sábado, 31 de março de 2012

Desenvolvimentismo e dependência


http://www.ihu.unisinos.br/noticias/507949-desenvolvimentismoedependencia 

"O que chama a atenção é que até hoje, o "desenvolvimentismo de esquerda" não tenha conseguido se refazer do golpe, nem tenha conseguido construir uma nova base teórica que possa dar um sentido de longo prazo à suas intermináveis e inconclusivas deblaterações macroeconômicas e ao seu permanente entusiasmo pelo varejo keynesiano", escreve
 José Luís Fiori, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ, em artigo publicado no jornal Valor, 28-03-2012.

Eis o artigo.

Na década de 1960, a crise econômica e política da América Latina provocou, em todo continente, uma onda de pessimismo, com relação ao desenvolvimento capitalista das nações atrasadas. A própria Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) fez autocrítica, e colocou em dúvida a eficácia da sua estratégia de "substituição de importações", propondo uma nova agenda de "reformas estruturais" indispensáveis à retomada do crescimento econômico continental. Foi neste clima de estagnação e pessimismo que nasceram as "teorias da dependência", cujas raízes remontam ao debate do marxismo clássico, e da teoria do imperialismo, sobre a viabilidade do capitalismo nos países coloniais ou dependentes.

Marx não deu quase nenhuma atenção ao problema específico do desenvolvimento dos países atrasados, porque supunha que a simples internacionalização do "regime de produção burguês" promoveria, no longo prazo, o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, no mundo dominado pelas potências coloniais europeias. Mais tarde, no início do século XX, a teoria marxista do imperialismo manteve a mesma convicção de Marx, que só foi questionada radicalmente, depois do lançamento do livro do economista, Paul Baran, "A Economia Política do Desenvolvimento", em 1957. Após sua publicação, a obra de Baran se transformou em referência obrigatória do debate latino-americano dos anos 1960. Para Paul Baran, o capitalismo era heterogêneo, desigual e hierárquico, e o subdesenvolvimento era causado pelo desenvolvimento contraditório do capitalismo. Além disto, segundo Baran, o capitalismo monopolista e imperialista teria bloqueado definitivamente o caminho do nos países atrasados.

As ideias de Baran casaram como luva com o pessimismo latino-americano dos anos 1960, e suas teses se transformaram numa referencia teórica fundamental das duas principais vertentes marxistas da "escola da dependência": a teoria do "desenvolvimento do subdesenvolvimento", do economista americano Andre Gunder Frank, que exerceu pessoalmente, uma forte influência no Brasil e no Chile; e a teoria do "desenvolvimento dependente e associado", formulada porFernando Henrique Cardoso, com o suporte intelectual de um grupo importante de professores marxistas da USP.

A tese de Frank vem diretamente de Paul Baran: segundo Frank, o imperialismo seria um bloqueio insuperável, mesmo com a intervenção do Estado, e o desenvolvimento da maioria dos países atrasados só poderia se dar por uma ruptura revolucionária e socialista. Esta tese de Frank foi sendo matizada por seus discípulos, mas ainda é a verdadeira marca acadêmica internacional da teoria da dependência. Por outro lado, a tese central de FHC já nasceu menos radical: segundo ele, o desenvolvimento capitalista das nações atrasadas seria possível mesmo quando não seguisse as previsões clássicas, mas seria quase sempre, um desenvolvimento dependente e associado a países imperialistas.

O avanço da teoria do "desenvolvimento associado" foi interrompido pelo próprio sucesso político ao se transformar no fundamento ideológico da experiência neoliberal no Brasil, sob liderança do próprio FHC. Com relação a Frank e seus discípulos, ele mesmo "imigrou", nos anos 1980, para outros temas e discussões históricas, e sua teoria do subdesenvolvimento ficou paralisada no tempo, como apenas uma lista de características especificas, estáticas e intransponíveis, da periferia capitalista. Ou quem sabe, uma espécie de teoria dos "pequenos países".

Apesar de tudo, a "escola da dependência" deixou quatro ideias seminais, que abalaram o fundamento teórico do "desenvolvimentismo de esquerda", dos anos 1950:

1) O capital, a acumulação do capital e o desenvolvimento capitalista não tem uma lógica necessária que aponte em todo lugar e de forma obrigatória para o pleno desenvolvimento da indústria e da centralização do capital.

