Sondagem da CNI mostra que pressão aumentou e 67% das indústrias brasileiras que enfrentam rivais da China perderam mercado no exterior
Com o real valorizado pressionando os preços dos produtos fabricados no Brasil, a concorrência com mercadorias chinesas mais baratas levou 67% das indústrias brasileiras que competem com empresas chinesas a perderem clientes no mercado internacional. Pior do que isso, 4% dessas companhias deixaram de exportar suas mercadorias, desistindo de enfrentar a concorrência.
O mapa detalhado de quanto a concorrência chinesa afeta as empresas brasileiras apareceu na Sondagem Especial divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A CNI entrevistou 1.529 empresários em outubro do ano passado. Em pesquisa anterior, de 2006, o porcentual de companhias que haviam perdido espaço no mercado internacional para os chineses era bem menor, de 54%. De acordo com a sondagem mais recente, 52% das indústrias exportadoras brasileiras concorrem com fábricas chinesas em outros mercados. Os dados apontam que a competição é mais intensa em seis setores industriais, nos quais pelo menos metade das empresas afirmou que concorrem com similares chineses. É o caso dos setores de material eletrônico de comunicação, têxteis, equipamentos hospitalares e de precisão, calçados, máquinas e equipamentos, além do setor que a CNI classifica como "indústrias diversas". Pequenas empresas. A pesquisa mostra também os efeitos da concorrência chinesa no mercado interno brasileiro: 45% das empresas que competem com a China perderam espaço para os concorrentes. O efeito é maior entre as pequenas empresas, das quais 48% revelaram ter perdido participação nas vendas no País, por causa da enxurrada de importações de produtos chineses. No entanto, 21% das companhias consultadas registram importação de matérias-primas da China, o que revela, segundo a CNI, um aumento da presença chinesa nas várias etapas da cadeia de produção brasileira. Para o gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, como o yuan tem sua cotação atrelada ao dólar, a valorização do real em relação à moeda americana tem sido o fator mais determinante para que produtos brasileiros percam mercado para os chineses tanto no mercado internacional quanto no doméstico. Segundo ele, o aumento da concorrência nos últimos anos está diretamente ligado ao preço dos produtos chineses. O economista lembrou que os custos de produção na China são bem menores do que os brasileiros por diversos motivos, entre eles menores salários. Apesar dos fatores estruturais que dão vantagem à China no comércio internacional, a concorrência com os chineses aumentou a partir do momento em que o câmbio brasileiro acelerou sua valorização. "As dimensões estruturais pouco mudaram nos últimos anos, a grande alteração está na valorização do nosso câmbio", disse Castelo Branco.
China fornece insumos a 21% das indústrias do Brasil, diz CNI
Autor(es): Luciana Otoni | De Brasília |
Valor Econômico - 04/02/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/4/china-fornece-insumos-a-21-das-industrias-do-brasil-diz-cni |
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Entre 2006 e 2010, 45% das indústrias brasileiras expostas à concorrência com importados chineses perdeu participação no mercado doméstico. A competição é mais acirrada na disputa pelo comércio internacional. Das indústrias exportadoras do país, 67% perdeu clientes e consumidores no exterior para fornecedores da China. Na disputa entre indústrias dos dois países, o preço é o elemento determinante, reforçado pela elevada escala de produção e baixos custos chineses.
Os dados fazem parte de um relatório sobre grau de competição entre empresas fabris do Brasil e da China elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) a partir de pesquisa com 1.529 empresas de diferentes portes. A enquete constatou ainda que 21% das empresas consultadas importaram matéria-prima ou insumos da China e que 32% dessas companhias pretendem ampliar essas aquisições. Também foi verificado que 10% das grandes empresas brasileiras abriram fábricas em território chinês para atender clientes no Brasil e no exterior. Essas unidades de produção estão concentradas nos subsetores automotivo, de máquinas, de material elétrico, de material eletrônico e de comunicação. No mercado interno, a concorrência dos importados chineses é maior com as grandes empresas, embora sejam as pequenas e médias as mais suscetíveis aos danos decorrentes dessa competição. Ao apresentar a pesquisa, o gerente da Unidade de Pesquisa da CNI, Flávio Castelo Branco, analisou que o câmbio valorizado agrava a concorrência, embora as condições de infraestrutura e de custos de produção no país também contribuam para a perda de competitividade por parte das indústrias brasileiras. "O preço médio dos produtos chineses é significativamente mais baixo que o brasileiro", afirmou. Para a CNI, a administração da presidente Dilma Rousseff deveria nortear a política econômica pelo princípio da competitividade. Com isso, os industriais querem que o governo reduza a dependência do controle da inflação da política monetária, para evitar que a elevação da taxa Selic, em ciclos de aumento dos juros básicos, amplie o diferencial de juros e atraia capitais estrangeiros, levando a uma valorização maior do real.
'Precisamos entender que na China tudo se negocia''
Autor(es): Agência o globo:Cláudia Trevisan |
O Estado de S. Paulo - 04/02/2011 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/4/precisamos-entender-que-na-china-tudo-se-negocia |
Brasil e China têm de sentar à mesa, resolver suas pendências de natureza comercial e relançar o relacionamento bilateral em novas bases, afirma o embaixador brasileiro em Pequim, Clodoaldo Hugueney. "Os chineses têm tido muita calma nesse clima de denúncias da China no Brasil. Há um real interesse em atribuir ao Brasil um papel importante e evitar o desgaste." A presidente Dilma Rousseff irá à China em abril e, ao longo do ano, ocorrerão várias trocas de visitas de ministros, o que dará impulso político para retirar o "entulho" que provoca ruídos na relação, avalia Hugueney. Entre os problemas, estão as queixas da indústria brasileira em relação ao câmbio e a práticas desleais dos exportadores chineses. "O que nós precisamos entender é que este é um país onde tudo se negocia", disse o embaixador ao Estado. A seguir, os principais trechos da entrevista. O que vai mudar na relação com a China no novo governo? No governo anterior foram construídas as bases para resolvermos os problemas e termos uma relação diferente com a China. O Plano de Ação Conjunta, que traz os objetivos para o período 2010-2014, criou os instrumentos para superar as dificuldades. Resolvido isso, podemos entrar numa nova fase, que vai produzir resultados positivos para o Brasil. Em 2011, haverá uma sucessão de visitas importantes, que vão criar o momento político para relançar a relação em novas bases. O potencial é gigantesco. O nosso comércio, de US$ 50 bilhões, é ridículo perto da dimensão das duas economias. O que atrapalha a relação? Há os problemas ligados à competitividade chinesa, que é estrutural, fruto de 30 anos de crescimento, de investimentos maciços em modernização da economia e em infraestrutura. A competitividade chinesa não é um problema só do Brasil, é um problema do mundo. Mas há problemas que são específicos e atingem o mercado brasileiro: práticas de dumping, de contrabando, todas as chamadas práticas desleais de comércio. Há a questão do câmbio. O câmbio aqui está se movendo lentamente, mas houve uma valorização. A apreciação real já está em 7% e vai continuar. No Brasil, o real se valorizou muito mais. O real se valorizou enormemente, e isso terá de ser discutido em um contexto mais global também. Mas nós teremos de ter um diálogo bilateral intenso com a China e ver o que se pode fazer. Nós temos de tomar medidas para proteger a indústria brasileira, defender o emprego no Brasil, mas as medidas de caráter defensivo não vão resolver a situação. Temos de desenvolver ações que promovam as exportações, como o governo está fazendo, abrir mercados, corrigir o custo Brasil e investir na infraestrutura. Os chineses dão enorme importância ao Brasil e querem resolver os conflitos. Eles não estão