quarta-feira, 22 de junho de 2011

Puxado por indústria e varejo, economia cria 15% menos empregos em maio

Autor(es): João Villaverde | De Brasília
Valor Econômico - 21/06/2011
 

Os sinais de desaceleração da atividade chegaram aos dados do emprego em maio. No mês passado, foram criados 252 mil empregos, número 15% menor que em igual mês de 2010. A queda foi puxada pela indústria, onde a geração de postos de trabalho foi 32% menor na comparação com maio do ano passado, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem. No ano, a criação de novas vagas somou 1,1 milhão - 88,5 mil vagas a menos que nos primeiros cinco meses de 2010.
Para o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ainda não há desaceleração no emprego. "O mercado de trabalho é o ponto fora da curva na economia", disse ele. "Todos no país estão mobilizados em reduzir a velocidade da atividade, mas o mercado de trabalho continua acelerado, contra as expectativas", afirmou o ministro, que manteve sua projeção otimista para o resultado final de 2011 - para ele, serão 3 milhões de vagas formais criadas no ano.
Segundo avaliação de Lupi, a forte criação de vagas registrada nos últimos dois anos foi puxada por condições internas, tendo à frente os empréstimos de bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, às famílias, e do BNDES, às empresas. "Dessa vez, o governo coloca o pé no freio nos financiamentos e nos concursos públicos", diz Lupi, "mas quem vem ocupando o espaço de impulsionar a criação de empregos são os investimentos estrangeiros diretos", afirma.No entanto, os resultados dos três principais setores da economia indicam o contrário. Na indústria de transformação, onde os salários são mais elevados, a geração de vagas caiu 32%, dos 62,2 mil registrados em maio de 2010 para 42,3 mil no mês passado.
No comércio, cuja competição com o exterior é mínima, diferentemente do que ocorre com a indústria, o resultado de maio foi quase metade do registrado no mesmo mês do ano passado. No setor de serviços, foram geradas 71,2 mil vagas formais no mês passado - ante 86,1 mil em maio de 2010.
Para Fabio Romão, especialista em mercado de trabalho da LCA Consultores, o resultado do setor de serviços no mês passado é o primeiro a sinalizar que o desaquecimento da economia esperado para 2011 atingiu o mercado de trabalho. "Falamos do setor mais resistente a alterações na atividade, diferentemente da indústria, que é a primeira a refletir os rumos da economia", afirma Romão, para quem o saldo de vagas formais, no ano, dificilmente atingirá 2 milhões de vagas - sua projeção é que o Caged aponte saldo de 1,8 milhão.
"A indústria segue o PIB", diz Romão, em referência aos resultados mais fracos registrados no ano. A queda de 0,6% no Produto Interno Bruto em 2009 foi seguida por um saldo magro de 18 mil vagas na indústria, da mesma forma que a alta de 7,5% do PIB registrada no ano passado contou com saldo recorde de 519 mil vagas criadas pela indústria. Entre janeiro e maio do ano passado, a indústria criara 349,7 mil vagas - ante 236,3 mil em igual período deste ano. "O PIB caminha para um resultado inferior a 4% neste ano", diz Romão, "nada mais natural que a indústria, logo de partida, reflita esse ritmo".
O setor da construção civil, nos últimos anos impulsionado por programas como Minha Casa, Minha Vida e por incentivos fiscais à indústria de materiais de construção, repete, neste ano, a trajetória dos demais setores. Não só o saldo de 28,9 mil vagas formais registrado em maio foi inferior às 39 mil vagas criadas no mesmo mês do ano passado, como o saldo acumulado neste ano é muito menor que em igual período de 2010 - 148 mil e 205,2 mil, respectivamente.
Para Lupi, o resultado dos primeiros cinco meses de 2011 "não serve de perspectiva para o que ocorrerá no resto do ano, a começar por junho". Segundo o ministro, o setor da construção civil sofreu o "contágio" das demissões acordadas com o governo federal nas obras de construção da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia. Além disso, afirmou Lupi, "a partir de junho, o segmento responderá ao Minha Casa, Minha Vida 2, lançado neste mês".

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