quinta-feira, 31 de março de 2011

Inflação: as razões do Banco Central

Cristiano Romero
Valor Econômico - 30/03/2011
Analistas importantes do mercado financeiro acham que o Banco Central (BC) está tomando riscos demais na sua estratégia gradualista de combate à inflação. A política pode dar certo e, em meados do ano que vem, o IPCA, que está girando em torno de 6% em 12 meses, volta à meta de 4,5%. O risco de as coisas não ocorrerem como o previsto, prenunciam esses analistas, é grande. O BC acha que não. Julga, inclusive, que está sendo conservador quanto ao impacto das medidas macroprudenciais sobre o crédito, a atividade econômica e, portanto, sobre a inflação.
O BC, como já deixou claro em mais de uma oportunidade seu presidente, Alexandre Tombini, acredita que parte da alta da inflação neste momento decorre de uma pressão de demanda. Por isso, considera que, ao adotar medidas para encarecer o crédito, ataca um dos suportes do crescimento da demanda.
Nas suas projeções de inflação, o BC tem levado em conta os efeitos dos aumentos de recolhimento compulsório feitos em dezembro e janeiro. Estimou que essas medidas têm impacto equivalente ao da elevação da taxa básica de juros (Selic) em 0,75% ao ano. O banco não tem considerado, no entanto, os resultados de outras medidas macroprudenciais.
    Peso das expectativas diminui nas projeções
É certo que o aumento da exigência de capital, dos bancos, nas operações com empréstimo consignado e financiamento de veículos em prazos mais longos terá efeito sobre o custo do crédito. Outras iniciativas adotadas, como a exigência de pagamento mínimo de 15% das faturas de cartão de crédito e as elevações do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos externos e compras com cartão no exterior, também deverão ajudar nessa direção.
Algumas instituições financeiras, principalmente os bancos de varejo, vêm informando ao BC que sentiram rapidamente os efeitos dessas medidas sobre suas operações de crédito. Enquanto em 2010, o volume de crédito da economia cresceu 20,6%, este ano, segundo estimativa do governo, deve avançar 13%. No Relatório de Inflação que será divulgado hoje pelo BC, há uma avaliação das ações tomadas até agora sobre o crédito.
Um outro ponto crítico para o BC diz respeito às expectativas de inflação. Estas não param de se deteriorar. O último Boletim Focus mostrou que o mercado já espera IPCA de 6% este ano e de 4,91% em 2012. Quando a autoridade monetária não consegue gerenciar as expectativas, elas se convertem em inflação no futuro.
As projeções de inflação são uma variável-chave no processo decisório do Comitê de Política Monetária (Copom). Assim como outros indicadores, as expectativas quanto ao comportamento do IPCA - captadas junto ao mercado pelo Boletim Focus - influenciam essas projeções. A novidade é que o BC diminuiu o peso das expectativas nas suas projeções.
A justificativa é que as expectativas estão muito influenciadas pela inflação corrente (ou passada). O BC não divulga os pesos que dá a cada indicador nas projeções que faz. Alega, apenas, que os pesos mudam de tempos em tempos, mas não em razão de interesses escusos e, sim, em função de procedimentos econométricos normais.
A taxa de câmbio, por exemplo, tem hoje um peso menor nas projeções do que tinha no passado, quando só variava para cima. A produção industrial também não está sendo usada como o melhor indicador de atividade, afinal, não cresce desde abril, o que não impediu a economia brasileira de se expandir 7,5% em 2010. O BC sustenta que continua dando o mesmo tratamento às expectativas, mas o desafio, argumenta-se, é como estimá-las.
Ademais, o BC julga que as expectativas têm piorado a partir de uma visão equivocada do que o governo está fazendo para enfrentar a inflação. A divergência entre BC e mercado começou no segundo semestre do ano passado, quando, às vésperas da eleição, o Copom decidiu mudar o rumo da política monetária. Em setembro, o mercado esperava, em sua maioria, que o Comitê elevasse a taxa Selic em 50 pontos básicos, o que não ocorreu.
A análise do BC é que o Brasil sofreu as consequências de um choque brutal de preços de commodities ocorrido lá fora. A estimativa é que, de cada 15% de aumento nos preços desses produtos, há impacto de 1 ponto percentual na inflação brasileira. O rebate no IPCA ocorreria, portanto, avalia o governo, independentemente do aumento dos juros.
As commodities subiram fortemente no último trimestre do ano passado e seguiram aumentando em janeiro e fevereiro deste ano, mas nas últimas semanas já estariam estabilizando. O BC avalia que o fato de a alta dos preços ter ocorrido principalmente no caso dos alimentos aumentou a sensação de descontrole inflacionário, elevando o pessimismo dos analistas.
Por fim, o BC acha que uma parte dos agentes econômicos se posicionou, no fim do ano passado, de forma muito cética quanto ao interesse e à capacidade do governo recém-eleito de combater a inflação. Essas vozes estariam fazendo um barulho que só amplia a desconfiança num momento em que a inflação está, de fato, elevada - o governo acredita que essa situação perdurará até agosto, quando o IPCA de 12 meses deverá superar os 6,5%, o teto do regime de metas.
O BC aposta que está no caminho certo. O mundo está hoje num momento muito mais complexo do que estava em 2006, antes da crise financeira internacional. A liquidez nos mercados financeiros mundiais é gigantesca; existem problemas fiscais sérios em economias avançadas; o Oriente Médio e o Norte da África vivem momento de ebulição política, com impactos no preço do petróleo, enfim, o risco de perturbação em várias frentes aumentou de forma considerável.
O mercado duvida das intenções do governo brasileiro na área fiscal, o que na prática significa prever que o setor público não fará a sua parte para conter a demanda agregada e, assim, auxiliar o Copom no combate à inflação. Já o BC projetava, desde o Relatório de Inflação de setembro de 2009, que haveria uma "consolidação fiscal" em 2011.


LCA vê eficácia na estratégia do BC de combate à inflação

Sergio Lamucci | Valor
30/03/2011 16:51

SÃO PAULO - O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, não compartilha do ceticismo de boa parte do mercado em relação à estratégia adotada pelo Banco Central (BC) de combate à inflação. Para ele, as medidas macroprudenciais adotadas pelo BC, que restringiram o crédito, já mostraram “efeitos nítidos” sobre empréstimos e financiamentos, equivalendo a um aumento de 1,8 ponto 

Nenhum comentário:

Postar um comentário