interessados em construir um superávit com o Brasil. A China reconhece a importância do Brasil para ela e para o mundo. A China é o maior destino das exportações brasileiras e um país com o qual o Brasil tem superávit. Os chineses entendem as razões pelas quais o Brasil está insatisfeito? Os chineses têm tido muita calma nesse clima de denúncias da China no Brasil. Há um real interesse em atribuir ao Brasil um papel importante e evitar o desgaste. Com os mecanismos do plano de ação é possível começar a limpar a mesa. Vamos tirar os obstáculos. Há um exagero na percepção brasileira em relação à suposta ameaça chinesa? Os setores afetados têm preocupações legítimas. Adotou-se uma medida antidumping no setor de calçados e a participação da importação de calçados no total do consumo caiu enormemente. O setor de calçados está exportando e tendo resultados positivos. Setores afetados têm uma causa e o governo deve olhar para isso. Mas há grandes ganhos também. Não se pode desprezar a China. Por que jogar fora uma relação com a qual se pode ganhar muito? Pela minha experiência de 40 anos lidando com contencioso comercial, com problemas com os Estados Unidos e com a União Europeia, sei que dá para resolver. Se fizermos isso, vamos tirar o entulho em cima da mesa, relançar a relação em novas bases e ganhar muito com ela. O que significa "relançar a relação"? O comércio cresceu espetacularmente, mas ainda é pequeno e pode passar de US$ 100 bilhões. As importações chinesas em 2010 foram de US$ 1,4 trilhão, 22% do PIB, e a maior parte é de produtos manufaturados. Há um espaço enorme no agronegócio, na área de produtos de luxo. Existe 1 milhão de milionários e uma classe média de 400 milhões. Não dá mais para dizer "ah, o chinês não toma café". O chinês toma café, sim, e se colocar café de qualidade aqui com a marca do Brasil vai vender. A dimensão do mercado é gigantesca. Os chineses estão dispostos a aceitar medidas de proteção em setores afetados pelas importações chinesas? Eles têm aceitado. Nós reconhecemos a economia de mercado e não implementamos a medida. Eles não gostam disso, mas o fato de reclamarem e não levarem isso adiante é um reconhecimento de que o Brasil está numa situação complicada e terá de tomar alguma medida. Integrantes do novo governo, principalmente o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, estão com discurso mais crítico em relação à China. O governo chinês manifestou alguma preocupação em relação a isso? Não. Eles estão interessados em construir uma relação positiva com o Brasil. Em vez de fazer uma crítica exagerada, nós temos de procurar resolver as questões. Ver os problemas concretos e resolver. A crítica é importante para sensibilizar. Mas está todo mundo sensibilizado, no Brasil e aqui. Estatais chinesas manifestaram interesse em comprar terras no Brasil. Isso vai prosperar? Nós estamos trabalhando para lançar um boletim trimestral de investimentos chineses no Brasil e estamos levantando tudo: quem está investindo, quem está pensando em investir. Tem algumas coisas nessa área, mas não é prioridade. E algumas coisas mais recentes não estão prosperando, porque o cara vai lá e percebe que há resistência. Ele volta para cá e diz: "Disso eles não gostam, vamos fazer outra coisa". Qual é a prioridade? Petróleo é uma delas. A Sinopec acabou de colocar US$ 7 bilhões no Brasil. Isso aí é o que as pessoas esquecem. Não é todo mundo que entra com US$ 7 bilhões no País. Há interesse chinês na área de mineração, mas é uma área que temos de olhar com certo cuidado. Mas temos que definir critérios para todo mundo, não só o chinês. Outra questão é que os investimentos são feitos por grandes estatais, o que levanta dúvidas sobre a motivação, se é somente econômica ou também política. O cara está investindo no Brasil para ganhar dinheiro. Essas estatais foram todas corporativizadas. Vai conversar com os dirigentes das estatais chinesas. Os caras são uns capitalistas e estão fazendo investimentos porque acham que é bom para a empresa deles, vai produzir lucro, vai reforçar a presença da empresa no plano mundial. Os chineses querem ter portas abertas para investimentos no Brasil, mas impõem restrições para investimentos brasileiros. A gente tem de atacar isso. Quem quer entrar tem que entrar. Se quer fazer investimento com 100% de capital brasileiro, é mais difícil, mas não é impossível. Se isso é prioritário para uma empresa brasileira, é interesse do Brasil, então fala para o chinês. Ah, não resolve? Então, quando houver um investimento importante para você no Brasil, eu também não resolvo. O que precisamos entender é que este é um país onde tudo se negocia. Nós temos de definir o que queremos e ver o que eles querem. |
Escudo contra invasão chinesa
Autor(es): Agência o globo:Vivian Oswald |
O Globo - 04/02/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/4/escudo-contra-invasao-chinesa |
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Selos protegerão produtos nacionais de importações do país asiático, que cresceram 60%
O governo pretende usar os selos de qualidade como escudo contra o ataque de importados ao mercado doméstico brasileiro. A ideia, que tem como alvo principal as mercadorias chinesas, é tentar conter o ritmo acelerado das importações desde o ano passado, adiantou ao GLOBO uma fonte. O Brasil comprou 60,85% mais produtos só da China em 2010. O volume de importações globais do país cresceu 40,22% no período. Dentro do governo, a orientação é segurar a todo custo as compras do Brasil lá fora.
Ao cobrar mais qualidade dos produtos consumidos pelos brasileiros, o governo não apenas garante mais segurança aos consumidores, como também filtra importações de má qualidade que vêm competindo com a produção nacional a preços muitas vezes abaixo do valor de mercado. Além disso, como efeito colateral, acaba-se por obrigar as empresas brasileiras a se prepararem para competir no exterior com produtos com maior nível de tecnologia e segurança.
Até julho, o Inmetro anunciará um grande programa de certificação de produtos elétricos. Ventiladores de teto e comuns, fornos de micro-ondas, aparelhos de som, rádio e televisão, torradeiras, aquecedores, entre outros itens, passarão a ter que ostentar seus selos de qualidade. Isso significa que serão certificados tanto aqueles produzidos dentro do Brasil quanto os que vêm de fora.
Lista do Inmetro incluirá autopeças
Ao GLOBO, o presidente do Inmetro, João Jornada, admitiu que existe uma orientação do novo governo para acelerar e intensificar os programas de certificação:
- Um programa de certificação claro e transparente, além de garantir a segurança do usuário, preserva a competitividade do produto nacional, reduz a concorrência desleal. Mas há ainda outra vantagem: aumenta o padrão da produção nacional, que passa a ser exportável. Pode competir lá fora. Isso dá ao produtor nacional escala e gera empregos - afirma João Jornada.
O instituto também está concluindo uma lista de itens da família das autopeças que deverão ter selo de controle, como pastilhas, lonas de freios e barras de direção. Este ano ainda saem as regulamentações para carrinhos de bebê e berços.
Embora setores da economia se preocupem com um provável aumento de custo de produção em função das novas exigências, a medida tem o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e já vem sendo defendida em conversas com o governo pelo presidente da entidade, Robson Andrade. Ele pede que as mesmas exigências de qualidade aos produtos brasileiros sejam feitas aos estrangeiros.
- Os produtos brasileiros precisam seguir determinadas regras e exigências que os produtos estrangeiros não seguem. Alimentos brasileiros passam por controles até de rotulagem, o que não é exigido do produto importado - disse Andrade, que tem o apoio da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Outra saída é apertar a fiscalização de produtos que necessitam de selos de qualidade - como brinquedos, itens infantis como chupetas, fios elétricos, vergalhões etc - logo na entrada do país. O selo é exigido na fronteira, mas só há conferência física de 15% a 20% do que chega ao país. Isso porque o chamado canal verde da Receita Federal permite, como na maior parte do mundo, que boa parte das importações entre no país sem burocracia.
