quinta-feira, 31 de março de 2011

Bancos mais competitivos na captação externa

Competição maior e volume recorde
Autor(es): Cristiane Perini Lucchesi | De São Paulo
Valor Econômico - 30/03/2011
 

O Brasil aumentou em 53,5% a captação de recursos externos no ano passado, chegando ao recorde de US$ 62,8 bilhões. No cenário de ampla liquidez externa que foi direcionada para o país, os bancos que lideraram as operações de captação internacional em 2009 - HSBC, Santander e J.P. Morgan - repetiram a performance em 2010 e mantiveram-se à frente no "Ranking Valor de Captações Externas".
Mas a competição aumentou entre os bancos e a diferença entre eles ficou mais apertada. A movimentação no ranking foi maior da quarta posição para baixo. A começar pelo Deutsche Bank, que teve crescimento de mais de 200%, encostou no terceiro colocado e desbancou o Citi, que caiu da quarta para a 12ª posição. O quinto colocado, o BNP Paribas, surpreendeu por ter sido a institui- ção financeira que mais cresceu, em valores, nos empréstimos e títulos liderados.
 
 
 
As eleições presidenciais não atrapalharam em nada e o Brasil captou US$ 62,827 bilhões no mercado externo em 2010, recorde histórico absoluto e aumento de 53,58% na comparação com 2009. No cenário de ampla liquidez externa que foi direcionada para o país, bancos vencedores na crise financeira de 2008 conseguiram destaque e mantiveram-se na frente do "Ranking Valor de Captações Externas", que completa hoje dez anos de existência.
Os três primeiros colocados em 2009 - HSBC, Santander e J.P. Morgan, nessa ordem - mantiveram suas posições em 2010. Mas a competição cresceu, e muito, e a diferença entre um banco e outro ficou mais apertada.
Ao liderar US$ 19,5 bilhões em empréstimos sindicalizados (com a participação de vários bancos) e títulos de dívida no exterior em 2010, o HSBC conseguiu o título de bicampeão: foi o primeiro colocado pela segunda vez consecutiva. Um dos maiores bancos britânicos em valor de mercado, que não precisou recorrer à ajuda do governo de seu país para sobreviver em meio à crise, o HSBC foi líder também em importantes sub-rankings. Foi o primeiro em "Bônus", que exclui os empréstimos, e em "Número de operações", ao liderar 33 transações, mais do que o dobro em relação às 15 realizadas em 2009. Ganhou também o sub-ranking de "Bônus corporativo", que exclui República e empréstimos externos.
O Santander segurou sua segunda posição pelo terceiro ano consecutivo, ao liderar operações de US$ 18,13 bilhões. Conseguiu também a primeira colocação nos sub-rankings de "Bônus corporativo do setor não financeiro" e "Empréstimos do setor não financeiro", que são os bônus e empréstimos para empresas não financeiras. Foi o primeiro ainda em "Empréstimos do setor privado". O J.P. Morgan teve destaque, ao liderar US$ 14,339 bilhões em captações externas, mantendo a terceira colocação.
A movimentação maior no ranking, na verdade, aconteceu da quarta posição para baixo. O Deutsche Bank teve crescimento surpreendente e encostou no terceiro colocado, ao liderar um total de US$ 14,15 bilhões, diferença de menos de US$ 200 milhões em relação ao J.P. Morgan. O crescimento foi de mais de 200% na comparação com os US$ 4,32 bilhões de 2009, quando o Deutsche ficou com a décima colocação. O alemão desbancou o americano Citi, que caiu da quarta para a décima segunda posição.
Além do crescimento surpreendente, o Deutsche liderou os sub-rankings de "Bônus corporativo do setor público", que exclui transações da República e de empresas e bancos privados, "Bônus corporativo do setor financeiro", que exclui o governo federal e empresas não financeiras, e "Bônus em outras moedas que não o dólar", como papéis no exterior denominados em reais, euros, ou até mesmo em francos suíços, o primeiro da história do Brasil, feito pelo Banco Votorantim.
