sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Brasil à espera da reforma mexicana?


Brasil à espera da reforma mexicana?
Autor(es): Paulo Pedrosa
O Estado de S. Paulo - 23/08/2012


Em dezembro, enquanto o presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, estiver assumindo seu posto com a promessa de realizar uma ampla reforma energética - que vai abrir o país ao investimento privado em exploração e produção de petróleo e gás, de maneira muito inspirada no modelo brasileiro -, o Brasil estará chegando ao quarto ano seguido sem realizar rodadas de licitação nessa área. Num momento em que o México supera o Brasil não só no futebol, mas também na economia, como informou Fernando Dantas no Estadão de segunda-feira, e que a indústria lá cresce a um ritmo trimestral de 4% e aqui a níveis inferiores a 2%, é preocupante vislumbrar um cenário futuro em que os mexicanos se tornarão ainda mais competitivos, copiando em parte o modelo que, ironicamente, aqui está paralisado.
A reforma proposta por Peña vai ainda incentivar a exploração da reserva de gás de xisto, 4.ª maior do mundo, atrás apenas de China, EUA e Argentina, segundo a Agência Internacional de Energia. Além disso, o presidente assume o país com descobertas recentes de reservas de gás em alto mar e investimentos de US$ 8 bilhões numa rede de 4.400 km de novos gasodutos. No Brasil, não há nenhuma perspectiva de exploração de gás de xisto e tampouco se vislumbra a ampliação da rede de transporte. Para ter ideia de como estamos atrasados em infraestrutura de transporte, a densidade aqui é de 1,1 metro de gasoduto por km2 e, no México, chega a 53 m, segundo dados da Analise Monitor. Também não conseguimos viabilizar o gás de campos em terra já licitados, apesar de haver potencial de oferta e demanda.
Há quem possa dizer que a reforma mexicana não será fácil de implementar, já que necessita alterar a Constituição federal e, portanto, depende do crivo do Congresso. Mas engana-se quem subestima a articulação política mexicana. Mesmo antes da posse, a equipe do novo presidente, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), já trabalha para a aprovação da reforma, e os outros dois principais partidos do país, o da Revolução Democrática (PRD) e o da Ação Nacional (PAN), declararam recentemente que apoiam a discussão sobre o fim do monopólio estatal da Petróleos Mexicanos (Pemex).
Mas, mesmo sem a reforma, a situação mexicana já é privilegiada e tem atraído uma série de indústrias em razão do preço do gás, que não chega a US$ 6 por milhão de BTU (unidade de medida do gás). No mercado brasileiro, o gás chega às fábricas, na média, ao custo de US$ 13. A diferença de preços se deve em parte à regulação mexicana, que determina o preço do gás com base nos índices do mercado americano e ao custo de oportunidade de importar o energético, além de custos menores de transporte e distribuição. Há quase duas décadas, o país adotou um modelo de desverticalização que conferiu independência às distribuidoras, atraiu investimentos privados para o transporte e permitiu à Pemex redirecionar seu capital para outras áreas de atuação.
Esses exemplos mostram que o Brasil também pode se inspirar em seus competidores. Mas é comum ouvir de executivos do governo federal o argumento de que não nos podemos comparar a países como EUA. Graças à exploração do gás de xisto, aquele país está rumando à independência energética, e os preços baixos (menos de US$ 3 por milhão de BTU) têm possibilitado sua reindustrialização. Provavelmente, pelo fato de o México ser um grande importador de gás americano, a tendência é o argumento se replicar.
Mas, mesmo não tendo condições assim tão excepcionais, o Brasil tem possibilidades reais de se destacar mundialmente como produtor de gás barato. No momento em que o governo dá sinais no setor elétrico de reconhecer no potencial energético um papel estratégico na recuperação e promoção da competitividade nacional, é hora também de olhar para o gás natural: até quando os leilões de exploração ficarão suspensos? O México nos sinaliza que em pouco tempo teremos concorrentes no destino de investimentos em exploração.


'Sal na ferida', seca nos EUA ainda promete mais danos
Autor(es): Por Ian Berry e Owen Fletcher | The Wall Street Journal, de Wausa, Nebraska
Valor Econômico - 23/08/2012


Um grupo de profissionais do setor agrícola marchava através de um milharal dizimado pela seca nesta cidade no centro produtivo dos Estados Unidos na segunda-feira, esmagando folhas e talos ressequidos pelo caminho.
A fazenda era uma das primeiras paradas em uma viagem de quatro dias pelos campos agrícolas do país. O evento anual, com a presença de dezenas de analistas e investidores de commodities, além de alguns agricultores, é usado para avaliar o estado da safra mais recente. Este ano, entretanto, não há muito que ver.
"Você não tem que ter medo de se perder neste campo", disse Marty Tegtmeier, um agricultor do Estado de Iowa que se integrou à turnê, enquanto observava a paisagem.
Embora a pior seca em décadas venha golpeando grande parte do cinturão agrícola americano durante meses, muitos na turnê disseram que foram surpreendidos pelo péssimo estado das culturas. A notícia triste tem sido relatada aos operadores e investidores de commodities em Chicago via celular e até pelo Twitter - provocando saltos nas cotações do milho e da soja.
Na terça-feira, o preço do milho fechou com um recorde de US$ 8,3125 por bushel (contrato com vencimento em setembro) e a soja ficou perto de um recorde, a US$ 17,5350 por bushel, na bolsa de Chicago. Ontem, ambos recuaram um pouco. O milho fechou a US$ 8,3025 e a soja, a US$ 17,48 (papeis para setembro).
Além de Wausa, Estado de Nebraska, a turnê, organizada pela empresa de consultoria Pro Farmer, visitará lavouras em sete Estados.
Alguns campos irrigados pareciam imunes à seca, com rendimentos estimados em 15,7 mil quilos por hectare em partes de Nebraska. O grupo também espera ainda encontrar lavouras saudáveis em áreas de plantio de Minnesota no último dia da turnê.
Mas os observadores tiveram dificuldades para encontrar campos de milho que ainda não tivessem sido transformados em alimento de gado no sudeste de Dakota do Sul e no nordeste de Nebraska, um sinal de que os agricultores tinham desistido de uma cultura que não seria capaz de produzir nenhum grão.
Em uma fazenda no leste do Illinois na terça-feira, Brian Grete, analista da Pro Farmer, disse que podia colocar sua mão inteira numa rachadura no solo que se formou devido à grave seca - antes de chuvas recentes tornarem o solo pegajoso. "É quase como esfregar sal na ferida o fato de que as chuvas vieram tarde demais para esta área", disse ele.
Nos campos em que ainda havia pés de milho, muitas vezes as plantas não tinha nenhuma espiga.
Apesar de a terra irrigada mostrar mais potencial, os observadores disseram que alguns desses campos também estavam sem brilho, notando que o calor extremo tinha parcialmente eliminado os benefícios da irrigação.
"Foi difícil [para a irrigação] manter o ritmo este ano", afirmou Jeff Mueller, um agrônomo da DuPont Pioneer, o braço agrícola da multinacional DuPont Co.
A turnê vai terminar hoje em Owatonna, Estado de Minnesota. Amanhã, a Pro Farmer vai lançar sua previsão para o rendimento médio de milho e de soja dos EUA na atual safra, com base, em parte, nos resultados das visitas.
Leituras iniciais em Dakota do Sul e em Ohio têm sido decepcionantes. Os organizadores das visitas relataram na segunda-feira um rendimento médio estimado das lavouras de milho em Ohio de 6,9 mil quilos por hectare, uma retração de 29% em comparação com o ano passado. As previsões para a soja ficaram em uma média de 1.033,7 vagens em uma área de menos de um metro quadrado, 17,5% abaixo do que no ano passado.
Em Dakota do Sul, os observadores esperam um rendimento médio 47% inferior que o registrado no ano passado, tanto para a soja quanto para o milho.
As estimativas do grupo para a produção de milho e soja em Ohio e em Dakota do Sul são substancialmente inferiores às feitas pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) no início deste mês, informou o diretor da turnê, Chip Flory.
De volta a Chicago, operadores e analistas disseram que estão monitorando o Twitter ou telefonando para amigos e colegas no grupo de observadores para coletar as últimas informações.


