quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Juro real é o menor desde novembro


Política
Autor(es): Eduardo Campos
Valor Econômico - 23/08/2011
 

Acompanhando o derretimento das taxas futuras, o juro real (taxa nominal descontada a inflação) caiu para patamares não registrados desde novembro de 2010, abaixo dos 6%.
Considerando a expectativa de inflação em 12 meses do último boletim Focus, de 5,43%, e a taxa de mercado (swap 360, de 11,64%), o juro real está em 5,89%, o menor desde 12 de novembro de 2011.
Essa queda da taxa real ajuda ou atrapalha o Banco Central?
Sinalizando menor crescimento, taxa cai a 5,89%
A resposta para a pergunta depende do que quer a autoridade monetária.
Se o intuito do BC é manter o nível de atividade elevado, então tal movimento é positivo.
Agora, se a ideia for controlar a inflação, o juro real menor não ajuda.
De fato, essa taxa real sugere que o aperto monetário feito entre janeiro e julho deste ano tem seu efeito praticamente anulado.
O que é fato, segundo um economista que preferiu não se identificar, é que essa queda do juro real mostra o mercado se antecipando a um crescimento menos robusto da economia.
Mesma sugestão dada pelos contratos de juros futuros, que mostram as taxas longas abaixo das curtas. A clássica "inversão de curva", que precede períodos de menor bonança.
Segundo esse mesmo economista, essa movimentação do juro real e das taxas futuras está alinhada à pauta mundial de consolidação de um menor crescimento global ou mesmo uma nova rodada de recessão nos Estados Unidos - o que deixa a preocupação com o comportamento da inflação em segundo plano.
A questão aqui é como o BC vai se posicionar. Na visão desse especialista, o quadro é mais complexo agora em termos de decisão de política monetária do que o enfrentado em 2008.
Três anos atrás o BC sabia a direção a seguir (juro para baixo) e estava claro que a resultante de forças domésticas e externas era deflacionária.
Agora, o número de variáveis em questão é maior e sua resultante é menos previsível do que em 2008. Com isso, tomar qualquer ação preventiva se torna ainda mais difícil.
O economista trabalha com três cenários. O primeiro é de ruptura do sistema financeiro. Nesse caso, o Banco Central corta os juros e corta bem rápido, pois não vai perder a oportunidade como em 2008.
Cabe um adendo aqui. O BC só começou a reduzir a taxa básica em janeiro de 2009, o que lhe rendeu críticas pela morosidade, além da "timidez" na redução, já que a taxa cedeu de 13,75% para 8,75%. A vizinha Colômbia, lembra o economista, cortou a taxa básica de 10% para 3%. E quando precisou retirar estímulo, subiu o custo do dinheiro para 4,5%.
O segundo cenário contempla menor crescimento mundial e local. No caso, o BC estaria apto a parar de subir e esperar o impacto dos próximos eventos domésticos, como reajuste do salário mínimo sobre a inflação, antes de partir para um movimento de queda da Selic em algum momento do próximo ano.
O último cenário é de recessão, mas sem nenhum evento da mesma magnitude da quebra do Lehman Brothers. Aqui, o BC também cortaria a taxa básica, mas de forma mais gradual e com menor amplitude.
O problema é que os três cenários têm probabilidade de ocorrência bastante semelhante. "Acertar a mão agora é muito mais difícil. O BC está em um momento complicado para atuar preventivamente. Há um quadro de desaceleração, com risco de quebra de bancos na Europa", conclui.
No mercado de juros futuros, a queda livre nos vencimentos longos encontrou um "piso" na segunda-feira.
Mas as taxas apenas pararam de cair e os investidores continuam céticos quanto a algum firme movimento de alta.

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