Brasil à espera da reforma
mexicana?
Autor(es):
Paulo Pedrosa
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O
Estado de S. Paulo - 23/08/2012
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Em
dezembro, enquanto o presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, estiver
assumindo seu posto com a promessa de realizar uma ampla reforma energética -
que vai abrir o país ao investimento privado em exploração e produção de
petróleo e gás, de maneira muito inspirada no modelo brasileiro -, o Brasil
estará chegando ao quarto ano seguido sem realizar rodadas de licitação nessa
área. Num momento em que o México supera o Brasil não só no futebol, mas
também na economia, como informou Fernando Dantas no Estadão de
segunda-feira, e que a indústria lá cresce a um ritmo trimestral de 4% e aqui
a níveis inferiores a 2%, é preocupante vislumbrar um cenário futuro em que
os mexicanos se tornarão ainda mais competitivos, copiando em parte o modelo
que, ironicamente, aqui está paralisado.
A
reforma proposta por Peña vai ainda incentivar a exploração da reserva de gás
de xisto, 4.ª maior do mundo, atrás apenas de China, EUA e Argentina, segundo
a Agência Internacional de Energia. Além disso, o presidente assume o país
com descobertas recentes de reservas de gás em alto mar e investimentos de
US$ 8 bilhões numa rede de 4.400 km de novos gasodutos. No Brasil, não há
nenhuma perspectiva de exploração de gás de xisto e tampouco se vislumbra a
ampliação da rede de transporte. Para ter ideia de como estamos atrasados em
infraestrutura de transporte, a densidade aqui é de 1,1 metro de gasoduto por
km2 e, no México, chega a 53 m, segundo dados da Analise Monitor. Também não
conseguimos viabilizar o gás de campos em terra já licitados, apesar de haver
potencial de oferta e demanda.
Há quem
possa dizer que a reforma mexicana não será fácil de implementar, já que
necessita alterar a Constituição federal e, portanto, depende do crivo do
Congresso. Mas engana-se quem subestima a articulação política mexicana.
Mesmo antes da posse, a equipe do novo presidente, do Partido Revolucionário
Institucional (PRI), já trabalha para a aprovação da reforma, e os outros
dois principais partidos do país, o da Revolução Democrática (PRD) e o da
Ação Nacional (PAN), declararam recentemente que apoiam a discussão sobre o
fim do monopólio estatal da Petróleos Mexicanos (Pemex).
Mas,
mesmo sem a reforma, a situação mexicana já é privilegiada e tem atraído uma
série de indústrias em razão do preço do gás, que não chega a US$ 6 por
milhão de BTU (unidade de medida do gás). No mercado brasileiro, o gás chega
às fábricas, na média, ao custo de US$ 13. A diferença de preços se deve em
parte à regulação mexicana, que determina o preço do gás com base nos índices
do mercado americano e ao custo de oportunidade de importar o energético,
além de custos menores de transporte e distribuição. Há quase duas décadas, o
país adotou um modelo de desverticalização que conferiu independência às
distribuidoras, atraiu investimentos privados para o transporte e permitiu à
Pemex redirecionar seu capital para outras áreas de atuação.
Esses
exemplos mostram que o Brasil também pode se inspirar em seus competidores.
Mas é comum ouvir de executivos do governo federal o argumento de que não nos
podemos comparar a países como EUA. Graças à exploração do gás de xisto,
aquele país está rumando à independência energética, e os preços baixos
(menos de US$ 3 por milhão de BTU) têm possibilitado sua reindustrialização.
Provavelmente, pelo fato de o México ser um grande importador de gás
americano, a tendência é o argumento se replicar.
Mas,
mesmo não tendo condições assim tão excepcionais, o Brasil tem possibilidades
reais de se destacar mundialmente como produtor de gás barato. No momento em
que o governo dá sinais no setor elétrico de reconhecer no potencial
energético um papel estratégico na recuperação e promoção da competitividade nacional,
é hora também de olhar para o gás natural: até quando os leilões de
exploração ficarão suspensos? O México nos sinaliza que em pouco tempo
teremos concorrentes no destino de investimentos em exploração.
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'Sal na ferida', seca nos EUA
ainda promete mais danos
Autor(es):
Por Ian Berry e Owen Fletcher | The Wall Street Journal, de Wausa, Nebraska
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Valor
Econômico - 23/08/2012
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Um grupo de profissionais do setor agrícola marchava
através de um milharal dizimado pela seca nesta cidade no centro produtivo
dos Estados Unidos na segunda-feira, esmagando folhas e talos ressequidos
pelo caminho.
