sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Arroz e feijão 'maculam' safra recorde


Valor Econômico - 10/08/2012 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/8/10/arroz-e-feijao-maculam-safra-recorde

Se os mais recentes levantamentos sobre a produção de grãos no país em 2011/12 confirmaram o milho safrinha como o grande destaque positivo da temporada, responsável direto por um recorde na colheita como um todo, também voltaram a chamar a atenção para os decepcionantes desempenhos de arroz e feijão.
Básicos no prato do brasileiro, ambos amargaram quedas expressivas nas áreas plantadas e foram prejudicados por adversidades climáticas, o que amplificou as reduções das ofertas e motivou aumentos das importações e fortes altas de preços aos produtores, parte das quais sentidas no varejo.
Com mercado pouco promissor na semeadura, o arroz ocupou 2,5 milhões de hectares no Brasil em 2011/12, 13% menos que em 2010/11, e rendeu 11,6 milhões de toneladas, queda de 15%, conforme levantamento divulgado ontem pela Conab. Juntas, as três safras de feijão normalmente plantadas em um mesmo ciclo tiveram área de 3,3 milhões de hectares, 18,1% menor, e produção de 2,9 milhões de toneladas, uma retração de 22,1%.
Diante desse quadro, a Conab estima que as importações brasileiras de arroz em casca vão somar 900 mil toneladas em 2012, 9% mais que no ano passado, e que as exportações do cereal vão cair pela metade e atingir 1 milhão de toneladas. Para o feijão a expectativa é de importações relativamente estáveis de 200 mil toneladas e exportações de apenas 4 mil toneladas, 80% mais magras.
Com o aperto na oferta, os preços pagos aos arrozeiros do Rio Grande do Sul, maior Estado produtor do cereal do país, estão em ascensão desde o início do ano. Na primeira semana de agosto, o arroz em casca alcançou, em média, R$ 29,58 por saca de 50 quilos, 20% acima da média de dezembro.
No mercado de feijão, a variação de preços ao produtor é menos linear, em grande medida em razão de suas três safras em um mesmo ciclo, mas também por conta das diferentes variedades à venda.
No Paraná, que lidera a colheita nacional da leguminosa, o feijão preto tem valorizações progressivas desde março e alcançou a média de R$ 100,77 por saca de 60 quilos em julho, mais de 50% acima da média de dezembro. Já os "feijões de cor", que incluem os populares carioquinha e mulatinho, ficaram em R$ 108,39 em julho, 36% abaixo do pico do ano, em abril, mas com altas de 10% em relação à média de dezembro e de 36% sobre julho de 2011.
No Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado pelo IBGE, o arroz apresenta variações positivas de 7,3% no acumulado deste ano e de 12,7% nos últimos 12 meses, sempre até julho. O feijão mulatinho aumentou 81,4% e 84,4%, respectivamente, enquanto os saltos do feijão preto alcançaram 38,3% e 41,6%. De janeiro a julho de 2012, o peso do arroz no IPCA foi de 0,53 ponto percentual, o do feijão mulatinho foi de 0,04 e o do feijão preto, 0,07 ponto.
No caso do arroz, o governo federal rechaça um eventual desabastecimento mas acompanha de perto a alta das cotações. A Conab inclusive já avalia a possibilidade de realizar um leilão de venda do produto para amenizar a pressão. Atualmente, os estoques do produto somam 1,5 milhão de toneladas. "A alta que vemos hoje é por pressão de mercado", afirma o presidente da estatal, Rubens Rodrigues.
A Conab concorda que a alta, que em algumas regiões do país superou 50%, reflete a redução da oferta doméstica, mas aponta outros fatores de influência, como a escalada dos preços internacionais da commodity e a valorização cambial, que encarece as importações.
No mercado de feijão, contudo, o sinal de alerta já é vermelho. O governo está preocupado com a queda na produção, principalmente após a seca no Sul e no Nordeste. A intenção do Ministério da Agricultura é estimular o plantio em outras regiões do país para segurar os preços. "Não podemos depender do Paraná e da Bahia para produzir tudo que o Brasil precisa", afirmou Rodrigues.
Nos cálculos da Conab, as valorizações da leguminosa na comparação entre os ciclos 2011/12 e 2010/11 chegam a 22,5% no Estado de São Paulo, 38,3% no Paraná e 22,8% na Bahia. Os estoques de feijão da Conab são de apenas 24 mil toneladas, e as importações, de países como Argentina e até a China, também estão mais caras em virtude do fortalecimento do dólar.
Segundo Amaryllis Romano, economista da Tendências Consultoria, o quadro deverá melhorar nos dois mercados. "Os preços atuais incentivam o plantio". Mas a recuperação, se houver - não há consenso, como mostra a matéria abaixo -, será limitada, pelo menos no arroz. Amaryllis lembra que a escassez de água nas barragens gaúchas deverá afetar a produção irrigada e que os elevados preços de grãos de maior liquidez, como soja e milho, pesarão sobre o agricultor que puder escolher qual cultura plantar em 2012/13.
Por conta da estiagem que assola o Meio-Oeste dos Estados Unidos, o maior exportador agrícola do planeta, soja, milho e trigo, que já vinham em alta, explodiram e bateram novos recordes de alta. A tal ponto que a FAO, o braço das Nações Unidas, pediu ontem a imediata suspensão da produção de etanol de milho nos EUA, por temer uma crise "agroinflacionária" nos moldes da que gerou convulsões sociais em diversos países no biênio 2007-2008.
Apesar dos reflexos sobre os preços ao consumidor de produtos como óleos vegetais e carnes, essas disparadas beneficiaram as exportações brasileiras e vão impulsionar o plantio na safra 2012/13, que começará a ser semeada em meados de setembro.
Para a soja, as primeiras previsões apontam para uma produção de mais de 80 milhões de toneladas na nova temporada, ante 66,4 milhões em 2011/12, safra que foi prejudicada pela seca no Sul. A próxima segunda safra de milho também tende a ser robusta. Em 2011/12, deverá render o recorde de 38,6 milhões de toneladas, 72% mais que em 2010/11 e fator determinante para o recorde geral novamente batido. (Colaboraram Gerson Freitas Jr., Fernanda Pressinott e Janice Kiss)


