu nesta terça-feira (30) a disputa por duas posições orbitais para lançamento de satélites que foram leiloados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A empresa pagou R$ 37 milhões por cada espaço, com ágio de 837,7% sobre o preço mínimo estipulado pela Anatel, de R$ 3,9 milhões.


O primeiro e o quarto espaços foram arrematados pela empresa HNS Americas Comunicações, do Grupo Hughes. Na primeira posição, o preço vencedor foi por R$ 145,2 milhões, com ágio de 3.579,82% sobre o preço mínimo. Já para o quarto espaço a HNS Americas ofereceu R$ 35,2 milhões, com ágio de 792,58%. Depois de perder a primeira posição licitada, a empresa SKY do Brasil desistiu de participar da disputa.

Os quatro espaços licitados pela Anatel totalizaram R$ 254,4 milhões. As posições poderão ser exploradas por 15 anos e as empresas que vencerem a licitação poderão usar os satélites para oferecer serviços de telefonia, televisão, radiodifusão e transmissão de dados, inclusive na área rural. Os satélites deverão cobrir 100% do território nacional e dedicar parte da capacidade para atender o mercado brasileiro.

As outras empresas que apresentaram documentos para participar do leilão foram a Eutelsat do Brasil, a Hispamar Satélites, a Intelsat Brasil Serviços de Telecomunicações, a SES DTH do Brasil e a Star One. Uma mesma empresa poderá obter até dois dos quatro direitos licitados.

Segundo a Anatel, a licitação vai possibilitar o aumento da capacidade satelital brasileira para atender às atuais demandas no setor e àquelas antecipadas em função de grandes eventos, tais como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, entre outros projetos.

Fonte: Agência Brasil




Ágio acima de 1.500% por satélite

Autor(es): agência o globo:Mônica Tavares
O Globo - 31/08/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/8/31/agio-acima-de-1-500-por-satelite
 

BRASÍLIA. A HNS Americas Comunicações Ltda, do grupo americano Hughes, e a Star One S.A., da Embratel, foram as vencedoras da licitação de satélites realizada ontem pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Cada uma vai explorar duas posições orbitais. O órgão regulador arrecadou R$254,4 milhões, um ágio médio de 1.511,95% sobre o preço mínimo. Os quatro novos satélites brasileiros têm prazo de cinco anos para entrar em operação, mas a expectativa é de que eles já possam ser usados em 2014, durante a Copa do Mundo.
A maior disputa foi pelo primeiro satélite. Depois de sete rodadas, a HNS Americas Comunicações venceu a SKY Brasil, oferecendo um lance de R$145,2 milhões pelo direito de exploração do satélite por 15 anos, renovável por igual período. O valor representou ágio de 3.580% sobre o preço mínimo da posição orbital, que era de R$3,945 milhões.
A Star One venceu a licitação do segundo satélite ao oferecer uma proposta de R$37 milhões, um ágio de 837,7%. O lance foi repetido no terceiro satélite e a proposta foi vitoriosa. O último satélite ficou com a HNS Americas Comunicações, com um lance de R$35,2 milhões, equivalente a um ágio de 792,58%.
Os satélites são utilizados para radiodifusão, transmissão de dados, principalmente banda larga, e telefonia, entre outros. Eles deverão cobrir 100% do território nacional. O investimento médio para lançar um satélite é de US$300 milhões. Existem atualmente no país 9 satélites brasileiros.

Tesouro Direto avança com crise nos mercados


Autor(es): agência o globo:Vinicius Neder
O Globo - 29/08/2011
 

Vendas no programa de negociação de títulos públicos federais a pessoas físicas saltam 64% este ano
Em tempos de crise da dívida em países ricos e fortes quedas das bolsas de valores em todo o mundo, investidores buscam segurança em títulos do governo brasileiro, que pagam os maiores juros do mundo. Nos primeiros sete meses do ano, a média mensal de vendas no Tesouro Direto - programa de negociação de títulos públicos diretamente à pessoa física - foi de R$305 milhões, salto de 64% em relação à média de R$186 milhões do ano passado. Segundo especialistas, usar o sistema é uma das melhores opções de investimento conservador em meio à turbulência nos mercados.
Mesmo que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central encerre o ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic) na reunião que termina depois de amanhã, como prevê a maioria dos analistas, ou até mesmo corte a taxa, a remuneração continuará acima do ano passado. A principal vantagem do programa de compra direta é oferecer boa rentabilidade com menos custos, dizem especialistas em finanças.
Assim como os fundos de renda fixa e DI - que aplicam a maior parte de seus recursos nos mesmos títulos públicos -, o Tesouro Direto oferece retorno maior do que o da poupança. Mas, como o programa elimina o intermediário - ou seja, o administrador do fundo -, a tendência é sobrar mais rendimento para o investidor.
Esse foi um dos motivos pelos quais o arquiteto Ian Joels optou pelo Tesouro Direto. Ele aplica no programa há quatro anos, com periodicidade de dois em dois meses. O foco é de longo prazo, para quando se aposentar.
- O retorno dos fundos fica em cerca de 8,5% ao ano, enquanto no Tesouro Direto é possível ter 11,5% ao ano - diz Joels, que aplica em títulos prefixados e atrelados ao IPCA.
Número de novos investidores está em alta
Novos investidores estão se juntando a Joels. Nos primeiros sete meses deste ano, a média de novas adesões foi de 5,4 mil por mês, contra 3,3 mil em 2010.
Esse movimento também já é sentido nas corretoras. Segundo Bruno Carvalho, especialista em renda fixa da XP Investimentos, uma das maiores corretoras no segmento de varejo, o número de clientes atuando no Tesouro Direto saltou de 750, em dezembro passado, para 2.081, em julho último.
- Este ano, a procura pela renda fixa como um todo está em alta, por causa do desempenho ruim da Bolsa - diz Carvalho, que já sente uma migração maior de ações para títulos públicos neste mês, quando as perdas na Bolsa se aprofundaram.
Segundo o coordenador de Planejamento Estratégico da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Rodrigo Cabral, é possível relacionar o aumento dos investimentos no Tesouro Direto à crise porque algo semelhante ocorreu em 2008. Em outubro daquele ano, auge da crise originada no mercado imobiliário dos EUA, foram vendidos R$259 milhões em títulos pelo programa. A média mensal de 2008 ficou em R$129 milhões.
No Brasil, o movimento de aversão ao risco vem desde o início do ano. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, acumula perda anual de 23,02% até sexta-feira. A queda se aprofundou este mês, mas ainda não há dados recentes sobre mais demanda pelo Tesouro Direto.
- Com o ambiente de volatilidade, há uma migração para a renda fixa e o Tesouro Direto está cada vez mais conhecido - diz Cabral.
Em parte, o programa está mais conhecido por causa de incentivos aos agentes de custódia - corretoras e bancos que operam em nome dos investidores.
Desde 2009, a CBLC, responsável pelos serviços de guarda centralizada das operações da BM&FBovespa, divide com os agentes os custos para a integração dos sistemas, permitindo aos investidores operarem pelos sites das corretoras e bancos - uma conveniência, sobretudo para quem já opera com ações. A CBLC também premia os agentes com melhor desempenho de vendas, dividindo com eles parte das taxas a ela devidas.
Taxas dos agentes de custódia variam de 0% a 1%
Um dos motivos pelos quais o custo no Tesouro Direto é menor é o fato de esses agentes cobrarem taxas de custódia entre 0% e 1% ao ano, menores do que as taxas de administração dos fundos. Para Cabral, a concorrência e a exposição das taxas no site do Tesouro Direto contribuem para derrubá-las.
Além disso, a CBLC cobra 0,4% de taxa. Para verificar se o Tesouro Direto está mais vantajoso do que os fundos, é preciso comparar a soma das taxas (do agente de custódia e da CBLC) com a taxa de administração do fundo de investimento. Para o professor William Eid Jr., do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), vale a pena pesquisar.
- Qualquer valor pequeno pode fazer diferença num investimento de longo prazo - diz Eid Jr., para quem longo prazo significa acima de cinco anos.
Na hora de comprar os títulos do Tesouro, o investidor tem uma série de opções. Em linhas gerais, os títulos podem ser prefixados - indexados ou não pelo IPCA, índice oficial de inflação - ou pós-fixados, indexados pela taxa básica de juros (Selic). Os títulos possuem ainda diferentes prazos de vencimento.
O professor de finanças Gilberto Braga, do Ibmec/RJ, lembra que, no início do ano, com a perspectiva de um novo ciclo de aumento da Selic, muitos investidores apostavam nos títulos pós-fixados. Agora, com a expectativa de encerramento do ciclo, os prefixados podem ser mais vantajosos.
- Mas, se o investimento é de longo prazo, o investidor não deve nortear suas decisões pelo momento - pondera Braga.
Com esse foco, o economista Leonardo Szczerb, que também aplica no Tesouro Direto de olho na aposentadoria, prefere os títulos atrelados à inflação:
- Para a aposentadoria, o importante é garantir poder de compra - diz Szczerb.