Nos Estados Unidos e na Europa, a conferência física acontece em apenas 5% do que entra. Só podem entrar no canal verde empresas que já têm relacionamento com governo. Elas já estão cadastradas nas bases de dados e são obrigadas a apresentar uma série de documentos cada vez que trazem mercadorias para o país. Nada impede que, por meio de denúncias ou desconfiança de um órgão do governo, essas importações sejam fiscalizadas a posteriori.
Uma das ideias em discussão neste momento é aumentar o chamado canal vermelho para os produtos da pauta que precisem de certificação. Para isso, basta mudar as configurações do sistema. Elas podem ser alteradas de modo a mirar em um setor específico, uma fronteira específica ou até empresas específicas.
A medida tem por objetivo passar um pente-fino nas importações que precisam de selo. Acredita-se que algumas empresas possam passar produtos certificados com outros não certificados. A conferência física mais detalhada dos produtos pode assustar quem traz para o país o que não deve e ainda deve diminuir o ritmo da liberação de certas importações.
O Inmetro tem hoje cerca de 180 famílias de produtos certificados. Trata-se de aproximadamente 180 mil modelos com selo. O presidente do Inmetro promete intensificar os novos programas. Ele reconheceu que o processo pode ser um pouco oneroso, mas traz critérios e regras mais claras para a competição e dá ênfase ao aspecto segurança do consumidor brasileiro.
- Hoje, a empresa nacional que investe em segurança e inovação pode perder espaço para produtos de má qualidade que entram no país. A boa certificação é quase um exercício de soberania do país - disse Jornada.
Mais impostos
para supérfluos
Tornar o sistema de defesa comercial do país mais rigoroso é uma das diretrizes do governo para recuperar exportações e atenuar a guerra cambial global. O Executivo prepara, como antecipou O GLOBO, um pacote de medidas que deve incluir o aumento de impostos de importação para os produtos considerados supérfluos e para aqueles que concorrem com similares produzidos por pequenas empresas no país.
A ideia é proteger setores frágeis da economia e preservar os empregos. É o caso de algumas empresas na Zona Franca de Manaus e na Região Sul.
Não há muito espaço para se elevar até 35% o Imposto de Importação dentro da Tarifa Externa Comum (TEC), percentual máximo consolidado na Organização Mundial do Comércio (OMC) e já aplicado em praticamente todos os tipos de tecidos, roupas em geral, calçados e automóveis. Resta ao governo buscar de medidas alternativas como a da certificação. |
China propõe investir mais em países parceiros
Autor(es): Assis Moreira | De Genebra |
Valor Econômico - 01/02/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/1/china-propoe-investir-mais-em-paises-parceiros |
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A China acena com uma proposta politicamente sensível para o Brasil e outros países que pedem reequilíbrio na qualidade do comércio bilateral, já que estão hoje condenados a exportar só commodities e importar manufaturados. Para o ministro de Comércio da China, Chen Deming, isso pode ser resolvido através de mais investimentos chineses no mercado dos parceiros: as empresas chinesas se instalam localmente, produzem com valor agregado e elas que exportam para o mercado chinês.
A proposta é sensível porque os chineses não vem para o Brasil investir necessariamente no que interessa ao desenvolvimento do país, e sim onde pode garantir seu abastecimento em matérias-primas. É nesse caminho que a China já se tornou o maior investidor estrangeiro no Brasil, com US$ 17 bilhões dos US$ 48,4 bilhões que entraram no país em 2010, comparado a apenas US$ 300 milhões em 2009, como o Valor revelou. Não é de hoje que o Brasil reclama que suas vendas para a China são basicamente de matérias-primas, como o complexo de soja e minério de ferro. Já as importações tem cada vez mais valor agregado. Os chineses retrucam que o Brasil é um dos parceiros com menos razão para reclamar, porque acumula superávit bilateral. Para os brasileiros, porém, isso vem com assimetria na qualidade das trocas, que precisa ser corrigida. O apetite chinês para ter acesso direto a recursos minerais e agrícolas já o transformou em um investidor central na África e sua influência se alastra com o dinheiro que traz. Também na Europa, Pequim passou a comprar diretamente dos governos títulos de dívida pública de países combalidos como Portugal, Espanha, Grécia. Analistas acreditam que, em troca, os chineses querem obter apoio para que a Europa cesse a interdição de vendas de armas para seu mercado, entre outras demandas. Previsivelmente, em sua passagem pelo Fórum Mundial de Economia, em Davos, o ministro Deming ouviu parceiros reclamarem dos efeitos da moeda chinesa artificialmente baixa. Na defensiva, Deming jogou a culpa nos Estados Unidos. Argumentou que não é a China que tem moeda artificialmente desvalorizada, e sim os EUA com o dólar fragilizado. Deixou entender que, se os EUA desvalorizam artificialmente sua moeda, os americanos não podem reclamar da China, cuja moeda oscila junto com o dólar. Isso, contudo, está longe de convencer os parceiros. Analistas notam que a enorme liquidez deflagrada pelos EUA é em função de uma crise econômica forte e o país precisa de dinheiro barato para reativar a economia. No caso chinês, a economia está aquecida, ameaçada de inflação, com montantes gigantescos de reservas cambiais, todos fatores que tenderiam a fazer a moeda valorizar. Isso não acontece pela intervenção de Pequim no mercado de câmbio. Pequim não quer nem saber de discutir reequilíbrio de câmbio e comércio, como demonstra nas primeiras reuniões do G-20, o grupo das maiores nações desenvolvidas e emergentes.
