domingo, 22 de abril de 2012

A bilionária Brasília rural


Autor(es): » DIEGO AMORIM
Correio Braziliense - 22/04/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/4/22/a-bilionaria-brasilia-rural

Destaque no país, o agronegócio investe na produção de grãos, cresce em ritmo 2,5 vezes mais forte que a economia nacional e transforma os arredores da capital federal em uma nova fronteira agrícola. Setor já movimenta R$ 1,2 bilhão por ano

Do Plano Piloto, não se enxerga o horizonte das plantações e pastagens que fazem do Distrito Federal modelo de eficiência para a agropecuária brasileira. Com pouca terra e muita tecnologia, produtores e criadores transformaram o Planalto Central na região agrícola mais diversificada e próspera do país. Em solo brasiliense, os níveis de produtividade superam a média nacional e, em algumas culturas, até mesmo os registrados em países da Europa e nos Estados Unidos. A força do campo surpreende e indica um provável caminho para a diversificação da economia local, ainda muito dependente do setor público.
Praticamente todos os meses, comitivas internacionais formadas por agricultores e investidores de todos os continentes desembarcam em fazendas do DF para ver de perto o poder do agronegócio candango, que já movimenta — somente com produção — mais de R$ 1,2 bilhão por ano. Em 2011, a riqueza rural da capital do país avançou 6,5%, quase 2,5 vezes mais que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no mesmo período. O montante não inclui valores referentes às 173 agroindústrias e à prestação de serviços no campo.
O clima e a terra, considerados favoráveis ao plantio, não deixam safras se perderem. A aplicação de técnicas avançadas permite, ainda, duas colheitas por ano em cerca de 80% das áreas agricultáveis, irrigadas ou de sequeiro (que depende das chuvas para receber irrigação). Na Brasília rural, o trabalho nas lavouras não para. Cerca de 30 variedades de grãos, cereais, frutas e hortaliças se adaptam bem às condições do solo e colocam a região na quinta posição do ranking nacional do PIB da agricultura, com uma cifra de R$ 541,7 milhões, atrás apenas dos municípios matogrossenses de Sapezal e de Sorriso, de São Desidério, na Bahia, e de Rio Verde, em Goiás (veja arte).
Produtores fazem milagre em 119,6 mil hectares cultivados, o menor território fértil entre os principais polos agrícolas brasileiros. "Estamos no céu", define o diretor da Fazenda União, Vilson Thomas, 53 anos, da segunda geração de gaúchos que desbravaram os arredores da capital federal. Com sede às margens da DF-130, no Núcleo Rural Tabatinga, em Planaltina, o conglomerado familiar administrado por Vilson ilustra o potencial da agroindustrialização. O faturamento das três empresas do grupo, no ano passado, somou R$ 20 milhões. E deve crescer mais 5% em 2012.
As fazendas comandadas por Vilson Thomas já faturam R$ 20 milhões por ano: grãos exportados para as regiões Norte e Nordeste
De 3,5 mil hectares distribuídos por sete fazendas, brotam milho, soja, feijão e sorgo armazenados, manipulados e distribuídos para atacados do DF e Entorno e para cidades das regiões Norte e Nordeste. O maquinário de última geração e os 24 caminhões usados no processo de escoamento valem algo em torno de R$ 35 milhões. Quando viaja para fechar negócio, Vilson acompanha pelo celular toda a produção e logística, por meio de imagens geradas a partir de 32 câmeras instaladas em posições estratégicas nas lavouras e no condomínio industrial.
Estrada da soja
A intensa movimentação de carretas nas rodovias que cortam o DF e ziguezagueiam o Entorno agrícola revela a produção aquecida em propriedades campeãs de exportação. Próximo a Cristalina (GO) — a maior área irrigada da América Latina —, impressionam as extensas plantações nos dois lados da chamada "estrada da soja". "Não existe região no Brasil e talvez no mundo como esta, onde se planta e colhe todo dia, o ano inteiro", diz Leomar Cenci, presidente da Cooperativa Agropecuária da Região do DF (Coopa-DF), entidade que reúne 113 associados e movimenta R$ 65 milhões por ano em negócios, com destaque para a soja e o trigo.
Os altos índices de produtividade, aliados ao peso do mercado consumidor do DF, o maior do Centro-Oeste e o terceiro do país, têm chamado a atenção de multinacionais para as cobiçadas divisas com Goiás e Minas Gerais. As gigantes Pionner e Monsanto, empresas norte-americanas de sementes, além do grupo alimentício francês Bonduelle, já estão na região, assim como a Rain Bird, principal fabricante mundial de equipamentos de irrigação. Executivos da Nestlé analisam a possibilidade de implantar um centro de pesquisa ou uma indústria perto de Brasília.
Palco de negócios
Em apenas quatro anos, como reflexo da pujança do agronegócio na região, a Agrobrasília conseguiu se firmar como um dos maiores e mais importantes eventos do ramo no país. Sem tradição consolidada nem megashows de duplas sertanejas na programação, foram comercializados, em 2011, R$ 212 milhões, o maior valor registrado entre as feiras de todos os segmentos realizadas na capital federal. Durante a quinta edição, entre 15 e 19 de maio, visitantes poderão utilizar uma pista de pouso e decolagem de pequenos aviões construída no parque onde a feira ocorre, na região do Programa de Assentamento Dirigido do DF (PAD-DF), a 60 km do centro de Brasília.
Para saber mais
Colônias agrícolas
Antes da construção de Brasília, o Planalto Central era dividido em enormes fazendas, onde havia uma tímida e pouco diversificada produção. Com a transferência da capital para o centro do país, um sistema de abastecimento precisou ser planejado para atender a demanda que surgiria. Colônias agrícolas de nordestinos, gaúchos e japoneses, principalmente, se instalaram na região para dar início a plantações maiores. Muito do cerrado acabou sendo devastado, com o aval do próprio Estado. Em 1976, nasceu o Programa de Assentamento Dirigido do DF (PAD-DF), atualmente a região rural mais próspera do DF. Aos poucos, os produtores descobriram as excelentes características físicas da terra, que, aliadas à tecnologia, deram força à agropecuária local
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Corrida por financiamento

