terça-feira, 14 de agosto de 2012

USDA corta suas projeções para oferta de milho e soja



Autor(es): Por Fernando Lopes | De São Paulo
Valor Econômico - 13/08/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/8/13/usda-corta-suas-projecoes-para-oferta-de-milho-e-soja
 

A deterioração do quadro de oferta de grãos nos EUA nesta safra 2012/13 promete amplificar a pressão "altista" sobre as cotações internacionais de commodities como milho e soja nos próximos meses, o que tende a exacerbar as críticas sobre o mandato do etanol no país e as preocupações em torno de uma crise "agroinflacionária" mundial.
Segundo relatório divulgado na sexta-feira pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), os reflexos da estiagem e do calor que assolam o Meio-Oeste do país derrubarão a colheita de milho para 273,79 milhões de toneladas, 16,9% menos que o previsto há apenas um mês e volume 12,8% inferior ao efetivamente colhido em 2011/12. Será o pior resultado desde 2006.
As estimativas ainda podem piorar, tendo em vista que a colheita americana só começará a ganhar força em algumas semanas. Em relação às projeções iniciais de produção, a quebra deverá ultrapassar 100 milhões de toneladas. Para efeito de comparação, o USDA passou a estimar a colheita de milho no Brasil em 72,8 milhões de toneladas em 2011/12, um novo recorde também sinalizado pela Conab e puxado pelo desempenho da safrinha.
A tenebrosa situação nos EUA tem reflexos diretos e irreversíveis no tabuleiro global do cereal. Apesar de ter revisto para cima as colheitas de Argentina, Brasil e China em 2012/13, o baque americano deverá reduzir a produção mundial de milho para 849,01 milhões de toneladas na temporada, 6,2% menos que o estimado em julho e volume 3,2% menor que o de 2011/12, sempre conforme as estatísticas do USDA.
A seca e o calor nos EUA também provocam reflexos deletérios sobre as lavouras de soja. Conforme o USDA, a produção americana tombará para 73,27 milhões de toneladas em 2012/13, quase 12% abaixo do previsto em julho e da colheita de 2011/12. Assim, a produção mundial na safra atual foi revisada para 260,46 milhões de toneladas, 2,5% menos que o estimado em julho.
Mesmo assim, o volume é 10,3% maior que o de 2011/12, diferentemente do que deve acontecer no mercado de milho. Os estoques globais finais de soja também tendem a aumentar um pouco em relação ao ciclo passado, ao contrário do que ocorrerá com o milho. Mas, em ambos os casos, os níveis são baixos.
Em tempos de Olimpíadas, os problemas da soja nos EUA darão ao Brasil inéditas medalhas de ouro na produção e na exportação do grão em 2012/13, desde que o clima na safra que começará a ser semeada em meados de setembro colabore. Depois da seca que afetou a região Sul do país em 2011/12, tudo indica, até agora, que os meninos - La Niña e El Niño - vão de fato se comportar melhor, o que deverá resultar, conforme o USDA, em uma produção de 81 milhões de toneladas, 3,8% mais que o estimado em julho e 23,7% acima do volume do ciclo 2011/12.
Em 2012/13, conforme o USDA, o Brasil exportará 37,6 milhões de toneladas de soja em grão, à frente de EUA (30,21 milhões) e Argentina (13,5 milhões), pervertendo uma ordem que vigorou por praticamente uma década, até 2011/12. No ciclo passado, os EUA exportaram 36,74 milhões de toneladas, conforme o USDA, e superaram Brasil (36,7 milhões) e Argentina (7,8 milhões).
Na bolsa de Chicago, as primeiras reações às novas estimativas do USDA foram moderadas. Os analistas alegaram que as projeções para o milho vieram de acordo com as expectativas e as cotações do cereal caíram. A erosão do quadro da soja causou alguma surpresa, mas os ganhos registrados foram moderados. No mercado de trigo, onde o USDA revisou para baixo produção e estoques finais mundiais, mas elevou as projeções para os EUA, onde as condições das lavouras melhoraram, os preços também retrocederam.
Em parte, essa "reação controlada" a uma oferta de grãos mais combalida decorre de projeções de retrações nas demandas. Exceto no caso do trigo, cujo consumo poderá aumentar em função da crise do milho (ambos podem ser usados em rações), no milho e na soja o USDA reduziu as previsões de demanda em parte por causa dos preços já superelevados, que começam a provocar resistência em compradores, do México ao Irã, passando pelo Brasil.
Vale observar, contudo, que a crise do biênio 2007-2008 foi provocada sobretudo por um choque de demanda. Agora, a crise é causada por um choque de oferta, que gera resistência em consumidores e tende a arrefecer no médio prazo, até porque as ofertas tendem a ser recompostas. Mas, para os próximos meses, a tendência é de preços em alta.

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