domingo, 18 de março de 2012

Sobre o "ciclo pecuário"

Entenda como funciona o ciclo pecuário (vídeo, slides e artigo)

Pecuária é uma palavra que deriva de Pecus, que quer dizer gado. Antigamente gado era moeda, uma moeda de troca entre pessoas e famílias. Também de Pecus derivou a palavra pecúnia que quer dizer dinheiro e não existe nada melhor do que essa simbologia para entendermos a maneira como devemos analisar o mercado do boi.
Podemos dizer que o mercado é nosso patrão, mas o mercado não é confiável, portanto a gente tem que fazer uma avaliação permanente das questões de mercado.
Pensando nesse tipo de análise observamos que na pecuária temos três fenômenos de preço: a sazonalidade (com a produção dependendo das variações climáticas, que pode ser minimizada com uso de tecnologia reduzindo a sazonalidade e diminuindo as diferenças de preço entre safra e entressafra), o ciclo da pecuária e tendências de longo prazo (que quando analisadas apontam declínio dos preços ao longo dos anos, graças aos progressivos ganhos de produtividade).
Quanto ao ciclo da pecuária podemos, didaticamente, definir quatro tipos de condicionantes: índices zootécnicos, clima, variáveis econômicas (oferta x demanda) e dupla aptidão das fêmeas – a matriz pode ser considerada uma “máquina” destinada a produção de bezerros, mas também se torna um bem de consumo quando enviada ao abate para que sua carne seja consumida como produto final. Assim é fácil entender que quem manda no mercado do boi é a vaca, ou seja, o que o pecuarista faz com sua matriz é que determina qual vai ser o comportamento dos preços.
Essas decisões dos pecuaristas estão diretamente ligadas às variáveis econômicas. Assim podemos notar que existe um entrelaçamento entre esses fenômenos, gerando maior complexidade a análise do ciclo pecuário.
A primeira análise desse ciclo, no Brasil, foi publicada na revista Agroanalysis em maio de 1977, em um grande esforço dos pesquisadores da época, que sem as metodologias e computadores que temos hoje, concluíram que devido ao grande abate de matrizes que vinha ocorrendo nos anos anteriores ocorreria um intenso aumento de preços nos dois anos seguintes. Situação que foi confirmada.
Assim em 1978 ocorreu uma alta nos preços da arroba, que se fossem corrigidos utilizando os índices médios de inflação, corresponderiam hoje a uma arroba de mais de R$ 250,00. Obviamente, não podemos dizer simplesmente que nessa época tivemos o melhor momento da pecuária, pois provavelmente com esses preços teríamos um bezerro sendo negociado a R$ 2.000,00. Portanto, o paraíso não existe efetivamente no mercado.
Vale apontar que nesse período (1960-70) o mercado sofria fortes intervenções do Governo, com tabelamento, confiscos e contingenciamentos de exportações influenciando os mercados. Dos anos 50 até 70, notamos uma tendência de alta no longo prazo, que depois com os diversos planos econômicos, o desenvolvimento de novas tecnologias e aumento da produtividade, se alterou, seguindo o movimento esperado para os preços dos alimentos, que é de queda ao longo dos anos.
Nos 80, o Brasil teve vários planos econômicos que “bagunçaram” o clico pecuário. Um dos exemplos foi o Plano Cruzado, quando a carne bovina foi tabelada no varejo, a inflação caiu a zero e houve uma sensação de riqueza, que causou uma explosão de demanda, com todos os brasileiros querendo comer carne. Como sabemos o Plano não durou nem 6 meses e os preços da arroba despencaram.
Com o Plano Real, o Brasil testemunhou uma longa estabilização da economia. Nesse momento muitos começaram a imaginar que o clico pecuário tinha acabado, mas na verdade o que aconteceu foi que neste período tivemos um ciclo bastante longo.
Como citado anteriormente, é interessante notar como o abate de fêmeas tem forte influência sobre o mercado do boi. No gráfico abaixo pode-se notar que de 1997 a 2002 o abate de fêmeas permaneceu bastante estável e com isso o preço do boi também. A partir de 2002 com os preços do boi em baixa mais matrizes foram enviadas ao abate, reforçando a queda dos preços da arroba. Com esse aumento no abate de fêmeas sobraram menos matrizes para a produção e isso gerou escassez de bezerros no mercado, que depois se refletiu em redução na oferta de bois gordos e valorização da arroba.
Ressaltando a interligação entre os fatores que regem o clico pecuário é importante notar que o preços do bezerro assumem espectativas em relação ao que o mercado espera para o futuro do boi gordo, incorporando ágil ou deságil.
Em 1984, foi publicado um estudo sobre os fatores que influenciam os preços boi gordo no Brasil. Um dos fatores internos que poderiam influenciar os preços positivamente era a inflação. O boi era visto como reserva de valor, ou seja seja animal no pasto era capital que estava praticamente a salvo da desvalorização, já que o país vivia um intenso processo inflacionário.
Naquela época o boi também assumiu a figura de ativo financeiro, pois se imaginava que poderia haver algum plano econômico em que se pudesse desindexar a economia, acabar com a correção monetária, causando perda de rentabilidade de aplicações financeiras. Hoje não temos mais a inflação dessa época e uma taxa de juros baixa, então precisamos avaliar qual é o impacto disso na nossa atividade.
Neste estudo foram citados como fatores internos de influência negativa sobre os preços: recessão de consumo (a inflação causava a queda no salário real e as pessoas não tinham o dinheiro que gostariam para consumir), substituição no consumo (nesse período o Brasil consumia 10 kg de carne bovina para cada kg de carne de frango, hoje a relação é praticamente de 1 para 1, evidenciando essa substituição), controles discriminatórios (tabelamento, controle ou proibição de exportação e confisco) e a melhoria tecnológica (utilizando melhores técnicas de produção, aumentando a oferta, que normalmente pressiona os preços para baixo).
Quanto aos fatores externos de influência sobre os preços, naquela época foram citados: restrição cambial do país (boi exportado era considerado dólar para o país), ciclo dos competidores (escassez de oferta nos principais países produtores) e recuperação econômica (por exemplo os EUA que estavam retomando exportações e aumentando a demanda, fator que devemos observar novamente no período pós crise).
Os fatores externos, considerados com de influência negativa sobre os preços eram a produção dos importadores (subsídios na Europa e EUA), estoques dos competidores (que eram muito altos na Europa), valorização do dólar e alta de juros. É muito importante sempre analisar o que está acontecendo no mercado internacional e nos países competidores e conseguir avaliar o impacto disso nos preços das commodities.
Existem ainda fatores diretos e indiretos que também podem se refletir nos preços da arroba de várias formas, como aumento dos salários, novas tecnologias disponíveis à população, mudanças nos hábitos de consumo, controles de governo e problemas de escoamento.
Hoje temos disponíveis muitas tecnologias, modelos econômicos, cotações, mercado futuro ( que é o 2º maior mercado futuro de boi gordo do mundo), fatores que nos ajudam a analisar o mercado e as tendências de preços e devem ser usados. Assim temos que escrutinar os mercados diariamente, acompanhar o movimentos de preços e fatores que podem influenciá-los, desenhar novos modelos econométricos e aprimorar nossas tecnologias de análise para conseguirmos tomar as decisões corretas.
É sempre bom lembrar que o processo decisório deve ter três etapas, RIA:
Razão, que vem da análise;
Intuição, que é o faro do mercado, as vezes até meio desorganizado; e
Ação.
Analisar, Intuir e Agir, são os passos para melhorar a rentabilidade do nosso capital empregado na pecuária e garantir o sucesso na atividade.




























































































































































































































































