2) A burguesia industrial não tem um "interesse estratégico" homogêneo que contenha "em si", um projeto de desenvolvimento pleno das forças produtivas "propriamente capitalistas".

3) Não basta conscientizar e civilizar a burguesia industrial e financiar a centralização do seu capital para que ela se transforme num verdadeiro "condotieri" desenvolvimentista.

4) A simples expansão quantitativa do estado não garante um desenvolvimento capitalista industrial, autônomo e autossustentado.

O que chama a atenção é que até hoje, o "desenvolvimentismo de esquerda" não tenha conseguido se refazer do golpe, nem tenha conseguido construir uma nova base teórica que possa dar um sentido de longo prazo à suas intermináveis e inconclusivas deblaterações macroeconômicas e ao seu permanente entusiasmo pelo varejo keynesiano.

Como foi e é construída a privatização do ensino superior no Brasil


http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=6960:submanchete280312&catid=72:imagens-rolantes

ESCRITO POR OTAVIANO HELENE
  
QUARTA, 28 DE MARÇO DE 2012


Uma das características do ensino superior brasileiro nas últimas várias décadas é a constante redução da participação das instituições públicas na sua oferta: em 1960, cerca de 60% das matrículas eram em instituições públicas; atualmente, elas são da ordem de 25% e com uma tendência a continuar aumentando (veja gráfico).

Nas décadas de 1960 e 1970, período marcado pelo regime militar, a participação do setor privado cresceu de 40% até pouco mais do que 60% das matrículas. Após uma década sem aumento dessa participação, a privatização voltou a crescer após 1990, período marcado pela expansão do neoliberalismo, continuando a aumentar ao longo da década seguinte.

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O que aconteceu na década de 1980, quando a taxa de privatização permaneceu praticamente estável, ao contrário de ter sido um sinal de que o setor público passou a ter uma postura mais positiva, ilustra um dos muitos problemas que a privatização apresenta. A década de 1980 foi marcada por uma profunda recessão econômica e, consequentemente, redução de renda e aumento do desemprego. Como consequência, aquela crise econômica afetou fortemente as possibilidades que as pessoas tinham de arcar com as mensalidades escolares, afastando os estudantes, como, obviamente, seria esperado. Esse fato ilustra bem um dos graves problemas da privatização da educação: a educação, quando privatizada, ao invés de ser um instrumento que possa ajudar a suportar uma crise econômica (fixando os jovens por mais tempo no setor educacional e reduzindo, assim, a pressão sobre os empregos) e a criar as condições necessárias para superá-la (preparando a força de trabalho do país), passa a ser um fator a intensificação da própria crise.

Subsídios

Se “conseguimos” atingir a taxa de privatização de 75%, é porque, ao longo do tempo, todos os níveis governamentais contribuíram para isso, por meio de incentivos financeiros diretos e indiretos, por meio de legislações e por deixarem espaço livre para a atuação do setor privado.

No campo financeiro, tanto a União como os estados e municípios têm contribuído, ao longo dos últimos 50 anos, cada um de sua forma, para o aumento da privatização. Essas subvenções ocorrem na forma de isenções de taxas, contribuições e impostos (nacionais, estaduais e municipais), abatimento de despesas com educação privada no imposto de renda de pessoa física, repasses diretos de recursos públicos para entidades privadas, pagamento das mensalidades dos alunos ou financiamento delas pelo setor público, convênios com ONGs ligadas a instituições privadas, entre diversas outras.

Como já estamos acostumados com todas essas práticas, o que faz com que muitas pessoas as achem positivas, vale a pena esmiuçar uma delas, talvez até a mais aceita como sendo adequada, justa e necessária: o abatimento no imposto de renda de pessoas físicas das despesas educacionais. Esse abatimento, que encontra enorme apoio nas classes mais privilegiadas e mesmo reclamações por considerarem-na pequena, é, na prática, uma distorção do que se esperaria de um sistema tributário ou de um subsídio a uma atividade essencial.

Como o abatimento das despesas educacionais ocorre antes do cálculo do imposto devido, quanto maior for a renda de uma pessoa, maior será o abatimento do imposto. Vejamos. No caso de pessoas com altas rendas, os governos subsidiam em 27,5% das despesas com educação privada passíveis de serem abatidas. Já no caso de uma pessoa com renda modesta, eventuais despesas educacionais podem ser subsidiadas em proporções bem menores do que aqueles 27,5 % ou mesmo não terem subsídio algum.

