Clima de incerteza externa, associado às dificuldades de competitividade do setor, ainda é entrave para que a produção deslanche e impulsione o PIB
20 de abril de 2012 | 17h 56
Bianca Ribeiro, da Agência Estado
SÃO PAULO - A produção industrial brasileira medida pelo IBGE (PIM) deve fechar o primeiro trimestre do ano com um resultado melhor do que a retração apurada entre outubro e dezembro, mas analistas e economistas duvidam de avanço significativo e apostam em um nível de atividade entre 0% e 0,8%. O clima de incerteza externa, associado às dificuldades de competitividade do setor, ainda é entrave para que a produção deslanche e impulsione o Produto Interno Bruto (PIB) do País no período.
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Para o mês de março, na comparação com fevereiro, as previsões para a indústria variam bastante, de 1% a 2,8% de alta em termos já ajustados sazonalmente, após uma alta de 1,3% registrada em fevereiro comparativamente a janeiro. Para traçar suas projeções, os economistas fazem seus ajustes com os indicadores antecedentes já divulgados, como a produção de veículos (Anfavea) e de papelão ondulado (ABPO), bem como o fluxo de veículos em estradas pedagiadas (ABCR) e a carga de energia consumida no País (ONS), entre outros. Todos apontaram avanço no mês, mas isso não indica necessariamente uma tendência para os próximos meses.
O economista do Itaú Unibanco, Aurélio Bicalho, diz que o aumento da produção de veículos em março, de cerca de 4% (com ajuste), foi bastante forte, mas não foi acompanhado de aumento de vendas de carros no mesmo período, o que deve acarretar mais estocagem e, portanto, produção mais moderada nos próximos dois meses.
A indústria teve uma melhora no primeiro trimestre, mas a atividade ainda sofre o efeito de diversos meses de dados fracos desde o ano passado, diz Bicalho. "O resultado da indústria não vai contribuir para o crescimento do PIB no período, mas o setor deve ter um desempenho bem melhor que o do quarto trimestre de 2011", afirma. Segundo seus cálculos, a produção industrial recuou 1,4% naquele período.
Na MB Associados, a projeção para a indústria em março indica produção 2,8% maior perante fevereiro, com uma expansão de 0,6% do quarto trimestre para o primeiro trimestre deste ano. Sergio Vale, economista-chefe da consultoria, avalia que esse resultado deve garantir um avanço de pelo menos 0,6% no PIB do País dos primeiros três meses de 2012.
O número se aproxima da estimativa do economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, de expansão entre 0,5% e 0,8% para a economia brasileira no trimestre inicial de 2012 na comparação com o quarto trimestre de 2011. Serrano diz que esse resultado estaria mais amparado em um crescimento acentuado do setor de serviços do que da indústria, cuja produção deve ficar em zero no período trimestral, após expansão de 1% no mês de março ante fevereiro.
Sobre as medidas recentes da política industrial do governo, o Plano Brasil Maior, que abrigaram desonerações da folha de pagamentos para alguns setores e incentivaram o crédito a investimentos com taxas mais baixas, Bicalho lembra que os eventuais efeitos não aparecerão nos números da atividade do primeiro trimestre e ainda há dúvida sobre o poder das medidas para o resultado da produção industrial dos meses seguintes.
Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, afirma que o plano do governo não alterou suas previsões para a produção industrial neste ano, que está em crescimento de 2%, levando o PIB do País para uma alta de 3,2% em 2012. Segundo o economista, a produção industrial deve crescer 1% na passagem de fevereiro para março e ficar estagnada em zero no primeiro trimestre deste ano perante o último trimestre de 2011.
O dado dessazonalizado para o mês de março calculado pela Tendências explica a estimativa, ao mostrar um crescimento de 6,3% na produção de carros, aumento de 2,4% no fluxo de veículos nas estradas e expansão de 1% na expedição de papelão ondulado. Na avaliação de Bacciotti, o setor industrial chegou a ensaiar uma recuperação desde o fim do ano passado, mas agora voltou a "patinar".
Crescimento da força de trabalho desacelera no País
22 de abril de 2012 | 9h 51 http://economia.estadao.com.br/noticias/economia+geral,crescimento-da-forca-de-trabalho-desacelera-no-pais,110013,0.htm
LUIZ GUILHERME GERBELLI - Agencia Estado
SÃO PAULO - A força de trabalho no Brasil vai crescer menos nesta década. Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostram que a parcela da população brasileira que integra o mercado de trabalho vai aumentar 12,97% no período. A alta do indicador é a menor desde a década de 80, período inicial do levantamento.
O ritmo mais baixo do crescimento da força de trabalho faz com que o País tenha um avanço mais parecido com o desempenho da média mundial. Na década atual, o mundo crescerá 11,27%. Nos anos 90, a diferença entre o crescimento do Brasil e o do mundo chegou a ser de quase 16 pontos porcentuais.
O ritmo mais baixo do crescimento da força de trabalho faz com que o País tenha um avanço mais parecido com o desempenho da média mundial. Na década atual, o mundo crescerá 11,27%. Nos anos 90, a diferença entre o crescimento do Brasil e o do mundo chegou a ser de quase 16 pontos porcentuais.