Autor(es): » DIEGO AMORIM
Correio Braziliense - 22/04/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/4/22/corrida-por-financiamento

Existem hoje no DF 2,9 mil processos de regularização de áreas rurais. Por não terem o título da terra, produtores encontram dificuldades para obter empréstimos nos bancos. GDF e BRB prometem reduzir a burocracia

A forte demanda por alimentos desafia agricultores locais a produzir mais e melhor no mesmo espaço de terra. Para isso, não há outro caminho a não ser aumentar os investimentos em tecnologia e agregar valor aos produtos com a construção de complexos agroindustriais nas propriedades. É aí que um problema que se arrasta há décadas trava a força do campo brasiliense: no papel, os produtores não são donos da terra ocupada legitimamente. A insegurança jurídica dificulta os empréstimos bancários e impede um avanço mais veloz do agronegócio na região.
O atual governo é mais um a se mostrar disposto a resolver a situação até o fim do mandato. Na Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural, acumulam-se 2.919 processos de regularização de terras. Para tentar conseguir financiamentos e manter a produtividade das lavouras em alta, os autores desses pedidos precisam oferecer como garantia às instituições bancárias o maquinário usado nas produções, além de apresentar os balanços da safra anterior, sempre positivos. Muitas vezes, tamanho esforço não é suficiente para a liberação do crédito.
Apesar desse entrave — o mais grave no cenário da agricultura local —, representantes de cooperativas reconhecem que o setor nunca teve tanto prestígio. Talvez pela força demonstrada nos últimos anos, acreditam. O atual secretário da pasta, o engenheiro agrônomo Lúcio Valadão, é amigo de muitos produtores e por mais de uma vez prometeu a eles a escritura dos terrenos antes de deixar o cargo. "É minha prioridade", garante. A titularidade das terras, reforça Valadão, vai impulsionar os investimentos. "Não bastam mais as commodities somente, precisamos agregar valor", defende.
O presidente do Banco de Brasília (BRB), Jacques Pena, também pretende contribuir para consolidar o DF como centro regional do agronegócio. O banco costuma ser o que mais flexibiliza os financiamentos para os produtores locais (leia mais abaixo). "A agroindustrialização é o caminho mais promissor para a nossa economia. Estamos no coração do Centro-Oeste, o celeiro agrícola do mundo. Não tem segredo. O problema é que ainda não pararam para pensar sobre isso", disse Pena, durante uma caravana rural acompanhada pelo Correio, que percorreu no último dia 13 três das principais cooperativas da região.
Políticas públicas
Este ano, o governo local pretende apostar em políticas públicas voltadas para o campo. Há dois meses, alunos de 13 escolas rurais passaram a tomar café da manhã com alimentos produzidos na região agrícola do DF. "Não queremos recursos próprios. Basta que os órgãos do GDF gastem menos comprando da nossa agricultura familiar", afirma o diretor executivo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater-DF), Marcelo Resende.
Ainda este semestre, o GDF promete disponibilizar internet banda larga na área rural, o que vai incentivar a modernização do trabalho nas lavouras. O governo também firmou um convênio com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) que liberou R$ 5,2 milhões para aquisição de 1,2 mil toneladas de alimentos de 889 agricultores familiares, com o objetivo de abastecer entidades socioassistenciais. Por meio do Programa de Aquisição de Produtos da Agricultura do DF (Papa), o Executivo também vai comprar de produtores locais alimentos, flores e artesanato, sem a necessidade de licitação. Os itens atenderão a demanda de instituições como restaurantes comunitários, zoológico de Brasília e os sistemas prisional e de saúde.
Independentemente de políticas públicas, o protagonismo de entidades como a Emater e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) se destaca na capital do país. O território reduzido ajuda na propagação e no acompanhamento de técnicas. Não há uma propriedade rural no DF que esteja a mais de 40km de uma das 16 unidades da Emater. O deputado distrital Joe Valle (PSB), engenheiro florestal e produtor, acredita no potencial da técnica aliada à educação. "Se houver formação, todos serão absorvidos. O DF rural é uma região de emprego pleno", sustenta.
"A agroindustrialização é o caminho mais promissor para o DF. Estamos no coração do Centro-Oeste, o celeiro agrícola do mundo, e somos o terceiro maior mercado consumidor do país. Não tem segredo. O problema é que ainda não pararam para pensar sobre isso"
Jacques Pena, presidente do BRB

