segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Brasil puxa resultado de múltis para baixo



Autor(es): Por Letícia Casado e Tatiane Bortolozi | De São Paulo
Valor Econômico - 20/08/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/8/20/brasil-puxa-resultado-de-multis-para-baixo
 

O Brasil passou de "salvador" a "vilão" nos resultados de multinacionais que vendem produtos de bens de consumo. O país, que puxava os balanços das empresas para cima nos últimos dois anos, foi alvo das reclamações nesta safra de demonstrações financeiras. Mas analistas ouvidos pelo Valor dizem que a situação vai melhorar neste segundo semestre.

Em alguns casos, o recuo ou a estagnação nas vendas foi tão acentuado - caso da Arcos Dorados (controladora do McDonald"s na América Latina) e da montadora Volvo - que as empresas reduziram suas projeções para o ano.

Kraft, Avon, Fiat, Peugeot e TIM reclamaram do desempenho do Brasil em seus relatórios trimestrais. O Walmart, a maior varejista do mundo, teve prejuízo no Brasil e o comando nos Estados Unidos declarou que estava reduzindo o ritmo de abertura de lojas no mercado brasileiro em 2012. A empresa inaugurou 52 lojas no país no ano passado, e a meta era repetir o número em 2012, mas agora menos de 50 unidades serão inauguradas.

A argentina Arcos Dorados vendeu mais no trimestre, mas o lucro líquido caiu e a empresa reduziu sua estimativa para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado para o ano: de 10% a 12% para 8% a 10%. No relatório do balanço, o Brasil foi apontado como o principal motivo para o ajuste, pois apresentou consumo abaixo do esperado e desvalorização da moeda ante o dólar.

Desde 2010, com o aprofundamento da crise financeira na Europa e nos Estados Unidos, e o aumento do consumo no Brasil, o país se tornou alvo de empresas e investidores estrangeiros. No ano passado, na conferência com analistas sobre o balanço do segundo trimestre, o Brasil foi citado pelo diretor de operações Sergio Alonso como "um excelente exemplo" de liderança e crescimento, abertura de restaurantes e penetração na classe média.

Na época, a receita da divisão brasileira cresceu 27% na comparação anual, e 10,2% no quesito "mesmas lojas". Alonso justificou esse incremento exatamente pelas condições econômicas do país: aumento do PIB, da renda do cidadão e da queda na taxa de juros.

O segundo trimestre deste ano foi outro para a Arcos Dorados. Mas analistas avaliam que isso é passageiro. "No Brasil, as pessoas estavam bastante endividadas, com parte da renda comprometida", diz Cauê Pinheiro, analista da corretora SLW. "Foi um trimestre mais fraco, mas não é tendência. Pelo contrário, a tendência é aumentar a refeição fora de casa", acrescenta. "A gente vê empresas como Brasil Foods e Marfrig destacando o setor de "food service" para como um dos que mais crescem."

A fabricante americana de alimentos Kraft Foods viu sua receita no país estagnar durante o segundo trimestre, em parte porque as compras de chocolates para a Páscoa foram feitas em fevereiro e março, e entraram nos resultados do primeiro trimestre (a festa caiu na primeira semana de abril em 2012). No semestre, o avanço foi de 5%.

Redução na demanda e impacto cambial fizeram Walmart, Volvo e Arcos Dorados mudar projeções para o ano

Mas as vendas de chiclete (Trident, Bubballoo, entre outros), que não sofrem efeito sazonal, também recuaram no país, disse Irene Rosenfeld, presidente do conselho e CEO da companhia em conferência com analistas.

O Brasil representa menos de 5% do faturamento global da multinacional americana, segundo David Brearton, vice-presidente executivo e CFO da Kraft Foods, na mesma conferência. Mesmo assim, a Kraft acendeu o sinal amarelo para o país.

Questionado por um analista sobre quais mercados poderiam preocupar, Brearton deixou claro que Brasil e Rússia, que também sofreu desaceleração, são os mais significativos entre os emergentes. O recuo nesses países foi compensado pelo aumento em vendas em outros lugares. "Conseguimos compensar o enfraquecimento em mercados como o Brasil registrando crescimento robusto em outras regiões, como Europa Central e Leste Europeu", disse Irene.

A receita da Procter & Gamble (P&G) recuou 1% no Brasil no quarto trimestre fiscal, encerrado em 30 junho de 2012. Mas o volume de vendas de produtos de cuidados com o cabelo cresceu mais de 20% no Brasil, impulsionado pela marca Head & Shoulders e pelo lançamento da Wella Pro Series. Já a concorrente Unilever informa que a expansão no Brasil foi de "dois dígitos" durante o segundo trimestre.

A situação da americana Avon é um pouco diferente das outras, pois a empresa enfrenta uma situação delicada no país há quatro trimestres. No entanto, a receita entre abril e junho de 2012 teve o maior recuo, de 19%, após uma queda de 4% no primeiro trimestre, "puxada por um declínio no número de revendedoras e por menor demanda, que foi parcialmente afetada pelo aumento na concorrência, assim como por preços não competitivos", informou a empresa em comunicado sobre o resultado.

A Avon admitiu que a recuperação não virá no curto prazo. Além de enfrentar uma concorrência maior, a empresa precisa ajustar seu nível de serviço, acertar preços e trabalhar seus produtos e reconstruir a imagem no país, abalada por problemas no sistema de distribuição.

A brasileira Natura, por sua vez, aproveitou a fraqueza da concorrente e teve um segundo trimestre bem diferente, com aumento de receita e de lucro.

O setor automotivo também sentiu a economia esfriar. A Volvo reduziu as projeções para a produção no país este ano, de 105 mil para 90 mil caminhões; a também sueca Scania relatou redução das vendas no país em 42% na comparação anual.

A americana General Motors informou que o desaquecimento econômico na América Latina e na Europa ofuscou o bom desempenho da empresa em outros mercados. A francesa Peugeot terminou o semestre com baixa de 0,3% no Brasil.

Por aqui, as 860 mil unidades vendidas pela italiana Fiat entre abril e junho ficaram praticamente em linha com o volume de 2011. A alemã Volkswagen foi a exceção: cresceu 21,5% na América do Sul no primeiro semestre.

No setor de telecomunicações, America Movil (Claro) e Telecom Itália (TIM), tiveram desempenho mais fraco do que no ano passado. Mas o resultado era esperado: "Nossa base [de telefonia no Brasil] está tão alta que era de se esperar um movimento de desaceleração das taxas de crescimento", diz Jacqueline Lison, analista da Fator Corretora. "É cedo para falar sobre desaceleração, só vimos uma empresa falar disso, que é a TIM."

Anderson Ramires, sócio da PwC Brasil, concorda. "A Oi passa por reestruturação grande, Vivo e Telefônica terminam sinergias da fusão, a TIM vem ganhando mercado. Foi período [primeiro semestre] que, na média, acabou pela manutenção dos patamares [dos resultados]", diz, acrescentando que a perspectiva para o setor no segundo semestre é "muito boa", de grandes investimentos, aumento de rede e redução de tarifas.

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