Apesar do PAC, investimento público no país é dos mais baixos no mundo


Autor(es): agência o globo:Regina Alvarez
O Globo - 29/08/2011
 
BRASÍLIA. A ampliação dos investimentos públicos federais na vigência do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não foi suficiente para retirar o país da posição de lanterna em comparação com o resto do mundo, nem para que recuperassem o espaço perdido ao longo de décadas na economia. Na tese de doutorado que acaba de transformar no e-book "Crise, Estado e economia brasileira", o economista José Roberto Afonso analisou a evolução do investimento no Brasil a partir de uma longa série histórica, entre 1901 a 2010. E uma das conclusões é o encolhimento do investimento público na última década. A taxa, que ficou em 2% do Produto Interno Bruto (PIB) e inclui as três esferas de governo, é a mais baixa desde a década de 40.
Na tese, Afonso também comparou os investimentos feitos pelos governos no Brasil durante a crise de 2009 e 2010 com outros 128 países, a partir de uma base de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Com investimentos governamentais de apenas 2,2% do PIB em 2009, o país ficou em 123º lugar no ranking, superando apenas cinco países: Croácia, República Dominicana, Uzbequistão, Líbano e Ucrânia.
A mesma posição brasileira foi projetada para 2010, quando houve um ligeiro recuo na taxa de investimentos, que ficou em 2,03% do PIB, o que deve permitir ao Brasil ultrapassar apenas os mesmos países, já considerando alterações na performance de outras nações.
Em outro exercício, Afonso compara o país com outras economias de perfil semelhante, seja pelo porte, seja pela região, e considera a última década. Nesse grupo de 25 países - que inclui China, Índia, Colômbia, México, Peru, Rússia e África do Sul - a média de investimentos em relação ao PIB foi de 6,2% no período entre 2000 e 2010, mais que o triplo da média brasileira: 2%.
- Qualquer que seja a ótica adotada, as comparações internacionais não deixam margem para dúvida de que o setor público no Brasil investe muito pouco em relação ao resto do mundo. Mesmo com toda a prioridade anunciada nos últimos anos e o incremento efetivamente realizado, o gasto ainda é muito reduzido - diz Afonso.
Endividamento de estatais não foi para investimento
Esse quadro de baixo investimento no Brasil, com exceções verificadas no período do governo militar, levou a uma deterioração dos bens públicos, como estradas e outras obras de infraestrutura. O Estado não conseguiu conservar ou ampliar os ativos de que a sociedade necessita. Nos últimos 21 anos, a taxa mais alta de investimentos foi de 3,72% do PIB, em 1990, e a mais baixa, de 1,52%, em 2003.
Outro aspecto abordado no livro se refere ao endividamento de estatais na crise, para elevar os investimentos no contexto das medidas anticíclicas. A conclusão é que o endividamento teve papel crucial para fazer frente à crise, mas apenas cerca de um terço dos recursos captados por meio de operações financeiras foi direcionado a investimentos. O resto foi usado em despesas correntes.

Cresce consumo de remédio no NE


Autor(es): Por Mônica Scaramuzzo | De São Paulo
Valor Econômico - 29/08/2011
 

O Nordeste tornou-se um mercado atrativo para as companhias farmacêuticas do país. A participação da região nas vendas de medicamentos neste primeiro semestre ficou em 17,3% do total de unidades comercializadas no Brasil. Com isso, o Nordeste alcançou a vice-liderança, atrás do Sudeste, com fatia de 54,2%, e acima do Sul do país, com 16,86%, que ocupavam com folga, nos últimos anos a segunda posição.
O avanço da classe C na região por si só justifica os bons resultados do setor, afirmam especialistas ouvidos pelos Valor. Esses consumidores passaram a ter maior acesso aos planos de saúde e passaram a consumir mais medicamentos. Além disso, a maior penetração das distribuidoras de remédios nos Estados nordestinos coloca a região em evidência, diz Luiz Fernando Buainain, presidente da Abafarma (Associação Brasileira do Atacado Farmacêutico), que encomendou o levantamento da consultoria IMS Health.
Em receita, contudo, o Nordeste ainda está em terceiro lugar, mas bem próximo do Sul do país. As vendas totais de medicamentos somaram R$ 19,52 bilhões nos primeiros seis meses do ano. Deste total, a região ficou com uma fatia de R$ 3,37 bilhões, ou 16,2%. Na região Sul, a participação é de 17,2%.
O Sudeste continua à frente do ranking, com 54,18% (R$ 10,57 bilhões), enquanto o Norte representa 4,54% (R$ 886 milhões). A participação do eixo Rio-São Paulo tem registrado tendência de queda desde 2009. "Os grandes mercados continuam sua evolução, mas percentualmente enxergamos com clareza como outros Estados ganharam força", observa Buainain.
No ano passado, as vendas do Nordeste totalizaram R$ 5,62 bilhões, enquanto no Sul do país foram de R$ 5,97 bilhões. Em unidades, o Nordeste ficou em 346,7 milhões de unidades e o Sul em 337,2 milhões.
Com maior planejamento e operação logística eficiente, as distribuidoras de medicamentos têm conseguido abastecer mais de 66 mil estabelecimentos em todo país, segundo Buainain. "A diferença entre os pedidos feitos pelos varejistas e a entrega do medicamento é de apenas dez horas, em média", diz. "Há casos de distribuidoras que também passaram a investir em redes varejistas, o que facilita o avanço sobre regiões pouco exploradas."
No Nordeste, havia um mercado informal de medicamentos, que passou a ser fiscalizado, segundo especialistas do setor.
De olho na expansão desse mercado, grandes laboratórios instalados no país voltam as atenções para a região. "A maior ascensão da classe C está na região Nordeste", diz Waldir Eschberger, vice-presidente da farmacêutica EMS, com sede em Hortolândia (SP). No Nordeste, o crescimento da EMS tem sido de 31,8% em unidades e de 37,5% em faturamento. Enquanto o mercado total na região cresce 13,9% em unidades e 18,3% em faturamento, segundo a IMS Health.
Segundo Eschberger, a EMS comercializou 51 milhões de unidades e faturou R$ 725,8 milhões na região (acumulado até junho de 2011). Do total do faturamento do grupo, a participação do Nordeste é de 13% em unidades e de 11,1% em receita. Considerando os remédios genéricos, o crescimento da EMS é de 42,4% em unidades e de 51,4% em faturamento. Enquanto isso, o mercado de genéricos na região cresce 35,5% em unidades e 41,2% em faturamento. A EMS já comercializou 32,9 milhões de unidades e faturou R$ 418,7 milhões naquela região.
Na Eurofarma, a região Nordeste também tem grande destaque. "Nós sempre olhamos a região com muito carinho", afirma Jorge Alberto de Sá, diretor comercial da área de genéricos da farmacêutica nacional. "Não temos estratégia diferenciada por região. Estamos colhendo os frutos de nosso trabalho", diz.
"Não estamos presentes somente nos principais centros do país, mas também na maioria dos municípios de todo país", afirma a executiva Maria Del Pilar Muñoz, diretora de sustentabilidade e novos negócios da farmacêutica Eurofarma.

