terça-feira, 23 de agosto de 2011

Bancos têm US$ 1,6 trilhão de reservas em excesso nos EUA


Bancos têm US$ 1,6 trilhão de reservas em excesso nos EUA
Valor Econômico - 23/08/2011

Os bancos nos EUA já têm US$ 1,65 trilhão em reservas depositadas no Federal Reserve acima do valor mínimo exigido pela autoridade monetária. Por sua vez, grandes companhias acumulam enorme quantidade de ativos líquidos.
Desde outubro de 2008, as reservas obrigatórias (10% para os depósitos líquidos) e as excedentes dos bancos no Fed são remuneradas em apenas 0,25% ao ano. Patrick Artus, do banco francês Natixis nota que o excesso de reservas dos bancos indica que a forte criação de liquidez pelo Fed não aumentou a distribuição de crédito no país. Principalmente porque há pouca demanda por financiamento imobiliário.
A dimensão do excesso de reservas vem sendo usada na discussão sobre possível mudança na política do Fed – que poderá ser anunciada pelo presidente da instituição, Bem Bernanke, em aguardado discurso na conferência de Jackson Hole, sexta-feira. Richard Fischer, do Fed de Dallas, diz que as reservas adicionais e o volume de ativos líquidos das empresas mostram que a economia não está sendo freada apor escassez de fundos. E, assim, a liquidez adicional teria pouco ou nenhum efeito na atividade econômica.
Para Joseph Abate, do Banco Barclays Capital, em Nova York, os bancos estão com excesso de reservas "por precaução". Mas ele concorda que cortar a já baixa remuneração, de 0,25% terá pouco efeito. Teoricamente, isso levaria os bancos a transferir suas reservas para outro lugar.
Se nos Estados Unidos o dinheiro flui para o Fed porque a economia não reage, na Europa os depósitos dos bancos no Banco Central Europeu têm crescido devido ao receio de que o sistema financeiro seja atingido por eventual calote soberano. Com isso, as instituições temem emprestar umas às outras. O foco agora está na necessidade dos bancos de funding em dólares, depois que um banco europeu teve de pegar US$ 500 milhões no Banco Central Europeu (BCE), por sete dias, semana passada. [crise de confiança]
O custo pago pelos bancos europeus para obter funding em dólares está no nível mais alto desde 2008. Os dólares escassearam porque os investidores americanos – incluindo os "money market funds", que compram títulos de dívida de curto prazo – preferem evitar papeis das instituições financeiras européias mais expostas aos países da periferia da região com problemas de endividamento.
Para Michael Symonds, da Daiwa Capital Markets, "enquanto durar a incerteza sobre a dívida soberana na zona do euro, as condições de funding para bancos europeus vão continuar tensas".

Afogando em liquidez

Autor(es): José Márcio Camargo
O Estado de S. Paulo - 22/08/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/8/22/afogando-em-liquidez
Um ano depois e US$ 600 bilhões a mais de liquidez e a economia americana retornou ao mesmo lugar em que estava antes do anúncio do Quantitative Easing 2 (QE2): crescimento próximo a zero, desemprego em alta, consumidores deprimidos e confiança dos setores industriais e de serviços sinalizando a volta da recessão.

Entre os objetivos perseguidos pelo Federal Reserve (Fed), ao introduzir o QE2, os únicos que foram atingidos até o momento foram o aumento da taxa de inflação e a diminuição da probabilidade de deflação. A resposta do setor real da economia foi nula.

Como a economia não cresce, o ajuste fiscal acaba tendo de ser feito via redução de gastos, diminuindo ainda mais as perspectivas de crescimento. Numa economia globalizada, com liberdade de fluxo de capitais, uma política monetária excessivamente frouxa nos países desenvolvidos tem efeitos colaterais negativos que poderão tornar insustentável o crescimento mundial.

Como a liquidez não encontra oportunidades de retorno "em casa", busca esse retorno "fora de casa", ou seja, em commodities e nos mercados de crédito dos países emergentes. Sobem os preços das commodities (o que é agravado por problemas de oferta, como imprevisibilidade climática, baixo investimento no passado, etc.), o dólar se desvaloriza e aumenta a oferta de crédito. A valorização das moedas é deflacionária e recessiva para o setor industrial desses países, na medida em que o excesso de demanda é atendido cada vez mais por aumentos das importações. Por outro lado, o crescimento da oferta de crédito atua na direção oposta: gera aumento da demanda por bens e serviços e pressão inflacionária.

A tentativa de proteger o setor industrial da valorização cambial, seja via intervenção no câmbio, seja via medidas de política industrial, exacerba o efeito inflacionário do excesso de liquidez, o que acaba exigindo uma política fiscal mais rigorosa, aumentos da taxa de juros e controles na oferta de crédito, o que reduz o crescimento e exacerba a tendência à valorização cambial.

Neste contexto, os próximos meses deverão ser caracterizados por mais inflação e menos crescimento no mundo como um todo. Nos países desenvolvidos, porque o excesso de liquidez não consegue reativar a economia. No mundo emergente, porque o excesso de liquidez gera pressão inflacionária e força os bancos centrais e os governos a adotarem políticas, monetária e fiscal, mais restritivas.

Em suma, o balanço entre inflação e crescimento está se deteriorando rapidamente. Para a mesma taxa de inflação, a taxa de crescimento é cada vez menor. A liquidez excessiva está afogando a economia mundial, tornando-a cativa de uma armadilha da liquidez.

O cenário para a economia brasileira não difere do descrito acima. O balanço entre inflação e crescimento está se deteriorando. O aumento da oferta de crédito faz com que a demanda cresça a taxas insustentáveis. A forte e persistente valorização do real permite que o aumento de demanda por bens industriais seja atendido por aumento das importações, com estagnação do setor industrial e queda dos investimentos. Porém, no setor serviços, em que não é possível importar, o resultado é uma forte pressão inflacionária. À medida que a estagnação do setor industrial se aprofunda, o emprego e o Produto Interno Bruto (PIB) crescem cada vez menos. Tudo isso agravado pela pressão dos preços das commodities (principalmente os alimentos).

Um ano depois e 1,75 ponto de porcentagem a mais de taxa de juros, o Brasil voltou ao mesmo ponto de meados de 2010, quando o Banco Central parou de aumentar os juros em razão da redução do crescimento da economia mundial. Mas agora, com inflação mais elevada e crescimento menor. Com inflação de serviços próxima a 9% ao ano e crescente - as expectativas para a inflação em 2011, em 2012 e até mesmo em 2013 estão acima do centro da meta
-, afrouxar a política monetária seria extremamente arriscado, apesar da redução das expectativas de crescimento interno e externo.

Por causa da resistência dos preços dos serviços à queda, de um mercado de trabalho aquecido e do reajuste do salário mínimo no início de 2012, apenas um colapso no mercado de crédito como o ocorrido no final de 2008 seria capaz de reverter a trajetória de aceleração inflacionária, por meio de uma queda acentuada nos preços das commodities. Como a probabilidade de um evento de crédito dessa dimensão é pequena, mas não desprezível, por prudência o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá manter a Selic constante em suas próximas reuniões, exatamente como fez cerca de um ano atrás. Porém, também como ocorreu naquele momento, caso as políticas monetárias no mundo desenvolvido continuem a aumentar a liquidez internacional, a expectativa de deterioração da política fiscal se materialize e o governo e o Banco Central continuem a tentar proteger a indústria da valorização cambial, o mais provável é que a persistente aceleração da inflação force o Banco Central a aumentar os juros no início de 2012, para tentar levar a inflação para o centro da meta no final de 2013.

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