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Polo de SP é destaque em pesquisas
Autor(es): Virgínia Silveira | Para o Valor, de São José dos Campos (SP) |
Valor Econômico - 04/02/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/4/polo-de-sp-e-destaque-em-pesquisas |
Um novo modelo de gestão e incentivo à inovação tecnológica está sendo colocado em prática nas instalações do parque tecnológico de São José dos Campos. A iniciativa foi inspirada no modelo de construção da indústria aeronáutica brasileira, que teve como base a criação do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), diz o diretor do parque, Marco Antônio Raupp. Em dezembro, o parque de São José dos Campos recebeu o credenciamento definitivo do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos. Segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, o parque de São José tornou-se a primeira referência para a criação de um marco nacional, com novas regras e políticas de incentivo fiscal, voltadas às entidades de pesquisa e empresas que integram esse mesmo ambiente. O local já recebeu cerca de R$ 1 bilhão em investimentos públicos e privados. Inaugurado em 2006, o local abriga quatro Centros de Desenvolvimento Tecnológico (CDTs) que contam com empresas-âncora como Embraer, Vale Soluções em Energia (VSE) e Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Estão presentes também instituições de ensino e pesquisa, como o ITA e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Entre os centros de desenvolvimento destaca-se o da Aeronáutica, que abriga dois laboratórios de ponta, únicos na América do Sul: um de estruturas leves e outro de integração de sistemas e software embarcado. Com investimentos de R$ 90,5 milhões, o laboratório de estruturas leves tem a missão de ajudar o país a dominar tecnologias de novos materiais, capazes de reduzir o peso das aeronaves e essenciais para manter a competitividade da indústria brasileira no cenário internacional, segundo seus administradores. O laboratório está em fase de implantação e a previsão é de que num prazo de um ano esteja completamente operacional. Quatro projetos de pesquisa serão desenvolvidos no local, com o apoio financeiro da Fapesp, Finep, Embraer e IPT: dois na área de compósitos (materiais compostos como fibras de carbono em matriz polimérica) e dois de estruturas metálicas. Segundo o diretor de desenvolvimento tecnológico da Embraer, Jorge Ramos, com as pesquisas desenvolvidas nesse laboratório a empresa estará preparada para projetar, desenvolver, fabricar e até contratar fornecedores para trabalhar com as novas tecnologias, de acordo com seus interesses estratégicos. "Os novos aviões da Embraer terão um volume cada vez maior de material composto. Precisamos ter o domínio tecnológico para avaliar o custo benefício da utilização dessas novas tecnologias", afirmou o executivo. Ramos considera o ambiente do parque estratégico fundamental para o desenvolvimento das pesquisas da Embraer, por permitir uma cooperação com outras empresas e universidades do setor aeroespacial. "Além da indústria aeronáutica, as estrutura leves desenvolvidas no laboratório também podem ser aplicadas na indústria automobilística, de petróleo e gás, e de bioprocessos", disse. Entre professores e pesquisadores, o laboratório terá cerca de 200 profissionais, com nível de mestrado, doutorado e experiência internacional, prevê o diretor. O laboratório de sistemas, por sua vez, estará focado no desenvolvimento de soluções integradas para os segmentos de comando, controle, comunicação, computação e inteligência, conhecidos pela sigla C4I, destinados ao setor de defesa. Outro projeto que será desenvolvido é o de um simulador reconfigurado de engenharia, utilizado em vários tipos de aviões, além de sistemas computacionais embarcados e de avançados sistemas eletrônicos de comandos de voo, conhecidos como "fly-by-wire". O "fly-by-wire" desenvolvido pela Embraer, segundo Ramos, foi aplicado com sucesso nos jatos executivos Legacy 450 e Legacy 500, que ainda não estão operacionais. No ano passado, o sistema recebeu o prêmio internacional Flightglobal Achievement Award, promovido pela revista americana "Flight International". O prêmio reconhece pessoas, equipes e inovações nas indústrias de aviação e aeroespacial. Esses são os primeiros jatos da Embraer a ter sistema "fly-by-wire" completo, com todas as superfícies de comandos de voo controladas digitalmente. Segundo o presidente da Embraer Defesa e Segurança, Luiz Carlos Aguiar, com base em seus planos de negócios e no monitoramento do cenário tecnológico mundial, a companhia está investigando e desenvolvendo sistemas para enfrentar os principais desafios que a indústria aeronáutica brasileira poderá enfrentar nos próximos anos. O objetivo dessas iniciativas, diz o executivo, é tornar as aeronaves da empresa mais leves, silenciosas, confortáveis e eficientes em consumo de energia e em emissões, além de poderem ser projetadas e fabricadas em menos tempo e com melhor aproveitamento de recursos. "A estratégia de pesquisa e desenvolvimento pré-competitivo da Embraer é algo intermediário entre a ciência pura e uma pesquisa já vinculada a um produto específico. Algumas aplicações, quando amadurecem, começam a ser colocadas em prática, como o "fly-by-wire", que futuramente será colocado no KC-390 [projeto de aeronave]", disse Aguiar. A Embraer, de acordo com o executivo, investe entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões anualmente nesse conjunto de programas pré-competitivos, o que garante a perenidade da empresa em termos tecnológicos e a sua sustentabilidade. "É um recurso que vem 85% do nosso fluxo de caixa", afirmou.
Santos prepara expansão de parque tecnológico
Autor(es): Fernanda Pires | De Santos (SP) |
Valor Econômico - 01/02/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/1/santos-prepara-expansao-de-parque-tecnologico |
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A Prefeitura de Santos, no litoral de São Paulo, pretende destinar uma área de seis quilômetros quadrados para abrigar, na área continental da cidade, o segundo núcleo do Parque Tecnológico de Santos.
O local escolhido fica no bairro de Guarapá, a cerca de 33 quilômetros do centro de Santos, vizinho ao futuro porto Barnabé Bagres. A caracterização do terreno como apto a receber atividade de tecnologia e inovação constará da lei de uso e ocupação do solo, que está em revisão, disse o secretário de Desenvolvimento e Assuntos Estratégicos do município, Márcio Antonio Lara. A proposta terá de ser examinada pela Câmara Municipal, o que pode ocorrer ainda no primeiro trimestre. A expectativa é que o novo polo tecnológico esteja funcionando em dois anos. Hoje, a parte insular de Santos - onde historicamente a cidade se desenvolveu - conta com o primeiro núcleo do parque tecnológico. São 220 mil metros quadrados não contínuos, ocupados pelas instalações de universidades e centros de pesquisa, com os quais as empresas podem fazer acordos para usar laboratórios e outros recursos, com a finalidade de desenvolver inovação. Com o segundo núcleo, a ideia é criar áreas onde as companhias possam estabelecer seus próprios centros de desenvolvimento. "O núcleo terá um formato mais tradicional, com uma nova infraestrutura para receber centros de pesquisas e empresas de inovação que dependem de áreas mais extensas para implementação", explica Lara. De acordo com Lara, Santos tem potencial atrativo e demanda para expandir essa oferta. "Já está acontecendo. Por exemplo, temos aqui na região central a Halliburton e a Schlumberger, duas grandes empresas que compõem a organização nacional da indústria do petróleo e têm contratos com a Petrobras. Companhias dessa natureza promovem inovação, que gera efeito de atração de novas empresas", afirma o secretário. Ainda no âmbito do pré-sal, diz Lara, a Petrobras - que está construindo uma sede em Santos - já decidiu que trará para a cidade um núcleo do Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) para atuar no desenvolvimento de pesquisa logística e inovação no pré-sal. Um trabalho realizado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e financiado pelo governo do Japão identificou o segmento de TI como um dos vetores de desenvolvimento da região santista, ao lado de atividades como porto, retroporto, logística, energia, ambiente e turismo. A expectativa de Lara é que o credenciamento da primeira etapa do parque ocorra no segundo semestre. Atualmente estão sendo elaborados dois planos - um de ciência e inovação e outro de marketing -, cuja meta é identificar empresas do setor e o potencial de atração de novos empreendimentos.
