quinta-feira, 30 de junho de 2011

Terra firme

Autor(es): Fernando Lopes | De São Paulo
Valor Econômico - 28/06/2011
 

Projeções feitas no país e no exterior indicam que na próxima década o Brasil fortalecerá ainda mais sua posição de fornecedor global de alimentos.

Ao recepcionar os ministros de agricultura do G-20 com a manchete interna "Brasil, a nova fazenda do mundo", o jornal francês "Le Monde" deu mais uma mostra da expectativa sobre a posição que será ocupada pelo país como fornecedor de alimentos nos próximos anos e o que esse papel significará para seu reposicionamento no tabuleiro geopolítico mundial. Era 21 de junho, a reunião do "G-20 Agrícola" aconteceria nos dois dias seguintes, em Paris, e o protagonismo brasileiro era evidente, como ficou demonstrado ao término das discussões sobre as fortes oscilações e os elevados preços internacionais das commodities agrícolas e seus efeitos sobretudo em países mais pobres.
Sobre a mesa de negociações, dúvidas sobre a eficácia das ferramentas à disposição para combater a volatilidade, dificuldades em se criar mecanismos para evitar a especulação nas commodities e duas certezas: a demanda global por alimentos crescerá em ritmo mais acelerado que a oferta na próxima década e o Brasil será o país exportador mais beneficiado por essa tendência.
"Expandir a produção é a solução mais rápida que o Brasil pode oferecer para ajudar a coibir o risco de grave crise alimentar mundial", diz Marcos Fava Neves, ex-coordenador do Programa de Agronegócios da USP (Pensa) e criador do Centro de Pesquisas e Projetos em Marketing e Estratégia (Markestrat), que acaba de lançar o livro "The Future of Food Business" nos EUA e Europa.
Projeções do Ministério da Agricultura sinalizam que o agronegócio brasileiro não está disposto a perder essa oportunidade. A produção de soja, milho, trigo, arroz e feijão deverá crescer pelo menos 23% até a safra 2020/21, para 176 milhões de toneladas, enquanto a de carnes (bovina, suína e de frango) deverá aumentar 26,5%, para mais de 31 milhões de toneladas.
Governo e iniciativa privada concordam que essas expansões serão garantidas mais pelo incremento das eficiências das cadeias do que das áreas destinadas às atividades. A pecuária poderá perder espaço para agricultura, e a área plantada terá ampliação menor que a da produção. Conforme o ministério, a área total ocupada com lavouras deverá passar de 62 milhões hectares, em 2011, para 68 milhões em 2021, com destaque para as expansões de soja e cana - 5,3 milhões e 2 milhões de hectares a mais, respectivamente.
O avanço não deverá ser atrapalhado pelo novo Código Florestal - cuja versão aprovada pela Câmara, efusivamente comemorada pela bancada ruralista, está em discussão no Senado -, nem pelas prováveis limitações às compras de terras por estrangeiros, também em gestação em tempos de preços recordes de propriedades agrícolas no mercado.
A partir dos previstos incrementos de oferta, a participação do Brasil no comércio internacional de alimentos também tende a avançar consideravelmente. Já líder nas exportações de açúcar, etanol, café, suco de laranja e carnes, segundo no ranking da soja e com relevância crescente no milho e no algodão, o país tende a conquistar cada vez mais mercados. "O potencial é fantástico, apesar de o aumento do "custo Brasil", também pressionado pela mão de obra, e dos gargalos de infraestrutura afetarem a relação entre custos e eficiência. O setor também terá de cumprir à risca exigências ambientais, trabalhistas e sociais e terá de avançar na produção de valor agregado", diz João Sampaio, ex-secretário da agricultura de São Paulo.
São fatores que ajudam a estimular o processo de profissionalização - e concentração - no campo, com o fortalecimento de serviços como gestão e monitoramento geoespacial de riscos. "Não há mais espaço para a ineficiência, e o sucesso depende da melhoria dos processos de atuação", diz Sergio P. Da Rocha, sócio-fundador da AgroTools, líder desse segmento no país.

