sábado, 26 de junho de 2010

Lodo de esgoto substitui adubo mineral na cana-de-açúcar

Por Da Redação - agenusp@usp.br
Da Assessoria de imprensa do Cena – email contato@engenhodanoticia.com.br
A utilização de lodo de esgoto na adubação de cana-de-açúcar pode substituir em 100% o uso do adubo mineral nitrogenado necessário para a cultura da planta. Além dos benefícios ambientais e ecológicos, a técnica pode aumentar a produtividade e diminuir custos. Essas são as conclusões da pesquisa coordenada pelo professor Cassio Hamilton Abreu Junior, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba.

Adubação de cana com lodo, em fazenda em Rio das Pedras, interior de SP
Pela vantagem de eliminar ou minimizar o uso de adubos minerais, a utilização do lodo de esgoto no solo brasileiro para fins agrícolas é estudada há quase 30 anos. “Apesar desse tempo todo de estudo, o assunto é relativamente recente no Brasil quando comparado com EUA, Europa e Ásia, onde a prática é mais antiga”, informa Abreu Junior. Porém, a preocupação do pesquisador do Cena em estudar o assunto ultrapassou o processo de produção agrícola: abordou a contaminação do solo, dos lençóis freáticos e dos próprios alimentos.
Segundo o professor, a atividade humana nas cidades gera dois importantes resíduos: lixo urbano e lodo de esgoto (oriundo do tratamento dos esgotos domésticos). “Lembrando que os solos brasileiros são pobres em matéria orgânica, a utilização de composto do lixo para fins agrícolas vem sendo difundida por estudos acadêmicos porque, além de rica fonte de matéria orgânica, elimina ou minimiza o uso de adubos minerais”, destaca. “No caso do uso agrícola do lodo de esgoto doméstico, sua aplicação é controlada por autorização da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). “Apesar de o lodo possuir matéria orgânica e nutrientes importantes para o crescimento das plantas como nitrogênio e fósforo, também pode conter patógenos, metais pesados e compostos orgânicos”, explica.
Outra importante vantagem ambiental é o prolongamento da vida útil dos aterros sanitários, destino dos resíduos domésticos. “Se o lixo e o lodo possuem matéria orgânica e nutrientes benéficos para o solo, além de atenderem as normas para uso agrícola, por que jogar no aterro algo que é nobre?”, questiona Abreu Junior ao se referir sobre os altos custos de implantação de aterros controlados. “Isso sem contar o impacto ambiental causado por estes locais, que são males necessários. Ninguém quer um aterro perto de casa”, completa.
Os estudos do Cena são conduzidos em plantações de eucalipto em parceria com a empresa Suzano Papel e Celulose. Na cultura de cana-de-açúcar, os testes são em áreas cultivadas do Grupo Cosan. Dados já confirmados nessas culturas dão como certa a capacidade de o lodo substituir o adubo mineral que contém nitrogênio e fósforo.
Os experimentos com cana estão mais adiantados em comparação ao ciclo do eucalipto, que dura sete anos. “Na cana, há o aumento de 12% da produtividade nos locais que receberam o lodo aplicado como substituto do nitrogênio e complementado com adubo contendo potássio (o lodo é pobre nesse nutriente), conforme a norma do Conselho Nacional do Meio Ambiente [Conama], órgão do Ministério do Meio Ambiente”, esclarece o professor. “Com relação à cana, podemos afirmar que 100% do adubo mineral nitrogenado que deveria ser aplicado pode ser substituído pelo lodo de esgoto”, afirma o pesquisador, ressaltando que as doses de fósforo são supridas em até 30%.”
Eucalipto
As pesquisas também indicam outros números promissores quando verificados os efeitos da adubação com a utilização de lodo de esgoto no plantio das árvores. Em eucalipto, esse tipo de adubação substitui totalmente o uso de nitrogênio e supre 66% do fósforo necessário. O pesquisador alerta que os resultados devem ser interpretados com cautela. “Apesar do volume crescente de estações de tratamento de esgoto, que significa farta abundância deste produto, o lodo deve ser aplicado seguindo os critérios exigidos pela norma do Conama”.
Outro subproduto gerado pelas estações de tratamento de esgoto e que pode ser muito utilizado na agricultura é a água residuária, rica fonte de fertirrigação por conter nutrientes. “O lodo e a água provenientes de estações de tratamento, quando gerados de forma correta, têm uso agrícola interessante. Basta tratá-los de forma adequada. O mais importante é que o esgoto seja urbano e não industrial”, alerta Abreu Junior.
Mais uma vantagem ambiental destas pesquisas são as alternativas para a substituição do fósforo na adubação, material que está se tornando escasso. “Como as reservas naturais de fósforo tendem a acabar, o estudo visa buscar alternativas ambientais e ecológicas para retornar o nutriente em solos pobres”, conclui. A pesquisa teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
imagem: Engenho da Notícia



