sábado, 25 de junho de 2011

Cafeicultor mecaniza colheita para driblar falta de mão de obra

Autor(es): Ana Conceição
O Estado de S. Paulo - 24/06/2011
 
Competição com outros setores, como a construção civil, reduziu a oferta de trabalhadores para a colheita do café

A concorrência com outros segmentos da economia, como a construção civil, tornou cada vez mais escassa e cara a mão de obra disponível para a colheita do café. Com isso, produtores têm recorrido à mecanização por meio da aquisição ou do aluguel de máquinas. Algumas regiões, como a abrangida pela Cocamar, em Maringá (PR), estão experimentando a colheita mecanizada pela primeira vez nesta safra. O resultado tem sido satisfatório, e os cafeicultores já pensam em ampliar a iniciativa no ano que vem.

De acordo com Walmi Gomes Martin, gerente de produto da área de colhedoras de café da Jacto, uma das principais empresas que fornecem o equipamento no mercado nacional, as vendas na atual safra seguem iguais às da passada, algo incomum. "Geralmente, a demanda cai no ciclo de baixa da safra, como o atual. Mas, neste ano, ela tem se mantido no mesmo patamar de 2010, quando o mercado esteve bem aquecido", disse, sem revelar quantas colhedoras foram vendidas pela empresa em 2010.

Esse cenário, segundo ele, deve-se aos bons preços alcançados pela saca do grão, que dobraram nos últimos 12 meses. "Há muito produtor investindo em reforma ou ampliação dos cafezais e já o faz pensando na mecanização até para driblar a escassez de mão de obra", revelou. [destino que o Bolsa-Família acelerou. Os trabalhadores perderão as terras e migrarão para as periferias, onde talvez, infelizmente "talvez", encontrem emprego nos serviços.]

Este é um caminho sem volta para a atividade, segundo o professor Daniel Marçal de Queiróz, do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (UFV), especialista no assunto. "A sustentabilidade da cafeicultura em todas as áreas passa pela mecanização", afirmou.

Ele ressalta que regiões como o cerrado mineiro, sul de Minas Gerais e Bahia estão adotando a técnica com sucesso, mas muitas áreas com declividade maior que 20% não podem ser mecanizadas. Logo, é necessário o desenvolvimento de novas tecnologias de colheita. "Se não viabilizarmos essas áreas, grande parte delas será substituída por outras culturas." Queiróz dá o exemplo da região de Viçosa, onde mais de 50% dos cafezais não podem ter a colheita mecanizada. Ali, muitos foram substituídos por florestas de eucalipto.

De acordo com o professor Fábio Moreira da Silva, do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Lavras (Ufla), a colheita manual do café representa de 30% a 40% do custo da produção do grão. Em regiões em que predominam pequenas e médias propriedades, com topografia e arquitetura das lavouras que limitam o uso das colhedoras, tem sido verificada uma expansão do sistema semi mecanizado para as operações de derriça (retirada dos frutos do cafeeiro) e abanação, com o emprego equilibrado de mão de obra e máquinas. Já naquelas com topografia mais plana e em propriedades maiores, o sistema mecanizado tem apresentado forte expansão.

Estudo realizado pelo professor no sul de Minas Gerais mostra que o custo da colheita manual chega a R$ 2.400 por hectare; o da semimecanizada, a R$ 1.689/ha; e o a da mecanizada, a R$ 1.280/ha. O mesmo estudo identificou que dos 434.230 ha de lavouras cafeeiras da região sul e sudoeste de Minas Gerais, 66,74% têm declividade de até 15% e estão aptas a serem colhidas mecanicamente.

Estreia. No norte do Paraná, a Cocamar iniciou neste ano um projeto piloto com uma colhedora alugada, que passará pelos municípios de Maringá, Umuarama, Cianorte e Altônia. Algumas lavouras tiveram que ser adaptadas, com a retirada de pés para alargar as ruas, a fim de dar passagem para a máquina. Mas o custo compensou as perdas
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