Piora perfil das exportações de carne bovina


Autor(es): Por Alda do Amaral Rocha | De São Paulo
Valor Econômico - 29/08/2011

Em dez anos, a União Europeia saiu da posição de principal mercado para a carne bovina brasileira para um posto mais modesto, apenas o terceiro lugar. Nesse período, a emergente Rússia, que nem aparecia no ranking dos principais mercados tornou-se a primeira compradora de carne bovina do país sem considerar a região do Oriente Médio e Norte da África. O saldo dessa mudança é negativo: o país perdeu um mercado de preços mais altos e cortes mais nobres e avançou num mais instável e que demanda produtos de menor valor.
No já longínquo ano 2000, o Brasil exportou US$ 511 milhões em carne bovina para a União Europeia, uma fatia de 61% das exportações totais daquele ano, de US$ 837,2 milhões. No último ano, a participação foi bem menor, apesar do valor ter crescido: US$ 712 milhões, ou 14,5% de um total de US$ 4,886 bilhões, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec).
A Rússia, em 2000, ainda nem comprava do Brasil. No ano passado, importou US$ 1,073 bilhão, ou 21,97% da receita total proveniente das exportações de carne bovina, de US$ 4,886 bilhões, de acordo com a Abiec.
A derrocada das vendas para a União Europeia começou em 2008, quando o bloco determinou que compraria carne bovina apenas proveniente de animais rastreados de uma lista restrita de fazendas do Brasil. Na época, havia 15,5 mil fazendas aptas a fornecer animais. Com as restrições, caiu a 2,2 mil atualmente o número de propriedades habilitadas, segundo Antônio Camardelli, presidente da Abiec.
Para ele, ao restringir as fazendas a UE criou um mecanismo para reduzir os volumes exportados pelo Brasil, numa tentativa de atender ao clamor de produtores locais. Segundo a Abiec, o bloco comprou 125,3 mil toneladas de carne bovina do Brasil no ano passado, bem abaixo das 308,4 mil toneladas de 2007, antes das restrições. "O Brasil depende da União Europeia porque não tem alternativa [de mercados] para vender aos preços que a UE paga", admite Camardelli. Segundo ele, os mesmos cortes que a UE compra têm preços 50% inferiores em mercados do Oriente Médio, por exemplo.
De janeiro a julho deste ano, o preço médio da carne vendida à União Europeia ficou em US$ 7.369 por tonelada. O preço médio das exportações totais ficou em US$ 4.789 por tonelada. Nas vendas à Rússia, o valor médio no período foi US$ 4.488, conforme a Abiec.
"Só vamos equacionar esse problema no momento em que abrirmos mercados como o Japão, Coreia do Sul e Taiwan, que também consomem cortes mais caros", avalia o dirigente. O problema, lembra, é que esses países só compram carne bovina de países livres de aftosa sem vacinação. O Brasil tem o status de livre de aftosa com vacinação - apenas Santa Catarina é considerado livre sem vacinação. "É um problema difícil de resolver", lamenta.
Na avaliação do executivo, a indefinição no acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul aumenta a pressão sobre o Brasil porque o bloco europeu voltou a exportar carne bovina.
Um especialista da indústria brasileira acrescenta que a ausência do produto brasileiro na UE - por causa das restrições - acabou elevando preços e intimidando a demanda europeia, ainda mais num momento de crise financeira na região.
Do lado da oferta, também há pouco estímulo no Brasil para investir no rastreamento e habilitação para exportar à UE, apesar do prêmio entre 2% e 8% sobre a arroba do boi pago pelos frigoríficos aos pecuaristas. "A legislação para exportar [à UE] é muito amarrada", diz. Ele observa que é difícil cumprir os requisitos europeus no caso dos animais criados a pasto. "O controle é mais difícil em áreas extensas".
Isso é menos complicado no caso dos confinamentos. No entanto, há outro problema: os animais saem da engorda intensiva entre agosto e novembro enquanto o pico da demanda da UE ocorre entre fevereiro e julho.
A menor participação da UE nas vendas totais de carne bovina também reflete uma legislação mais restrita para as exportações de cortes nobres dentro da chamada Cota Hilton, cujo volume é de 10 mil toneladas. Desde 2009, a UE definiu que os cortes vendidos dentro da cota devem ser provenientes apenas de animais rastreados desde a desmama (10 meses de vida) e que sejam alimentados só a pasto, sem nenhum tipo de suplementação a partir de então. A Abiec já informou que pretende questionar a medida na Organização Mundial de Comércio (OMC).
Por conta da exigência, o Brasil só conseguiu exportar 4,3% do volume no ano-cota iniciado em julho de 2010 e encerrado em junho deste ano. Ao não cumprir a cota, o Brasil deixa de ser beneficiado pelo prêmio que a Hilton embute em relação às exportações de carne bovina fora da cota. Na Hilton, a tarifa de importação é de 20% ad valorem. Fora da cota, o imposto é de 12,8% mais € 3.041 por tonelada.
Assim como a UE, a Rússia também tem dado dor de cabeça aos exportadores brasileiros. Atualmente, restringe a importação de carnes em geral (incluindo carne bovina), de mais de uma centena de estabelecimentos exportadores nacionais, alegando problemas sanitários.
Não é a primeira vez que o país embarga produto nacional - e talvez não seja a última. Mas, diz uma analista, depois de entrar na OMC, a expectativa é de que a Rússia fique menos "irracional". Apesar de os russos negarem, a percepção no Brasil é de que restrições são uma forma de pressionar por mais apoio à entrada na OMC.
Diferentemente da UE, a Rússia compra do Brasil principalmente os cortes de segunda, de menor valor. Questionado sobre a instabilidade russa, Camardelli, da Abiec, diz que "a Rússia é e sempre será importante " para o Brasil. E observa que o país busca autossuficiência em carnes suínas e de frango, mas não em bovinos. Assim, segue necessitando do produto brasileiro.

Aumenta a preocupação com regras da UE para defensivos


Autor(es): Por Tarso Veloso | De São Paulo
Valor Econômico - 29/08/2011
 

Se for levada ao pé da letra, a revisão das regras para o uso de pesticidas na União Europeia poderá prejudicar 59% das exportações agropecuárias do Brasil para o continente em 2014, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag).
O banimento de centenas de agroquímicos no mercado europeu não envolve apenas a própria produção da UE, mas também os resíduos eventualmente encontrados nas exportações para a região. Dessa forma, os insumos que forem proibidos não poderão ser aplicados nas vendas brasileiras ao bloco. A revisão foi definida em 2008. De 1.111 produtos analisados, foram permitidos 215. Os cortes serão realizados gradualmente, até 2014.
Para o Sindag, os produtores do Brasil serão penalizados porque vários defensivos usados no país serão banidos pelo novo regulamento. Segundo cálculos da entidade, 36 dos 49 inseticidas utilizados pelos produtores brasileiros de soja serão proibidos. Para combater a ferrugem asiática, por exemplo, os sojicultores só terão como opção fungicidas com o grupo químico estrobirulinas - que, de acordo com a entidade, são cada vez menos eficientes.
Segundo Silvia de Toledo Ligabó, executiva do Sindag, uma das opções para driblar as restrições europeias é negociar a liberação de defensivos propícios para países tropicais, já que a maioria dos produtos barrados não são usados na UE.