segunda-feira, 9 de agosto de 2010 http://lundnegocios.blogspot.com.br/2012_03_11_archive.html

Ciclo pecuário e evolução de preços

O abate de fêmeas é um indicador fiel do investimento na pecuária.

Uma participação alta de fêmeas nos abates indica desinvestimento na atividade.

Com preços do boi gordo em alta, e dos animais para reposição também, o fazendeiro retém matrizes para produzir bezerros.

O inverso também ocorre, com desinvestimento e abate de matrizes em épocas de “vacas magras”.

A retenção de matrizes causa, em determinado prazo, aumento da produção de bezerros , que serão bois gordos anos depois. Isto tende a culminar em sobreoferta e, conseqüentemente, em queda de preços.

A este fenômeno dá-se nome de ciclo pecuário, gerado pelos ciclos de oferta de animais para o abate.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a participação de fêmeas nos abates no primeiro trimestre deste ano foi de 37,7%.

Em 2009 a participação de fêmeas no abate do primeiro trimestre foi de 41,1%, mas durante o ano caiu e a participação anual foi de 36,3%.

O abate de fêmeas tende a ser maior no primeiro trimestre do ano, com o descarte das fêmeas que não emprenharam, ao fim da estação de monta.

Evolução da participação dos abates de fêmeas

Vamos comparar os preços nos primeiros semestres, de 2005 a 2010.

Em 2005 os abates de fêmeas representaram 43,8% dos abates totais, em função dos preços deprimidos, influenciados pela fase do ciclo e o foco de aftosa em outubro.

Em 2006, a gripe aviária que eclodiu na Ásia fez com que o consumo mundial de carne de frango caísse, afetando as exportações. Essa carne foi desovada no mercado interno, concorrendo com a carne bovina, e derrubou os preços internamente.

Em junho de 2006, o valor deflacionado da arroba em São Paulo atingiu o menor patamar em mais de 30 anos.

Foi um ano de forte participação de fêmeas nos abates, mesmo patamar de 2005, 43,8%.

