quinta-feira, 17 de junho de 2010

AO SÉCULO XIX

Anotação marginal
São Paulo, 17 de junho de 2010

quem dentre nós não sentiu vontade, sequer pensou um pouquinho; são linhas edsc desconexas para chegar ao que realmente interessa. A diacronica das classes fundamentais, a partir do que concluímos que são para o Brasil aquelas que mobilizam forças e espaços antissistêmicos, isto é, de maneira proposital ou inconsciente, no plano da teoria. Este momento é muito importante para uma avaliação que transcende o nosso tempo presente: o futuro passa pela rememoração de um pretérito, com o olhar daquele futuro. Do Arcadismo ao Romantismo transcorre o enraizamento de grupos patriarcais nos núcleos coloniais barrocos, coisa nunca antes sentida. A batalha que desferirão contra o grupo centralizador, contra o qual se mostrará em vão lutar pela tomada do centro de decisões, cogitará da tentativa de independência e apartação. Finalmente, o colonizador perderá a própria base, sustentação da burguesia lusitana no recém-criado Brasil - sem que jamais se ousasse nacionalizar o mercado retalhista e as companhias de comércio internacional. As famílias patriarcais, súditas de seu Rei, associaram em grupos oligárquicos, localizados, ousando expulsá-lo de lá! E foi a tanto que as coisas chegaram com D. Pedro I em 1834. Neste momento, com as figuras educadas no mesmo ambiente europeu, de déspotas esclarecidos, incumbiram-se de montar as primeiras peças da dominação nacional, com a disponibilidade dos recursos pré-existentes. A realidade pregou-lhes várias peças, como com os irmãos Andrada e Frei Caneca, porque, insistente, a força dos grupos oligárquicos do nordeste impuseram sua demanda. Tudo se passará como se os elementos conservadores do centro-sul tenham escolhido tal caminho, de repartição do capital com a renda-da-terra, via alfândega e impostos, sem sobressaltos. Os sucessivos golpes de estado ao longo da história da República são manifestações claras, talvez as mais exemplares, da estruturação pela qual se debateram as frações articuladas na consolidação da divisão social da Dominação: sem sobressaltos. Um pacto entre eles será desenhado, com a burocracia encarnada pela vanguarda fluminense e paulista. Neste pacto de classe entrará, inclusive, os provincianos do sul, lá mantidos pelas questões de fronteira e entrada que o Plata despertou. Sucessivos círculos de aliança correlacionando os elos patriarcais a partir do centralizamento da produção agro-exportadora do café, onde ficarão administração e o porto de uma só vez, como dantes. O monopólio da comunicação fora fundamental, ponto decisivo em relação ao oceâno. Neste ponto, o peso ambíguo da Inglaterra, que tivera nas mãos a fragmentação da banca atlântica do Novo Mundo. Foi moeda-de-troca para os membros do partido Brasileiro, que revigoraram antigos tratados sob o espírito dos novos tempos. O Brasil finalmente era: tinha um estado nacional, uma máquina produtiva e relações diplomáticas. Logo, uma literatura. Não obstante, grupos dissidentes continuaram sua luta, patriarcais, profissionais liberais, clérigos. Uns por puro interesse, outros por liberdade e igualdade. Os grupos patriarcais mobilizaram sua base social para engrossar as fileiras das liberdade de comércio; os escravos e os homens-livres pobres, rurais e urbanos, aderiram sob a antevisão da igualdade, arrebentando correntes. Acontece que, a determinada altura, ninguém mais conseguia conter a rebelião. Aquela guerra civil horizontal, interna à classe dominante, verticalizou-se; senhores foram mortos, governos provisórios foram constituídos. A luta formou, neste caso, de cima para baixo? Creio que não. O cerco tático foi aberto para que se conseguisse, privatistamente, a liberdade de comércio com os centros financeiros radicados no Velho Mundo. Uma vez baixada a guarda, um grito classista ecoou, estruturado pelas condições em que se encontrava o complexoeconômicossocial, digo, a formação social, desde antes, e por diversos motivos além da queda longa e sensível nos preços do açúcar, fator de coerção. A fome crônica do viver em colônias dentro e fora do territorio obediente ao clã agro-exportador ilumina o caso e suas variantes, sua cadavérica internalização capitalista. A compulsão dos números de entrada do trato de viventes, primeira engrenagem do Antigo Sistema Colonial, molas que não podiam parar, foram defendidas de todos os ataques, servindo para delimitar o campo brasileiro referido acima. A luta formou de baixo para cima, mediante sobressaltos. A classe patriarcal, contudo, não detém por decreto todos os conhecimentos da lida de sua duração. A burocracia brasileira será ainda, por muito tempo, tingida de portugueses. A moda mudava mas os laços sangüíneos como que se mantinham por fundamento, fato facilitado porque são ambos exímeos imitadores de fachada. Quando a fração mais modernizante ensaia dar um passo à frente na polorização do sistema agro-exportador, como em 1930, em 1964, 1989 é interrompida por um golpe e reestabelecimento dos elementos e fatores da conservação. A lição número um apreendida pela classe proprietária brasileira é a de que não se deve incitar as massas - em especial nos assuntos em que ela esteja absolutamente implicada. Quando resolvem o primeiro problema, com a imigração subvencionada pelo Estado - o nosso demiurgo do progresso - no momento mesmo em que não podiam mais tardar as vontades do Liberalismo impostas ao mundo, reforçada pela exploração da fronteira do norte com o monocultivo da borracha, em vez de drogas do sertão...; e conseguem relativamente, se metem à besta de domarem sozinhas as rédeas nos primeiros anos da República, filha dileta dessa vontade, e deram com os burros n´água. Como observa Celso Furtado, estavam impregnados da teoria monetarista. Vista retrospectivamente, a história econômica da República resolveu-se "por forças das circunstâncias", ninguém esperava obter aqueles efeitos quando queimavam sacos de café, entre tristeza e desespero. Os preços voltaram a subir, eliminando estoques. Justamente o contrário do que era conteporâneo fazer, numa era de guerras. O Estado passou a gerir essa perda, socializando-a. A Guerra nos alcançava de longe, nós é que fomos atrás dela, com os nossos acordos internacionais, com as necessidades de defender a moeda brasileira para manter o acordo Imperialista. Mas eu insisto: nos primeiros anos da República, os erros dos paulistas e dos fluminenses foram tão risíveis que o Militarismo ter transferido-se para o lugar de grande Fetiche (desempenhado outrora pela Monarquia - pela astúcia do Conselho de Estado ) veio salvar a pátria. Não estou falando própria ou exclusivamente do Exército, senão de uma realidade cheirando a pólvora, produto da importação irracional do setor dos engenhos de guerra dos países industrializados, fronteira da acumulação e manifestação da luta interna à classe dominante internacional. Para levar adiante o seu plano, que os militares estavam ainda pior que eles, fundaram as primeiras Universidades brasileiras. xb.

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