Uma espécie de Robin Hood às avessas. Embora possa parecer que é o contribuinte que está sendo beneficiado, quem de fato recebe aquela subvenção é a instituição de ensino. Por exemplo, alguém de alta renda que tenha pago R$ 1.000 para uma instituição de ensino, receberá do governo, na forma de abatimento de imposto, R$ 275,00; ou seja, gastou, de fato, R$ 725,00, enquanto a instituição recebeu, também de fato, os R$ 1000 pagos. Alguém de baixa renda que tenha gasto os mesmos R$ 1.000 não terá redução alguma do imposto devido.

Em última instância, o abatimento no imposto de renda é um subsídio indireto às instituições privadas de educação. Embora este seja apenas um exemplo, mostra como as políticas de transferência de recursos ao setor privado podem ser distorcidas. Uma redução dos impostos por causa de despesas educacionais só seria justificável (embora inadequado) se a redução fosse inversamente proporcional à renda, subsidiando mais quem ganha menos, não da forma que é hoje. Evidentemente, não há nenhuma dificuldade técnica para se fazer isso: se subsidiamos mais quem menos precisa e menos quem mais precisa, é porque é para ser assim mesmo.

Legislação

Além das ações financeiras e econômicas em favor da privatização da educação, há muitas ações no campo legal que vão no mesmo sentido. Novamente, ao invés de detalhar as muitas formas com que isso ocorre, vamos ilustrar algumas delas. Uma universidade é um tipo de instituição cujas atribuições incluem, segundo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), desenvolver a pesquisa científica e tecnológica, conferir diplomas com validade nacional, criar e extinguir cursos e definir seus currículos, desenvolver atividades de extensão universitária, entre outras. Para isso, seria esperado que tal tipo de instituição tivesse, em seu quadro, pessoas altamente qualificadas para aquelas atividades, o que no mundo acadêmico significa doutores.

Entretanto, ainda que possa parecer absurdo, a LDB não exige doutores no corpo docente de uma universidade: a sutil redação daquela lei exige que pelo menos um terço do seu corpo docente tenha “titulação acadêmica de mestrado ou doutorado”. A partícula “ou” revela a real intenção do legislador: uma universidade, no Brasil, não precisa de doutores! Essa redação é desrespeitosa e mesmo um escárnio, na medida em que a palavra doutorado está apenas enfeitando o texto, sem nenhuma consequência prática; se a frase acabasse em “mestrado”, estaria dizendo exatamente a mesma coisa.

Além disso, exigir uma terça parte dos docentes com determinada titulação não significa que eles venham a exercer a terça parte das atividades desenvolvidas pelas instituições, pois pode se atribuir a essa terça parte uma carga horária pequena, com apenas algumas poucas horas semanais de trabalho.

E tem mais: para desenvolver aquelas atividades, os docentes universitários deveriam contar com as necessárias condições de trabalho, o que significaria, na prática acadêmica, contratos em tempo integral e, preferencialmente, com dedicação exclusiva à instituição. Mas a mesma LDB exige que uma universidade tenha pelo menos “um terço do corpo docente em regime de tempo integral”. Ora, se a essa terça parte do corpo docente for atribuída uma carga didática alta e/ou muitas tarefas administrativas, a lei estará sendo cumprida, sem, de fato, garantir as condições necessárias para a pesquisa e as atividades de extensão universitária previstas pela LDB.

Evidentemente, essa legislação, que não está respondendo a nenhuma necessidade real das instituições universitárias públicas, favorece, e muito, as instituições privadas.

A ausência do setor público abre espaço ao setor privado

Uma terceira forma de favorecimento do setor privado ocorre por meio da restrição de vagas oferecidas pelo setor público, o que abre o necessário espaço para o crescimento das instituições privadas. Uma evidência dessa prática é que a falta de vagas públicas nada tem a ver com as dificuldades financeiras do setor público, diferentemente do que é dito com frequência. Tanto é assim que a privatização é maior exatamente nos estados com maiores possibilidades econômicas e orçamentárias e que maiores contribuições dão ao governo federal.

