quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sinais de moderação do déficit externo

Autor(es): Fábio Graner
O Estado de S. Paulo - 28/06/2011
 
Depois de um 2010 com ritmo muito acelerado, o déficit em conta corrente já mostra em 2011 algum sinal de moderação em seu crescimento.
Embora apresentando taxas mensais ainda bem elevadas e recordes, como ocorreu em maio, os números divulgados pelo Banco Central mostram que neste ano o saldo negativo no conjunto das transações de bens, serviços e rendas do País com o exterior oscilou, no acumulado em 12 meses, sempre próximo de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), nível semelhante ao verificado no fim de 2010.
Para se ter uma ideia mais clara dessa relativa acomodação, basta lembrar que só no primeiro semestre de 2010 o déficit acumulado em 12 meses saiu da casa de 1,5% do PIB para mais de 2% do PIB. E no restante daquele ano continuou crescendo acima da taxa de expansão de todas as riquezas produzidas pelo Brasil.
Com o déficit em conta corrente medido em 12 meses crescendo menos como proporção do PIB, reduz-se a preocupação com eventuais problemas de balanço de pagamentos no futuro, caso o cenário externo piore gravemente e as fontes de financiamentos sequem.
O movimento também pode ser interpretado como mais um sinal de que a economia brasileira já não cresce mais no mesmo ritmo impetuoso do ano passado, o que diminui a pressão inflacionária.
O diretor de pesquisas da associação Brain, André Sacconato, avalia que o ritmo menos intenso de alta do déficit externo de fato reflete a moderação da atividade econômica brasileira. Ele prevê que este indicador continuará crescendo, a taxas menores, e sem maiores riscos de crise. Mesmo em um cenário de piora no quadro internacional, o economista lembra que o Brasil está sentado sobre mais de US$ 300 bilhões de reservas internacionais, que podem suprir um sumiço repentino de dólares para cobrir o déficit em conta corrente.
Apesar do quadro mais tranquilo, o Brasil poderia estar bem melhor.
Mas a infraestrutura ainda precária, a alta carga tributária e os juros elevados, em ambiente de câmbio valorizado, têm dificultado um crescimento mais forte das exportações de produtos industrializados. E também incentivado a importação desses bens. É a velha agenda da competitividade, que tem sido motivo de muito discurso, mas na qual a política econômica ainda precisa avançar muito.

Déficit externo dobra e chega a US$ 4,1 bi

Déficit externo chega a US$ 22 bilhões
Autor(es): Renata Veríssimo e Fabio Graner
O Estado de S. Paulo - 28/06/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/6/28/deficit-externo-dobra-e-chega-a-us-4-1-bi
 
Resultado do acumulado de janeiro a maio é inédito. Apenas no mês passado, rombo nas contas externas do País foi de US$ 4,1 bilhão
O déficit na conta corrente do balanço de pagamentos atingiu US$ 4,1 bilhões no mês passado, o maior valor para meses de maio desde 1947 e o dobro do registrado em maio de 2010. No acumulado dos cinco primeiros meses do ano, o resultado negativo somou US$ 22,2 bilhões, cifra também inédita para o período.
Apesar dos números recordes, o Banco Central avalia que o déficit evoluiu na trajetória esperada e está consistente com a estimativa de saldo negativo de US$ 60 bilhões para 2011. Nessa conta são registradas todas as transações de bens, serviços e rendas do Brasil com o exterior.
O discurso de tranquilidade do BC é explicado porque o saldo negativo tem sido financiado sem problemas, graças principalmente à evolução "significativa" dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), recursos direcionados para a produção no Brasil. O IED totalizou US$ 3,97 bilhões em maio, também o maior valor para o mês, e, para 2011, a autoridade monetária manteve sua estimativa de US$ 55 bilhões.
A situação do País é saudável quando o déficit externo é coberto pelo investimento direto, uma fonte de dólares com perfil de longo prazo. No acumulado em doze meses até maio, o IED supera o déficit em conta corrente, embora no mês passado o investimento direto tenha sido menor que o déficit externo.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, antecipou que a conta corrente deve ter em junho déficit de US$ 4,2 bilhões e o investimento direto, saldo de US$ 4,5 bilhões. Segundo ele, o fluxo de IED neste mês, até o dia 24, estava positivo em US$ 4,34 bilhões.
Além do forte crescimento da economia - que estimula importações e viagens ao exterior - e a valorização do real, a piora do déficit em conta-corrente em maio também foi puxada pela maior remessa de lucros e dividendos para o exterior. Foram US$ 4,2 bilhões em maio, o dobro do valor de abril.
"As remessas refletem o bom momento da economia e a ampliação dos investimentos estrangeiros diretos nos últimos anos", disse Maciel. Ele adiantou que as remessas de lucros e dividendos totalizam, até o momento, US$ 3 bilhões em junho. O BC elevou ontem a projeção de remessas para o ano de US$ 34 bilhões para US$ 37 bilhões.
Os gastos com pagamento dos juros da dívida pública e privada chegaram a apenas US$ 90 milhões em maio, o menor da série histórica do BC. Em junho, até ontem, as despesas com juros somavam US$ 1,12 bilhão. A estimativa de superávit na balança comercial em 2011 também foi elevada de US$ 15 bilhões para US$ 20 bilhões.
A projeção de déficit da conta de serviços e rendas em 2011, que inclui gastos com viagens internacionais, subiu de US$ 78 bilhões para US$ 83 bilhões. A previsão para Investimentos Brasileiros Diretos (IBD) no exterior caiu de US$ 5 bilhões para zero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário