domingo, 21 de agosto de 2011

BRASIL, UM DOS MAIS CAROS DO PLANETA


Brasil, meu caríssimo Brasil
Autor(es): Martha Beck e Paulo Justus
O Globo - 21/08/2011


As tarifas aéreas cobradas em trechos domésticos, como Rio-SP, são as mais caras do mundo. Os preços que os brasileiros pagam por energia elétrica e gasolina estão no topo.


Passagens aéreas, energia, telefonia e banda larga estão entre os itens que têm preços altos ao consumidor

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Quem é brasileiro sabe e sente no bolso: o país é um dos mais caros do mundo quando se trata de preços de itens como energia elétrica, combustíveis e passagens aéreas. Se o Brasil participasse de uma Olimpíada que premiasse os países com os maiores custos, certamente estaria entre os medalhistas nessas modalidades. A valorização do real está entre os principais fatores recentes que levaram ao aumento dos custos na comparação com outros países nos últimos anos.
Um setor aéreo concentrado e com entraves à concorrência faz com que o Brasil seja hoje o país com as passagens aéreas mais caras do mundo entre os grandes mercados. Levantamento preparado para o GLOBO pela consultoria econômica MicroAnalysis mostra que o quilômetro percorrido de avião nas rotas mais movimentadas - como Rio-São Paulo ou São Paulo-Brasília - custa, em média, US$0,36 nos horários de pico (de 6h às 9h e de 18h às 21h). Trata-se de uma tarifa 227% mais cara do que nos Estados Unidos, onde esse valor é de US$0,11. Ou 157% maior do que na Europa, onde sai por US$0,14.
Tarifa aérea custa três vezes mais aqui do que nos EUA
Segundo o levantamento, a tarifa no trecho São Paulo-Brasília, por exemplo, que representa uma distância de 1.015 quilômetros, custa, em média, US$378,37. O valor é quase três vezes maior do que uma tarifa no trecho Nova York-Chicago, que é de US$144 e representa uma distância de 1.149 quilômetros. Ainda de acordo com a pesquisa, o trecho Berlim-Paris (1.094 quilômetros), custa US$200. Neste caso, a passagem brasileira é quase duas vezes mais cara.
- Quando comparada com outros lugares do mundo, a tarifa brasileira é muito elevada - afirma Cleveland Prates, sócio-diretor da MicroAnalysis e ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O trabalho da consultoria faz também um levantamento das tarifas para um passageiro que busca uma passagem para embarque no próprio dia em horário de pico. Neste caso, o preço do quilômetro no Brasil é de US$2,41 e só perde para o Canadá, US$2,83. Nos Estados Unidos, o valor é de US$0,45 e na Argentina, de US$0,48. Procurado, o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) não comentou o estudo.
Segundo a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), o país tem hoje o terceiro maior custo de energia elétrica para a indústria no mundo, atrás apenas de Itália e Eslováquia. O ranking, elaborado pela Abrace com dados de 2010, analisou custos de 26 países.
- O Brasil vive uma situação curiosa: embora esteja em condição geográfica única no mundo para ter energia barata e renovável, tem uma energia das mais caras do mundo. Isso ocorre por causa de encargos e ineficiências no sistema - diz Paulo Pedrosa, presidente da Abrace.
Outro estudo, sobre o custo da energia residencial, também coloca o Brasil na terceira posição, atrás de Alemanha e Áustria. O levantamento, feito pela Trevisan Escola de Negócios com 17 países, considerou o gasto de uma família que consome 300 quilowatt-hora por mês. A conta de luz paga anualmente pela família brasileira ficou em US$914, contra US$1.108,8 na Alemanha e US$918 na Áustria. O valor está bem distante dos gastos anuais americanos (US$478,8) e mexicanos (US$295,2) que tiveram os menores preços da amostra.
A renovação a partir de 2015 de parte das concessões do setor elétrico, que conta com contratos de mais de 50 anos, é a grande esperança para reduzir o valor da conta de luz dos brasileiros. Segundo estimativa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), os novos leilões poderiam cortar o valor médio do megawatt-hora de R$90 para até R$20, porque os novos contratos já não incluiriam mais a amortização dos investimentos para a construção das usinas, mas apenas os gastos com manutenção.
- Na hidrelétrica, que responde pela maior parte da energia gerada no país, o que é caro é o investimento. Quem entrar nos novos leilões não vai mais contabilizar o investimento, só o custo de operação e manutenção - diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
Gasolina é uma das mais caras das Américas
O custo dos combustíveis também está entre os maiores do mundo. De acordo com levantamento da Sociedade Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ, na sigla em alemão), feito em novembro de 2010, o Brasil tem a segunda gasolina mais cara das Américas, cotada a US$1,58 o litro. O país só perde para Cuba (US$1,72/litro), que em setembro do ano passado decretou uma alta de 18% no combustível por causa da instabilidade do preço do petróleo.
O Brasil é o único país entre os Bric que está na categoria de países com a gasolina mais cara do mundo, dentre as quatro classificações da GIZ. São economias em que o preço do litro do combustível custa entre US$1,47 e US$2,54 o litro. Na Índia, a gasolina saiu por US$1,45, contra US$1,11 na China e US$0,84 na Rússia.
A situação é semelhante com o diesel brasileiro, que é também o mais caro entre os Brics e o terceiro mais caro das Américas, cotado a US$1,14 o litro, atrás de Uruguai e Cuba. Entre os quatro grupos de países classificados de acordo com a faixa de preço pela GIZ, o Brasil está em segundo lugar, na faixa que tem preço entre US$0,85 e US$1,36 o litro, por causa de impostos.
Na telefonia, o Brasil fica na posição intermediária, na 53ª entre os 161 países que tiveram a cesta de serviços básicos de telefonia fixa analisada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT). Apesar disso, o valor da cesta no país, de US$13,43, é superior à média de todos os países (US$12) e também o mais alto entre os Brics. Para a análise, a UIT se baseou no valor cobrado em 2009 para uma cesta de serviços de telefonia fixa composta pela assinatura e 30 chamadas locais de três minutos cada, sendo 15 em horário de tarifa reduzida.
Os preços de banda larga também mostram o Brasil como o mais caro entre os Brics. O país é o 97º mais caro entre 161 países analisados no mundo, com valor de US$28,033 pela assinatura básica de internet, com 1 gigabyte incluído. Na banda larga, o Brasil fica abaixo da média de todos os países (US$74,15), distorcida pelos altos preços de países como a República Centro Africana, em que o plano básico custa US$1.329,49.

