quarta-feira, 1 de junho de 2011

Juros ao consumidor disparam

Autor(es): Ana D"angelo
Correio Braziliense - 31/05/2011
 

Taxa do cheque especial alcança 178,1% ao ano, o nível mais elevado desde 2003. Índice de calote aumenta pelo sexto mês consecutivo

Sem capacidade financeira para obter empréstimos mais baratos, os brasileiros estão recorrendo ao cartão de crédito e ao cheque especial, que cobram as maiores taxas de juros do mercado, entre 8,9% e 11% ao mês, para honrar suas despesas. Em abril, as famílias rolaram R$ 20,6 bilhões em débitos nos cartões, por meio do crédito rotativo e do parcelamento das compras. O montante representa aumento de 6,7% em relação a março deste ano e de 21% sobre abril do ano passado, que foi um período de intenso consumo. Mesmo tendo uma queda de 4,7% ante março, a rolagem de dívida no cheque especial em abril atingiu R$ 23,7 bilhões, maior patamar desde março de 2010.

Já os créditos mais baratos liberados pelos bancos, como o consignado, com desconto em folha de pagamento, perderam ritmo. Entre março e abril, as concessões encolheram 2,7%. No crédito pessoal como um todo, o recuo chegou a 7,5%. Nos financiamentos de veículo, a retração foi de 5,2%. O resultado dessa arriscada troca de dívidas foi o aumento da inadimplência. Entre as pessoas físicas, o calote em prestações vencidas há mais de 90 dias atingiu 6,1%.

No geral, o saldo de empréstimos e financiamentos cresceu 1,3% em abril, atingindo R$ 1,77 trilhão, o equivalente a 46,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Os bancos, segundo o BC, elevaram a taxa média de juros cobrada dos consumidores para 46,8% ao ano, o maior patamar em quase três anos. Essa alta foi puxada, integralmente, pelo chamado spread (diferença entre o que os bancos pagam aos investidores e o que cobram dos devedores), que avançou 1,8 ponto percentual.

No cheque especial, as taxas médias passaram de 174,6% para 178,1% ao ano, o nível mais elevado em oito anos. No crédito pessoal, o custo dos empréstimos subiu de 47,3% para 49,9%. Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, já é possível observar um arrefecimento na demanda por crédito, em virtude das medidas macroprudenciais adotadas pelo governo para conter o consumo e, por tabela, evitar a disparada da inflação, que está muito além do centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%.

Ele reconheceu que as famílias têm comprometido uma parte maior da renda com o pagamento de dívidas com os bancos. O aumento dos débitos no cartão de crédito e no cheque especial demonstra a tentativa de equalizar as contas pelo consumidores.

Os mais rentáveis das Américas
A política de juros altos está fazendo bem aos bancos brasileiros. Estudo da Consultoria Economática mostra que Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco são os mais rentáveis das Américas. De cada US$ 100 de patrimônio, o BB obtém retorno de US$ 26,60 ao ano. Nessa mesma relação, o Bradesco tem ganho de US$ 22,33. E o Itaú Unibanco, de US$ 20,57. As três instituições superam gigantes norte-americanos como o Citigroup, o JP Morgan e Bank of America. O retorno patrimonial banco dos Estados Unidos com o melhor desempenho representa menos da metade do resultado do BB. O US Bancorp conseguiu US$ 12,91 para cada US$ 100 de patrimônio. Parte do desempenho das instituições brasileiras se deve ao crédito caro — a taxa média cobrada dos consumidores está em 46,8% ao ano.