Veto à compra de terra trava crédito rural


Autor(es): Renée Pereira
O Estado de S. Paulo - 30/08/2011
 
As restrições impostas aos estrangeiros para a compra de terras no Brasil viraram um entrave na liberação de crédito para atividades rurais. Desde agosto de 2010, quando as restrições entraram em vigor, bancos estrangeiros e tradings estão evitando fazer esse tipo de operação por causa da falta de garantia, afirma o advogado Alexandre Clapis, sócio da Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados.
Ele conta que antes as instituições pegavam as terras como garantia dos empréstimos. Mas, como eles podem ter problemas para transferir esses imóveis em caso de execução de uma hipoteca, por exemplo, a maioria prefere não conceder o crédito. "O corte nos empréstimos já tem deixado muitas empresas com dificuldade de caixa."
O problema teve início no ano passado quando o governo decidiu limitar a compra de imóveis por estrangeiros por causa do interesse de fundos soberanos internacionais na compra de grandes quantidades de terras no Brasil. Com base numa lei de 1971, a Advocacia Geral da União (AGU) publicou um parecer destacando que qualquer empresa de capital externo tem de obter autorização do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ou do Congresso para concluir a negociação.
O presidente da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Fábio de Salles Meirelles Filho, teme que essas restrições afetem a safra 2011/2012. "Cerca de 60% da soja é financiada pelas tradings em forma de adubo e insumos. Tanto a produção de grãos como a de cana de açúcar pode ficar comprometida por causa dessas dificuldades."
Para os representantes do setor produtivo e advogados, o Brasil tem legitimidade para restringir a compra de terras por estrangeiros, especialmente se for especulativo. O que não pode é colocar todo mundo na mesma cesta e atrapalhar investimentos importantes para o País, diz Meirelles Filho. "Quem cria esses pareceres nem sabe o que é agropecuária."
Desde a entrada em vigor, as regras já atrapalharam inúmeras transações de compra e venda de terras, afirma Aloísio Barinotti, da Nai Commercial Properties. Ele conta que os investidores estão amedrontados, temendo até confisco de terras.
No aguardo. Há pelo menos duas transações de investidores da Austrália e Nova Zelândia, num valor de R$ 200 milhões, que aguardam definição das regras para que sejam concluídas. De acordo com dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), dos 851 milhões de hectares do Brasil, cerca de 4,5 milhões de hectares estão nas mãos de estrangeiros. Mas especialistas afirmam que há muita coisa sem registrar no País e que esse número seria bem maior.
O novo entendimento também deu um nó nas operações dos cartórios. Com medo de serem punidos por algum erro no processo, que pode chegar a cassação da delegação, os cartórios não estão fazendo nenhuma escritura de aquisição por empresas que tenham sócios estrangeiros, mesmo que minoritários. "Para os registradores, na dúvida, é mais fácil não fazer o registro e levar o caso ao juiz", diz o presidente do IRIB, Francisco José Resende dos Santos. Mas os juízes também têm dúvidas em relação às regras.
Um dos pontos de incerteza é que, em 1995, uma emenda constitucional (06/1995) revogou um artigo da Constituição que tratava da aquisição de terras por estrangeiros. Com a medida, corroborada mais tarde pelo parecer da AGU de 1998, o mercado entendeu que não havia distinção de empresas brasileiras de controle nacional e de controle estrangeiro, afirma Augusto. Portanto, o que valeria agora seria essa interpretação. Isso significa que mesmo que as restrições sejam mantidas, haverá munição suficiente para empresas e detentores de terra promoverem uma extensa disputa judicial.
PESSOA JURÍDICA
Até 100 módulos
Só poderão adquirir imóveis rurais destinados a projetos agrícolas, pecuários, industriais ou de colonização, vinculados aos seus objetivos estatutários. Autorização do Incra condicionada
à aprovação do projeto de exploração
Acima de 100 módulos
Autorização especial do Congresso Nacional mediante projeto de exploração
Qualquer área em faixa de fronteira
Depende de autorização prévia da Secretaria Executiva do Conselho de Defesa Nacional
Área total
A soma das áreas rurais em nome de pessoas estrangeiras (pessoa física ou empresa) não poderá ultrapassar 25% da área de um município nem poderá ter 10% de sua área em nome de estrangeiro de mesma nacionalidade

John Deere vê saturação em apoios oficiais


Valor Econômico - 30/08/2011
 

A John Deere atribui a uma "certa saturação" das vendas financiadas por programas de apoio aos pequenos agricultores em regiões como o Sul do país, como o Mais Alimentos, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a retração do mercado interno de tratores de janeiro a julho. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o volume de produtos nacionais comercializado no Brasil caiu 10,1% no período em comparação com idêntico intervalo de 2010, para 31,1 mil unidades.
A avaliação é do diretor de marketing da empresa para a América Latina, João Pontes. Segundo ele, o melhor desempenho no segmento de equipamentos de maior porte neste ano tem favorecido a John Deere, que nos sete primeiros meses do ano ampliou em 27,2% as vendas de tratores para o atacado, para 5,9 mil unidades, e em 35,3% as entregas de colheitadeiras, para mil máquinas. Conforme o diretor de assuntos corporativos para a América Latina da John Deere, Alfredo Miguel Neto, a companhia segue otimista com o Brasil. Segundo ele, a prorrogação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) até dezembro de 2012, anunciado pelo governo dentro do programa Brasil Maior, dá "tranquilidade ao setor", assim como a disposição do MDA em reforçar os financiamentos pelo Mais Alimentos em regiões menos atendidas até agora, como Minas e Nordeste. O diretor de vendas para a América Latina, Paulo Herrmann, confirmou, ainda, que a John Deere transferirá a sede administrativa e o banco da empresa de Porto Alegre para Indaiatuba (SP). O processo será concluído em até dois anos.

Nos EUA, produtores tentam vetar carne bovina do Brasil


Autor(es): Por Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico - 30/08/2011
 