A fazenda era uma das primeiras paradas em uma
viagem de quatro dias pelos campos agrícolas do país. O evento anual, com a
presença de dezenas de analistas e investidores de commodities, além de
alguns agricultores, é usado para avaliar o estado da safra mais recente.
Este ano, entretanto, não há muito que ver.
"Você não tem que ter medo de se perder neste
campo", disse Marty Tegtmeier, um agricultor do Estado de Iowa que se
integrou à turnê, enquanto observava a paisagem.
Embora a pior seca em décadas venha golpeando grande
parte do cinturão agrícola americano durante meses, muitos na turnê disseram
que foram surpreendidos pelo péssimo estado das culturas. A notícia triste
tem sido relatada aos operadores e investidores de commodities em Chicago via
celular e até pelo Twitter - provocando saltos nas cotações do milho e da
soja.
Na terça-feira, o preço do milho fechou com um
recorde de US$ 8,3125 por bushel (contrato com vencimento em setembro) e a
soja ficou perto de um recorde, a US$ 17,5350 por bushel, na bolsa de
Chicago. Ontem, ambos recuaram um pouco. O milho fechou a US$ 8,3025 e a
soja, a US$ 17,48 (papeis para setembro).
Além de Wausa, Estado de Nebraska, a turnê,
organizada pela empresa de consultoria Pro Farmer, visitará lavouras em sete
Estados.
Alguns campos irrigados pareciam imunes à seca, com
rendimentos estimados em 15,7 mil quilos por hectare em partes de Nebraska. O
grupo também espera ainda encontrar lavouras saudáveis em áreas de plantio de
Minnesota no último dia da turnê.
Mas os observadores tiveram dificuldades para
encontrar campos de milho que ainda não tivessem sido transformados em
alimento de gado no sudeste de Dakota do Sul e no nordeste de Nebraska, um
sinal de que os agricultores tinham desistido de uma cultura que não seria
capaz de produzir nenhum grão.
Em uma fazenda no leste do Illinois na terça-feira,
Brian Grete, analista da Pro Farmer, disse que podia colocar sua mão inteira
numa rachadura no solo que se formou devido à grave seca - antes de chuvas
recentes tornarem o solo pegajoso. "É quase como esfregar sal na ferida
o fato de que as chuvas vieram tarde demais para esta área", disse ele.
Nos campos em que ainda havia pés de milho, muitas
vezes as plantas não tinha nenhuma espiga.
Apesar de a terra irrigada mostrar mais potencial,
os observadores disseram que alguns desses campos também estavam sem brilho,
notando que o calor extremo tinha parcialmente eliminado os benefícios da irrigação.
"Foi difícil [para a irrigação] manter o ritmo
este ano", afirmou Jeff Mueller, um agrônomo da DuPont Pioneer, o braço
agrícola da multinacional DuPont Co.
A turnê vai terminar hoje em Owatonna, Estado de
Minnesota. Amanhã, a Pro Farmer vai lançar sua previsão para o rendimento
médio de milho e de soja dos EUA na atual safra, com base, em parte, nos
resultados das visitas.
Leituras iniciais em Dakota do Sul e em Ohio têm
sido decepcionantes. Os organizadores das visitas relataram na segunda-feira
um rendimento médio estimado das lavouras de milho em Ohio de 6,9 mil quilos
por hectare, uma retração de 29% em comparação com o ano passado. As
previsões para a soja ficaram em uma média de 1.033,7 vagens em uma área de
menos de um metro quadrado, 17,5% abaixo do que no ano passado.
Em Dakota do Sul, os observadores esperam um
rendimento médio 47% inferior que o registrado no ano passado, tanto para a
soja quanto para o milho.
As estimativas do grupo para a produção de milho e
soja em Ohio e em Dakota do Sul são substancialmente inferiores às feitas
pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) no início deste mês, informou
o diretor da turnê, Chip Flory.
De volta a Chicago, operadores e analistas disseram
que estão monitorando o Twitter ou telefonando para amigos e colegas no grupo
de observadores para coletar as últimas informações.
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'Isso é conversa para boi
dormir'
Autor(es):
PATRICIA LARA
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O
Estado de S. Paulo - 23/08/2012
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Para
ex-diretor do BC, aceleração é disseminada
"Isso é conversinha para boi dormir." Foi assim que o ex-diretor do Banco Central e sócio diretor da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman, respondeu à pergunta sobre se a inflação em aceleração refletiria apenas um choque localizado ao segmento de commodities, como argumentaram algumas autoridades monetárias em discursos recentes.