Industrializado nacional é mais caro

O Globo - 21/08/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/8/21/industrializado-nacional-e-mais-caro
 


Brasileiro paga por produtos do setor 48% mais que a média de 5 países

SÃO PAULO. Os produtos industrializados brasileiros estão hoje entre os mais caros do mundo, segundo estudo feito pela RC Consultores a pedido do Movimento Brasil Eficiente. A pesquisa, que comparou o preço de produtos vendidos no país com mercadorias idênticas à venda em África do Sul, Austrália, EUA, França e Reino Unido em junho, mostrou que a cesta brasileira de produtos custa 48% mais que a média ponderada desses países.
O país liderou em 12 das 29 categorias da amostra que incluiu de produtos industrializados a alimentícios básicos, como batata e leite. Os preços do Brasil foram os mais caros no automóvel, MP3 player, TV, blue ray, videogame, tênis, celular, fralda, perfume, remédio, maquiagem e notebook.
- A cesta de produtos evidencia o quanto os custos brasileiros estão elevados se comparados aos outros países. Isso ocorre principalmente por causa da elevada carga tributária, que encarece especialmente os produtos que têm uma cadeia de produção longa, como os veículos, por causa do efeito em cascata - diz Fábio Silveira, sócio da RC Consultores responsável pelo estudo.
Segundo Paulo Rabello de Castro, presidente da RC Consultores e coordenador do Movimento Brasil Competitivo, a carga tributária responde por 70% da perda de competitividade do Brasil frente aos outros países. Isso porque a distribuição dos impostos pesa mais sobre os produtos que sobre a renda, o que onera especialmente a população de baixa renda:
- Além da carga tributária, os custos energéticos e financeiros também afetam a competitividade. Mas o que dá uma diferença de 10% a 20% em relação aos outros países, e que deixa os dados gritantes, é a apreciação cambial.
Por esses motivos, comprar um carro no Brasil custa mais de três vezes mais caro que nos Estados Unidos. Segundo o levantamento, o Hyundai Santa Fe, vendido aqui por US$69,3 mil, é comercializado em lojas americanas por US$21,8 mil. O valor médio do veículo nos países pesquisados foi de US$31,4 mil.
Um videogame sai ainda mais caro. O Xbox 360 com Kinect, que custa US$299 nos Estados Unidos, sai por US$1.196 no Brasil, exatamente quatro vezes mais caro. Na África do Sul, segundo país mais caro da amostra, o mesmo produto custa US$515, enquanto na média internacional custa US$405.
Em outras cinco categorias (celular, blue ray, tênis, remédio e maquiagem) os produtos brasileiros custam pelo menos o dobro da média internacional. O iPhone 4 de 32 Gigabytes vendido no Brasil por US$1.323, tem um preço médio de US$589. Já o blue ray X-men Origens: Wolverine, vendido por US$35 no Brasil custa em média US$15 entre os países analisados.
O Brasil só ficou mais barato que a média em sete categorias: máquina de lavar roupa, calça jeans, xampu, leite, açúcar refinado, cerveja e jornal. Segundo Silveira, isso se deveu principalmente à produtividade do país em áreas como a alimentícia e em produtos agrícolas básicos. (Paulo Justus)

Nenhum comentário:

Postar um comentário