Crédito rural cresce em ritmo chinês

Correio Braziliense - 22/04/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/4/22/credito-rural-cresce-em-ritmo-chines

Flexibilização de empréstimos tem conseguido impulsionar o agronegócio
O incentivo ao agronegócio faz parte do plano do BRB de ampliar sua área de atuação e se tornar o banco do Centro-Oeste. No Distrito Federal, onde a falta de titularidade da terra atormenta os produtores, a instituição, que tem o GDF como seu maior acionista, flexibilizou a liberação de empréstimos para o campo. Nas 10 agências que operam a modalidade do crédito rural, não é preciso apresentar a escritura como garantia. "O banco reconheceu o problema local e não abandonou o produtor", afirma o diretor de Desenvolvimento, José Flávio Rabelo Adriano.
No ano passado, o BRB financiou R$ 170 milhões em 50 mil hectares de área plantada. A meta este ano é contabilizar pelo menos mais 7,5 mil hectares e chegar a R$ 200 milhões liberados, o que representaria um crescimento de 17,6% no volume de empréstimos. Enquanto o índice médio de inadimplência do sistema financeiro gira em torno de 3,7%, no caso dos agricultores do DF o percentual não passa de 1,9%. Agrônomos do banco, com a ajuda de técnicos da Emater, percorrem as propriedades para fiscalizar a aplicação do dinheiro.
Linha específica
De acordo com José Flávio, não faltam recursos para crédito rural. No ano passado, a instituição lançou a linha de pré-custeio, que permite ao produtor antecipar a compra de insumos, reduzindo custos. Também há produtos destinados à agricultura familiar e ligados a um programa para reduzir emissões de gases de efeito estufa na agricultura. "Mas não vamos ficar confinados no DF. Vamos expandir nossa atuação para todo o Centro-Oeste", garante o diretor.

Pequenos ainda empregam 70%

Correio Braziliense - 22/04/2012
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/4/22/pequenos-ainda-empregam-70