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Anvisa quer reverter parecer sobre patentes
Autor(es): Lígia Forment |
O Estado de S. Paulo - 04/02/2011 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/4/anvisa-quer-reverter-parecer-sobre-patentes |
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai tentar reverter pontos do parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que restringe a atuação da agência na concessão de patentes de medicamentos. O diretor presidente em exercício da Anvisa, Dirceu Barbano, afirmou que inicia uma rodada de reuniões com os setores envolvidos, incluindo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e a AGU, para modificar pontos que, em sua avaliação, "fragilizam" o Brasil na área de medicamentos. "Temos de ser muito rigorosos na concessão da patente. Há questões de cunho de saúde que podem ajudar muito no debate." Em janeiro, como revelou o Estado, a AGU divulgou um parecer final sobre uma briga que há anos se arrastava entre Anvisa e Inpi sobre as atribuições de cada instituição na avaliação de processos de patente de remédio. Até então, a Anvisa atuava como uma "revisora" dos processos aprovados pelo Inpi, o que irritava o instituto. A AGU restringiu os poderes da Anvisa: determinou que a agência só pode analisar aspectos de risco à saúde. Anteontem, 15 ONGs apresentaram uma denúncia contra o Brasil na ONU, dizendo que a decisão viola obrigações internacionais em relação ao direito à saúde. O grupo argumenta que a Anvisa faz análises mais rígidas, impedindo a concessão de patentes indevidas. Algo que, na prática, abre caminho para produção de versões genéricas, mais baratas que as de marca. |
Vale compra Biopalma da Amazônia por US$ 173 milhões
Autor(es): Mônica Ciarelli |
O Estado de S. Paulo - 02/02/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/2/vale-compra-biopalma-da-amazonia-por-us-173-milhoes |
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A mineradora Vale anunciou a compra, por US$ 173,5 milhões, do controle da Biopalma da Amazônia, empresa produtora de óleo de palma, matéria-prima para a produção de biodiesel. Em nota, a Vale informou que o objetivo da aquisição é utilizar o combustível produzido para alimentar sua frota de locomotivas, máquinas e equipamentos de grande porte em suas operações no Brasil. A Biopalma começa a produzir óleo de palma em 2011, com a expectativa de atingir uma produção anual de 500 mil toneladas em 2019, quando a lavoura atinge sua maturidade. Desde 2009, a Vale já tinha firmado com a Biopalma um consórcio para produção de óleo de palma. "Para viabilizar a expansão do negócio, a Vale negociou a dissolução do consórcio e a obtenção da participação de 70% da Biopalma", diz a nota. Atualmente, a empresa de biocombustível possui seis polos de produção em desenvolvimento na região do Vale do Acará e Baixo Tocantins, no Pará. Até 2013, serão 60 mil hectares plantados com dendê e 75 mil destinados a recuperação e regeneração de mata nativa. Hoje são 18,4 mil hectares plantados, com previsão de mais 14,4 mil hectares de plantio no primeiro trimestre. Planos. A operação faz parte de um ambicioso plano da mineradora para abastecer suas locomotivas, que fazem o transporte de minério, com combustível mais limpo. Em 2009, quando anunciou a parceria com a Biopalma, a Vale planejava investimentos de US$ 305 milhões na produção de biodiesel. O produto será usado prioritariamente em 200 locomotivas que escoam a produção de minério do Pará e em grandes equipamentos na mina de Carajás, no mesmo Estado. A Vale anunciou que pretende atingir uma produção de 160 mil toneladas de biodiesel de palma, o equivalente a 20% do consumo energético da companhia. Na nota divulgada ontem, a mineradora informa que planeja fazer da Biopalma a maior produtora de óleo de palma das Américas. Atualmente, é pequena a produção de biodiesel com essa matéria-prima no Brasil. |
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HERANÇA DA VELHA RFFSA AINDA PROVOCA PREJUÍZOS
SUCATA DA RFFSA VAI SER LEILOADA PELO GOVERNO |
Autor(es): André Borges | De Brasília |
Valor Econômico - 01/02/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/1/heranca-da-velha-rffsa-ainda-provoca-prejuizos |
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A Rede Ferroviária Federal (RFFSA) foi privatizada há 15 anos, mas deixou uma herança que ainda causa problemas e dá prejuízos. Além de milhares de ações trabalhistas que podem custar até R$ 8 bilhões aos cofres públicos, ela tem ativos que já foram bilionários e viraram sucata. Sejam "novos" ou usados, esses ativos - que desde 2007 passaram ao controle da União, com a extinção definitiva da estatal - hoje valem uma fração de seu preço original. Lá se vão quase 15 anos desde que os trilhos e trens da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA) passaram para as mãos das concessionárias. Essa mudança de rumo estancou os rombos financeiros causados pela estatal que controlava a malha de transporte de cargas e passageiros do país. Mas os problemas da RFFSA prosseguem. A herança atual da Rede ainda carrega milhares de ações trabalhistas e um déficit operacional superior a R$ 13 bilhões, uma história de absurdos que parece não ter fim.
Um capítulo dessa história está guardado dentro de grandes caixotes de madeira, em um galpão em Campinas (SP). Ali estão 48 locomotivas que nunca rodaram um metro sequer sobre os trilhos do país. A aquisição feita em 1974 era uma aposta nos modelos elétricos de locomotivas, uma reação à crise do petróleo. As máquinas zero quilômetro, importadas da França, não chegaram a sair da caixa. Hoje elas valem o quanto pesam. Ou até menos que isso. O quilo do ferro custa em média R$ 0,30. Com sorte, o governo talvez consiga vender por uns R$ 0,20 o quilo. "O que aconteceu é que os modelos elétricos não são mais usados no país, saíram de linha há muito tempo", diz Geraldo Lourenço, diretor de infraestrutura ferroviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). "O que podemos tentar é fazer um leilão internacional. A Índia e alguns países árabes ainda usam esse tipo de locomotiva", comenta. Sejam novos ou usados, o fato é que grande parte dos ativos que pertenciam à Rede - e que desde 2007 passaram para o controle da União com a extinção definitiva da estatal - já não vale o troco do que custaram aos cofres públicos. Todo esse patrimônio sucateado vai ser leiloado. A tarefa está nas mãos do Dnit, órgão do Ministério dos Transportes que assumiu a gestão de todo o patrimônio não operacional da Rede, legado que não entrou nos contratos de arrendamento com as concessionárias. No próximo mês, o Dnit deve realizar os primeiros leilões desde que assumiu a função. Só em São Paulo serão leiloados 1,3 mil vagões de carga sucateados. O preço do abandono e da falta de planejamento de 30 anos atrás vai ser incluído na fatura. Se o governo conseguir fechar essa venda por um preço considerado bom - aproximadamente R$ 0,20 o quilo -, vai arrecadar algo em torno de R$ 3,9 milhões. Daria para comprar apenas 63 vagões novos. E só. Outros milhares de vagões sucateados devem ser licitados em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Ao todo, estima o Dnit, há cerca de cinco mil vagões para serem vendidos como ferro velho. Centenas de locomotivas sucateadas também irão a leilão, além de partes que estão espalhadas em dezenas de almoxarifados pelo país. "Em Minas, na cidade de Cruzeiro, há 231 motores de locomotivas elétricas, todos na caixa, sem uso. Tudo isso vai a leilão", diz Lourenço. Enquanto vende os bens para o ferro-velho, o governo tenta dar fim ao labirinto de processos trabalhistas que envolvem a estatal. A situação não poderia ser mais complicada. Em 2007, a Advocacia-Geral da União (AGU) assumiu a responsabilidade de dar jeito no imbróglio jurídico. À época, estimava-se que havia 42 mil processos contra a Rede. Mas a situação se revelou muito pior. "Quando conseguimos finalmente reunir as informações, percebemos que, na verdade, se tratavam de 62 mil processos", afirma Mario Guerreiro, diretor do departamento trabalhista da AGU. O risco estimado de pagamento desses processos somava R$ 8 bilhões, mas, segundo Guerreiro, esse valor certamente está subestimado. Nos últimos quatro anos, a AGU conseguiu reduzir o número de processos para 38 mil ações. O problema é que novas ações são movidas todos os anos. "Não houve paralisação. Recebemos cerca de mil processos novos por ano. Em Minas Gerais, por exemplo, um sindicato que representa cerca de 800 funcionários pede indenização de R$ 1 bilhão", comenta Guerreiro. Criada em 1957, a RFFSA chegou a ser a maior empresa pública do país, à frente da Petrobras. Antes de passar pelo processo de desestatização, realizado entre 1992 e 1996, a Rede tinha 148 mil funcionários. "A realidade é que era um grande cabide de emprego", diz Geraldo Lourenço, do Dnit. Em 2007, com a extinção da estatal, o governo assumiu o seu espólio e as dívidas da empresa, ocasião em que o prejuízo acumulado era de R$ 17,6 bilhões. Boa parte do patrimônio aproveitável foi transferido para as concessões, mas o que restou ficou praticamente abandonado. Desde o fechamento da RFFSA, nos anos 90, o setor privado já investiu R$ 22 bilhões. Numa das visitas que fez ao almoxarifado de Campinas, Geraldo Lourenço conta que, ao entrar no galpão, viu uma curiosa caixa de ferro no chão. Estava lacrada. Abriu a caixa e encontrou centenas de pinos dourados. Mandou checar o que era aquilo. Eram peças banhadas a ouro, usadas em controle das locomotivas francesas que não podiam oxidar. Achou outras duas caixas iguais, repletas dos pinos. Com ajuda da Polícia Militar, o Dnit transferiu as caixas para um cofre que cuida dos pertences da Rede. Tudo está sendo devidamente catalogado e avaliado. A chamada "inventariança", criada para fazer o levantamento dos bens da RFFSA, ainda não concluiu sua análise. Para Mário Guerreiro, da AGU, ainda há muito trabalho e gastos pela frente. "Difícil dizer quando tudo isso vai terminar. É um trabalho sem prazo."
