terça-feira, 14 de agosto de 2012

Mudanças ameaçam mercado de títulos em Wall Street

São Paulo, segunda-feira, 13 de agosto de 2012New York Times
New York Times
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/60460-mudancas-ameacam-mercado-de-titulos-em-wall-street.shtml

POR NATHANIEL POPPER E PETER EAVIS
Bancos incomodados por leis mais duras e automação
Os corretores de títulos geravam, nos anos bons, uma grande parcela dos lucros de Wall Street. Hoje, porém, um terremoto no negócio de títulos enxuga bilhões em lucros e milhares de empregos.
Os bancos de Wall Street conseguiram dominar o mercado de títulos nos últimos anos, reunindo enormes estoques para clientes e negociando-os principalmente em transações particulares pelo telefone.
Mas os regulamentos mais rígidos aprovados neste ano e novas tecnologias de corretagem eletrônica ameaçam restringir esse bastião de grandes lucros e riscos.
"Era o tipo de carreira sólida como rocha pouco tempo atrás", disse Lou Ricci, cofundador da empresa de recrutamento Hagan-Ricci Group. "Se você me der um corretor de títulos bom agora, eu provavelmente não conseguirei arranjar um emprego para ele."
As operações de renda fixa nos maiores bancos americanos sofreram muito recentemente.
A receita em corretagem e vendas em renda fixa do Morgan Stanley no segundo trimestre diminuiu 60% em relação ao ano anterior, mais que outras áreas de suas operações.
As mesas de renda fixa ajudam empresas e órgãos governamentais a levantar dinheiro vendendo títulos ao público. Elas ganharam mais dinheiro negociando títulos existentes por sua própria conta e em nome de clientes como fundos mútuos e de pensão, e administrando os portfólios desses clientes. As mesmas divisões nos bancos também compravam e vendiam derivativos, contratos financeiros cujos preços se baseiam nos valores dos títulos.
Mas esses derivativos estão sendo obrigados a ir para mercados abertos ou outras plataformas pela Lei Dodd-Frank de regulamentação financeira, que visa atacar as causas da crise. Outras novas regras, que exigem fortes reservas de capital, tornaram mais caro para os bancos deter grandes estoques de títulos.
Esses estoques eram usados no caso de um cliente querer, por exemplo, US$ 1 milhão em títulos de dez anos da General Motors. Hoje, esses mesmos clientes têm de procurar mais para encontrar a mesma quantidade, provavelmente contornando Wall Street.
Os gerentes de dinheiro e os bancos estão criando mercados eletrônicos abertos para negociar títulos do governo e de empresas. Mais novas regras vão limitar os bancos no uso de seu próprio dinheiro para fazer apostas financeiras em títulos.
Essa série de mudanças facilitará para os reguladores monitorar esses mercados complexos e poderá cortar a grande porcentagem que os bancos tiram na maioria das negociações com títulos, barateando para os investidores a compra e venda de títulos. Mas alguns especialistas do setor disseram que mais transparência na negociação de títulos poderá dificultar a venda de alguns papéis menos populares, porque os investidores não vão querer que seus vultosos negócios sejam expostos. Isso poderá aumentar o custo dos empréstimos para empresas e governos.
A receita em negócios de renda fixa entre os 12 maiores bancos globais já caiu de seu pico de US$ 190 bilhões em 2009 para US$ 105 bilhões no ano passado, segundo Keith Horowitz, que pesquisa grandes bancos para o Citigroup.
Horowitz estimou que as mudanças provavelmente farão a receita cair cerca de 15% a 20% no longo prazo. Os grandes bancos só praticaram cerca de um terço das demissões que serão necessárias nessa área, segundo um relatório de Kian Abouhossein, analista do JPMorgan Cazenove. "É uma mudança enorme", disse Horowitz.
Na sala de corretagem do Credit Suisse em Manhattan, o velho estilo de fazer negócios ainda está presente nas mesas de títulos corporativos, onde as encomendas são gritadas pela sala. Os negócios aqui resistiram à automação porque as empresas que têm apenas uma ação têm muitos tipos de títulos, cada um com seu próprio preço. Os bancos lucram com esses títulos porque têm maior margem do que se negociassem em um mercado com preços transparentes.
A área onde são negociados os títulos do Tesouro americano é tranquila. Os papéis padronizados foram facilmente automatizados.
Os corretores aqui são quase sempre formados em matemática ou física, muitas vezes fora dos EUA, e suas mesas têm pilhas de livros como R Graphs Cookbook, para trabalhar com linguagens de programação obscuras.
"Nossos melhores corretores passam muito tempo escrevendo códigos", disse Ryan Sheftel, diretor de negócios com títulos do Tesouro, apontando para um de seus jovens funcionários. "Ele está fazendo milhares de negociações, mas não precisa mais se envolver manualmente. O código que ele escreveu toma as decisões."
Isso quer dizer que há necessidade de mais programadores, mas menos empregados. E os títulos corporativos podem ser os próximos. 

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