Taxa de juro real é a maior desde 2008

Eduardo Campos
Valor Econômico - 31/05/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/5/31/taxa-de-juro-real-e-a-maior-desde-2008
 

A taxa de juros real oscila acima de 7% desde meados da semana passada, e na última medição, ontem, marcou 7,07%, maior desde 16 de dezembro de 2008. De fato, o juro nominal descontado da inflação vem em trajetória ascendente desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Isso mostra um ganho de força da política monetária, já que de nada adianta subir os juros nominais, se a taxa real não acompanha tal movimento.
Isso foi observado após a reunião de março do comitê, quando os juros reais caíram, mesmo depois do ajuste de meio ponto percentual na taxa Selic.
Dois fatores têm de ser observados aqui. O primeiro é a expectativa de inflação, pois quanto maior menor o juro real para um mesmo juro nominal. Ou seja, se a deterioração das expectativas de inflação corre mais rápido do que a alta de juros, a ação de política monetária tem efeito nulo (isso ocorreu em março).
O outro ponto é menos palpável. Segundo o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, tal comportamento do juro real é sinal claro de que o canal das expectativas esta trabalhando. Isso também reforça o quão relevante é o controle dos prognósticos de preço dentro da política monetária.
Na avaliação de Leal, essa melhora na expectativa de inflação em 12 meses (utilizada no calculo do juro real) explica parte desse movimento da taxa real de juros. Outra fatia do movimento é a resposta do mercado à mudança de discurso do Banco Central (BC) desde sua reunião de abril, quando ficou clara a intenção de subir a taxa de juros nominal pelo tempo que for necessário.
Segundo o economista, esse "componente expectativa" é detectável pelo seguinte fator. O recuo nos prognósticos para inflação em 12 meses foi mais acentuado do que as projeções para a inflação até o fim do ano.
Vamos aos números: o IPCA projetado em 12 meses fez máxima de 5,53% em 28 de janeiro. No último Focus, de 27 de março, essa taxa tinha caído para 5,04%, Uma queda de 0,49 ponto percentual.
Já o IPCA estimado para 2011 fez máxima de 6,37% no Focus de 29 de abril. Agora, a mediana cedeu para 6,23%. Queda de 0,14 ponto percentual.
Igualando os horizontes de comparação. O IPCA em 12 meses abriu maio em 5,27%, o IPCA para o fim do ano marcava 6,33%. Quedas de 0,23 ponto percentual e 0,10 ponto, respectivamente.
"A inflação em 12 meses caiu mais do que a expectativa de curto prazo. É o canal das expectativas funcionando", disse Leal.
Mais uma evidência desse canal de expectativas, segundo Leal, é que, mesmo com um aperto de juros menor (a alta de abril foi de 0,25 ponto), o BC conseguiu efeito maior na taxa real de juros do que o registrado durante o mês de março, quando o aperto na taxa básica fora de meio ponto percentual.
O economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, reconhece a importância dessa alta nos juros reais, mas ressalta que muito da melhora não está pautada em uma evolução consistente da inflação.
De acordo com Serrano, a queda das projeções em 12 meses capta essa melhora da inflação no curto prazo.
Variações de IPCA próximas de zero estão contratadas para os próximos meses e isso influencia a modelagem das expectativas.
Para o especialista, o movimento seria mais consistente se, além da inflação em 12 meses, o IPCA projetado para o fim de 2012 também estivesse em firme movimento de baixa. Algo que não está acontecendo. Essa mediana captada pela pesquisa Focus segue em 5,10%, máxima para o ano.
Para Serrano, houve uma melhora no cálculo dessa medida do juros real. Mas não dá para falar, ainda, em mudança de percepção.
Isso ficará mais claro conforme essa melhora de curto prazo sair do radar. E qual será a composição entre as expectativas e taxa de juros conforme a autoridade monetária avança no ciclo de alta da Selic.
Passando para o pregão de segunda-feira, o volume na bolsa, câmbio e juros foi limitado pelo feriado que manteve Wall Street e Londres inoperantes.
Colocando o foco no câmbio, as vendas se acentuaram no fim do pregão, junto a um súbito aumento no volume, que ajudou o giro do interbancário a marcar US$ 1,3 bilhão.
No fim da jornada, o dólar comercial apontava baixa de 0,49%, a R$ 1,593, menor cotação desde 3 de maio. No mercado futuro, o contrato para junho marcava perda de 0,37%, a R$ 1,589. E o dólar para julho também recuava 0,37%, a R$ 1,6015, antes do ajuste final.
Os vendidos, pelo visto, continuam impondo sua vontade e isso deve se repetir hoje.

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