Produtores e entidades de consumidores na área de saúde nos Estados Unidos preparam uma dura campanha para evitar que o governo americano permita enfim a entrada da carne bovina de 14 Estados brasileiros em seu mercado. Oficialmente, a alegação é de que a carne bovina brasileira gera o risco de introduzir febre aftosa nos EUA e aumenta a ameaça de surtos de "E.coli" no território americano. No fundo, trata-se de temor da concorrência do maior exportador mundial de carne bovina.
"O Brasil tem o potencial de colocar extrema pressão de baixa na indústria pecuária americana, por sua capacidade de exportar enormes volumes de carne bovina para os EUA", afirmou Bill Bullard, principal executivo da associação de pecuaristas R-Calf, em entrevista à publicação especializada em comércio "Us Inside Trade".
Há mais de seis anos que os EUA analisam se liberam ou não a carne bovina brasileira. No acordo bilateral pelo qual o Brasil aceitou não retaliar produtos americanos em centenas de milhões de dólares por causa dos subsídios aos produtores de algodão daquele país, os EUA se comprometeram a colocar em consulta pública até 30 de janeiro deste ano a análise de risco de carne bovina de regiões do Brasil livres de aftosa com vacinação. O processo é necessário para liberar a entrada de produtos no país.
Proposta do USDA sobre carne bovina brasileira poderá ser liberada mês que vem para consulta pública nos EUA
Recentemente, em reunião no Rio de Janeiro, os brasileiros voltaram a cobrar. O embaixador brasileiro junto a Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, reclamou que a duração do processo americana era "excessiva e escapa a qualquer noção de razoabilidade".
As autoridades americanas argumentaram que ainda precisavam fazer análise econômica sobre o impacto de importações de carne brasileira. Isso parece ter sido feito, e o resultado indicaria impacto mínimo.
Agora, a "Inside US Trade" publicou que, depois de examinada pelo Office of Management and Budget (OMB), a proposta do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) poderá ser liberada mês que vem para consulta pública.
O conteúdo exato da proposta não está claro. Normalmente, segundo a publicação, o USDA exige que um país seja livre de aftosa como pré-requisito para propor a autorização de importação. Mas haveria sinais de que o USDA pode adotar outra postura, pela qual os EUA abririam seu mercado para a importação dos 14 Estados brasileiros de carne bovina maturada de regiões livres de aftosa com vacinação.
Essa consulta pública demora 60 dias. É quando as diferentes posições, contra e a favor à carne bovina brasileira, vão se manifestar. Depois o USDA dá a decisão final sobre a liberação.
É nesse cenário que está sendo montada a campanha contra a carne bovina brasileira. Até agora, o Brasil só exporta carne enlatada para os EUA. Com o risco de concorrência, as associações de produtores R-Calf, National Farmers Union (NFU), National Cattlemen"s Beef Association (NCBA) e entidades de proteção a consumidores já usam argumentos pesados para impedir que o USDA venha a tomar uma decisao a favor do Brasil.
Um dos argumentos, tirados de artigo de uma revista do setor, é de que 50% da carne bovina no Brasil não teria inspeção ou supervisão correta por parte das autoridades sanitárias. Tudo isso deixaria consumidores americanos sob risco de contrair doenças.
A campanha é idêntica à que os produtores americanos deflagraram contra a carne de ovelhas da Patagônia, na Argentina. Parlamentares americanos chegaram a aprovar medida específica no orçamento, proibindo que recursos fossem usados para pagar salários e despesas de funcionário para atividades que levariam à autorização da importação do produto.
A Argentina não reagiu. Mas quando os congressistas quiseram fazer a mesma coisa em relação à carne de frango da China, Pequim avisou que levaria o caso aos juízes da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A carne suína de Santa Catarina também foi alvo de violenta campanha nos EUA até 2010, na consulta pública para liberação do produto. Dezenas de manifestações consideravam "loucura, insanidade, absurdo" que o produto fosse autorizado a entrar nos EUA. Um estudo da Universidade de Kansas foi desenterrado para mostrar que o impacto da eventual chegada da aftosa aos EUA poderia custar até US$ 50 bilhões de prejuízo aos produtores locais.
Isso não impediu que o USDA liberasse a entrada do produto em janeiro deste ano, até porque o impacto será mínimo. O setor no Brasil também se preparou para contestar na OMC qualquer medida semelhante à sofrida pela produção da Patagônia.
Até agora, os produtores de Santa Catarina não conseguem exportar por causa da falta de documentos suficientes sobre programas de segurança sanitária de sua produção. Somente na semana passada é que o Ministério da Agricultura enviou material ao governo americano, após meses de atraso.
Fontes em Brasília dizem que o governo está atento à campanha anti-carne brasileira. E espera que também o setor privado venha a agir rápido, para contrabalançar a "campanha difamatória" nos EUA.
A expectativa em Brasília é de que em reunião bilateral em outubro, nos EUA, os americanos deem alguma notícia positiva sobre a liberação da carne bovina.

FAO defende país de ataques

Valor Econômico - 30/08/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/8/30/fao-defende-pais-de-ataques
 
A agência para agricultura e alimentação da Organização das Nações Unidas (FAO) faz uma das principais defesas do Brasil em relação aos ataques que produtores e algumas entidades de consumidores americanos estão preparando contra a carne bovina brasileira.
O veterinário chefe da agência da ONU, Juan Lubroth, aponta o Brasil como um exemplo no mundo de engajamento contra febre aftosa, com boa cooperação entre o governo e o setor privado na área sanitária. "O Cone Sul é uma potência para exportar carnes. Se o USDA autorizar a entrada da carne, e o Brasil der as garantias sanitárias, é porque não tem risco".
Quanto à ameaça de propagação da bactéria "E.coli" aventada pelos Estados Unidos, o veterinário da FAO diz que se trata um problema que todo o mundo tem. "Isso não é virulento, e não é razão para fechamento de mercado a um produto", afirma.
Para o representante da FAO, o Brasil não só vem agindo bem, como tem capacidade técnica para monitoramento na área sanitária e pode melhorar mais se os Ministérios de Educação e de Agricultura do país se juntarem, para reforçar a qualidade das faculdades de veterinária.

Setor químico vai investir US$ 25 bilhões


Setor terá de investir alto para reduzir importações
Autor(es): Por Mônica Scaramuzzo e Ivo Ribeiro | De São Paulo
Valor Econômico - 30/08/2011
 

As indústrias químicas e petroquímicas vão, em seu conjunto, investir aproximadamente US$ 25 bilhões até 2015, como parte dos planos de expansão da cadeia para atender a demanda crescente no mercado interno. Deste total, US$ 5,2 bilhões já estão em andamento - boa parte do restante, de US$ 16,1 bilhões, já foi aprovado e deverá ser aplicado nos próximos meses. O levantamento foi feito pela Associação Brasileira da Indústria Química, em um universo de mais de 50 empresas. Os investimentos, porém, ainda não serão suficientes para reverter o déficit do setor, segundo empresários e especialistas ouvidos pelo Valor.
As indústrias químicas e petroquímicas têm um pacote de investimentos da ordem de US$ 25 bilhões programados até 2015, como parte do plano de expansão da cadeia para atender à crescente demanda no mercado interno. Deste total, US$ 5,2 bilhões referem-se a novos projetos e já estão em andamento - boa parte dos US$ 16,1 bilhões restantes já foi aprovada e deverá ser aplicada a partir do próximo ano. Cerca de US$ 3,4 bilhões estão sendo empregados para elevar a atual capacidade de produção das companhias. O levantamento foi feito pela Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), em um universo de mais de 50 empresas.
Os investimentos, apesar de robustos, ainda são insuficientes para reverter o déficit do setor, segundo empresários e especialistas ouvidos pelo Valor. A cadeia química nacional é fortemente dependente das importações de matérias-primas básicas para atender suas necessidades. Neste primeiro semestre, o setor registrou saldo negativo (balanço das exportações menos importações) de US$ 11,67 bilhões. Em 2010, o saldo igualmente vermelho ficou em US$ 20,7 bilhões.
Para cobrir esse rombo e se tornar superavitária, os desafios da indústria são grandes. Os aportes já anunciados até 2015 nem de longe conseguem reverter metade do déficit atual. Em um documento preparado pela Abiquim e entregue ao governo, o setor estima que as indústrias tenham de investir US$ 167 bilhões para que o Brasil reverta seu perfil deficitário, tenha pelo menos 10% das matérias-primas produzidas renováveis - a chamada química verde- e salte da oitava posição para quinta no ranking global no setor até 2020. Química renovável deverá receber aportes de US$ 20 bilhões e produtos oriundos do pré-sal outros US$ 15 bilhões.
Até 2015, deverão ser investidos cerca de US$ 25 bi. Petrobras, Braskem e Vale ancoram principais projetos
O Valor listou os 14 principais projetos em andamento e em estudos, considerados importantes para o desenvolvimento da cadeia. No topo dessa lista estão empresas nacionais como Petrobras, Vale, Braskem, Galvani, e multinacionais que querem ampliar presença no mercado interno, como Dow Chemical, Rhodia, Basf e estão interessadas na química verde.
"O setor enfrenta uma fase crucial. Ou caminhamos para a desindustrialização ou de crescimento completo", afirmou Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim. "Desde a era Collor [governo Fernando Collor de Mello, entre 1990 e 1992], cerca de 1.470 linhas de produção foram desativadas e 57% dos volumes produzidos foram substituídos pelas importações."
O déficit na balança do setor vem crescendo ano a ano, batendo recordes. No acumulado dos últimos 12 meses, até junho, atingiu US$ 23,6 bilhões. "Temos condições de reverter esse quadro porque temos reservas de petróleo e gás e o Brasil está fazendo apostas em matéria-prima renovável", disse Figueiredo. A China, considerado um grande mercado consumidor, tem pouca matéria-prima. "Os Estados Unidos e o Brasil têm as duas coisas juntas: mercado e matéria-prima", afirmou Figueiredo, acrescentando o país tem uma indústria química madura e que poderá crescer com consistência.
"Os investimentos das indústrias que estão em curso e em estudos são plausíveis com as intenções de crescimento do Brasil", afirmou ao Valor Lucas Blender, analista da Geração Futuro. "O movimento de expansão do Brasil não se restringe mais à fronteira, não pode ser considerado regional." A partir de 2012, o setor passará por um novo ciclo de alta no mercado internacional. "O Brasil é considerado um dos grandes expoentes nesse setor", disse Blender, que considera que o Brasil terá condições de dar continuidade a investimentos bilionários para expandir a produção. Blender não acredita que o país consiga reverter o déficit e nem deve perseguir essa meta. "É uma questão de racionalidade dos investimentos."
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Para Otávio Carvalho, da consultoria petroquímica Maxiquim, as indústrias químicas têm todas as condições de avançar até 2020, quando os investimentos em gás natural e pré-sal, por exemplos, estarão maturados. "Para se viabilizar investimentos, só dinheiro e matéria-prima não são suficientes. É preciso ter matéria-prima competitiva", afirmou, lembrando que os investimentos em curso da Petrobras e as bacias de exploração de petróleo do empresário Eike Batista poderão estar maturadas.
A petroquímica Braskem está concluindo aportes na fábrica de butadieno (matéria-prima para borracha), com investimentos de R$ 300 milhões. Já está em andamento a unidade de PVC em Alagoas, onde será investido R$ 1 bilhão. Em recente entrevista ao Valor, Carlos Fadigas, presidente da companhia, disse que o grupo deverá definir neste semestre onde erguerá sua primeira fábrica de polipropileno (PP) verde, que receberá aportes de R$ 170 milhões. "Será em uma tradicional região produtora de etanol [Centro-Sul do país]." A companhia inaugurou no ano passado a fábrica de polietileno verde (PE) em Triunfo (RS), dando início no país à nova onda de aportes em química verde.
Seguindo a tendência, a Dow Chemical deverá investir cerca de US$ 1,5 bilhão para construir uma unidade de etanol integrada a uma fábrica química. O projeto de Santa Vitória (MG) foi anunciado em 2007, mas o martelo dos investimentos só foi batido este ano.
Com projetos bilionários, a Vale Fertilizantes está finalizando aporte de R$ 432 milhões em Uberaba (MG), para ampliação da produção de ácido fosfórico e ácido sulfúrico, conforme comunicado da empresa. Um projeto de R$ 2 bilhões, denominado Projeto Salitre, em estudos na região de Patrocínio (MG), ainda depende do aval da companhia. Nesse projeto, a Vale prevê aportes de cerca de R$ 2 bilhões até 2013, com a abertura de uma mina de rocha fosfática e a construção de novas unidades para a produção de ácidos sulfúrico e fosfórico, além de fertilizantes fosfatados de alta concentração.
Um dos projetos mais aguardados passa pela Petrobras. Somente no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de janeiro), em Itaboraí (RJ), serão cerca de US$ 8,5 bilhões. Parte desse investimento será tocado em parceria com a Braskem, que já aprovou o projeto na área petroquímica. A estatal também tem planos de investir cerca de US$ 2,4 bilhões em uma unidade de PET em Suape (PE), que tem a Braskem como parceira, mas ainda está em fase inicial de estudos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Quartéis-generais de produção científica