Lodo de esgoto aumenta produção de madeira de eucaliptos
O lodo de esgoto, em uma dose de 7,7 toneladas por hectare, aumenta 8% o volume de madeira com casca em sistemas florestal de eucalipto em relação ao uso somente de adubos minerais.
Lodo de esgoto, em 7,7 toneladas por hectare, supre 100% do nitrogênio necessário
O lodo, em 7,7 toneladas por hectare, supre totalmente o nitrogênio necessário
Esse foi um dos principais resultados que a engenheira agrônoma Lúcia Pittol Firme constatou em sua tese de doutorado, que faz parte de um experimento realizado pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da Escola Superior Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.
No tratamento com adubo mineral de modo convencional, com aplicação de 84 quilos (kg) por hectare de fósforo e 142 kg por hectare de nitrogênio, o volume de madeira foi de 150 metros cúbicos (m³) por hectare. Já com aplicação de 7,7 toneladas por hectare de lodo e 28 kg por hectare de fósforo, sem adição de nitrogênio, foi estimado volume de madeira de 162 m³ por hectare. Além de aumentar a produtividade, a aplicação de lodo nessa dose permite reduzir o uso de adubos de nitrogênio e fosfato em, respectivamente, 100% e 66%.
Além disso, se observou que, conforme se aumentava a dose de lodo, também crescia a quantidade de minerais, como ferro, cobre, zinco e magnésio. A quantidade desses elementos aumentava tanto no solo como na biomassa total da planta, que é composta por lenha, folha, casco e galho.
Apesar disso, Lúcia afirma que o lodo não possui todos os minerais necessários para a adubação. Por exemplo, no experimento, devido ao baixo teor de potássio no lodo, foi aplicado 175 kg por hectare desse mineral. Em compensação, a pesquisadora diz que o lodo não causou a contaminação do sistema solo-planta.
Experimento
Com parceria da Suzano Papel e Celulose, empresa de base florestal, o experimento foi conduzido em área comercial da empresa, em Itatinga (SP). Para verificar os efeitos do lodo de esgoto, Lúcia preparou quatro doses diferentes para lodo, quatro para nitrogênio e quatro para fósforo. “Primeiro aplicamos o lodo sozinho. Depois, para cada tratamento foi aplicada uma quantidade de fosfato e nitrogênio”, explica Lúcia.

Da combinação das doses de cada um desses componentes do experimento, se obteve 64 tratamentos. Acrescentando que houve uma repetição das combinações para verificação dos dados, houve um total de 128 tratamentos.
Feitas as aplicações das doses, após 43 meses do plantio, Lúcia coletou os dados. No final, se chegou à quantidade de 7,7 toneladas por hectare como dose ideal do lodo. Segundo Lúcia, foi estabelecida essa quantidade não somente pela produtividade, mas também porque é a dose que contém a quantidade limite de nitrogênio (de 142 kg por hectare), de acordo com o critério estabelecido pela resolução 375 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) do Ministério do Meio Ambiente.
O trabalho de Lúcia faz parte de um dos dois projetos de pesquisa coordenados pelo professor do CENA Cássio Hamilton Abreu Junior, que envolvem o estudo da aplicação de lodo no sistema florestal de eucaliptos. Além da tese de Lúcia, uma dissertação de mestrado e outra tese de doutorado do CENA foram frutos dos projetos. O experimento de campo, que começou em 2004, ainda está em andamento e deverá ser encerrado no fim de 2011. O professor diz que o experimento exige esse tempo por causa do ciclo dos eucaliptos, que dura sete anos.
Vantagens e desvantagens
Lúcia lista alguns benefícios da aplicação de lodo de esgoto. Ela destaca o aumento na produtividade e diminuição dos custos, visto que a utilização do lodo não é cara e, com ele, se usa menos adubos minerais, que têm um preço elevado.

Porém, Abreu Junior ressalva que, dependendo da origem do lodo, ele pode conter metais pesados, resíduos orgânicos tóxicos e outros componentes danosos à produção agrícola e à saúde humana. No caso do experimento, foi utilizado lodo de esgoto da Estação de Tratamento de Jundiaí (SP). O professor acredita que a utilização do lodo como adubo depende do município de origem e, principalmente, do tratamento que teve: “Com adequado tratamento, (o lodo) poderá ter um aproveitamento na agricultura”.

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