Apesar de as grandes plantações resultarem em cifras mais robustas, o sustento da agricultura brasiliense ainda reside nas pequenas e médias propriedades de hortaliças. Sete em cada 10 produtores locais atuam nessa atividade, responsável pela criação de 21 mil postos de trabalho, o equivalente a 70% dos empregos rurais no Distrito Federal. O nível de produtividade de determinados itens chega a alcançar R$ 51 mil por hectare, mais de 11 vezes a média local.
Uma proporção cada vez maior do que vai parar na mesa dos brasilienses sai da região agrícola local. O DF já é autossuficiente em pimentão e folhosas e, em época de safra, morango e goiaba. Cerca de 70% de frutas, legumes e verduras do setor de orgânicos comercializados na rede Pão de Açúcar, por exemplo, são comprados de agricultores locais, cuja produção cresce cerca de 30% ao ano. Está no DF a Fazenda Malunga, referência internacional em agroecologia.
Sem ter para onde expandir as plantações, a Brasília rural avança impulsionada por uma revolução tecnológica. "Até cinco anos atrás, era preciso sair do DF para conhecer técnicas de hortaliças. Hoje, a maior parte dos nossos produtores é altamente qualificada", diz o chefe-geral da Embrapa Hortaliças, Celso Moretti. "Nossos modelos estão sendo reaplicados em todo o país", acrescenta o presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), José Guilherme Leal.
O pimentão é um dos casos de sucesso do campo brasiliense. Maurício Severino de Rezende, goiano de 55 anos que aprendeu a colher mais em áreas menores à dos conterrâneos, produziu 300 toneladas do fruto na última safra, em 64 estufas instaladas no Núcleo Rural Taquara, na região de Planaltina. "Tem gente que não acredita em uma produção tão grande em apenas dois hectares de terra", conta o maior produtor de pimentão do DF e Entorno. Para se ter uma ideia, a área equivale a menos de três campos de futebol.
São Paulo, domingo, 22 de abril de 2012Mercado
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O BRASIL QUE MAIS CRESCE

No Sul, Cascavel usa riqueza da soja e vira polo de serviço
Cidade se tornou centro regional de medicina, odontologia e educação
De passado extrativista, pioneiros investiram em soja, frigoríficos de aves e hoje em serviços para o oeste do Paraná
TONI SCIARRETTA
ENVIADO ESPECIAL A CASCAVEL (PR)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/38538-no-sul-cascavel-usa-riqueza-da-soja-e-vira-polo-de-servico.shtml 


No oeste do Paraná, Cascavel desponta como uma das cidades de maior crescimento e geração de emprego no país, polo regional do agronegócio, de serviços de saúde e do ensino superior pago.
A cidade se tornou um canteiro de obras, com guindastes e gruas por todos os lados. O preço dos imóveis disparou mais de 80% em cinco anos.
Nas ruas largas, que começam a ter trânsito, circulam utilitários 4x4, BMW, Mercedes, Porsche e até uma Lamborghini amarela com barro vermelho nos pneus.
O "esquenta" da noite é no posto de gasolina Santo Antônio, onde os filhos dos mais ricos reúnem os carrões.
Nem sempre foi assim. Quando foi fundada, em 1952, Cascavel não passava de uma rota do Sudeste brasileiro até Foz do Iguaçu, caminho do Paraguai e da Argentina.
Vieram os primeiros colonos, a maioria gaúchos de origem alemã e italiana, que derrubaram a mata, venderam a madeira e cercaram pequenas fazendas.
Terminado o ciclo madeireiro após a construção de Brasília, o vilarejo correu sério risco de se tornar uma cidade-fantasma. Foi quando, pela primeira vez, os pioneiros se juntaram para discutir como sobreviveriam à crise.
A solução encontrada foi fazer lobby para trazer à cidade uma fábrica que a catarinense Sadia, maior produtora de derivados de carne, queria construir na região.
Não conseguiram levar a Sadia a Cascavel -a fábrica foi para a vizinha Toledo-, mas foi daí que surgiram iniciativas que décadas depois fizeram a cidade se tornar emergente agrária, depois industrial e hoje de serviços.
Plantaram café, depois semearam milho e finalmente cultivaram soja, que enriqueceu a cidade nos anos 1970.
Não demorou muito e surgiram Comil e Consilos, fabricantes de silos, secadores e equipamentos para mecanizar a produção agrícola, aumentando a produtividade em propriedades pequenas, mas com terras muito férteis.
A cidade se voltou, então, para a produção de ovos e frangos -hoje com os frigoríficos Diplomata e Globoaves, dois dos maiores produtores e exportadores do país.
O que fez Cascavel decolar na última década foi o investimento da segunda geração dos pioneiros em serviços como escolas, hospitais, escritórios de advocacia e comércio atacadista, que atendem perto de 1 milhão de pessoas de mais de 20 cidades.
"O dinheiro da soja ficou aqui", disse Leopoldo Furlan, presidente da Acic, a associação dos empresários.