Criados há apenas três anos, institutos de desenvolvimento da ciência e da tecnologia apostam em pesquisas estratégicas para o progresso da sociedade brasileira.
Com foco no estreitamento entre sociedade e tecnologias de ponta, os institutos nacionais de tecnologia (INCTs), criados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 2008, apresentam os primeiros resultados práticos de pesquisas avançadas em variadas áreas estratégicas do conhecimento. No Brasil, 122 desses centros respondem por pesquisas de alta vanguarda. As descobertas vão da medicina à engenharia, passando por biodiversidade, relações entre sociedade e internet e até estudos tectônicos. O trabalho dos cientistas é financiado por instituições diversas, federais e estaduais. No Distrito Federal, há duas unidades - a de estudos tectônicos e uma de nanobiotecnologia.

Como conta o professor Wagner Meira Júnior, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o trabalho desenvolvido no INCT para a Web, que funciona em  Belo Horizonte, provocou um salto de produtividade na quantidade de artigos científicos publicados sobre o tema. Foi também definitivo para a criação de protótipos que enraizassem os conceitos dos algorítimos desenvolvidos - aí mora o grande atrativo dos projetos para as pessoas comuns, que não teriam paciência para se debruçar sobre os escritos científicos: "Houve preocupação maior no sentido de trazer a produção científica para a sociedade. Os protótipos são o mais próximo que temos de produtos, concretos, que poderiam chegar ao mercado."

Nesse sentido, o INCT coloca sistematicamente no ar variações do Observatório da Web (observatorio.inweb.org.br), criado originalmente para as eleições do último ano. De olho na maior participação da população brasileira nas discussões on-line, o endereço acompanha essa nova realidade, diagnosticando movimentos de opinião pública a partir de comentários em mídias sociais, como o Twitter. O que se fala na internet, em língua portuguesa, sobre política, futebol e saúde pública já foi objeto do Observatório desenvolvido a partir das pesquisas do INCT. "O mais recente é o Observatório da Dengue, que explora as correlações entre a movimentação nas redes sociais e a incidência da doença."

A criação de protótipos como os observatórios também leva a desdobramentos mais concretos, conforme Meira. "Alguns pesquisadores do INCT acabaram criando duas startups (empresas de tecnologia em fase inicial), com produtos on-line. Uma delas é a Zunnite, focada em literatura, que faz recomendações de bons livros, e a outra é a Nhemu, um site que trabalha com comparações de preços de produtos", conta. A Nhemu lida com conceitos de web 3.0, apontada por muitos com a próxima fronteira da internet. Vai além da atual web 2.0 (focada em colaboração) e se concentra em buscas mais inteligentes, também chamada de web semântica. Os recursos do INCT para a web somam R$ 3 milhões, entre verbas estaduais e federais.

No caso do INCT de medicina molecular, o valor aprovado pelo CNPq e repassado às pesquisas é de R$ 7,2 milhões. Desse total, R$ 5 milhões foram empregados na aquisição de um poderoso equipamento para tomografia por emissão de pósitrons e tomografia computadorizada (Pet/CT, na sigla em inglês). Instalado no centro de imagem molecular da Faculdade de Medicina da UFMG, o aparelho é essencial às pesquisas que pretendem trazer avanços para pacientes de Alzheimer e câncer. "Do jeito como está configurado, é o melhor equipamento da América Latina", diz o professor Marco Aurélio Romano Silva, coordenador do instituto.

O Pet/CT é uma máquina impressionante, com opcionais avançados, como o sistema Time of Light, que reduz a dose de radioatividade para 30% do total, assegurando resultados até melhores, segundo o professor. "Tem a vantagem de submeter o paciente a uma radiação menos danosa." O equipamento identifica o metabolismo das células. Pacientes com Alzheimer têm, no cérebro, regiões com pouca atividade metabólica. "Os tumores são o contrário: as células têm hiperatividade", explica Marco Aurélio. As primeiras análises das pesquisas, realizadas com pacientes que vêm dos próprios laboratórios do Hospital das Clínicas da UFMG, ficam prontas no fim do ano. A equipe de especialistas deve usar o aparelho para realizar vários subprojetos do INCT, segundo Romano. "Vamos tentar ver se a tecnologia tem boa relação custo-benefício para ser implementada pelo SUS. No caso do Alzheimer, tentaremos identificar regiões do cérebro e correlacionar dados genéticos e clínicos na pesquisa."
(Correio Braziliense)