'Isso é conversa para boi dormir'
Autor(es): PATRICIA LARA
O Estado de S. Paulo - 23/08/2012


Para ex-diretor do BC, aceleração é disseminada

"Isso é conversinha para boi dormir." Foi assim que o ex-diretor do Banco Central e sócio diretor da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman, respondeu à pergunta sobre se a inflação em aceleração refletiria apenas um choque localizado ao segmento de commodities, como argumentaram algumas autoridades monetárias em discursos recentes.
"O índice de difusão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vem rasgando recordes todo mês. Difusão mede a porcentagem dos itens que estão subindo. O fenômeno é disseminado", disse o ex-diretor do BC em entrevista ao serviço AE Broadcast Ao Vivo, da Agência Estado. "E, se você olhar as medidas de núcleos, também vem rasgando. As medidas de núcleo nos últimos meses têm rodado na casa de 0,4% ao mês."
O indicador de difusão do IPCA- 15 de agosto alcançou 65,8% de acordo com cálculo realizado pelo banco Besi Brasil, logo após o IBGE anunciar oficialmente a inflação de 0,39%. O resultado ficou acima do de julho, de 61,6%.
Câmbio. O economista disse que a política cambial deve continuar impulsionando os preços das commodities. "O impacto do preço das commodities na inflação ocorre no Brasil por culpa única e exclusivamente da política cambial que o governo tem adotado", disse.
"No período de 2006 a 2010, quando o câmbio efetivamente flutuava, o preço de commodities em reais oscilava muito pouco. Toda vez que os preços das commodities subiam, o real se apreciava e tirava a pressão dos preços de commodities. E toda vez que o preço das commodities caía, o real se depreciava e fazia a mesma coisa", disse. "O regime cambial acabava atenuando os efeitos domesticamente", acrescentou.
"A partir do momento em que o Banco Central diz que o dólar não vai para baixo de R$ 2, o aumento dos preços das commodities deixa de ser atenuado pela valorização da moeda. O choque de commodities só se traduz em aumento de inflação por culpa da política cambial adotada no Brasil", comentou Schwartsman.


Anos 2000 foram a década perdida para os americanos
23 de agosto de 2012 | 7h00
Sílvio Guedes Crespo
Os anos 2000 foram a “década perdida” para os americanos, diz o título de uma reportagem do Wall Street Journal, com base em dados da emrpesa de pesquisa Pew Research.
Apesar do título chamativo, o Journal entra em uma discussão sobre o tamanho da classe média dos Estados Unidos e esquece de citar um gráfico, apresentado no estudo (e reproduzido acima), que mostra claramente o que foi a década perdida.
Nos anos 1950, 1960 e 1970, a renda média dos americanos aumentou em todos os cinco estratos em que o estudo divide a população. Detalhe: nas duas primeiras décadas citadas, os mais pobres foram os que conseguiram, de longe, o maior ganho de rendimento.
Na década de 1970, os pobres também melhoraram de vida, mas não tanto quanto a classe média.
A partir de 1980, a situação começa a piorar para a classe baixa. Os 20% mais pobres, nesse período, tiveram uma perda de rendimento – e foram os únicos que sofreram desse problema. Todos os demais grupos aumentaram a renda, ainda que em ritmo menor que em décadas anteriores.
Ainda em 1980, nota-se que a classe alta foi a que mais consegui aumentar a renda. Os 5% mais ricos tiveram, disparado, o maior incremento na renda.
Mais tarde, nos anos 2000, todos os estratos tiveram perdas, especialmente a camada mais baixa. Os 5% mais ricos também perderam, e, no fim das contas, a classe média foi a que menos reduziu sua renda na década passada.
Dívida externa é estimada em US$ 308,418 bi em julho
23 de agosto de 2012 | 11h 33
EDUARDO CUCOLO E FERNANDO NAKAGAWA - Agencia Estado
BRASÍLIA - A dívida externa total brasileira alcançou em julho US$ 308,418 bilhões, conforme estimativa divulgada nesta quinta-feira pelo Banco Central (BC). O valor é superior à última posição consolidada da dívida, referente a março, de US$ 301,176 bilhões.
Segundo o BC, em julho, a maior fatia da dívida estava em compromissos de longo prazo, parcela que somava US$ 268,625 bilhões. Já as dívidas de curto prazo somavam US$ 39,792 bilhões, conforme a estimativa do BC.
Quanto ao Investimento Estrangeiro Direto (IED) de US$ 8,421 bilhões em julho, o resultado é o terceiro maior da série histórica segundo dados disponibilizados pela instituição a partir de 1995. Destacaram-se no mês passado investimentos em participação no capital de US$ 3,198 bilhões na área de serviços financeiros e atividades auxiliares e de US$ 1,154 bilhão em empresas de produtos alimentícios.
Em relação à origem dos recursos, US$ 3,428 bilhões vieram da Suíça e US$ 1,465 bilhão dos Países Baixos. O resultado do mês passado está abaixo apenas dos US$ 15,374 bilhões de dezembro de 2010 e dos US$ 10,318 bilhões de junho de 2007, de acordo com a série histórica disponível na internet com início em janeiro de 1995.