Serviços crescem com classe média no Paraná
Oeste do Estado importou médico, engenheiro e professor universitário
Infraestrutura deficiente na área de transportes impede um crescimento maior da cidade de Cascavel

Joel Silva/Folhapress
Guindaste emobra no centro de Cascavel, oeste do Paraná
DO ENVIADO A CASCAVEL



Para crescer, Cascavel teve de importar mão de obra qualificada do restante do país. Nos últimos 16 anos, enquanto a população brasileira cresceu 25%, a da cidade paranaense saltou 49%.
Vieram médicos, dentistas, engenheiros, advogados, além de professores universitários e executivos, para atender a crescente demanda dos novos endinheirados que surgiam com a soja. E com eles vieram as suas famílias.
"Costumo levar as mulheres dos diretores das minhas empresas para conhecer a cidade. No começo, elas não gostam, mas depois se acostumam e não querem mais voltar. Aqui tem de tudo. Ninguém precisa ir à Oscar Freire ou ao shopping Iguatemi de São Paulo", disse a empresária Iracele Mascarello.
Os Mascarello começaram com a Comil, fábrica de silos para armazenar soja e equipamentos agrários em 1958. Há dez anos, foram para a incorporação imobiliária, construindo bairros e até um cemitério na cidade.
Em 2003, separada do marido, Celinha Mascarello, como é conhecida, montou com as filhas a fábrica de ônibus que leva o nome da família. Hoje, produz veículos para as prefeituras de São Paulo e do Rio e exporta para oito países, incluindo Angola.
Dono da companhia de ônibus Eucatur, que domina as rotas do Sul a Rondônia, o empresário Assis Gurgacz preferiu diversificar os negócios investindo em educação e saúde. Hoje, a fundação sem fins lucrativos que leva seu nome tem um hospital e uma universidade. "Foi decisivo para Cascavel ter boas faculdades. Atrai gente da região e do Paraguai."
Em ensino superior, Cascavel se tornou referência regional, ultrapassando a vizinha Foz do Iguaçu. São oito universidades, sendo pública só a estadual Unioeste, com mais de 25 mil estudantes de graduação e pós. Na saúde, são nove hospitais, 216 clínicas e 406 consultórios.
Os serviços se tornaram tão importantes que a arrecadação de Imposto sobre Serviços (ISS) da prefeitura somou R$ 10,3 milhões até março deste ano, mais do que os R$ 10,1 milhões dos repasses de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do agronegócio.
A exemplo de outras regiões, o crescimento de Cascavel esbarra hoje na forte monopolização da infraestrutura de transportes. Os transportes, como os serviços e a comunicação, lucram sem agregar mais-valia do capital industrial, fixo e variável, senão marginalmente. Disto, a necessidade de manter o ramo desregulamentado e a tendência a estender para além do limite fisiológico as jornadas dos empregados - seja com café, seja com rebite - e desviar as verbas de melhoria da produtividade da rede de transportes e comunicação. Imaginam agregar valor e participar como subsidiários integrais, quando, na verdade, não passam de capital circulante e em circulação evanescente.
Só recentemente o aeroporto, cujos voos saem lotados, pôde receber aviões de grande porte.
Apesar do acesso à Ferroeste, ferrovia que liga a cidade ao porto de Paranaguá, que barateia o escoamento da soja, a cidade sofre com acessos ainda não duplicados de três rodovias importantes.
Elas formam um dos principais entroncamentos rodoferroviários do país, ligando as regiões Centro-Oeste e Sul com o Paraguai e o Atlântico.
Segundo Dilvo Grolli, presidente da Cooperativa Agrícola de Cascavel (Coopavel), a região perde R$ 100 milhões por ano com custo maior para escoar a produção por via rodoviária até Paranaguá.
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Violência, acidente e tráfico preocupam os moradores
DE SÃO PAULO
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/38540-violencia-acidente-e-trafico-preocupam-os-moradores.shtml 