São Paulo é o caso exemplar: exatamente nesse estado em que a ausência do setor público é mais marcante, como mostra a tabela. A porcentagem de matrículas em instituições privadas em São Paulo, 87%, é bem maior do que nos demais estados (69%). Mesmo quando comparada com a população total ou com o número de concluintes do ensino médio, a privatização paulista é maior do que nos outros estados por um fator dois, como mostram os dados da tabela.

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Essa maior privatização em São Paulo é totalmente compatível com a hipótese de que a ausência do setor público é estratégica, não fruto de uma impossibilidade econômica ou financeira.

Conseqüências

As políticas de privatização, quando associadas com a distribuição dos cursos oferecidos pelas instituições privadas pelas diferentes áreas do conhecimento, fazem com que alguns indicadores da educação superior no Brasil estejam em completo desacordo com o que se observa em outros países com possibilidades econômicas equivalentes ou mais modestas que as nossas. Essa característica nos coloca em uma situação bastante frágil.

Evidentemente, não se está defendendo que haja uma competição entre os países, coisa que, ao contrário, devemos combater. Entretanto, uma força de trabalho mal preparada, distribuída de forma inadequada pelas diferentes áreas profissionais, e quantitativamente insuficiente, fragiliza o país nos embates internacionais e compromete nossa soberania. Consequentemente, não conseguimos sequer criar um ambiente que permita lutar por uma relação mais saudável entre as nações e que priorize as cooperações em lugar das competições.

Leia também os outros cinco artigos da série:


Otaviano Helene, professor no Instituto de Física da USP, foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO EM SEXTA, 30 DE MARÇO DE 2012

Agro do Mercosul é o que mais cresce no mundo até 2050


Estudo aponta potencial, mas alerta que custo alto torna o Brasil vulnerável a crises
Luiz Silveira
A produção agrícola do Mercosul deve crescer mais do que em qualquer outra região do planeta nos próximos 40 anos, segundo um novo estudo das equipes de São Paulo e Chicago da consultoria americana Bain & Co. Apesar de traçar um cenário favorável para o Brasil, o relatório faz dois alertas com relação ao País. O primeiro é que os custos de produção e transporte das safras é muito maior do que o dos concorrentes, o que torna os agricultores vulneráveis. O segundo é que a expansão da agricultura exigirá grandes extensões de terra adicionais, ao contrário das projeções de que só o ganho de produtividade seria suficiente para abastecer o aumento da demanda mundial.
O estudo é focado em cinco produtos de forte comércio internacional: açúcar, soja, milho, trigo e arroz. Considerando essas culturas, a Bain projeta que Brasil, Argentina e Paraguai vão ampliar a produção em 82% entre 2010 e 2050, praticamente o dobro da média mundial, de 44%. Os especialistas consideraram apenas as regiões do mundo onde a agricultura já está estabelecida, por conta das incertezas quanto ao desenvolvimento de novas regiões, como partes da África.
Mas todo esse potencial do Mercosul, concentrado no Brasil, não deve esconder o fato de o País ter altíssimos custos de produção, alerta um dos autores do estudo da Bain, o sócio Fernando Martins. “A história do agro brasileiro é bonita, mas é fácil esquecer que ela tem riscos”, diz ele.
A região de custos mais altos é o cerrado, justamente onde há maior potencial de expansão da produção agrícola. “O cerrado exige correção de solo com calcário, alto nível de fertilização e sofre com a distância dos portos, porque a logística é péssima”, explica Martins. O frete de soja do Mato Grosso até o porto custa US$ 105 por tonelada (2010), contra US$ 35 no Rio Grande do Sul e US$ 18 nos Estados Unidos. Por tudo isso, o custo da tonelada de soja do Mato Grosso em 2010 foi de US$ 336,60, bem acima do Paraná (US$ 260), do meio-oeste americano (US$ 221,20) e do pampa úmido argentino (US$ 167,30), aponta o estudo.
Os autores explicam que os altos custos fazem do Brasil um produtor marginal, aquele que é o primeiro a sair do mercado quando a demanda ou os preços caem. “O Brasil só está no mercado porque o mundo precisa muito da nossa produção”, diz Martins.
O cenário de longo prazo é de crescimento contínuo da demanda, como o próprio relatório da Bain ressalta. A população mundial crescerá 0,7% ao ano de 2010 a 2050, e o consumo per capita somado dos cinco produtos do estudo será de 0,3% ao ano. Ou seja: haverá mais gente, comendo mais. Resultado: a demanda agrícola global crescerá 1,1 bilhão de toneladas nos próximos 40 anos.
Mas os custos altos tornam os produtores brasileiros mais vulneráveis a crises pontuais, que sempre podem ocorrer. “Se houver uma retração mais forte da economia chinesa, por exemplo, os primeiros a deixar de ter viabilidade econômica serão os agricultores do cerrado”, alerta o especialista.
Os analistas da consultoria concluem no estudo que a solução mais eficaz a curto prazo para diminuir os custos e a vulnerabilidade desses agricultores é investir na logística. Afinal, o frete pode representar um terço do valor da soja entregue no porto, por exemplo. “Consertar os custos internos das fazendas depende de pesquisa agrícola e tecnologia e levará 15 a 20 anos. Resolver os custos fora da porteira depende só de capital e dá resultado em cinco anos”, explica Martins.
Nesse sentido, reduzir o custo de transporte significa proteger o País contra possíveis crises externas que afetem o agro. Ou mais: pode ser o diferencial contra outros países que hoje têm custos altos, mas que estão se esforçando para ficar mais competitivos. “Não consideramos esses países no estudo, mas vemos Sudão, Congo e outros fazendo o possível para atrair mais investimentos”, conta.
Já o Brasil anda na contramão, paralisado nos investimentos em infraestrutura e limitando os investimentos estrangeiros em terras, segundo o sócio da Bain. É o que ele chama de “piora do macroambiente regulatório para investimentos”.
Mais terrasOs investimentos em logística tendem a se tornar ainda mais necessários, à medida que o agro se expande para regiões com infraestrutura ainda mais deficitária. Ao contrário do que muitos especialistas preveem, o estudo da Bain projeta que grande parte do crescimento da produção do Mercosul virá da expansão da área plantada, e não do aumento da produtividade. A previsão é que, dos 262 milhões de toneladas anuais a mais que a região deverá estar produzindo em 2050, 200 milhões sejam obtidas com novas áreas e cerca de 60 milhões apenas com melhora da produtividade.
A tecnologia, no entanto, será um fator crucial para ambas as formas de expansão. “Além de elevar a produtividade, a tecnologia deverá viabilizar a produção em áreas hoje pouco produtivas ou mesmo impróprias para a agricultura”, acredita Martins.