O quinto colocado BNP Paribas também surpreendeu pelo aumento no volume liderado de transações de captação externa de dívida. O francês foi a instituição financeira que mais cresceu em valores dos empréstimos e títulos liderados, que passaram de US$ 3,851 bilhões em 2009 para US$ 13,892 bilhões em 2010, um aumento de mais de US$ 10 bilhões. Além disso, o BNP saiu na frente no importante sub-ranking de "Empréstimos", que exclui os bônus, ao conseguir o mandato sozinho para distribuir transações de grande porte como da Embraer, de US$ 1 bilhão, e do Banco Votorantim, de US$ 350 milhões. Mas foi o empréstimo de € 4,324 bilhões para a República para construção de submarinos, com a garantia da Coface, fechado em 2009, com desembolso no início de 2010, que puxou o banco mais para cima no ranking, passando da décima primeira posição para a quinta. O "Ranking Valor de Captações Externas" inclui um empréstimo nos seus dados na data de seu primeiro desembolso.
O grupo Itaú, o sexto colocado no ranking de 2010, merece especial atenção. O banco voltou à primeira colocação como líder no sub-ranking de "Captações por líder nacional" e conseguiu a sexta colocação no ranking geral. Liderou US$ 13,765 bilhões, um aumento de quase 200% na comparação com os US$ 4,62 bilhões de 2009. O mais inusitado, no entanto, foi a importância que o Itaú conquistou no mercado de títulos de dívida: esteve à frente de um volume de emissão de eurobônus que nenhuma instituição nacional jamais conseguiu, ficando à frente de um total de US$ 10,987 bilhões, aumento de quase 150% na comparação com os US$ 4,5 bilhões de 2009.
Com a crise de 2008, os bancos nacionais passaram a assumir posições mais relevantes no mercado de captações externas. Seus custos de captação mais baixos do que muitos bancos estrangeiros tornaram os brasileiros competitivos em linhas em dólar. Mas, participação tão relevante no mercado de eurobônus, que exige real capacidade de distribuição junto ao investidor fora do país, é bem mais raro.
O americano Bank of America Merrill Lynch também teve aumento expressivo no total liderado, passando de US$ 5,95 bilhões para US$ 13,085 bilhões, alta de 120%, o que lhe garantiu a manutenção na sétima posição, apesar do aumento da competição. O britânico Standard Chartered, décimo sexto colocado no ranking geral, obteve a primeira posição no sub-ranking "Empréstimos do setor público", que exclui República e empresas e bancos privados. O espanhol BBVA, por sua vez, foi o banco que mais galgou degraus, passando da trigésima segunda posição para a décima sétima, subindo quinze colocações. O BTG Pactual também subiu bastante no ranking geral, passando da trigésima para a décima oitava posição.
Entre os tomadores de dívida, os destaques foram o Grupo Votorantim - considerando-se também o banco -, que foi o líder em captações durante 2010. O segundo lugar ficou para as Organizações Odebrecht, incluída a Braskem. Se forem excluídas as empresas financeiras, o grupo Odebrecht foi o que mais realizou captações no mercado internacional em 2010, com transações emblemáticas, como o primeiro "project bond" puro lançado por uma empresa brasileira, no qual o fluxo de pagamento dos bônus vem apenas do próprio projeto. Os maiores emissores/tomadores de dívida - incluída a terceira colocada, a Fibria, que levantou mais de US$ 3 bilhões - realizaram, principalmente, gerenciamento de passivos: buscaram o mercado externo para melhorar o perfil de sua dívida e diversificar fontes de financiamento.
Os bancos captaram volumes recordes no exterior, na procura de recursos de longo prazo para ampliar o crédito no mercado interno, que cresceu 20%. Entre as empresas financeiras, o Itaú foi o banco que mais captou no mercado internacional.
Os investidores externos quiseram pegar carona no crescimento do Brasil, de 7,5% em 2010, bem superior ao dos países ricos, e compraram até mesmo papéis perpétuos, sem vencimento final.

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