Nem tudo é bonança no município. Cascavel ainda tem alguns resquícios de velho oeste, como o assassinato de um policial federal na frente da mais conhecida casa noturna da cidade no penúltimo sábado. O suspeito, que está preso, é de uma conhecida família cascavelense.
O tráfico de drogas também é forte na cidade. A maioria dos detentos está presa por crimes ligados ao tráfico, como assassinatos de acerto de contas ou roubos para compra de droga.
No início da década, uma onda de violência propagada por jovens de classe média, em sua maioria estudantes universitários, também incomodou a ponto de ocorrer movimentos cobrando paz e segurança após o espancamento de um adolescente skatista num domingo à tarde em uma rua que era point dos jovens na época.
Outro problema antigo são os acidentes de trânsito. As largas ruas da cidade são um estímulo para jovens rodarem em alta velocidade depois da balada em um município onde a lei seca não existe.
A frota da cidade cresceu a taxas anuais superiores a 7% de 2006 a 2010, ano com 157 mil veículos cadastrados e quando 3.555 acidentes deixaram 1.903 vítimas, sendo dez fatais, segundo o Detran-PR. A prefeitura da cidade trabalha para diminuir esses números com alterações nas rotas viárias e radares de velocidade.
(PM)



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ANÁLISE
Aumento da população e renda em alta criam mercado para as escolas privadas
NAERCIO MENEZES FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHAhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/38574-aumento-da-populacao-e-renda-em-alta-criam-mercado-para-as-escolas-privadas.shtml

As famílias brasileiras gastaram R$ 40 bilhões com educação em 2009, se somarmos todos os gastos declarados na Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE (POF). Isso significa quase 1,3% do PIB.
Somados os 5,7% gastos pelo setor público naquele ano, as despesas com educação no país alcançam 7% do PIB, acima da média de 5,9% dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Desses R$ 40 bilhões, 35% são gastos com matrículas no ensino superior, 30% no básico e o restante se divide em livros, cursos de idiomas, pré-vestibulares, transportes, uniformes etc.
Os gastos com pós-graduação aumentaram muito entre 2003 e 2009, refletindo a valorização dos profissionais com esse nível no mercado.
Entretanto, os gastos totais das famílias com educação diminuíram em termos reais nesse período (não acompanharam a inflação), passando de 1,9% para 1,3% do PIB.
O gasto médio das famílias com mensalidades do ensino básico no Brasil é R$ 200 e com faculdades privadas é R$ 460. A mensalidade das boas escolas privadas em São Paulo, por exemplo, ultrapassa R$ 2.000.
Por que as famílias gastam tanto com educação privada? No passado, as escolas públicas tinham qualidade. Quando a população dos municípios e sua renda média eram pequenas, a escola pública atendia apenas a elite.
Quando a população urbana dos municípios começa a aumentar e passa a ter condições de colocar seus filhos na escola, a rede pública perde condições de atender a todos com qualidade.
Não há professores com boa formação em quantidade suficiente para atender a demanda crescente.
As mulheres de classe média deixam a escola normal e passam a cursar outras faculdades, aproveitando a abertura do mercado de trabalho.
Nesse momento, a qualidade das escolas públicas começa a declinar, e o aumento da desigualdade faz com que surjam as primeiras escolas privadas, que veem na população crescente, com renda e insatisfeita com a escola pública, oportunidades para bons negócios.



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A ANS precisa fiscalizar o que diz

A Agência Nacional de Saúde Suplementar deveria cuidar melhor do que diz à patuleia. No domingo passado, leu-se aqui que a professora Ligia Bahia tivera uma pesquisa feita para o CNPq rebarbada e estava convidada a devolver R$ 141 mil à Viúva. O trabalho mostrava as debilidades do atendimento dos planos de saúde privados que a agência é paga para fiscalizar.
No dia seguinte, numa nota oficial, os doutores informaram que "a ANS tem reiteradamente solicitado ao CNPq a entrega da referida pesquisa ou a devolução dos valores pagos, o que não foi feito até o momento". Horas depois, a agência divulgou outra nota. Nela enfiaram o seguinte: "No segundo semestre de 2011, em reunião do CNPq com a ANS, obteve-se o que seria o relatório da pesquisadora, dra. Ligia Bahia, que não guardava relação com o plano de trabalho, razão pela qual a ANS considerou a pesquisa como não realizada".
Primeiro a professora foi acusada de não ter entregue o serviço encomendado, o que não é pouca coisa. Na mesma tarde, o centro da questão migrou para a discussão de sua qualidade, o que é outra coisa. Fizeram isso sem explicar o que foi feito da primeira acusação. Como os doutores dizem, "a ANS se pauta pela transparência". É tão transparente que, por meio dela, não se vê nada.

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