Abate de fêmeas sobe 9,5% em 2011


BOI GORDO – Lygia Pimentel

http://www.agroblog.com.br/boi-gordo/abate-de-femeas-sobe-95-em-2011/

Hoje foram divulgados os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes ao abate de bovinos, suínos e frangos no terceiro trimestre de 2011.
Olhando para textos anteriores com nossas projeções e tentativas de acertar esse número antecipadamente – uma vez que o IBGE demora três meses para divulgar os dados – as informações vieram em linha com nossas expectativas. Sem grandes suspresas, portanto, tivemos apenas algumas confirmações.
Vamos aos números básicos!
O abate total caiu 1,6%, enquanto o abate de machos caiu 7,9% e o abate de fêmeas aumentou 9,5%, isso tudo de 2010 para 2011. A partir daí, podemos tecer alguns indicadores mais direcionais.
Para começar, a participação de fêmeas no abate total ficou em 40% em 2011, mas o último trimestre mostrou uma relação de 37%. O motivo é que nos dois primeiros trimestres do ano, há o descarte natural das fêmeas que repetiram o cio durante a estação de monta do ano anterior, o que eleva a proporção de vacas abatidas no período. Mas o interessante é o que observaremos agora:
Tabela 1.
Participação de fêmeas no abate total em diferentes trimestres e estratificação dessa participação em fases do ciclo pecuário.

Para mim, essa tabela é muito valiosa. Além de mostrar qual foi a participação média das fêmeas no abate total levando em conta toda a série histórica disponível, ela considera também o indicador dentro de seu comportamento normal para cada fase do ciclo pecuário, já que a média oscila muito de acordo com a fase.
E então, trouxemos a realidade atual à tona, ou seja, qual foi o comportamento desse importante indicador em 2011, de modo a comparar o que tem acontecido trimestre após trimestre dentro da normalidade para a fase que vivemos do ciclo.
Resolvi fazer a análise assim há alguns meses, pois nunca tinha visto essa comparação antes.
A constatação é óbvia: levando em consideração médias para as fases de alta e de baixa, em 2011 nós trabalhamos com um abate elevado de fêmeas em todos os períodos do ano passado.
Alguns motivos para isso?
1. Margem pior de comercialização: em 2011, o custo de produção subiu e o valor do boi gordo não acompanhou a variação. Isso ainda não fez com que o pecuarista liquidasse seu rebanho, mas já provocou busca por uma engorda mais barata, ou seja, a fêmea.
Gráfico 2.
Variação do boi gordo em R$/@ e custos de produção em 2011.