Arrozeiros preveem área menor

Valor Econômico - 10/08/2012  http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/8/10/arrozeiros-preveem-area-menor
 

Apesar da alta dos preços verificada neste ano, a escassez de água para irrigação e a sedução provocada pelas cotações atraentes da soja podem levar os produtores gaúchos de arroz a reduzir a área plantada na safra 2012/13. A estimativa preliminar da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) é que as lavouras deverão encolher para 900 mil hectares no Estado, diz o presidente da entidade, Renato Rocha.
O Rio Grande do Sul é o maior produtor brasileiro de arroz, com 1,1 milhão de hectares e 7,7 milhões de toneladas em 2011/12 (o equivalente a dois terços da safra do grão no país no período), conforme a Conab. Segundo o Instituto Riograndense do Arroz (Irga), o Estado colheu 7,7 milhões de toneladas em 1 milhão de hectares no período.
Rocha estima que entre 80% e 90% da área que deixará de ser cultivada com arroz migrará para a soja (que na safra passada alcançou 4,2 milhões de hectares, segundo a Conab). A previsão já leva em conta alguma recuperação dos mananciais nos próximos 90 dias, dentro da média dos últimos anos, e com isso o dirigente projeta que os preços médios no Estado para o arroz em casca longo fino deverão ficar entre R$ 28 e R$ 34 a saca de 50 quilos em 2013.
Na primeira semana de agosto o preço médio do grão pago aos produtores gaúchos chegou a R$ 29,58 a saca, de acordo com o Irga. O valor é o mais alto, em termos nominais, desde os R$ 29,95 registrados na terceira semana de fevereiro de 2010 e representa uma alta de 28,3% em relação à média do mês de agosto do ano passado. Já os custos totais de produção oscilam de R$ 26,56 a R$ 28,64 por saca no Estado, conforme a Conab, sendo que os gastos variáveis vão de R$ 21,37 a R$ 26,74.
O Irga fará a primeira projeção de plantio para 2012/13 até o fim do mês, mas o presidente do instituto, Cláudio Pereira, admite que os produtores estão "inseguros" em relação à disponibilidade de água para irrigar as lavouras. Segundo ele, o preço médio da soja no Estado, que de acordo com a Emater-RS subiu 59,9% nos últimos 12 meses, para R$ 69,94 a saca de 60 quilos, também estimula a rotação de cultura.
Pereira também acredita que as perspectivas de bons preços para a próxima safra são reforçadas pelo aumento das exportações de arroz pelo Brasil. No acumulado dos primeiros sete meses do ano os embarques cresceram 41,3% ante igual período de 2011, para 1,164 milhão de toneladas, enquanto as importações avançaram 34,8%, para 567,1 mil toneladas. O presidente do Irga, entretanto, não se arrisca sobre cotações.
"Há variáveis a serem consideradas, como área, câmbio, mercado internacional e estoques nas mãos do governo". Segundo ele, os estoques oficiais no país somam quase 1,8 milhão de toneladas, das quais 80% estão no Rio Grande do Sul, e podem ser colocados no mercado em caso de alta excessiva dos preços. O volume inclui 400 mil toneladas a serem doadas para fins humanitárias.
O presidente da Federarroz espera que o governo chame o setor para conversar antes de desovar estoques públicos. Ele diz que o mercado está abastecido com estoques privados, que o beneficiamento vem crescendo - passou de 3,5 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2011 para 3,9 milhões no mesmo período deste ano no Estado, de acordo com o Irga - e que o produto não está pressionando a inflação.

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