segunda-feira, 28 de junho de 2010

AS ENCHENTES





SOBRE A SITUAÇAO DE PERNAMBUCO
Estimados companheiros/
de nosso movimento
Na verdade a Situação é desastrosa. Muitas Cidades foram completamente
destruídas
Todos os assentamentos nesta região do Agreste
meridional e mata Sul ( região de dois Grandes rios que nascem no
Agreste, Rio Una e rio Ipojuca) foram atingidos, mas as  perdas foram
mais em termos de Produção, estradas e casas.
O assentamento mais atingido foi o assentamento Serra dos Quilombos em Bonito, Praticamente todas
as casas foram cobertas pelas águas.




Nos assentamentos agora é deixar as águas baixarem e ver a
possibilidade do INCRA e governo do estado recuperar os prejuizos  em
infra- estruturas.
A nossa preocupação está em  como ajudar a
recuperar as cidades e as vilas, aonde o povo foi mais atingido, e perdeu tudo.
Os dirigentes da região estão mobilizados , colocamos os Tratores e alguns poucos caminhões para
apoiar as famílias nos Bairros e pequenas cidades.
Agora, estou coordenado duas turmas do Pé no Chão no Centro de formação e estamos aguardando a
possibilidade de deslocar brigadas para a região. mas o problema é por
onde começar esta tudo virado de perna pro ar.
As doações  e todo o processo de triagem esta sendo feito pela policia militar e corpo de
bombeiros. As famílias queperderam tudo já estão alojadas em espaços
públicos, aguardando para reconstruir as vidas
Temos uma reunião da direcção estadual neste sábado e domingo, vamos
avaliar a situação e ver o que podemos fazer a mais.
Mas acho que se houver possibilidade de contribuição, vamos aproveitar
para organizarmos um fundo nacional para este tipo de emergência.

volto a comunicar segunda feira depois da nossa reunião
Abraços
Jaime






SOBRE A SITUAÇAO DO ESTADO DE ALAGOAS
Prezados companheiros e companheiras,
Como sabes muitos municípios de Alagoas foram vítmas de enchentes.

Vitimas das enchentes por assim falar, na verdade vítimas deste modelo de sociedade, degradadora e genocída de muitos por poucos.

E mais uma vez as vitimas são os pobres, sim pois são os que vivem às margens, nas áreas de risco, nas encostas, ou mesmo no centro destas cidades, que são tão carentes de infra-estruturas e cuidados quanto as periferias de grandes cidades.

Por mais que falemos ou vejamos nos noticiários, não dá para dimensionar todos os estragos e  dificuldades 

Recebemos noticias e histórias, nas quais identificamos 

Há cidades como Branquinha e Santana do Mundáu, onde todos os prédios públicos que deveriam servir de apoio estão no chão. Em Branquinha o que ainda está de pé é a igreja, onde estão amontoando as pessoas. E frente a tal situação o risco de uma epidemia é eminente.

As regiões afetadas são regiões onde temos muita gente, acampadas e assentadas: União dos Palmares, Branquinha, Santana do Mundaú, Murici, Matriz, São Luiz. 

Ainda não é possível dimensionar tudo, são poucas as informações ainda, pois nem em todos os lugares conseguimos chegar, as pontes foram levadas, há riscos de desabamentos. Telefones não funcionam, falta energia. Muitas pessoas nossas e das cidades, conseguiram sair antes e ir para municípios vizinhos pra casa de parentes.

Em Santana do Mundaú nossos acampamentos foram levados, não existem mais. As pessoas estão dispersas, foram para casa de parentes distantes, outros alojados onde é possível.  Nos assentamentos os danos foram menores, do ponto de vistas das moradias, as perdas são das lavouras, os bichos e os acessos. Se na nossa realidade o acesso já é bem limitado no período das chuvas, com pontes de pau, de troncos de coqueiro, improvisadas, depois disto tudo, já não mais existem.  A água levou.

Frente a tudo existe toda uma movimentação para ir ajeitando, socorrendo, remediando. Mas muito insuficiente, pois a alimentação é pouca, na maioria dos casos para quem esta nos abrigos, mas quem ainda ficou coma casa em pé, também não tem o que comer. Para terem uma idéia parte da alimentação que é distribuída com as famílias acampadas, que estava na Conab, foi suspensa, para destinar aos municípios. Mesmo entendendo a situação, e somos solidários, pois estamos no meio disto tudo, é como dizemos por aqui, é:  descobrir um santo para cobrir outro.Mas isso é o de menos, estamos dialogando para resolver.

Neste momento há todo um processo de SOLIDARIEDADE. Essa talvez seja um dos mais fortes traços do povo alagoano, mesmo com toda a miséria e perversidade a que historicamente fomos submetidos.

A preocupação é com o depois. Sim depois que deixar de ser noticias nacionais, e as águas estiverem mais calmas. Em especial falando de ações dos governos para reconstruir o que foi ao chão.

O governo federal chegou a anunciar que liberaria o FGTS para estes municipios, onde as pessoas pudessem reconstruir suas casas (e quem sabe continuar a vida), isso não resolve  1% da situação. Essa é uma região pobre, onde carteira assinada, emprego certo... ISSO ESTÁ EM EXTINÇÃO!

Por fim precisamos ter claro que as enchentes não são desastres naturais, ou obra de Deus que muito deixou chover e os pobres sofrerem.  As enchentes são os resultados de uma região canavieira, onde a Mata Atlântica ao longo dos anos foi sendo substituída pela monocultura da cana-de-açúcar. As arvores derrubadas poderiam neste momento serem nossas aliadas, ajudando a segurar as águas.

