Autor(es): Por Assis Moreira | De Genebra |
Valor Econômico - 30/08/2011 |
Produtores e entidades de consumidores na área de saúde nos Estados Unidos preparam uma dura campanha para evitar que o governo americano permita enfim a entrada da carne bovina de 14 Estados brasileiros em seu mercado. Oficialmente, a alegação é de que a carne bovina brasileira gera o risco de introduzir febre aftosa nos EUA e aumenta a ameaça de surtos de "E.coli" no território americano. No fundo, trata-se de temor da concorrência do maior exportador mundial de carne bovina. "O Brasil tem o potencial de colocar extrema pressão de baixa na indústria pecuária americana, por sua capacidade de exportar enormes volumes de carne bovina para os EUA", afirmou Bill Bullard, principal executivo da associação de pecuaristas R-Calf, em entrevista à publicação especializada em comércio "Us Inside Trade". Há mais de seis anos que os EUA analisam se liberam ou não a carne bovina brasileira. No acordo bilateral pelo qual o Brasil aceitou não retaliar produtos americanos em centenas de milhões de dólares por causa dos subsídios aos produtores de algodão daquele país, os EUA se comprometeram a colocar em consulta pública até 30 de janeiro deste ano a análise de risco de carne bovina de regiões do Brasil livres de aftosa com vacinação. O processo é necessário para liberar a entrada de produtos no país. Proposta do USDA sobre carne bovina brasileira poderá ser liberada mês que vem para consulta pública nos EUA Recentemente, em reunião no Rio de Janeiro, os brasileiros voltaram a cobrar. O embaixador brasileiro junto a Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, reclamou que a duração do processo americana era "excessiva e escapa a qualquer noção de razoabilidade". As autoridades americanas argumentaram que ainda precisavam fazer análise econômica sobre o impacto de importações de carne brasileira. Isso parece ter sido feito, e o resultado indicaria impacto mínimo. Agora, a "Inside US Trade" publicou que, depois de examinada pelo Office of Management and Budget (OMB), a proposta do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) poderá ser liberada mês que vem para consulta pública. O conteúdo exato da proposta não está claro. Normalmente, segundo a publicação, o USDA exige que um país seja livre de aftosa como pré-requisito para propor a autorização de importação. Mas haveria sinais de que o USDA pode adotar outra postura, pela qual os EUA abririam seu mercado para a importação dos 14 Estados brasileiros de carne bovina maturada de regiões livres de aftosa com vacinação. Essa consulta pública demora 60 dias. É quando as diferentes posições, contra e a favor à carne bovina brasileira, vão se manifestar. Depois o USDA dá a decisão final sobre a liberação. É nesse cenário que está sendo montada a campanha contra a carne bovina brasileira. Até agora, o Brasil só exporta carne enlatada para os EUA. Com o risco de concorrência, as associações de produtores R-Calf, National Farmers Union (NFU), National Cattlemen"s Beef Association (NCBA) e entidades de proteção a consumidores já usam argumentos pesados para impedir que o USDA venha a tomar uma decisao a favor do Brasil. Um dos argumentos, tirados de artigo de uma revista do setor, é de que 50% da carne bovina no Brasil não teria inspeção ou supervisão correta por parte das autoridades sanitárias. Tudo isso deixaria consumidores americanos sob risco de contrair doenças. A campanha é idêntica à que os produtores americanos deflagraram contra a carne de ovelhas da Patagônia, na Argentina. Parlamentares americanos chegaram a aprovar medida específica no orçamento, proibindo que recursos fossem usados para pagar salários e despesas de funcionário para atividades que levariam à autorização da importação do produto. A Argentina não reagiu. Mas quando os congressistas quiseram fazer a mesma coisa em relação à carne de frango da China, Pequim avisou que levaria o caso aos juízes da Organização Mundial do Comércio (OMC). A carne suína de Santa Catarina também foi alvo de violenta campanha nos EUA até 2010, na consulta pública para liberação do produto. Dezenas de manifestações consideravam "loucura, insanidade, absurdo" que o produto fosse autorizado a entrar nos EUA. Um estudo da Universidade de Kansas foi desenterrado para mostrar que o impacto da eventual chegada da aftosa aos EUA poderia custar até US$ 50 bilhões de prejuízo aos produtores locais. Isso não impediu que o USDA liberasse a entrada do produto em janeiro deste ano, até porque o impacto será mínimo. O setor no Brasil também se preparou para contestar na OMC qualquer medida semelhante à sofrida pela produção da Patagônia. Até agora, os produtores de Santa Catarina não conseguem exportar por causa da falta de documentos suficientes sobre programas de segurança sanitária de sua produção. Somente na semana passada é que o Ministério da Agricultura enviou material ao governo americano, após meses de atraso. Fontes em Brasília dizem que o governo está atento à campanha anti-carne brasileira. E espera que também o setor privado venha a agir rápido, para contrabalançar a "campanha difamatória" nos EUA. A expectativa em Brasília é de que em reunião bilateral em outubro, nos EUA, os americanos deem alguma notícia positiva sobre a liberação da carne bovina. |
FAO defende país de ataques
Valor Econômico - 30/08/2011 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/8/30/fao-defende-pais-de-ataques |
A agência para agricultura e alimentação da Organização das Nações Unidas (FAO) faz uma das principais defesas do Brasil em relação aos ataques que produtores e algumas entidades de consumidores americanos estão preparando contra a carne bovina brasileira. O veterinário chefe da agência da ONU, Juan Lubroth, aponta o Brasil como um exemplo no mundo de engajamento contra febre aftosa, com boa cooperação entre o governo e o setor privado na área sanitária. "O Cone Sul é uma potência para exportar carnes. Se o USDA autorizar a entrada da carne, e o Brasil der as garantias sanitárias, é porque não tem risco". Quanto à ameaça de propagação da bactéria "E.coli" aventada pelos Estados Unidos, o veterinário da FAO diz que se trata um problema que todo o mundo tem. "Isso não é virulento, e não é razão para fechamento de mercado a um produto", afirma. Para o representante da FAO, o Brasil não só vem agindo bem, como tem capacidade técnica para monitoramento na área sanitária e pode melhorar mais se os Ministérios de Educação e de Agricultura do país se juntarem, para reforçar a qualidade das faculdades de veterinária. |
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