sábado, 31 de março de 2012

Abate de fêmeas sobe 9,5% em 2011


BOI GORDO – Lygia Pimentel

http://www.agroblog.com.br/boi-gordo/abate-de-femeas-sobe-95-em-2011/

Hoje foram divulgados os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes ao abate de bovinos, suínos e frangos no terceiro trimestre de 2011.
Olhando para textos anteriores com nossas projeções e tentativas de acertar esse número antecipadamente – uma vez que o IBGE demora três meses para divulgar os dados – as informações vieram em linha com nossas expectativas. Sem grandes suspresas, portanto, tivemos apenas algumas confirmações.
Vamos aos números básicos!
O abate total caiu 1,6%, enquanto o abate de machos caiu 7,9% e o abate de fêmeas aumentou 9,5%, isso tudo de 2010 para 2011. A partir daí, podemos tecer alguns indicadores mais direcionais.
Para começar, a participação de fêmeas no abate total ficou em 40% em 2011, mas o último trimestre mostrou uma relação de 37%. O motivo é que nos dois primeiros trimestres do ano, há o descarte natural das fêmeas que repetiram o cio durante a estação de monta do ano anterior, o que eleva a proporção de vacas abatidas no período. Mas o interessante é o que observaremos agora:
Tabela 1.
Participação de fêmeas no abate total em diferentes trimestres e estratificação dessa participação em fases do ciclo pecuário.

Para mim, essa tabela é muito valiosa. Além de mostrar qual foi a participação média das fêmeas no abate total levando em conta toda a série histórica disponível, ela considera também o indicador dentro de seu comportamento normal para cada fase do ciclo pecuário, já que a média oscila muito de acordo com a fase.
E então, trouxemos a realidade atual à tona, ou seja, qual foi o comportamento desse importante indicador em 2011, de modo a comparar o que tem acontecido trimestre após trimestre dentro da normalidade para a fase que vivemos do ciclo.
Resolvi fazer a análise assim há alguns meses, pois nunca tinha visto essa comparação antes.
A constatação é óbvia: levando em consideração médias para as fases de alta e de baixa, em 2011 nós trabalhamos com um abate elevado de fêmeas em todos os períodos do ano passado.
Alguns motivos para isso?
1. Margem pior de comercialização: em 2011, o custo de produção subiu e o valor do boi gordo não acompanhou a variação. Isso ainda não fez com que o pecuarista liquidasse seu rebanho, mas já provocou busca por uma engorda mais barata, ou seja, a fêmea.
Gráfico 2.
Variação do boi gordo em R$/@ e custos de produção em 2011.

2. Menor volume de chuvas: o fenômeno La Niña trouxe menor pluviosidade e atrapalhou a engorda do boi no pasto ou até mesmo a sua simples manutenção no segundo semestre de 2011 (e neste primeiro trimestre de 2012 também), além de ter deixado o custo com alimentação mais caro, é claro. O volume de chuvas registrado no segundo semestre de 2011 esteve 20% abaixo do nível médio registrado no mesmo período de 2010, que também pode ser considerado como um período difícil para as pastagens. Para aliviar a pressão, o pessoal mandou os animais – inclusive fêmeas – para o gancho.
Gráfico 3.
Evolução do volume de chuvas registrado em Campo Grande no primeiro e segundo semestres de 2010 e 2011 (mm).

3. Ciclo pecuário: desde o fundo do poço atingido pela pecuária em 2006, o produtor voltou a reter fêmeas e os preços do bezerro variaram acima da inflação até 2010, o que melhorou a margem da cria e estimulou a atividade no período. O resultado disso é que o volume de animais em idade de abate se faz sentir hoje, pois são os bezerros daquelas fêmeas retidas na forma de bois terminados e animais magros de 24~36 meses.
Gráfico 4.
Participação das fêmeas sobre o total abatido no Brasil.

