terça-feira, 28 de agosto de 2012

Soja avança sobre pastagens no Tocantins


Autor(es): Por Luiz Henrique Mendes | De Porto Nacional e Gurupi (TO)
Valor Econômico - 28/08/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/8/28/soja-avanca-sobre-pastagens-no-tocantins
A estrada que liga o município de Sandolândia, no sudoeste do Tocantins, à capital Palmas, é um retrato da rápida e intensa transformação da produção rural do Estado. Considerado um dos berços da pecuária brasileira por sua relevância na criação de bezerros, Tocantins não consegue mais resistir à rentabilidade proporcionada pela agricultura.
Conforme o percurso da rodovia João Lisboa da Cruz - a TO-070 - avança e o relevo acidentado do Araguaia fica para trás, as áreas de pasto, notadamente a partir do município de Brejinho de Nazaré, dão lugar às lavouras de soja.
Entre os dias 22 e 25 de agosto, o Valor acompanhou, a convite das consultorias Agroconsult e Bigma, a primeira etapa do "Rally da Pecuária", expedição que no total percorrerá 40 mil quilômetros do país para avaliar as condições de pastagens e da produção de gado. Num roteiro (ver mapa) em que percorreu os Estados de Goiás e Tocantins, a reportagem visitou sete fazendas, participou de trabalhos de campo e conversou com pecuaristas da região.
"Provavelmente, esse é o último ano que faremos amostras nesse pasto. Em 2013, essa área será lavoura", afirmou André Debastiani, analista da Agroconsult, em uma das análises de pastagens realizadas em Brejinho de Nazaré. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pastagem em Tocantins ocupam 10 milhões de hectares. No país, os pastos cobrem cerca de 170 milhões de hectares.
Com uma área plantada com grãos de 743,1 mil hectares na safra 2011/12, Tocantins é apenas um exemplo de uma tendência que atinge as principais regiões de pecuária do Brasil, como as porções norte e leste de Mato Grosso, os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e algumas regiões do Pará, segundo Debastiani.
A área plantada com grãos, cana-de-açúcar e reflorestamento no Brasil deverá aumentar 15,3 milhões de hectares nos próximos dez anos, conforme estimativa da Agroconsult e da Bigma. E a maior parte desse avanço virá da conversão de áreas de pasto. Pelos cálculos das duas consultorias, a agricultura abocanhará 12,4 milhões de hectares que hoje servem à pecuária bovina.
Acompanhando esse movimento, o agricultor Luciano Rosa Nascimento deixou o Paraná em 2005 para ser um dos consolidadores da fronteira agrícola brasileira conhecida como "Mapitoba" - confluência entre os Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. De lá para cá, ampliou sua área plantada com soja na região de Porto Nacional (TO) para 800 hectares.
No último ano, o produtor deu mais um passo, ao adquirir a Fazenda Nova Esperança, no mesmo município, até então concentrada na engorda de animais de corte. "Em três anos, vamos transformar a maior parte em lavoura", conta. Com uma área de 600 hectares, Nascimento pretende converter 500 hectares para o plantio de soja. Na área restante, o agricultor manterá o confinamento com capacidade para 750 animais. "Vou aproveitar a estrutura que já existia".
Depois de resistir a propostas de agricultores por três anos, o pecuarista Valdofredo Gonçalves de Paula, proprietário da Fazenda Carolina, de Paraíso (TO), arrendou 100 hectares de sua propriedade de 3,3 mil hectares. "Não entendo nada de soja. O que eu gosto mesmo é pecuária, mas a tendência é que o grão avance", reconhece Gonçalves de Paula.
Segundo ele, o arrendamento lhe proporcioná ganhos superiores aos que teria com a criação de bezerros. Pelos termos do arrendamento, o pecuarista ficará com 5 sacas de soja por hectare plantado. Em Ipueiras (TO), o catarinense Alexandre Ferrari, da Fazenda Brasil, seguiu o mesmo caminho e destinou 100 hectares de pasto degradado para a soja.
Em grande medida, a cessão de áreas para agricultura é um resultado da baixa rentabilidade da produção de gado. "Está cada vez mais difícil aumentar renda na pecuária. A agricultura rende dez vezes mais que a pecuária. É por isso que cede área", disse Maurício Nogueira, sócio-diretor da Bigma.
De acordo com o agrônomo, o pecuária brasileira deveria ter uma produtividade anual de 15 arrobas por hectare para "ficar competitiva e não mudar para a agricultura". Atualmente, a produtividade média da pecuária nacional é de 3,65 arrobas por hectare, segundo previsão da Bigma.
Diante da iminente perda de área para a agricultura, os pecuaristas precisarão superar uma tradicional resistência do setor se quiserem permanecer na atividade: o uso de tecnologias como a adubação de pastagens. "O ritmo de adoção de tecnologia vai ter que ser maior nos próximos anos", afirma Nogueira.
E não só a sobrevivência dos pecuaristas está em jogo. Com a redução da área de pastagens, a tecnologia também será fundamental para que a produção de carne bovina consiga atender a demanda projetada para os próximos anos. De acordo com estimativas da Agroconsult e da Bigma, a demanda por carne bovina produzida no Brasil saltará das atuais 9,3 milhões de toneladas para 13 milhões em 2022.
Apesar das dificuldades, Nogueira acredita que a pressão sobre a atividade estimulará o setor a avançar em tecnologia e produtividade. "Vamos ter que acelerar o uso de tecnologia porque a agricultura vai tomar área de qualquer jeito", diz ele. Em suas projeções, o país elevará a taxa de animais abatidos sobre o rebanho total dos atuais 19,3% para 23,2% até 2022 - nos Estados Unidos, esse percentual chega a 38%. Já a produtividade da pecuária brasileira atingirá a 5,36 arrobas por hectare em dez anos.
Nesse cenário, o analista prevê que os abates no país crescerão 38,3% em dez anos, para 53,6 milhões de cabeças. A participação dos confinamentos nos abates, por sua vez, deverá dobrar, para 20%.
Além de incrementar a produção, o maior uso de tecnologia também pode reduzir a necessidade de pastagens no país. Segundo cálculos de Agroconsult e Bigma, se toda a pecuária brasileira - e não só as áreas que competem com a agricultura - ampliassem a produtividade anual para 15 arrobas por hectare, a necessidade de pastagem no país seria de apenas 41,4 milhoes de hectares, ante os 170 milhões atuais.
"Nós vamos demorar muito para ver esse cenário, mas o uso de tecnologia vai aumentar ano a ano", assegura Maurício Nogueira. Ainda assim, o analista garante que a disponibilidade de pastagem - um pouco menor, talvez - seguirá como uma das vantagens comparativas do Brasil em relação à seus concorrentes como Estados Unidos e Austrália, que utilizam o confinanamento na quase totalidade dos abates, encarecendo o custo de suas respectivas produções.