sábado, 27 de agosto de 2011

Quadrinhos



Exportações para a UE sobem abaixo da média desde 2008


Autor(es): Por Marta Watanabe
Valor Econômico - 26/08/2011
 

As exportações brasileiras para a União Europeia crescem abaixo da média desde 2008, antes da primeira crise financeira global fazer diferença nas vendas ao exterior. Depois de cair bastante em 2009, a recuperação dos embarques para os países europeus ainda é lenta. Em valor, as exportações totais do Brasil aumentaram em 26,5% de janeiro a julho de 2011, na comparação com o mesmo período de 2008. As vendas à Zona do Euro, porém, cresceram em ritmo muito menor, com elevação de apenas 10,8%.Ampliar imagem
Influenciaram para o quadro países como Alemanha, cujas importações com origem Brasil cresceram 9,8% no mesmo período, e Itália, com elevação de 9,8%. Espanha e França tiveram aumento de 9,6% e 3,41%, respectivamente, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento (MDIC)."Além do crescimento da exportação para a União Europeia ter sido pequeno, é preciso lembrar que ele foi sustentado pela alta do preço de commodities", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Os principais itens da pauta de exportação brasileira à União Europeia são minério de ferro, soja e café, que representam mais de um terço das vendas do país à Zona do Euro. Os três produtos puxaram o valor exportado aos países europeus e, de forma geral, também puxaram as exportações brasileiras a cada um dos países que integram a UE.
O minério de ferro não aglomerado é o principal item exportado à União Europeia. Os embarques brasileiros saltaram de US$ 1, 57 bilhão de janeiro a julho de 2008 para US$ 3,2 bilhões no mesmo período deste ano. O café não torrado teve elevação semelhante, saindo de US$ 1,29 bilhão para US$ 2,32 bilhões no mesmo período. O farelo de soja também teve crescimento significativo, de 27%.
Castro diz que o crescimento dos valores exportados deve-se à forte elevação de preços. O minério de ferro, lembra, saltou de US$ 58 a tonelada na média de 2008 para uma média de US$ 128 a tonelada, levando em consideração a média até agosto. O café também apresentou aumento de preço vigoroso, saindo de US$ 2,6 mil a tonelada na média de 2008 e a projeção para 2011, diz Castro, é de chegar a US$ 4,3 mil a tonelada. A soja subiu menos, assinala, de US$ 447 a tonelada para US$ 487 a tonelada na mesma base de comparação. Ou seja, se não fosse a elevação de preços desses produtos, o crescimento das exportações à Zona do Euro seria menor ainda.
Para Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, isso revela a alta dependência em relação aos produtos básicos na manutenção das exportações para a União Europeia. Segundo ele, o baixo crescimento das exportações à Zona do Euro na comparação com as vendas totais do Brasil no mercado internacional é um reflexo da lenta recuperação econômica dos países europeus. "Isso se deve ao baixo crescimento das rendas das famílias e da demanda da indústria nessa região."
De janeiro a julho de 2008, as exportações brasileiras à Zona do Euro somaram US$ 27 bilhões, o que representava 24,3% das vendas totais do país no comércio internacional. No mesmo período de 2009 os embarques do Brasil para a região caíram para US$ 19,13 bilhões. Nos sete primeiros meses deste ano as vendas aos países da União Europeia chegaram a US$ 29,9 bilhões. Em razão de um ritmo de crescimento menor das vendas para os países europeus, a fatia da região dentro da exportação total do Brasil caiu para 21,3%.
Silveira lembra que não é possível alterar no curto prazo a pauta de exportação brasileira aos países da Zona do Euro. "Isso não pode ser alterado rapidamente, levando em conta também que nossa produção industrial está cada vez mais fragilizada", diz. "Por isso há um receio muito grande de como uma eventual desaceleração da economia chinesa em razão da nova crise financeira possa afetar o Brasil", completa.
Para Castro, a redução de preços das commodities agrícolas não deve trazer grande impacto para as exportações à União Europeia ou para a balança comercial do Brasil, de forma geral. "A maior parte das exportações já foi contratada e os preços já foram definidos", diz ele. De janeiro a julho, a balança comercial entre o Brasil e a União Europeia mantém superávit para o país de US$ 4, 5 bilhões.
Para Castro, a repercussão da crise nas exportações brasileiras deverá começar a aparecer dentro de dois ou três meses. O receio maior está no efeito na nova crise financeira global nas exportações brasileiras a partir do ano que vem. Além do receio de que a demanda chinesa possa contribuir para a queda do preço de produtos básicos, a incerteza maior em relação à recuperação de mercados como o europeu e o americano pode fazer também com que as commodities deixem de ser um ativo financeiro interessante.

Governo eleva recursos para milho no Centro-Oeste


Autor(es): Por João Villaverde
Valor Econômico - 26/08/2011
 

O governo vai ampliar, a partir de hoje, o limite adicional de crédito à disposição dos produtores de milho do Centro-Oeste. O objetivo é aumentar a capacidade de produção do grão já na atual safra 2011/12, a partir do reajuste, em R$ 500 mil por produtor, do crédito rural destinado ao financiamento de custeio. "É uma preocupação muito específica: controlar a inflação", disse um técnico do governo.
No texto que autoriza a elevação no limite de recursos disponíveis para crédito, divulgado ontem pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a justificativa é "não prejudicar o abastecimento interno e os compromissos de exportação". Segundo Francisco Erismá, coordenador-geral de crédito rural e normas da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, as medidas visam fortalecer a produção de uma cultura que "produz impacto poderoso em outras cadeias produtivas".
A avaliação do governo é que os preços das sacas de milho devem cair até o fim do ano por uma combinação entre estímulos à produção interna, como a ampliação de crédito para custeio, e perda de força nos preços negociados no mercado internacional. Neste caso, o milho tem sofrido um efeito semelhante a outras commodities, cujos contratos de derivativos futuros, negociados na Bolsa de Valores de Chicago (EUA), têm perdido fôlego desde que a turbulência nos mercados financeiros começou, no início de agosto.
O governo entende que o preço médio da saca de milho pode cair até um patamar que continue rentável ao produtor, mas que seja benigno para a inflação. Nos 12 meses terminados em julho, dado mais recente divulgado pelo governo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou variação de 6,87% - acima, portanto, do teto da meta de 6,5% perseguida pelo Banco Central para o ano.
Além da ampliação do limite de crédito para os produtores de milho da região Centro-Oeste do país, o CMN divulgou ontem a ampliação do prazo de carência dos empréstimos direcionados à aquisição de reprodutores e matrizes bovinas e bubalinas, de 18 para 24 meses, e também prorrogou até junho de 2013 o prazo para pequenos produtores obterem junto ao governo sua regularização fundiária.

A industrialização a qualquer custo e a nova Política Industrial

Jornal da Ciência (JC E-Mail)
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Edição 4331 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
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Artigo de Amilcar Baiardi enviado ao JC Email pelo autor.
A expansão industrial terminou por ser no Brasil um modelo de crescimento econômico baseado essencialmente no setor secundário, revelando-se, ao longo do tempo, setorialmente centralizador, espacialmente concentrador, urbanamente aglomerador e socialmente excludente. Na primeira metade na década de cinqüenta, quando a economia do país ingressava na fase de implantação da indústria de bens de capital, completando o ciclo da industrialização tardia, um amplo espectro do pensamento nacional, localizado no Instituto Superior de Estudos Brasileiros, ISEB, defendia a industrialização a qualquer custo. Ignácio Rangel era, naquele ambiente, o único cético em relação aos rumos das, então, políticas de fomento industrial. Criticava nas mesmas a falta de planejamento para promover a integração e reduzir a capacidade ociosa da economia nacional, entendida como sendo constituída pelos recursos humanos e naturais colocados à margem da dinâmica expansionista. Antecipava, por outro lado, os efeitos perversos da concentração industrial, como a formação de megalópoles e os desequilíbrios regionais, antevendo a possibilidade, não muito distante, de esgotamento do padrão de industrialização baseado na substituição de importações.

Como alternativa, recomendava uma política de desenvolvimento fundamentada nos usos dos recursos ociosos, a qual suporia, dentre outras medidas, a reforma agrária, o povoamento ao longo dos eixos rodoviários e a desconcentração produtiva, setorial e regionalmente. Sua voz não foi ouvida e as interpretações parciais das teses da Cepal, de Raul Prebisch, falaram mais alto, fazendo com que a industrialização, a qualquer custo e acelerada, se tornasse a política de Estado no Brasil, por décadas.

