quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Tesouro Direto avança com crise nos mercados


Autor(es): agência o globo:Vinicius Neder
O Globo - 29/08/2011
 

Vendas no programa de negociação de títulos públicos federais a pessoas físicas saltam 64% este ano
Em tempos de crise da dívida em países ricos e fortes quedas das bolsas de valores em todo o mundo, investidores buscam segurança em títulos do governo brasileiro, que pagam os maiores juros do mundo. Nos primeiros sete meses do ano, a média mensal de vendas no Tesouro Direto - programa de negociação de títulos públicos diretamente à pessoa física - foi de R$305 milhões, salto de 64% em relação à média de R$186 milhões do ano passado. Segundo especialistas, usar o sistema é uma das melhores opções de investimento conservador em meio à turbulência nos mercados.
Mesmo que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central encerre o ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic) na reunião que termina depois de amanhã, como prevê a maioria dos analistas, ou até mesmo corte a taxa, a remuneração continuará acima do ano passado. A principal vantagem do programa de compra direta é oferecer boa rentabilidade com menos custos, dizem especialistas em finanças.
Assim como os fundos de renda fixa e DI - que aplicam a maior parte de seus recursos nos mesmos títulos públicos -, o Tesouro Direto oferece retorno maior do que o da poupança. Mas, como o programa elimina o intermediário - ou seja, o administrador do fundo -, a tendência é sobrar mais rendimento para o investidor.
Esse foi um dos motivos pelos quais o arquiteto Ian Joels optou pelo Tesouro Direto. Ele aplica no programa há quatro anos, com periodicidade de dois em dois meses. O foco é de longo prazo, para quando se aposentar.
- O retorno dos fundos fica em cerca de 8,5% ao ano, enquanto no Tesouro Direto é possível ter 11,5% ao ano - diz Joels, que aplica em títulos prefixados e atrelados ao IPCA.
Número de novos investidores está em alta
Novos investidores estão se juntando a Joels. Nos primeiros sete meses deste ano, a média de novas adesões foi de 5,4 mil por mês, contra 3,3 mil em 2010.
Esse movimento também já é sentido nas corretoras. Segundo Bruno Carvalho, especialista em renda fixa da XP Investimentos, uma das maiores corretoras no segmento de varejo, o número de clientes atuando no Tesouro Direto saltou de 750, em dezembro passado, para 2.081, em julho último.
- Este ano, a procura pela renda fixa como um todo está em alta, por causa do desempenho ruim da Bolsa - diz Carvalho, que já sente uma migração maior de ações para títulos públicos neste mês, quando as perdas na Bolsa se aprofundaram.
Segundo o coordenador de Planejamento Estratégico da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Rodrigo Cabral, é possível relacionar o aumento dos investimentos no Tesouro Direto à crise porque algo semelhante ocorreu em 2008. Em outubro daquele ano, auge da crise originada no mercado imobiliário dos EUA, foram vendidos R$259 milhões em títulos pelo programa. A média mensal de 2008 ficou em R$129 milhões.
No Brasil, o movimento de aversão ao risco vem desde o início do ano. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, acumula perda anual de 23,02% até sexta-feira. A queda se aprofundou este mês, mas ainda não há dados recentes sobre mais demanda pelo Tesouro Direto.
- Com o ambiente de volatilidade, há uma migração para a renda fixa e o Tesouro Direto está cada vez mais conhecido - diz Cabral.
Em parte, o programa está mais conhecido por causa de incentivos aos agentes de custódia - corretoras e bancos que operam em nome dos investidores.
Desde 2009, a CBLC, responsável pelos serviços de guarda centralizada das operações da BM&FBovespa, divide com os agentes os custos para a integração dos sistemas, permitindo aos investidores operarem pelos sites das corretoras e bancos - uma conveniência, sobretudo para quem já opera com ações. A CBLC também premia os agentes com melhor desempenho de vendas, dividindo com eles parte das taxas a ela devidas.
Taxas dos agentes de custódia variam de 0% a 1%
Um dos motivos pelos quais o custo no Tesouro Direto é menor é o fato de esses agentes cobrarem taxas de custódia entre 0% e 1% ao ano, menores do que as taxas de administração dos fundos. Para Cabral, a concorrência e a exposição das taxas no site do Tesouro Direto contribuem para derrubá-las.
Além disso, a CBLC cobra 0,4% de taxa. Para verificar se o Tesouro Direto está mais vantajoso do que os fundos, é preciso comparar a soma das taxas (do agente de custódia e da CBLC) com a taxa de administração do fundo de investimento. Para o professor William Eid Jr., do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), vale a pena pesquisar.
- Qualquer valor pequeno pode fazer diferença num investimento de longo prazo - diz Eid Jr., para quem longo prazo significa acima de cinco anos.
Na hora de comprar os títulos do Tesouro, o investidor tem uma série de opções. Em linhas gerais, os títulos podem ser prefixados - indexados ou não pelo IPCA, índice oficial de inflação - ou pós-fixados, indexados pela taxa básica de juros (Selic). Os títulos possuem ainda diferentes prazos de vencimento.
O professor de finanças Gilberto Braga, do Ibmec/RJ, lembra que, no início do ano, com a perspectiva de um novo ciclo de aumento da Selic, muitos investidores apostavam nos títulos pós-fixados. Agora, com a expectativa de encerramento do ciclo, os prefixados podem ser mais vantajosos.
- Mas, se o investimento é de longo prazo, o investidor não deve nortear suas decisões pelo momento - pondera Braga.
Com esse foco, o economista Leonardo Szczerb, que também aplica no Tesouro Direto de olho na aposentadoria, prefere os títulos atrelados à inflação:
- Para a aposentadoria, o importante é garantir poder de compra - diz Szczerb.

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