O êxodo rural  outra marca forte, onde milhares de famílias foram expulsas das usinas e fazendas, e aos poucos foram sendo amontoadas nestas cidades, e ainda são tachadas como culpadas nestes momentos, pois como é que pode, as pessoas vão morar em lugares que não devem. Quem já viu morar na beira de rios...

Frente as conseqüências das enchentes e toda a solidariedade presente, esperemos que no horizonte visualizemos não mais ações emergenciais ou de remediar, mas ações preventivas e estruturantes que possibilite ao nosso povo retomar a vida, com as perdas e lembranças de um momento que não queremos mais viver.

NÃO TENHO DUVIDA QUE A REFORMA AGRÁRIA, POSSIVELMENTE COMO NUNCA,  TEM UM PAPEL FUNDAMENTAL, E O MST TERÁ UMA TREFA GRANDE PELA FRENTE.  
Abraços
Debora,
Maceio, 23 de junho de 20100maceio,



Áreas das enchentes são marcadas pelo monocultivo da cana

12 de julho de 2010

Por Plácido Junior e Renata Albuquerque*
Da Comissão Pastoral da Terra

Nas vésperas da festa de São João, festa da colheita do milho no Nordeste brasileiro, assistimos com muita tristeza as enchentes na Zona da Mata Sul de Pernambuco e Zona da Mata Norte de Alagoas. Foram vidas ceifadas, casas destruídas, escolas e hospitais sem condições de funcionarem, pontes levadas pela força das águas, um verdadeiro cenário de guerra.
As últimas estimativas falam em 57 mortes, sendo 39 em Alagoas e 20 em Pernambuco. No estado alagoano, passa de 26 mil o número de desabrigados e de 47 mil o de pessoas desalojadas. Já em
Pernambuco, são mais 26 mil desabrigados e mais de 55 mil desalojados. Mas, como todo cenário de guerra tem sempre inimigo e culpados, escolheram desta vez a Natureza como responsável.
Não podemos negar que existem fatores climáticos por trás da tragédia ocorrida. Durante quatro dias choveu mais de 400 mm³ nas regiões afetadas. Precipitação essa, provocada, segundo os especialistas, pelo aquecimento do Atlântico.
No entanto, é preciso ter um olhar mais profundo do ocorrido. As regiões atingidas pelas enchentes são marcadas pala concentração da terra, pelo monocultivo exportador da cana-de-açúcar, pelo trabalho precarizado e análogo ao trabalho escravo e pela degradação ambiental. Municípios da Zona da Mata Pernambucana, por exemplo, possuem índices GINI de concentração de terras que chegam a atingir 0,9 (pelo índice de GINI, quanto mais próximo do número 1, maior é a concentração de terras).
O modelo de des-envolvimento, historicamente e geograficamente implementado no Brasil e, em especial no Nordeste, tem sacrificado o meio ambiente e empurrado populações empobrecidas para lugares menos propícios para a ocupação humana.
Na Zona da Mata de Pernambuco, nos últimos 30 anos, mais de 150 mil trabalhadores perderam seus trabalhos no setor canavieiro e estima-se que mais de 40 mil sítios foram destruídos durante os primeiros anos do Pró-álcool (1975) - um dos maiores períodos de expansão da cana no Estado e no Brasil. As matas foram "dando" espaço à cana e as populações, sem trabalho, privadas das terras e sem alternativa econômica foram sendo empurradas para as periferias das cidades, para as chamadas áreas de risco e "pontas de ruas", como é chamado por eles.
As cidades da Região canavieira, como é chamada por muitos, se transformaram em um verdadeiro confinamento de populações empobrecidas e privadas dos seus direitos. Pernambuco aparece com o quinto pior IDH do País, e é justamente na região da Zona da Mata que se concentra um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano do Estado e um dos piores índices de saneamento e água em rede domiciliar.
As populações das cidades desta Região vivem com saneamento básico precário, sem abastecimento de água potável regular, sem assistência médica que atenda as necessidades das pessoas, ou seja, sem uma minima infraestrutura social eficaz.
Foi justamente nessa região que os usineiros cometeram um dos piores crimes ambientais da humanidade. Da mata Atlântica original, resta apenas menos de 3%. Em 2008, depois de muitas denúncias de movimentos sociais no estado, o IBAMA, autuou as 24 usinas pernambucanas por
crime ambiental: por elas não terem os 20% de reserva legal e as matas ciliares estarem quase que dizimadas em todas usinas fiscalizadas pelo Instituto.
Não há matas nos topos de morros e nas encostas para facilitar a infiltração das águas no solo e diminuir o escoamento superficial das águas de chuvas. Não existe mais matas ciliares, que servem, entre outras coisas para proteger os rios e servir de "barreiras" para a contenção dos grandes volumes de águas. A Mãe terra não merece e não deve ser culpada pelas consequencias desta catástrofe, que é muito mais de responsabilidade do modelo de des-envolvimento, do que de uma ação incontrolável da natureza.
Vale apena lembrar Josué de Castro, no livro "Geografia da Fome", que denuncia a Região da Zona da Mata de Pernambuco, como uma Região de maior pobreza e fome no Estado. O "cidadão do mundo" denunciava também a concentração de terra e o sistema do monocultivo da cana como um dos elementos principais da fome e da pobreza na Região. A combinação de fatores climáticos com as ilhas de pobrezas no "mar" de cana, que é a Zona da Mata em Pernambuco, tornou vulnerável as cidades da Região às catástrofes ditas "naturais". A Mãe terra é quem nos culpa.
*Plácido Junior é geógrafo e agente da CPT NE2 e Renata Albuquerque é jornalista e do setor de comunicação da CPT NE2

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