A inflação escapa da meta
Celso Ming - Celso Ming
Autor(es): Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 23/08/2012


Se pairava alguma dúvida, agora já não há mais. A evolução do IPCA-15 mostrou que existe um processo de esticada da inflação que não vinha sendo previsto pelo Banco Central, presidido pelo economista Alexandre Tombini. Falta agora saber qual o impacto desses novos fatores sobre a economia e o que fará o Comitê de Política Monetária (Copom), que tem reunião agendada para os próximos dias 28 e 29.
Para quem não está familiarizado com as coisas da Economia, esse IPCA-15 é o mesmo IPCA, sigla do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, a medição oficial da inflação utilizada pelo Banco Central para definir sua política de juros – ou seja, sua política de expansão do volume de moeda na economia. Esse 15 corresponde ao período de 30 dias terminado no dia 15 de cada mês. Define, portanto, a prévia do IPCA, mas 15 quinze dias antes.
Há dois fatores de causação recíproca puxando pelos preços: o aumento da cotação do dólar (câmbio), induzido pelo Banco Central com o objetivo de dar mais competitividade à indústria; e a disparada dos preços internacionais dos grãos (principalmente milho, soja e trigo), em consequência da forte seca nos Estados Unidos. Como essas cotações são definidas em dólar (26% mais caro nos últimos 12 meses), a alta chega ao mercado brasileiro com dupla força, como alta das commodities e como alta do dólar.
Além desse impacto há o dos combustíveis. O reajuste do diesel, de 6%, no dia 12 de julho, já foi ou está sendo repassado para os preços. Mas há o da gasolina, que deverá sair apenas depois das eleições.
São fatores com que o Banco Central não contava até agora para a formação dos preços, como consta nas atas das últimas reuniões do Copom. Mas são suficientemente altos para puxar a inflação mais para a altura dos 5,5% ao ano do que para o centro da meta, de 4,5%, que vinha sendo a aposta do Banco Central.
Por enquanto, o Banco Central ainda trabalha com a hipótese de que essa puxada não passa de soluço, de reversão relativamente rápida. A justificativa é que o câmbio permanecerá à altura de R$ 2 por dólar e, assim, já provocou a inflação que tinha de provocar e que a alta dos alimentos também chegará logo a seu teto e depois declinará. No caso dos alimentos, as coisas podem se complicar mais, por duas razões: (1) porque os estoques estão relativamente baixos e deverão ser reforçados pelos governos pelo temor de que possam vir a faltar; e (2) porque a melhora da atividade econômica nos Estados Unidos poderá elevar a demanda.
Além disso, há ainda o aumento do consumo interno no Brasil (de cerca de 6% ao ano), induzido pela política de redução de juros e pelo estímulo ao crédito. Esse consumo avança bem mais do que a produção e tende a cobrar seu preço com mais inflação. Provavelmente o efeito desses elementos novos sobre a marcha da política monetária (política de juros) será relativamente baixo, porque parece haver uma decisão de governo de persistir com o processo da derrubada dos juros. Mas fica bem mais difícil evitar que, em 2013, o Banco Central seja obrigado a aumentá-los novamente para combater a inflação ou, então, a comprimir o crédito para evitar que uma demanda forte demais complique o controle da inflação.
Afora isso, há o fato de que a administração Dilma não vem conseguindo entregar duas promessas insistentes: crescimento econômico (PIB) na ordem de 4% ao ano e inflação na meta.
CONFIRA
O Fed prepara a impressora. A ata do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) divulgada nesta quarta-feira deixou poucas dúvidas de que está em preparação nova operação de afrouxamento quantitativo. Trata-se de emissão de moeda para recomprar no mercado títulos do Tesouro americano. É um mecanismo destinado a injetar mais dinheiro na economia e reduzir ainda mais os juros para facilitar o crédito, sobretudo o hipotecário, e, assim, reanimar o setor produtivo e o emprego.