Safra tem gargalo logístico, conclui TCU

Autor(es): IURI DANTAS, VENILSON FERREIRA
O Estado de S. Paulo - 28/08/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/8/28/safra-tem-gargalo-logistico-conclui-tcu
 

Para tribunal, 40% das necessidades logísticas do agronegócio no encontram atenção do governo federal

O Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que 40% das necessidades logísticas do agronegócio para escoamento da safra não encontram atenção do governo federal nas políticas destinadas a melhorar estradas, linhas férreas e hidrovias. A situação é mais grave no Norte e no Nordeste, analisa o tribunal, por onde se poderia escoar mais da metade da produção de grãos, hoje concentrada nos portos do Sudeste.
A auditoria foi feita a pedido da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, com o objetivo de verificar "as medidas tomadas pelo governo para o escoamento da produção agropecuária". O documento não tem relação direta com o pacote de concessão de 10 mil quilômetros de ferrovias e 7,5 mil quilômetros de rodovias à iniciativa privada, anunciado há duas semanas pela presidente Dilma Rousseff. No entanto, diversos trechos de ferrovias apontados como necessários pela auditoria não estão no pacote, nem nos planos do Ministério do Trabalho.
"A grande demanda dos setores público e privado ligados ao agronegócio está relacionada ao escoamento dos excedentes produtivos gerados pelas regiões de fronteira agrícola pelos portos do Norte e Nordeste, utilizando o potencial hidroviário disponível naquelas regiões e incrementando a participação do modal ferroviário", assinalam os técnicos do tribunal em sua auditoria. "Cerca de 40% das intervenções mapeadas de interesse do agronegócio (...) não estão previstas pelos órgãos de governo encarregados de seu planejamento."
As conclusões do tribunal servem de alerta para o governo, no momento em que a equipe de Dilma finaliza um novo pacote de concessão de aeroportos e portos, até meados de setembro, segundo prometeu a própria presidente. A falta de investimentos para facilitar a exportação de novas áreas de cultivo, como o norte do Mato Grosso, Rondônia, sul do Maranhão e do Piauí e norte do Tocantins, pode até mesmo limitar a expansão da produção agrícola brasileira, na avaliação dos técnicos do TCU.
Lentidão. Não bastasse a ausência de recursos para oferecer portos, hidrovias, ferrovias e rodovias em bom estado para baratear os grãos brasileiros, os investimentos, quando acontecem, são lentos e levantam suspeitas, segundo o tribunal, responsável pela fiscalização do uso de recursos públicos. "As obras rodoviárias e ferroviárias de interesse do agronegócio fiscalizadas pelo TCU entre os anos de 2009 e 2011 apresentaram grande número de irregularidades, sendo que as ocorrências registradas com maior frequência estão relacionadas a falhas em projetos, fiscalização e preços." Na avaliação do presidente da Associação dos Produtores de Milho e Soja do Mato Grosso (Aprosoja/MT), Carlos Fávaro, o setor vive um "apagão logístico". Ele lembra que existem 200 navios aguardando ao largo em Paranaguá, sendo 40 com fertilizantes, cujos proprietários recebem diária de US$ 60 mil a título de atraso no desembarque.
Procurado, o Ministério dos Transportes informou que não tinha conhecimento das conclusões técnicas, apesar de trabalhar em parceria com o TCU. O TCU aprovou a auditoria em sessão pública na semana passada.

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