"O
índice de difusão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vem
rasgando recordes todo mês. Difusão mede a porcentagem dos itens que estão
subindo. O fenômeno é disseminado", disse o ex-diretor do BC em
entrevista ao serviço AE Broadcast Ao Vivo, da Agência Estado. "E, se
você olhar as medidas de núcleos, também vem rasgando. As medidas de núcleo
nos últimos meses têm rodado na casa de 0,4% ao mês."
O
indicador de difusão do IPCA- 15 de agosto alcançou 65,8% de acordo com
cálculo realizado pelo banco Besi Brasil, logo após o IBGE anunciar
oficialmente a inflação de 0,39%. O resultado ficou acima do de julho, de
61,6%.
Câmbio.
O economista disse que a política cambial deve continuar impulsionando os
preços das commodities. "O impacto do preço das commodities na inflação
ocorre no Brasil por culpa única e exclusivamente da política cambial que o
governo tem adotado", disse.
"No
período de 2006 a 2010, quando o câmbio efetivamente flutuava, o preço de
commodities em reais oscilava muito pouco. Toda vez que os preços das
commodities subiam, o real se apreciava e tirava a pressão dos preços de
commodities. E toda vez que o preço das commodities caía, o real se
depreciava e fazia a mesma coisa", disse. "O regime cambial acabava
atenuando os efeitos domesticamente", acrescentou.
"A
partir do momento em que o Banco Central diz que o dólar não vai para baixo
de R$ 2, o aumento dos preços das commodities deixa de ser atenuado pela valorização
da moeda. O choque de commodities só se traduz em aumento de inflação por
culpa da política cambial adotada no Brasil", comentou Schwartsman.
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Anos 2000 foram a década
perdida para os americanos
23 de
agosto de 2012 | 7h00
Sílvio
Guedes Crespo
Os anos
2000 foram a “década perdida” para os americanos, diz o título de uma
reportagem do Wall Street Journal, com base em dados da emrpesa de pesquisa Pew
Research.
Apesar do
título chamativo, o Journal entra em uma discussão sobre o tamanho da classe
média dos Estados Unidos e esquece de citar um gráfico, apresentado no estudo
(e reproduzido acima), que mostra claramente o que foi a década perdida.
Nos anos
1950, 1960 e 1970, a renda média dos americanos aumentou em todos os cinco
estratos em que o estudo divide a população. Detalhe: nas duas primeiras
décadas citadas, os mais pobres foram os que conseguiram, de longe, o maior
ganho de rendimento.
Na década
de 1970, os pobres também melhoraram de vida, mas não tanto quanto a classe
média.
A partir
de 1980, a situação começa a piorar para a classe baixa. Os 20% mais pobres,
nesse período, tiveram uma perda de rendimento – e foram os únicos que sofreram
desse problema. Todos os demais grupos aumentaram a renda, ainda que em ritmo
menor que em décadas anteriores.
Ainda em
1980, nota-se que a classe alta foi a que mais consegui aumentar a renda. Os 5%
mais ricos tiveram, disparado, o maior incremento na renda.
Mais
tarde, nos anos 2000, todos os estratos tiveram perdas, especialmente a camada
mais baixa. Os 5% mais ricos também perderam, e, no fim das contas, a classe
média foi a que menos reduziu sua renda na década passada.
Dívida externa é estimada em
US$ 308,418 bi em julho
23 de
agosto de 2012 | 11h 33
EDUARDO
CUCOLO E FERNANDO NAKAGAWA - Agencia Estado
BRASÍLIA
- A dívida externa total brasileira alcançou em julho US$ 308,418 bilhões,
conforme estimativa divulgada nesta quinta-feira pelo Banco Central (BC). O
valor é superior à última posição consolidada da dívida, referente a março, de
US$ 301,176 bilhões.
Segundo o
BC, em julho, a maior fatia da dívida estava em compromissos de longo prazo,
parcela que somava US$ 268,625 bilhões. Já as dívidas de curto prazo somavam
US$ 39,792 bilhões, conforme a estimativa do BC.
Quanto ao
Investimento Estrangeiro Direto (IED) de US$ 8,421 bilhões em julho, o
resultado é o terceiro maior da série histórica segundo dados disponibilizados
pela instituição a partir de 1995. Destacaram-se no mês passado investimentos
em participação no capital de US$ 3,198 bilhões na área de serviços financeiros
e atividades auxiliares e de US$ 1,154 bilhão em empresas de produtos
alimentícios.