Setor têxtil pede barreira à importação

Indústria têxtil pede ao governo cotas para importação de roupas
Autor(es): RAQUEL LANDIM
O Estado de S. Paulo - 24/08/2012
 

A Associação Brasileira da Indústria Têxtil pediu ao governo que adote uma barreira contra a importação de roupas. Segundo a Abit, está ocorrendo um "surto" de importações de roupas no País, que causa prejuízos à indústria nacional. Se o pedido for atendido, as roupas que chegam ao Brasil, vindas de qualquer origem, estarão sujeitas a cotas ou a uma sobretaxa

O setor privado solicitou ao governo que adote uma barreira contra a importação de roupas. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) protocolou ontem um pedido de investigação de salvaguarda para vestuário, alegando que está ocorrendo um "surto" de importações de roupas no País, que causa prejuízos à indústria nacional.
Se o pleito for atendido, as roupas que chegam ao Brasil, vindas de qualquer origem, estarão sujeitas a cotas ou a uma sobretaxa. A medida prejudica os interesses de grandes varejistas, como C&A, Lojas Renner, Riachuelo e Marisa. Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex) preferiu não se pronunciar.
O assunto é polêmico e divide opiniões no governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, incentivou o setor a entrar com o pedido e vê a demanda com bons olhos. No fim do ano passado, chegou a falar em trocar as tarifas de importação de vestuário de "ad valorem" (porcentagem) para "ad rem" (um valor fixo), mas a ideia não prosperou. No Ministério do Desenvolvimento, o assunto provoca desconforto e o órgão promete uma avaliação técnica. O Itamaraty vê com receio o impacto para a imagem do Brasil no exterior.
O setor têxtil está pedindo ao governo que adote, preferencialmente, cotas para a importação de 60 produtos de vestuário, que representam 82% das importações. Estão na lista camisas, camisetas, calças, vestidos, saias, roupa infantil, moda praia, roupa íntima, entre outros. Só não foram incluídos itens que o País praticamente não produz.
"A crise gerou um excedente de vestuário na Ásia, que aumentou as vendas para o Brasil. Uma camisa que entra de forma desleal mata toda a cadeia, desde a plantação de algodão até a confecção", disse Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit.
Prejuízo. Em um processo de mais de 2 mil páginas, dividido em oito volumes, a entidade argumenta que a crise provocou um surto de importação no Brasil, que gerou um "prejuízo grave" para a indústria. Segundo dados do IBGE, citados nos documentos, a produção nacional de vestuário caiu 13% no primeiro semestre deste ano, enquanto as importações subiram 30%.
A salvaguarda é um instrumento de defesa menos utilizado que o antidumping, que é aplicado para um produto e contra um país. Na salvaguarda, é protegido todo o setor, que reconhece que não tem condições de competir e pede um tempo de ajuste, que pode chegar a 10 anos.
O Brasil aplicou salvaguarda contra a importação de brinquedos por mais de uma década, mas não se transformou em grande produtor. "A salvaguarda tem um caráter mais protecionista e o país que aplica muito não é bem visto. Não é o caso do Brasil", diz Juliana Oliveira Domingues, professora da USP e advogada no escritório L.O. Batista.

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