E é mais ou menos por causa dessa situação que observamos um volume maior de vacas abatidas hoje. E é aí, pessoal, que a coisa começa a complicar para o criador, ou seja, talvez começe a ficar mais interessante fazer a recria e a engorda do que necessariamente focar na produção de bezerros.
Não sei se alguém que nos lê ainda tem dúvidas sobre a existência e atuação do ciclo pecuário. De forma mais ou menos intensa, ele ainda atua na finalidade das fêmeas de tempos em tempos. Alguns fatores já nos indicam que estamos diante de uma virada de ciclo, ou pelo menos muito próximos. É difícil reter fêmeas por anos em sequência sem que o produto delas apareça em maior quantidade e leve o mercado a variar abaixo da inflação (ou dos custos de produção). Aliás, eu sinceramente nunca vi isso deixar de acontecer. O mercado é cíclico.
Todo mercado é cíclico. Quando a coisa tá boa, todos querem participar. Quando tá ruim, ninguém quer saber de pecuária.
Voltando ao foco da questão, pensem no sujeito que comprou bezerros há três anos e que está vendendo esses animais terminados agora. Pensaram? Agora observem:
Gráfico 5.
Variação do boi gordo entre o primeiro semestre de 2008 e o segundo semestre de 2011 – valores corrigidos custo de produção.

Sei que tem gente que vende animais mais precoces do que isso, mas convido-o a entrar na brincadeira e acompanhar o exemplo para entender o que quero dizer.
Aqueles que se empolgaram com o mercado no início de 2008 – antes da crise, dois anos após o fundo do poço para a pecuária, vivido em 2006 – e compraram bezerros no período observaram um aumento de 10,8% para o valor real do boi gordo três anos depois, enquanto o bezerro variou menos no mesmo período: 7,2%. Para aqueles que observaram a alta e ainda apostavam que o bezerro iria longe, e intensificaram a produção da categoria sem algum tipo de flexibilidade para recriar um pouco, o negócio foi menos vantajoso. Detalhe: os custos de produção no período variaram 14,5%, variação superior ao aumento dos preços de ambas as categorias.
Considerando que hoje estamos no início da fase de baixa do atual ciclo pecuário, tomemos o período de 2006 a 2009 como exemplo.
Gráfico 6.
Variação do boi gordo entre o primeiro semestre de 2006 e o segundo semestre de 2009 – valores corrigidos custo de produção.

Para quem não se lembra, em 2005 vivenciávamos um abate de fêmeas desenfreado devido aos péssimos preços pagos pela arroba e, para completar, tivemos um surto de febre aftosa bem no final desse período – para mim, consequência da redução dos investimentos na atividade devido ao esmagamento da margem do produtor.
Quem pensou – e conseguiu ter caixa para isso – em comprar bezerros naquele momento para recriar, vendeu seus animais 3 anos depois por um valor real 18,5% mais alto.
Mas para aqueles que acreditaram na dinâmica do mercado pecuário e investiram na cria para os próximos anos, a categoria bezerro valorizou-se 30,3% no mesmo período. Os custos de produção variaram 30% no período, abaixo apenas do preço do bezerro, e não do boi gordo.
Dito isso, parece interessante trabalhar com uma flexibilidade de foco na produção de bezerros e de boi gordo. O que quero dizer é que se terminarmos a fase de alta para entrar em um momento complicado para a valorização do boi gordo, e da reposição, que tal intensificar a recria e a engorda com a finalidade de aproveitar uma relação de troca melhor e vender animais terminados em alguns anos?
E no momento do fundo do poço, em que as pessoas não conseguem enxergar uma saída para a atividade, que tal intensificarmos a cria, cuja falta certamente será sentida quando o ciclo virar?
Enfim, são considerações a se fazer para o planejamento dos próximos anos e fugir do pensamento coletivo na medida do possível.
Estou louca? Espero que não.
Bem, nesta semana estive no segundo encontro do Workshop BeefPoint sobre Gerenciamento e Medição de Resultados na Pecuária de Corte. Novamente fiquei impressionada com o nível da discussão. A equipe está de parabéns!
E por enquanto é isso. Um abraço a todos, até a próxima semana!

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