2. Menor volume de chuvas: o fenômeno La Niña trouxe menor pluviosidade e atrapalhou a engorda do boi no pasto ou até mesmo a sua simples manutenção no segundo semestre de 2011 (e neste primeiro trimestre de 2012 também), além de ter deixado o custo com alimentação mais caro, é claro. O volume de chuvas registrado no segundo semestre de 2011 esteve 20% abaixo do nível médio registrado no mesmo período de 2010, que também pode ser considerado como um período difícil para as pastagens. Para aliviar a pressão, o pessoal mandou os animais – inclusive fêmeas – para o gancho.
Gráfico 3.
Evolução do volume de chuvas registrado em Campo Grande no primeiro e segundo semestres de 2010 e 2011 (mm).

3. Ciclo pecuário: desde o fundo do poço atingido pela pecuária em 2006, o produtor voltou a reter fêmeas e os preços do bezerro variaram acima da inflação até 2010, o que melhorou a margem da cria e estimulou a atividade no período. O resultado disso é que o volume de animais em idade de abate se faz sentir hoje, pois são os bezerros daquelas fêmeas retidas na forma de bois terminados e animais magros de 24~36 meses.
Gráfico 4.
Participação das fêmeas sobre o total abatido no Brasil.

E é mais ou menos por causa dessa situação que observamos um volume maior de vacas abatidas hoje. E é aí, pessoal, que a coisa começa a complicar para o criador, ou seja, talvez começe a ficar mais interessante fazer a recria e a engorda do que necessariamente focar na produção de bezerros.
Não sei se alguém que nos lê ainda tem dúvidas sobre a existência e atuação do ciclo pecuário. De forma mais ou menos intensa, ele ainda atua na finalidade das fêmeas de tempos em tempos. Alguns fatores já nos indicam que estamos diante de uma virada de ciclo, ou pelo menos muito próximos. É difícil reter fêmeas por anos em sequência sem que o produto delas apareça em maior quantidade e leve o mercado a variar abaixo da inflação (ou dos custos de produção). Aliás, eu sinceramente nunca vi isso deixar de acontecer. O mercado é cíclico.
Todo mercado é cíclico. Quando a coisa tá boa, todos querem participar. Quando tá ruim, ninguém quer saber de pecuária.
Voltando ao foco da questão, pensem no sujeito que comprou bezerros há três anos e que está vendendo esses animais terminados agora. Pensaram? Agora observem:
Gráfico 5.
Variação do boi gordo entre o primeiro semestre de 2008 e o segundo semestre de 2011 – valores corrigidos custo de produção.

Sei que tem gente que vende animais mais precoces do que isso, mas convido-o a entrar na brincadeira e acompanhar o exemplo para entender o que quero dizer.
Aqueles que se empolgaram com o mercado no início de 2008 – antes da crise, dois anos após o fundo do poço para a pecuária, vivido em 2006 – e compraram bezerros no período observaram um aumento de 10,8% para o valor real do boi gordo três anos depois, enquanto o bezerro variou menos no mesmo período: 7,2%. Para aqueles que observaram a alta e ainda apostavam que o bezerro iria longe, e intensificaram a produção da categoria sem algum tipo de flexibilidade para recriar um pouco, o negócio foi menos vantajoso. Detalhe: os custos de produção no período variaram 14,5%, variação superior ao aumento dos preços de ambas as categorias.
Considerando que hoje estamos no início da fase de baixa do atual ciclo pecuário, tomemos o período de 2006 a 2009 como exemplo.
Gráfico 6.
Variação do boi gordo entre o primeiro semestre de 2006 e o segundo semestre de 2009 – valores corrigidos custo de produção.