Em
relação à origem dos recursos, US$ 3,428 bilhões vieram da Suíça e US$ 1,465
bilhão dos Países Baixos. O resultado do mês passado está abaixo apenas dos US$
15,374 bilhões de dezembro de 2010 e dos US$ 10,318 bilhões de junho de 2007,
de acordo com a série histórica disponível na internet com início em janeiro de
1995.
A inflação escapa da meta
Celso
Ming - Celso Ming
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Autor(es):
Celso Ming
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O
Estado de S. Paulo - 23/08/2012
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Se pairava alguma dúvida, agora já não há mais. A evolução do IPCA-15 mostrou que existe um processo de esticada da inflação que não vinha sendo previsto pelo Banco Central, presidido pelo economista Alexandre Tombini. Falta agora saber qual o impacto desses novos fatores sobre a economia e o que fará o Comitê de Política Monetária (Copom), que tem reunião agendada para os próximos dias 28 e 29.
Para
quem não está familiarizado com as coisas da Economia, esse IPCA-15 é o mesmo
IPCA, sigla do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, a medição oficial da
inflação utilizada pelo Banco Central para definir sua política de juros – ou
seja, sua política de expansão do volume de moeda na economia. Esse 15
corresponde ao período de 30 dias terminado no dia 15 de cada mês. Define,
portanto, a prévia do IPCA, mas 15 quinze dias antes.
Há dois
fatores de causação recíproca puxando pelos preços: o aumento da cotação do
dólar (câmbio), induzido pelo Banco Central com o objetivo de dar mais
competitividade à indústria; e a disparada dos preços internacionais dos
grãos (principalmente milho, soja e trigo), em consequência da forte seca nos
Estados Unidos. Como essas cotações são definidas em dólar (26% mais caro nos
últimos 12 meses), a alta chega ao mercado brasileiro com dupla força, como
alta das commodities e como alta do dólar.
Além
desse impacto há o dos combustíveis. O reajuste do diesel, de 6%, no dia 12
de julho, já foi ou está sendo repassado para os preços. Mas há o da
gasolina, que deverá sair apenas depois das eleições.
São
fatores com que o Banco Central não contava até agora para a formação dos
preços, como consta nas atas das últimas reuniões do Copom. Mas são suficientemente
altos para puxar a inflação mais para a altura dos 5,5% ao ano do que para o
centro da meta, de 4,5%, que vinha sendo a aposta do Banco Central.
Por
enquanto, o Banco Central ainda trabalha com a hipótese de que essa puxada
não passa de soluço, de reversão relativamente rápida. A justificativa é que
o câmbio permanecerá à altura de R$ 2 por dólar e, assim, já provocou a
inflação que tinha de provocar e que a alta dos alimentos também chegará logo
a seu teto e depois declinará. No caso dos alimentos, as coisas podem se
complicar mais, por duas razões: (1) porque os estoques estão relativamente
baixos e deverão ser reforçados pelos governos pelo temor de que possam vir a
faltar; e (2) porque a melhora da atividade econômica nos Estados Unidos
poderá elevar a demanda.
Além
disso, há ainda o aumento do consumo interno no Brasil (de cerca de 6% ao
ano), induzido pela política de redução de juros e pelo estímulo ao crédito.
Esse consumo avança bem mais do que a produção e tende a cobrar seu preço com
mais inflação. Provavelmente o efeito desses elementos novos sobre a marcha
da política monetária (política de juros) será relativamente baixo, porque
parece haver uma decisão de governo de persistir com o processo da derrubada
dos juros. Mas fica bem mais difícil evitar que, em 2013, o Banco Central
seja obrigado a aumentá-los novamente para combater a inflação ou, então, a
comprimir o crédito para evitar que uma demanda forte demais complique o
controle da inflação.
Afora
isso, há o fato de que a administração Dilma não vem conseguindo entregar
duas promessas insistentes: crescimento econômico (PIB) na ordem de 4% ao ano
e inflação na meta.
CONFIRA
O Fed
prepara a impressora. A ata do Federal Reserve (Fed, o banco central dos
Estados Unidos) divulgada nesta quarta-feira deixou poucas dúvidas de que
está em preparação nova operação de afrouxamento quantitativo. Trata-se de
emissão de moeda para recomprar no mercado títulos do Tesouro americano. É um
mecanismo destinado a injetar mais dinheiro na economia e reduzir ainda mais
os juros para facilitar o crédito, sobretudo o hipotecário, e, assim,
reanimar o setor produtivo e o emprego.
Setor têxtil pede barreira à importação
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