Como se nada houvesse mudado, como se revoluções científico-tecnológicas não tivessem ocorrido de lá para cá, como se a assimetria nos mercados só fosse possível mediante a transformação industrial, como se não houvesse possibilidade de agregação de valor ao longo das cadeias derivadas da produção vegetal-animal e mineral e da qualificação dos serviços, anuncia-se uma nova política industrial, "Plano Brasil Maior", e, associada à mesma, a criação de um ente, "uma Embrapa para a Indústria", a Embrapii. A industrialização a qualquer custo volta a ser agenda da política industrial. Passa-se a idéia da necessidade de intervenções que restaurem a competitividade da indústria convencional sem avaliar se haverá lugar para elas em uma nova divisão internacional da produção industrial.  Em síntese, pretende-se reverter a chamada "desindustrialização" com receituário fortemente eivado de subsídios e, para modernizar o discurso, anuncia-se a criação de um órgão que, definitivamente, seria a ponte entre a pesquisa e o desenvolvimento, P&D, e as empresas do setor secundário.

É ocioso lembrar que subsídios generosos desestimulam a inovação. De outra parte, convém sempre insistir que os problemas de escassa geração de patentes e de baixa apropriação de inovações pelo setor industrial no Brasil, não se devem à falta de legislação e de órgãos, pois já se tem a "lei da inovação, a "lei do bem", a ABDI, o Sibratec, a Anpei, a rede de INCTs etc. Esquece-se também, quando se propõe a analogia tendo em vista o sucesso da Embrapa, que o setor agropecuário é menos concentrado, com poucas barreiras à entrada, sendo comum ter-se no mesmo, inovações induzidas por grupos de pressão de produtores rurais, o que foi estudado por Hayami e Ruttan na década de setenta do século passado. Em todo o mundo, o setor agropecuário é tido como aquele no qual as forças de mercado são o determinante principal da mudança técnica, teorias da demand pull, vis à vis as influencias derivadas da visão da oferta tecnológica como um impulso autônomo ou quase autônomo, teorias do technolgy push. Dizendo de outro modo, o que vale para setor agropecuário, uma empresa estatal que gera e difunde inovações, não se aplica mecanicamente ao setor secundário.   

A primeira coisa a se fazer quando se pensa em macropolíticas de incentivo à produção, é não se considerar como anomalia que a composição do PIB esteja mudando, favorecendo aos negócios derivados da agricultura, silvicultura e mineração e reduzindo participação dos setores convencionais da indústria brasileira. Parque industrial convencional deixou de ser uma meta para a maioria dos países industrializados, que não abrem mão de ofertar no mercado internacional bens com elevado valor agregado, resultantes de conhecimento científico embutido. Por outro lado, a economia brasileira tem especificidades e não se pode ver este processo de mudança estrutural do PIB como sendo uma mudança precoce e não virtuosa e muito menos supor ser uma apocalipse a redução da participação da indústria convencional na renda nacional. Entender esta mudança como sendo própria e exclusiva de economias maduras é, de outra parte, um reducionismo. A Austrália e o Chile têm tecidos produtivos com menos adensamento setorial e maior peso de agroindústrias e nem por isso perdem nas trocas internacionais.

A essência da proposta de Prebisch/Cepal era reverter o comércio desigual e isso não tem, contemporaneamente, como única via, o apoio à indústria convencional. A recente onda de valorização de matérias primas e commodities tende a se manter e o Brasil pode se beneficiar exponencialmente, se prosseguir incorporando inovações de processo e ampliar a incorporação de inovações de produto aos setores que absorvem como insumos a produção primária. Pesquisa recente do BNDES (FSP de 19/08/2011) estima que, até 2014, aumentará a concentração de investimentos no setor primário, o que é um sinal inequívoco de dinamismo setorial. O crescimento do setor não significa exclusivamente expansão da produção de commodities e bens intermediários, pois não há limites para inovar na produção de bens finais, sejam eles alimentos diferenciados, alimentos terapêuticos, bio-fármacos, fibras naturais, tecidos, sementes modificadas geneticamente, bioenergéticos e derivados da produção mineral que possam ir além dos metais e ligas. Da mesma forma, não há limites para inovações de processo que reduzam o custo unitário dos bens produzidos, provenham eles do campo ou das minas.

A experiência italiana dos Distritos Agroalimentares sugere a possibilidade de determinados territórios, com tecido produtivo menos concentrado, se especializarem na oferta de bens derivados da produção vegetal e animal com elevado valor agregado e com facilidades de diferenciação e reciclagem expressivas. A Argentina começa também a ter sucesso com uma produção láctea modificada geneticamente, incorporando bio-fármacos, elevando assim sua capacidade de competição neste setor. As vantagens no comércio internacional e de participação no mercado doméstico dependem muito mais de estratégias empresariais que propriamente de benefícios de políticas como a "Brasil Maior".  O empresariado do chamado complexo agroindustrial tem demonstrado ser inovador, adotou boas práticas de gestão, é agressivo em termos de mercado internacional e aderiu às certificações que garantem aceitação dos seus produtos. Devidamente estimulados, estes agentes poderiam adensar as cadeias produtivas lançando novos produtos com maior sofisticação e com capacidade de serem formadores de preços.  Obviamente que nesta qualificação e adensamento das cadeias produtivas no setor primário, não se pode prescindir da presença do Estado na ampliação da competitividade sistêmica, por meio de investimentos em infraestrutura e remoção dos gargalos burocráticos.

O foco do "Plano Brasil Maior" não deve se restringir aos setores convencionais da indústria brasileira, re-editando medidas que favorecem essencialmente aos mesmos e negligenciando aqueles com maior dinamismo. Mais sábio seria criar incentivos para acelerar a modernização tecnológica em toda a economia, inclusive as cadeias minero-agrícolas, pois delas poderão resultar inúmeros bens finais com elevado valor de mercado, alguns até se beneficiando das vantagens monopólicas temporárias.

A recusa em ver com pessimismo o crescimento da participação do agronegócio no PIB brasileiro foi manifestada em  recente Painel intitulado "Agricultura Brasileira: Fazenda do Mundo", durante o 49º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, realizado no fim de julho em Belo  Horizonte, quando pesquisadores da Embrapa e professores-pesquisadores da UFV e ESALQ-USP, foram categóricos em não ver problema nesta expansão, uma vez que ela responde a vantagens comparativas inequívocas e vantagens competitivas construídas.

Em um debate recentíssimo no Centro Internacional Celso Furtado no Rio de Janeiro, idêntica posição foi assumida por pesquisador da UFRJ (FSP de 19/08/2011). Em lugar de recriar velhos subsídios com nova roupagem e centrar atenções na indústria convencional com criação de novos entes com as mesmas missões de apoio à transferência de tecnologia para setor industrial, o Brasil deveria pensar em um eficiente sistema nacional de inovações que coordenasse tudo que já existe e que estivesse voltado tanto para o setor secundário como para os setores primário e terciário, pois, o que conta, é a capacidade de produzir mercadorias que atraiam os consumidores e tenham preços competitivos, provenham elas de onde for mais viável técnica e economicamente.

Nesta trajetória, conviria abrir uma interlocução intensa com a Abipti, Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa Tecnológica (não somente com o INT e o IPT como está previsto na Portaria do MCTI 593 que cria o grupo de trabalho da Embrapii), com a rede de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, INCTs, que transfiram conhecimento para a indústria e com as representações de produtores de todos os setores, CNI, CNA etc., tentando, ao nível nacional, reproduzir experiências internacionais e gerar novas institucionalizações visando um sistema nacional de inovação, com governança, legitimado e que funcione.  

Amilcar Baiardi é professor titular da UFBA e da UFRB e doutor em economia pela Unicamp. Foi professor visitante da Universidade de Aarhus, Dinamarca, e da Universidade de Bolonha, Itália.