Para quem não se lembra, em 2005 vivenciávamos um abate de fêmeas desenfreado devido aos péssimos preços pagos pela arroba e, para completar, tivemos um surto de febre aftosa bem no final desse período – para mim, consequência da redução dos investimentos na atividade devido ao esmagamento da margem do produtor.
Quem pensou – e conseguiu ter caixa para isso – em comprar bezerros naquele momento para recriar, vendeu seus animais 3 anos depois por um valor real 18,5% mais alto.
Mas para aqueles que acreditaram na dinâmica do mercado pecuário e investiram na cria para os próximos anos, a categoria bezerro valorizou-se 30,3% no mesmo período. Os custos de produção variaram 30% no período, abaixo apenas do preço do bezerro, e não do boi gordo.
Dito isso, parece interessante trabalhar com uma flexibilidade de foco na produção de bezerros e de boi gordo. O que quero dizer é que se terminarmos a fase de alta para entrar em um momento complicado para a valorização do boi gordo, e da reposição, que tal intensificar a recria e a engorda com a finalidade de aproveitar uma relação de troca melhor e vender animais terminados em alguns anos?
E no momento do fundo do poço, em que as pessoas não conseguem enxergar uma saída para a atividade, que tal intensificarmos a cria, cuja falta certamente será sentida quando o ciclo virar?
Enfim, são considerações a se fazer para o planejamento dos próximos anos e fugir do pensamento coletivo na medida do possível.
Estou louca? Espero que não.
Bem, nesta semana estive no segundo encontro do Workshop BeefPoint sobre Gerenciamento e Medição de Resultados na Pecuária de Corte. Novamente fiquei impressionada com o nível da discussão. A equipe está de parabéns!
E por enquanto é isso. Um abraço a todos, até a próxima semana!

Dados do IBGE mostram que leite formal representa 70% da produção nacional



  Comentários :: Publicado em 30/03/2012 na seção noticias :: Versões alternativas: Texto PDF



A participação do leite industrializado vem crescendo em relação à produção total e registrou 70% em 2011, contra 66% em 2005, configurando uma queda do leite informal. Essa é a análise da Associação Leite Brasil, baseada no consolidado da Pesquisa Trimestral do Leite, divulgada ontem (29/03/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O volume de leite industrializado pelos estabelecimentos sob Inspeção Federal em 2011 cresceu 3,9%, passando de 20,873 bilhões em 2010 para 21,692 bilhões de litros no ano passado. "O crescimento é positivo, porém ficou abaixo da média dos últimos cinco anos, quando registrou 5,2%, e muito aquém do pico anotado em 2008, de 8%", considera Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil.

"Um dos fatores que contribuiu para o aumento da produção total de leite é o profissionalismo do produtor que, mesmo convivendo com elevados custos de produção, competição de outras atividades commodities e fatores climáticos adversos, investiu na compra de animais leiteiros", conta Rubez. De acordo com levantamento doBanco Central (BC), houve um crescimento de 11,3% nos financiamentos para vacas leiteiras, passando de R$ 1,483 bilhão em 2010 para R$ 1,651 bilhão em 2011.

Apesar dos aspectos desfavoráveis, a visão do mercado ainda é otimista. "Acreditamos que a produção de leite em 2012 retome o crescimento médio registrado nos últimos anos", considera Rubez.

Histórico

Realizado desde 1997, a Pesquisa Trimestral do Leite coleta informações de todos os estabelecimentos que se dedicam à atividade leiteira e estão sob inspeção federal, estadual ou municipal. Em 2011, Amazonas e Sergipe tiveram o maior crescimento percentual da aquisição, respectivamente 190,6% e 46,4%, embora suas produções sejam pouco representativas em termos nacionais. Roraima, por sua vez teve queda da aquisição de 32,8%.

Para saber mais

Clique aqui para ver a pesquisa completa do IBGE.

Leite Brasil

Associação Brasileira dos Produtores de Leite - Leite Brasil - é uma entidade de classe de representação nacional dos produtores de leite, fundada em 1997, em São Paulo. Tem como objetivo defender institucionalmente os produtores nas esferas pública e privada, nacional e internacional, mediando conflitos e estabelecendo diretrizes que valorizem a atividade e o produto. As três principais bandeiras da organização são a defesa da renda do produtor de leite, a extinção do leite informal e a modernização das normas de produção.

Para mais informações, acesse: www.leitebrasil.org.br