Companhia controla 52,7 mil imóveis
Valor Econômico - 01/02/2011
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Não bastasse o sucateamento de seus equipamentos e um sem-fim de processos trabalhistas, o governo precisa dar solução para grande parte dos 52,7 mil imóveis que pertenciam à Rede Ferroviária Federal e que, devido ao endividamento da estatal, foram penhorados pela Justiça, o que dificulta o processo de liquidação desses imóveis. Segundo a Secretaria do Patrimônio da União (SPU), que ficou responsável pela destinação dos bens, 24 mil imóveis fazem parte de uma "carteira imobiliária", um pacote de casas e prédios que foram vendidos ou locados por ex-funcionários da RFFSA. Dos 24 mil imóveis, de galpões a vilas operárias, 86% são de uso residencial. A prioridade da SPU é a regularização dos imóveis em uso. Muitos não têm documentos em ordem e acumulam dívidas com o governo. Segundo a SPU, já chega a R$ 400 milhões o saldo devedor com a União. Famílias que comprovem que não têm condições de pagar a dívida, que morem no imóvel e recebam até dez salários mínimos, podem ter o saldo perdoado. As negociações apenas começaram. Para os demais 28,7 mil imóveis desocupados, a SPU tenta retirar a condição de penhora para vendê-los. Antes de o governo assumir o espólio da RFFSA, em 2007, a estatal chegou a vender imóveis na tentativa de dirimir as dívidas. Na ocasião, os bens operacionais, ou seja, tudo o que foi arrendado pelas concessionárias, foram avaliados em R$ 24 bilhões. Os demais bens não repassados, entre imóveis e equipamentos, tiveram estimativa de R$ 2 bilhões. A venda de imóveis para terceiros, conta Rodrigo Vilaça, diretor da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), preocupou os concessionários que assumiram os 28 mil km de malha ferroviária da estatal. O receio era de que as empresas ficassem sem uma área de segurança para expansão das operações. Foi criada então uma "reserva técnica" para projetos como pátios e entrepostos. "Acontece que o decreto que institui essa reserva já foi elaborado há mais de um ano e não foi sancionado", diz Vilaça. "As áreas foram bloqueadas, mas ainda não temos acesso a elas." Mais de 5 mil imóveis que estavam sob comando da SPU deverão migrar para a gestão do Dnit para que sejam repassados às concessionárias.
Argentina retoma vigor de indústria automobilística
Autor(es): Daniel Rittner | De Buenos Aires |
Valor Econômico - 01/02/2011
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Com um recorde de vendas no mercado doméstico e servindo como plataforma de abastecimento para o Brasil, que suga mais da metade de todos os automóveis fabricados no país, a Argentina voltou ao radar das montadoras. As nove empresas com instalações locais fizeram anúncios de investimentos pesados, principalmente nos últimos seis meses, o que deverá possibilitar a produção de 1 milhão de veículos por ano antes de 2015.
O renascimento da indústria automotiva argentina é nítido. No auge da década de 90, sua fatia na produção mundial de veículos alcançou 0,6%. Caiu abruptamente com o colapso do mercado interno e a crise da região, em 2002, quando essa participação encolheu para 0,27% e foram fabricadas apenas 159 mil unidades. No ano passado, foram 724 mil carros e caminhões, o equivalente a praticamente 1% do total mundial. Para este ano, a estimativa oficial é que saiam das montadoras até 840 mil. A perspectiva de crescimento da indústria, que prevê investir cerca de US$ 1 bilhão no período 2010-2012, está fortemente atrelada à demanda do Brasil. O acordo automotivo entre os dois países, hoje bem mais flexível do que era há dez anos, tem permitido o comércio bilateral de veículos sem a pesada tarifa de importação de 35%. A Argentina exporta veículos para 57 países, mas são apenas 11 aqueles que absorvem mais de mil unidades por ano. E o mercado brasileiro isoladamente, considerado um "aspirador de carros argentinos", compra nada menos que 53% da produção do vizinho. "A Argentina e o Brasil consolidaram um mercado de quase 5 milhões de veículos (novos por ano) e essa demanda é a que devemos valorizar em toda a sua dimensão", disse recentemente a ministra da Indústria, Débora Giorgi, após reunir-se com empresários do setor. O mercado interno, que absorve 37% da produção, superou o recorde anterior de 2008 e fechou o ano passado com 662,5 mil vendas. Os anúncios de aumento da capacidade instalada, embora não envolvam novas fábricas, têm sido cada vez mais constantes. Neste mês, executivos da Toyota comunicaram à presidente Cristina Kirchner que vão desembolsar US$ 126 milhões, nos próximos dois anos, para elevar a produção em 41%. Em dezembro, a Mercedes-Benz anunciou um investimento de US$ 75 milhões para retomar a montagem de caminhões no país - com o semipesado Frontal 1720 -, depois de 15 anos. Os fabricantes de veículos de passeio também desengavetaram planos ambiciosos. A Fiat está aplicando 813 milhões de pesos (cerca de US$ 200 milhões) para fabricar, em Córdoba, um novo carro de "classe mundial" e design "completamente novo". Na mesma localidade, onde está a primeira fábrica da Renault fora da França, serão produzidas até 35 mil unidades por ano do modelo Fluence - 20 mil das quais atenderão o Brasil e 5 mil os mercados da Colômbia, Uruguai e Paraguai. Uma das exceções, em matéria de novas fábricas, é a planta recém-inaugurada da Honda nas proximidades de Buenos Aires. Em um terreno de 142 hectares, que está recebendo investimentos de US$ 250 milhões, a montadora japonesa passará a fabricar toda a linha do sedã Honda City. Antes, o automóvel era fabricado em Sumaré, no interior de São Paulo. Agora, o mercado brasileiro será atendido a partir da Argentina. Cerca de 60% da produção total estará destinada à exportação e outros 40% ficarão no mercado local. Com a consolidação da sua indústria automotiva, especialistas consideram que o grande desafio que a Argentina tem pela frente é reduzir o déficit comercial na balança de autopeças, que já supera os US$ 6 bilhões. De acordo com a Adefa, associação que congrega as montadoras instaladas na Argentina, a baixa integração local de partes e peças se deve a três motivos diferentes: há casos em que a tecnologia não está disponível no país, há outros em que a capacidade dos fabricantes locais já opera no limite e é preciso complementar a produção com importados, e existem ainda situações - como no caso do aço - em que comprar de fornecedores argentinos pode sair mais caro do que adquirir de fornecedores estrangeiros. Fundição, mecânica, eletrônica