Agricultores do oeste baiano investem em aeroportos, em estradas e em energia para reduzir despesas e lucrar mais
O desenvolvimento de infraestrutura permite ao agricultor redução de perdas e melhora na rentabilidade anual
MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL À BAHIA
Empresários agrícolas do oeste baiano, uma das regiões que mais crescem no país, cansaram de esperar investimentos de infraestrutura do Estado. Eles se uniram e vão construir aeroporto, estradas e fazer parcerias para obter mais energia.
Consolidada a agricultura na região, buscam nova saída: industrialização e agregação de valor. O próximo passo é reduzir custos com logística e elevar margens.
Esse caminho, no entanto, exige investimentos do Estado, que não tem recursos.
A saída para os agricultores foi desenvolver parte dessa estrutura. A primeira ação foi a construção de um aeroporto na cidade.
Treze empresários agrícolas se uniram, providenciaram o terreno, fizeram a base da pista e do pátio de taxiamento e entregaram ao governo, que cuida do asfaltamento da pista e vai construir o terminal de embarque.
O investimento na primeira fase -com pista de 2.050 metros- está em R$ 17 milhões, mas vai a R$ 85 milhões quando a pista for aumentada para 3.050 metros.
"O Estado não consegue acompanhar a evolução do oeste", diz Walter Horita, produtor de algodão da região e presidente da Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia).
FUNDO PRIVADO
Os produtores vão criar também um fundo compulsório privado, mas com a participação do governo, para construir estradas e elevar a oferta de energia na região. A ampliação do fornecimento de energia vai permitir o desenvolvimento da avicultura, da suinocultura e de usinas de beneficiamento de algodão nas fazendas.
Os recursos desse fundo virão de um percentual, ainda não definido, das vendas dos produtores agrícolas.
"Será um fundo gerido pelo setor privado, mas com o Estado no conselho", diz Sérgio Pitt, também produtor na região. Um dos objetivos do fundo será melhorar a logística do transporte.
Os produtores já têm o primeiro trecho de estrada programado, cujo projeto custou R$ 2 milhões, pagos por eles. Serão construídos 222 quilômetros de estrada. Eles entram com 50% da obra e o Estado com o restante. A meta é construir 800 quilômetros.
João Lopes Araújo, produtor de café, diz que o fato de os produtores assumirem gastos agora pode significar lucros adiante.
Ele cita uma região em Barreiras onde milhares de caminhões percorrem 150 quilômetros para retirar a produção de grãos e levar insumos às fazendas. A construção de uma estrada reduzirá esse percurso para apenas 39 quilômetros.
"É a vez da verticalização", diz Humberto Santa Cruz, um dos pioneiros na produção de grãos e de frutas na região e prefeito de Luís Eduardo Magalhães.
Santa Cruz destaca que tecnologia, clima e pesquisa deram à região a liderança nacional na produtividade de grãos.
"Agora que conseguimos consolidar a produção é hora de aumentar a margem e isso pode ser feito por meio de pesquisas nas lavouras e redução de custos", diz Pitt. Isso é importante porque "a compra de terra é finita."
Os produtores de Mato Grosso fizeram um projeto semelhante, que deu certo.
No governo de Blairo Maggi, eles se associaram e construíram ou recuperaram 2.400 quilômetros de estradas.
Feito o orçamento, a conta foi dividida e convertida na moeda de cada produtor do Estado: soja, milho etc.
Desacreditada antes, região agora é líder
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2406201106.htm
DO ENVIADO À BAHIA
A terra desacreditada de há 15 anos do oeste baiano é hoje a base da economia da região de Luís Eduardo Magalhães, um ponto estratégico entre o Sudeste e o Nordeste.
A evolução agrícola da região foi tanta que "não há diferença na utilização de tecnologia entre os produtores locais e os dos Estados Unidos".
A afirmação é de Walter Horita, um dos principais produtores de algodão da região e presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia.
O resultado desse avanço tecnológico é que a produtividade média da região supera até a dos norte-americanos.
Essa produtividade alta, aliada a um ano de bons preços, faz a diferença na renda dos produtores.
Em média, os agricultores de milho tiveram ganho de 86% acima dos gastos totais com a produção. No caso do algodão, a margem foi de 75%; no da soja, de 64%.
Essa boa renda é um dos motivos de os produtores substituírem o Estado em alguns investimentos de infraestrutura, como a construção de aeroportos e de estradas.
Com uma área ocupada de 1,8 milhão de hectares, o potencial da região é ainda de mais 1 milhão de hectares, diz Horita.
300 SACAS
Na avaliação de Jacob Lauck, também um dos pioneiros da região, "ainda dá para fazer dinheiro por aqui". As terras da região, que valiam quatro sacas de soja por hectare, em 1984, são compradas hoje por 300 sacas.
A situação dos produtores também é bem diferente agora, quando são procurados pelos bancos e discutem as taxas de juros que vão pagar.
No início, o crédito era caro e muito difícil obtê-lo devido à falta de garantias para dar às instituições financeiras, diz Horita.
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