Cotações em alta compensam queda nas vendas externas de carnes

Valor Econômico - 28/06/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/6/28/cotacoes-em-alta-compensam-queda-nas-vendas-externas-de-carnes
 

A crise árabe deve conter o crescimento das exportações de carne bovina, segundo a projeção de Antonio Carmadelli, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec). Depois de superados os problemas internos, com a queda da ditadura, o Egito se reorganizou e voltou a comprar. Mas a instabilidade na Líbia ainda não permitiu uma normalização completa das relações comerciais entre os dois países. Embora seja um cliente pequeno, com apenas 400 toneladas por semana em compras - menos de 2% das vendas brasileiras -, a Líbia tem grande importância para o setor porque consome basicamente carne de dianteiro, que não tem destinação fácil em outros mercados.Apesar dos empecilhos no mercado árabe, o setor deve manter as previsões de crescimento em torno de 10% a 15% em receita e queda de 10% em volume ao longo do ano, afirma o presidente da Abiec. No primeiro quadrimestre de 2011, as vendas de carne bovina ao exterior aumentaram 12% em receita, com retração de 9% em volume. Com US$ 4,8 bilhões e 1,23 milhão de tonelada em exportação em 2010, o setor sofreu retração de 1% no volume, mas a alta de 18% nos preços médios permitiu à receita um incremento de 16%.
Uma das preocupações dos exportadores é com a queda de competitividade do produto brasileiro perante outros competidores. Com o preço do boi praticamente igualado em todo o mundo, a distância do Brasil para os principais mercados, o câmbio defasado e a logística deficiente têm afetado a rentabilidade, afirma Carmadelli. A entidade firmou uma parceria com a Universidade de São Paulo e o Ministério da Agricultura para estudar formas de reduzir as deficiências na atividade.
Apesar disso, o setor teve ganhos importantes. Um deles é a melhora da produtividade, afirma Célio Porto, secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura. O criador brasileiro está substituindo o modo extensivo pelo intensivo. Ou seja, a mesma área produz mais carne que antes. "No Estado de São Paulo, a área diminui e a produção cresce", afirma o executivo do ministério. O país também aumentou a precocidade dos animais com melhoras na nutrição. As pastagens ganham tratamento para se tornarem mais produtivas. Antes, o animal era abatido com 36 meses. Hoje, atinge o ponto de corte aos 30 meses ou menos, aproximando o país de grandes produtores, como os Estados Unidos, onde o abate ocorre por volta dos 24 meses.
Também em crescimento, o setor de aves reclama da alta dos custos, principalmente das rações, e da queda do dólar perante o real (12,6% em 12 meses até 1º de junho). "Estamos perdendo oportunidades porque não conseguimos repassar esses custos lá fora", reclama Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef). Com o aumento da produção de milho entre 3% e 5% este ano, o setor espera que o custo seja ligeiramente aliviado.
Apesar das queixas, o setor tem conseguido resultados expressivos e acima dos esperados. A estimativa da Ubabef no início do ano era de aumento de 3% a 5% nas exportações. O crescimento de janeiro a maio foi de 9% em volume e de 20% em receita ante o mesmo período de 2010.
"Fomos bem, mas poderíamos ter ido muito melhor", prossegue Turra. "O cenário lá fora é de demanda alta e estoques baixos. O Japão continua comprando, a China aumenta suas importações. Ásia e África estão demandados". Segundo ele, produtores e indústria não "alimentam esperanças" de mudança no curto prazo. "Sabemos que a política do governo é aumentar juro, e juro atrai dólar. Do preço dos insumos também não dá para esperar milagre".
O setor ainda enfrenta algumas barreiras sanitárias, mas tem conseguido suas vitórias. Recentemente, o mercado da Índia foi aberto. Mesmo assim, o país cobra sobretaxa de 100%, o que inviabiliza os negócios. Turra destaca questões técnicas que durante muito tempo emperraram as vendas para países como Canadá e Ucrânia, recentemente derrubadas.
Com um terço das exportações mundiais, o Brasil está se tornando o maior exportador de carne de frango do mundo - título que só foi reconhecido neste ano pela agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Em documento divulgado no início de junho, a organização reforça as críticas do presidente da Abiec, Antonio Carmadelli, de que o governo precisa cuidar da infraestrutura. A Ubabef entrou nesse debate. A entidade encaminhou ao Ministério do Planejamento um documento apontando as necessidades prementes da infraestrutura logística que representam impedimentos para o crescimento do setor.

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