e pneus são alguns dos segmentos deficitários apontados pela associação. O presidente da Fiat na Argentina, Cristiano Ratazzi, elogia os esforços do governo para agregar mais conteúdo nacional ao setor. Ele acredita que a tendência é aumentar a incorporação de peças fabricadas no país, mas pondera que esse é um processo lento. "Quando há economia de escala - tanto pelo crescimento da produção quanto pelo mercado de reposição -, abrimos a possibilidade de que também os fabricantes de autopeças façam seus investimentos", disse o executivo ao Valor. O governo adotou duas estratégias antagônicas. Em um país com baixíssimo financiamento privado de longo prazo e sem um banco de fomento estatal, nos moldes do BNDES, habilitou uma linha de crédito para oferecer empréstimos de cinco anos e com taxa fixa de 9,9% ao ano (muito abaixo da inflação). A linha foi pomposamente chamada de Fundo do Bicentenário, em referência às comemorações de 200 anos do início do processo de independência argentina. Paralelamente, o governo impõe licenças não automáticas de importação e faz pressões explícitas sobre os fabricantes, na tentativa de arrancar novos investimentos. Em outubro, o presidente mundial da Pirelli chegou a Merlo (a 34 quilômetros de Buenos Aires) pronto para comunicar um investimento de US$ 80 milhões na ampliação de sua fábrica local. Depois de uma conversa a portas fechadas com a presidente Cristina Kirchner, surpreendeu e desembolsou US$ 20 milhões a mais. A capacidade de produção, principalmente nos segmentos de utilitários leves e de utilitários esportivos, subirá de 5 milhões para 6 milhões de pneus por ano. De um déficit atual de US$ 12 milhões, a fábrica passará a ter superávit de US$ 8,5 milhões a partir de 2012, exportando principalmente ao mercado brasileiro. Outra empresa que anunciou um importante investimento, no fim do ano passado, foi a Fate, fabricante de pneus para ônibus e caminhões. A companhia desembolsará US$ 230 milhões para duplicar a produção e atingir 800 mil unidades por ano, abrindo mais 380 postos de trabalho e substituindo importações em até US$ 90 milhões. Esta é a terceira de uma série de três reportagens sobre a reindustrialização da Argentina
Empresas {AR} nacionais mostram reação
Valor Econômico - 01/02/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/1/empresas-nacionais-mostram-reacao |
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Hoje um argentino comum pode levantar-se e fazer seu desjejum comendo alguns biscoitos da Kraft Foods (ex-Terrabusi). Veste sua calça jeans confeccionada por uma das empresas têxteis brasileiras - responsáveis por 80% da produção de denim do país - e avisa o chefe, pelo celular da Telecom Argentina (da Telecom Italia), que talvez chegue atrasado. Abastece o carro em um posto de gasolina da YPF (controlada pela espanhola Repsol) e passa no caixa eletrônico do banco Santander Río. Almoça um bife de chorizo processado em um frigorífico da JBS ou da Marfrig. Para beber, serve-se de uma tradicional Quilmes, fabricada pela Ambev. À noite, depois de um dia inteiro de trabalho, põe um tênis da Alpargatas (comprada pela Camargo Corrêa) para jogar bola com os amigos. Há 15 ou 20 anos, tudo isso podia ser feito com empresas argentinas, mas o simples resumo de atividades cotidianas mostra como a economia passou a mãos de companhias estrangeiras nas últimas duas décadas. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), as companhias não financeiras de capital estrangeiro representavam, entre as 500 maiores do país em 2009 (último dado disponível), 79% da produção, 75% do lucro, 68% dos salários e 63% dos empregados. A boa notícia, para os nacionalistas argentinos, é que o processo de estrangeirização da economia perdeu fôlego e até esboça uma reversão. A ministra da Indústria argentina, Débora Giorgi, uma das principais defensoras do protecionismo da indústria comemora. Havia 170 empresas de capital argentino entre as 500 maiores, em 2007, mas o número subiu para 176, dois anos depois. De qualquer forma, ainda segundo o Indec, um empregado de uma dessas companhias nacionais ganha, em média, 5.246 pesos (US$ 1.311) por mês. Enquanto, se formos olhar para o salário médio em uma empresa estrangeira, ele alcança 6.564 pesos (US$ 1.641). Atualmente, multinacionais são responsáveis por 91% da fabricação de cimento na Argentina; 80% do mercado de cervejas; quase 70% da revenda de combustíveis; e, por fim, 20% do processamento de carnes na Argentina. O frigorífico Marfrig, por exemplo, é dono da marca Paty - que, no país, é sinônimo literal de hambúrguer.
Inflação aumenta custo de produção no país
Valor Econômico - 01/02/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/1/inflacao-aumenta-custo-de-producao-no-pais |
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Apesar do câmbio nominal desvalorizado, que atrai turistas brasileiros às ruas de Buenos Aires, a inflação chega ao quinto ano seguido com índice de dois dígitos - os economistas preveem pelo menos 25% em 2011 - e tem aumentado os custos das indústrias instaladas na Argentina. Esse problema vinha sendo atenuado pela desvalorização gradual do peso, que mantinha os custos em dólares mais ou menos estáveis. Em 2010, no entanto, a moeda argentina se depreciou em apenas 5%, levando-se em conta termos nominais. Neste ano, segundo o orçamento do governo, deve passar dos atuais 4 pesos para 4,10 por US$ 1, na média. Estudo recente da Fundação Mediterrânea, um centro de estudos financiado pela iniciativa privada, demonstra que o custo unitário do trabalho - medido em dólares - disparou nos últimos três anos. No período compreendido entre os terceiros trimestres de 2007 e de 2010, esse custo subiu 12,8% por ano na Argentina e 10,7% por ano no Brasil. As razões são bastante diferentes. Enquanto no Brasil o fator de pressão tem origem na extrema valorização do real, o encarecimento da mão de obra na Argentina deve-se à alta dos salários nominais, que subiram 26,1% ao ano, em média. Isso significa que o aumento real foi bastante discreto e comido rapidamente pela inflação. Para as empresas, no entanto, os custos em dólares sobem porque a desvalorização do peso não é suficiente para contrabalançar o forte reajuste de preços de toda a economia. Empresários como o presidente do grupo Techint, Paulo Rocca, têm reclamado publicamente da perda de competitividade da Argentina nos últimos anos, queimando a "gordura" criada pela megadesvalorização de janeiro de 2002, quando chegou ao fim a paridade cambial de 1 por 1 com o dólar.
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As duas faces da mesma Argentina
Autor(es): Tatiana Bautzer |
Isto é Dinheiro - 31/01/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/1/31/as-duas-faces-da-mesma-argentina |
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Destino da primeira viagem da presidente Dilma Rousseff ao Exterior, o país de Cristina Kirchner esbanja crescimento, mas sofre com a disparada da inflação. Empresas brasileiras como JBS, Itaú e Votorantim já enviam seus dólares
"Trabalho não falta. Se eu perder o emprego, consigo outro em um mês”, dizia o técnico de som Mario Miranda, enquanto fazia compras com a mulher, Claudia Ybarra, e os dois filhos pequenos, Bianca e Mario, num supermercado no bairro de classe média de San Cristóbal, em Buenos Aires, na terça-feira 25. Mas o carrinho mesmo estava quase vazio. Assustado com a alta de preços dos produtos básicos, o casal procura diariamente promoções. Tenta fugir dos altos preços da carne e do frango, principais vilões da inflação no país, calculada em até 26% no ano passado pelos institutos independentes, mais que o dobro dos 10% estimados pelo desacreditado instituto oficial Indec. A perspectiva é de que a taxa continue subindo em 2011 para algo em torno de 30%. Não muito longe dali, a comerciante Guillermina Masaut, 31 anos, mostrava-se satisfeita com as vendas de roupas em seu pequeno estande, numa galeria de comércio popular no centro de Buenos Aires. O negócio lhe rende cerca de 3 mil pesos (R$ 1.250) ao mês. Entretanto, ela também reclama do custo de vida. “Antes se comprava algo no supermercado com 50 pesos. Hoje, levo 100 e saio com duas sacolinhas. Na minha casa, estamos comendo carne só três vezes por semana.” Satisfação com a economia e medo da deterioração do poder de compra são duas faces da mesma Argentina que Dilma Rousseff encontrará em sua primeira viagem internacional no cargo de presidente, marcada para a segunda-feira 31. O país vizinho está claramente aliviado com o aquecimento econômico, ainda que o preço a pagar seja a segunda maior taxa de inflação na América Latina, atrás apenas da Venezuela. Dilma e sua colega Cristina Kirchner, as duas mulheres mais poderosas da região, têm muito o que conversar nos próximos meses. Temas importantes fazem parte da agenda bilateral, como a maior integração do setor automotivo e da cadeia de petróleo, além de um possível acordo para vendas conjuntas em terceiros mercados. Enquanto o Brasil está mais avançado na rota do crescimento sustentado, a Argentina tem sofrido para ajustar sua economia e entrar na rota da estabilidade. Aumentar a taxa de investimento no país para tornar o crescimento sustentável é o principal desafio de Cristina, que lidera as pesquisas de intenção de voto e pode se reeleger em outubro. “O crescimento com inflação tem pernas curtas se não houver investimento”, afirmou à DINHEIRO o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna. Empresas brasileiras instaladas na Argentina dão sinais de que essa onda já está acontecendo. Animadas com o crescimento que chegou a 8% no ano passado e pode superar os 5% neste ano, companhias que já sofreram em diferentes momentos com as imprevisibilidades e crises no país redesenham suas estratégias e voltam a investir. “Os empréstimos cresceram 36% no ano passado, bem acima dos 27% que esperávamos”, diz o presidente do Itaú Argentina, Sergio Feldman. Desde o segundo semestre do ano passado, o Itaú está repassando financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para companhias que adquiram maquinário brasileiro. A carteira já tem 25 empresas, num total de US$ 55 milhões. “Linhas de crédito com prazo de quatro ou cinco anos como essa não existem aqui”, conta Feldman, que espera que a carteira de crédito do banco na Argentina, de 3,4 bilhões de pesos (cerca de R$ 1,4 bilhão) continue crescendo no mesmo ritmo acelerado em 2011. O maior crescimento deve ocorrer nos empréstimos para empresas de médio e pequeno portes. O banco retomou os investimentos na rede física de agências e gastou R$ 35 milhões para trocar todos os caixas eletrônicos no ano passado. Deve repetir o valor neste ano para atender os clientes de alta renda. E acaba de abrir uma nova agência do segmento Personnalité em Puerto Madero, ponto nobre da capital argentina e prova de que a recuperação de áreas urbanas degradadas é possível. Quem acredita no resgate de um país inteiro, que, como o Brasil, deu calotes na dívida pública e trocou de moeda inúmeras vezes no passado, está aproveitando o momento para investir. É o caso do executivo brasileiro Artemio Listoni, do grupo JBS, maior produtor mundial de carnes. Ele desembarcou em Buenos Aires há cinco meses para reorganizar o negócio. Depois de amargar prejuízos com o abate de bovinos por conta da falta de gado no mercado e restrições à exportação de carne, a líder mundial do setor mudou o foco e dará mais ênfase à produção de industrializados para o mercado interno. Continuam fechadas sem perspectivas de reabertura três das seis unidades de abate. Porém, o grupo acaba de inaugurar uma nova fábrica em Pilar, que produzirá até três mil toneladas mensais de hambúrgueres. É o resultado de um investimento de US$ 50 milhões. Outros US$ 2 milhões serão usados para ampliar a produção de patês na unidade de Ponte Vedra até julho. Parte da estratégia da JBS é uma reação à mudança de hábitos de consumo dos argentinos causada pela disparada dos preços dos alimentos. “O consumo de carne in natura caiu. Está havendo uma migração dos tradicionais cortes nobres para produtos industrializados mais baratos. O argentino vai trocar o tradicional ojo de bife com batatas por hambúrguer, quibe, almôndegas ou pizza”, diz Listoni, que espera recuperar faturamento com a maior ênfase nos industrializados. A receita líquida deve crescer cerca de 10% neste ano, para algo em torno de R$ 650 milhões. O grupo tem três mil funcionários na Argentina, dois mil a menos do que quando comprou a Swift, em 2007. Uma das maiores críticas ao crescimento argentino, além da inflação, é a sua concentração em poucos setores: o automobilístico, altamente dependente das vendas ao Brasil, e o siderúrgico. Juntos, os dois setores responderam por 75% da performance da indústria argentina, segundo a consultoria ACM. A Votorantim Siderurgia, dona da Acerias Bragado, produtora de aços longos com capacidade de 300 mil toneladas, comemora crescimento de 15% do faturamento no ano passado, para US$ 250 milhões. “A construção civil está aquecida, os argentinos investem muito em ativos imobiliários”, diz o superintendente da Votorantim Siderurgia, Albano Chagas Vieira. Embora já tivesse o controle da empresa desde 2007, a Votorantim concluiu no ano passado a compra das últimas ações ainda detidas pela ex-controladora, a família Vara. Agora, projeta construir uma termoelétrica para garantir o suprimento de energia da siderúrgica. Os investimentos em infraestrutura, aliás, são um dos maiores gargalos para a sustentabilidade do crescimento na Argentina nos próximos anos. A onda de calor no fim do ano passado provocou cortes e ameaças de sanção a algumas distribuidoras, e é possível que neste ciclo de expansão volte a haver cortes seletivos para as empresas como houve em 2007, afirma o economista Mauricio Claverí, da consultoria Abeceb. Tentar atrair mais investimentos para o setor energético foi uma das razões de uma viagem recente da presidente Cristina Kirchner ao Oriente Médio. Outro problema é o aumento das pressões salariais. “Meu salário subiu só 10% neste ano, não está acompanhando os gastos”, constatou Mario Miranda, o pai de família que pesquisava os preços no supermercado de Buenos Aires. Nas negociações em curso, categorias como as dos comerciários pedem reajustes de até 35%. Para os exportadores brasileiros, a preocupação principal é com possíveis novas medidas protecionistas, já que o superávit brasileiro com a Argentina deve crescer para até US$ 5,5 bilhões neste ano, calcula a Abeceb. A relação comercial tem sido mais favorável ao Brasil nos últimos anos (veja gráfico). “Acho que o mais provável é que haja uma tentativa de negociar com setores, nos moldes do acordo voluntário fechado com o setor calçadista, mas não a imposição de sanções com alto custo político”, diz o economista Claverí. A presidente Cristina Kirchner vem dando sinais de que entende os maiores riscos ao seu legado e vem adotando, pelo menos em discursos, uma postura mais pró-investimento. Um dos exemplos é a missão do Ministério da Economia que mandou para resolver até junho a última parcela da dívida que entrou em moratória, em 2001, com o Clube de Paris. Se for fechado, o acordo pode abrir uma larga janela de crédito para empresas argentinas hoje penalizadas no mercado internacional. O Brasil já viu esse filme e, como destino preferido dos investimentos estrangeiros na região, pode se beneficiar indiretamente da melhoria da Argentina. |
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