São Paulo, domingo, 01 de abril de 2012 |
JOSÉ AUGUSTO DE CASTRO
Não se pode deixar de apontar o extraordinário nível de competitividade dos produtos da China
No dia 28 de março, a Folha publicou artigo de Alexandre Schwartsman que lança dúvida sobre a seriedade de estudo elaborado pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), mas que, aparentemente, não foi lido pelo renomado economista e ex-diretor do Banco Central.Embora o estudo seja público, o colunista parece ter aplicado a máxima dos incautos, "não li e não gostei", bem como não refletiu sobre o assunto nos "nove segundos" que recomenda. O mais grave é que Schwartsman, levianamente, insinua erro no estudo e diz que seria resultado de "má-fé ou mera ignorância". Seguramente ele estava num dia infeliz. Usando dados oficiais do Mdic/Secex, o estudo da AEB "Radiografia do comércio exterior brasileiro" (disponível em www.aeb.org.br), base da reportagem de Marta Watanabe no jornal "Valor Econômico" de 8 de fevereiro de 2012, mostra que as exportações brasileiras para a Argentina aumentaram 57,5% entre 2007 e 2011, ao passo que a participação dos manufaturados caiu de 93% para 89,9%. Com relação ao Chile, no mes- mo período, nossas vendas cresceram 27%, mas a participação das manufaturas decaiu de 64% para 52,7%. Já no caso da Venezuela, as exportações diminuíram 2,8% e mesmo assim os manufaturados reduziram sua participação de 82,9% para 55,1%. O estudo da AEB não afirma que tais perdas se deram em razão da concorrência chinesa. Essa avaliação é fruto de entrevista feita pela jornalista com o presidente em exercício da AEB, que considerou informações contidas em outras fontes, como a publicação "Observatório Brasil China", da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na edição de outubro de 2011 da mencionada publicação, com base em dados do "World Trade Atlas" relativos às importações totais da Argentina, verifica-se que, entre os anos de 2007 e 2011, enquanto a participação do Brasil caiu de 33,71% para 30,92%, a da China elevou-se de 10,14% para 12,86%. A AEB tem reiteradamente ressaltado que a perda de competitividade dos produtos brasileiros não commodities decorre mais de problemas internos que externos. Nesse sentido, tem apontado que nossa capacidade de competição externa é afetada pelo chamado "custo Brasil", cujos componentes são conhecidos de todos, como o arcaico sistema tributário, a insuficiente e deficiente infraestrutura, a excessiva e irracional carga tributária, o asfixiante ônus trabalhista, a pesada burocracia, o elevado custo financeiro, a taxa de câmbio sobrevalorizada e o excesso regulatório. Todavia, não se pode deixar de apontar o extraordinário nível de competitividade dos produtos da China, que, além de sua moeda artificialmente desvalorizada, conta com inúmeras vantagens decorrentes de um sistema no qual diversos preços públicos não observam as regras de mercado. O incentivo às exportações decorre do modelo de desenvolvimento chinês, que, a exemplo de outras economias asiáticas, confere às exportações contribuição relevante no crescimento econômico. Ainda com relação às exportações de produtos industriais, cabe destacar estudo divulgado pela Anpec (Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia), intitulado "O desempenho das exportações do Brasil e da China na América Latina entre 1994 e 2009", de Lélis, Cunha e Lima. Os autores afirmam que "tanto a tendência das exportações brasileiras de manufatura direciona- das à América Latina quanto esse mesmo agregado para o caso da China tiveram um forte movimento ascendente a partir do ano de 2003, quando a região passa a apresentar um maior dinamismo (Cepal, 2009). Todavia, a partir do 2º trimestre de 2007, o valor da tendência das exportações industriais da China na América Latina torna-se superior ao mesmo agregado da economia brasileira". Portanto, não houve erro da AEB, muito menos má-fé ou mera ignorância. A perda de mercado de manufaturados na América Latina pelo Brasil não é apenas suposta. Infelizmente, é real. |
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