As vendas de sêmen, por sua vez, refletem o nível de investimento em reprodução. Segundo a ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial), em 2005 e 2006 houve, respectivamente, queda de 6,0% e 4,2% nas vendas de sêmen, em relação aos anos anteriores. A queda do rebanho de matrizes pôde ser observada já em 2007, com o mercado de reposição em alta.

No primeiro semestre de 2007 o bezerro de doze meses no Mato Grosso do Sul subiu 29,4%. O boi gordo em São Paulo subiu 7%.

A participação de fêmeas nos abates em 2007 foi de 40,1%, uma queda de 3,6 pontos percentuais frente a 2006. As vendas de sêmen subiram 11,3% em 2007, indicando uma expansão da base de matrizes e confiança do pecuarista.

No primeiro semestre de 2008, o boi gordo em São Paulo subiu 23% e o bezerro de doze meses no Mato Grosso do Sul, 54,5%. Foi mais um ano de retenção de fêmeas, com 38,6% de participação fêmeas nos abates. Nova queda.

No final de junho a arroba em São Paulo chegou aos R$93,00, a prazo, livre de imposto.

Essa progressão nos preços foi interrompida pela crise global.

O ano de 2009 “viveu” a crise e foi atípico para a pecuária.

Foi um ano chuvoso, com bom índice pluviométrico inclusive na entressafra, permitindo pastagens em boa qualidade na maior parte das praças pecuárias. O preço no segundo semestre foi mais baixo que no primeiro. Uma inversão. As vacas compuseram 36,3% dos abates em 2009 e as vendas de sêmen aumentaram 11,7% em relação às de 2008.

Situação em 2010

No primeiro trimestre de 2010 a participação de fêmeas nos abates foi menor que nos anos anteriores.

Foram seis meses de mercado firme para o boi gordo, que registrou 8,9% de valorização de janeiro a junho em São Paulo.

Os preços dos animais para reposição subiram mais que o boi gordo. O boi magro subiu 17,4% em São Paulo, e o bezerro de ano subiu 21,9% no Mato Grosso do Sul.

Aliás, as valorizações firmes para a reposição, sem trégua, indicam que, apesar de 2010 ser o quarto ano com participação do abate de fêmeas em retração, ainda não é encontrado excesso de oferta das categorias mais novas. Em algum momento a maior quantidade de vacas em reprodução resultará em sobreoferta de bezerros e, posteriormente, bois gordos. Mas ainda não há sinal desta inversão.

Se não há excesso de animais mais novos, é improvável um aumento expressivo na oferta de bois em curto prazo, uma vez que os bois de amanhã são, indubitavelmente, os bezerros e garrotes de hoje.

Outro fator interessante na atual conjuntura é a valorização mais intensa das categorias mais jovens em relação às mais eradas e ao próprio boi gordo.

Tomando por base os preços do Mato Grosso do Sul, devido à representatividade do mercado de reposição no estado, comparou-se algumas variações. No primeiro semestre de 2010 o boi gordo subiu 11,6%.

Os bois magros e garrotes anelorados subiram 12,4% e 12%, respectivamente. Quando a análise é feita com os bezerros, temos valorização de 22% para o de doze meses e 29,4% para a desmama anelorada.

Existe a sazonalidade no ano, com maior oferta de bezerros após a desmama. Maior demanda por bois magros antes dos confinamentos, dentre outras peculiaridades.

Então fez-se a comparação com anos anteriores. Na figura 1 estão as variações dos preços da desmama, do bezerro de doze meses e do boi magro, no primeiro semestre de cada ano.



Pode-se observar que a variação de preços no primeiro semestre foi semelhante à de 2007 e apenas inferior à de 2008.

A variação de 2007 refletiu a menor oferta de animais gerada pelos abates em 2005 e 2006. A pouca oferta, no ano seguinte, causou valorização expressiva de todas as categorias.

A semelhança com 2007 não é promessa de alta semelhante à de 2008, em 2011. De lá para cá foram mais dois anos de retenção de matrizes e a conjuntura da pecuária mudou bastante, incluindo forte concentração dos compradores, devido às fusões e recuperações judiciais, ocorridas desde o início de 2009.

No entanto, a desvalorização de bois tende a ser precedida pela desvalorização das categorias mais jovens.

Quando a relação de troca diminui, cenário recente, é porque a reposição se valorizou mais que os animais terminados, pois faltam bezerros.

Segundo semestre

Esta será a primeira entressafra após a onda de aquisições e fusões pela qual passou o setor frigorífico.

Com oferta enxuta, o foco das atenções quanto à precificação do boi gordo se volta à intensidade de uso das ferramentas de garantia de matéria prima pelos frigoríficos.

A quantidade e distribuição dos confinamentos e animais negociados a termo vão determinar o tamanho da pressão que os frigoríficos imporão sobre as cotações nos próximos meses.

Mas é bom lembrar que boa parte do gado comprado a termo na entressafra vem de confinamento e não dá para somar um ao outro.

FONTE: SCOT CONSULTORIA

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