A redução do ritmo de crescimento está atrelada ao ajuste populacional que o Brasil atravessa, sobretudo com a redução da taxa de fecundidade. De acordo com os dados do Banco Mundial, em 2010, a taxa de fecundidade no Brasil foi de 1,9 - em 1980 era de 4,1; dez anos mais tarde, passou para 2,8.
"Como tem menos nascimentos, tem menos gente entrando no mercado de trabalho", afirma André Portela, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em economia do trabalho.
O crescimento da força de trabalho no Brasil ainda é maior se comparado ao verificado nas economias mais maduras. A força de trabalho na União Europeia, por exemplo, terá uma expansão de 1,2% nesta década. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Desindustrialização reduz arrecadação do ICMS em São Paulo
Segundo dados do Sinafresp, em fevereiro deste ano a arrecadação do tributo caiu 4,3% em relação ao mesmo mês de 2011, somando R$ 7,860 bilhões, em valores correntes.
20 de abril de 2012 | 18h 06
Beatriz Bulla, da Agência Estado
SÃO PAULO - A desindustrialização no Estado de São Paulo é o principal motivo pela queda na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de São Paulo. Essa foi a principal conclusão do debate entre o diretor de relações internacionais e comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, o economista chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério César de Souza, e o coordenador da Administração Tributária da Secretaria da Fazenda do Estado, José Clovis Cabrera, promovido pelo Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo (Sinafresp).
Segundo dados do sindicato, em fevereiro deste ano a arrecadação do tributo caiu 4,3% em relação ao mesmo mês de 2011, somando R$ 7,860 bilhões, em valores correntes.
"Há um processo de substituição de produção interna por importações. A gente percebe isso já na prateleira do supermercado", disse Giannetti, afirmando que o índice de importações no consumo aparente dobrou nos últimos oito anos. Segundo ele, é normal que o setor de serviços tenda a crescer mais do que a indústria. "É até um sinal de evolução econômica, mas hoje estamos sofrendo reversão no processo de industrialização", disse, sobre o aumento acelerado do coeficiente dos importados na indústria brasileira. Ele afirmou que a menor produtividade nacional já está sendo sentida com a perda de dinamismo na geração de empregos, mas acredita que o País ainda está distante do patamar da geração de desemprego.
A situação da indústria paulista reflete a perda de competitividade nacional frente ao mercado externo, concordam os especialistas. "O Brasil tem conseguido exportar menos manufaturados do que no passado, e isso não é só questão de consumo interno, é um problema de custo", afirmou Giannetti. Ele alertou que até produções "campeãs" do País, como soja, celulose e açúcar, estão se tornando mais caras do que as estrangeiras. Câmbio valorizado, guerra fiscal, estrutura tributária "complexa", falta de acordos comerciais e de financiamento adequado e logística baseada no transporte rodoviário foram apontados por Giannetti como responsáveis pela baixa competitividade.
"Tivemos uma valorização de 35%, de 2004 a 2011, do real em relação ao dólar, enquanto houve países que tiveram inclusive uma desvalorização", afirmou, ressaltando o câmbio como o principal problema de competitividade do País. Sobre a agressividade chinesa, afirmou: "É inacreditável que um minério saia daqui, vá para a China e mesmo assim seu produto chegue aqui mais barato do que se fosse produzido no Brasil. Há alguma coisa muito errada na nossa economia".
Rogério César de Souza, do IEDI, completa: "Você tem, fora, economias com juros muito baixos e incentivos para produtores. Aí, chega no País e tem câmbio alto e o elevado custo Brasil". Para Souza, falta uma política industrial de longo prazo.
EUA criaram mais vagas que o Brasil no 1º trimestre
Foram 535 mil empregos ante 442.608, o primeiro trimestre em que os EUA superam o Brasil desde setembro de 2008
21 de abril de 2012 | 16h 52
Iuri Dantas, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - As empresas dos Estados Unidos, berço da crise financeira internacional, criaram no primeiro trimestre deste ano um número de empregos maior do que as concorrentes brasileiras foram capazes de gerar no mesmo período. De janeiro a março, a terra de Barack Obama criou 635 mil vagas, ante 442.608 no país governado por Dilma Rousseff.
É o primeiro trimestre em que as vagas americanas superam as brasileiras, desde a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em setembro de 2008. Mas os números refletem comportamentos distintos das economias. Enquanto os americanos parecem se recuperar do baque iniciado com a quebra do Lehman, a economia brasileira enfrenta gargalos, como falta de trabalhadores qualificados e dificuldades da indústria nacional, por causa do câmbio valorizado.
Outro indicativo do desempenho das duas economias apareceu na revisão das estimativas de crescimento dos dois países, feita na semana passada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Os técnicos do fundo elevaram em 0,3 ponto porcentual, de 1,8% para 2,1%, a previsão de crescimento da economia dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a revisão do PIB brasileiro cresceu somente 0,1 ponto porcentual, para 3%.
"Continuamos gerando empregos em um bom nível, mesmo comparando com um PIB que é seis vezes o tamanho do nosso, com uma população economicamente ativa 60% maior", analisou o diretor de Empregos e Salários do Ministério do Trabalho, Rodolfo Torelly. "Temos quase meio milhão de empregos gerados, ainda estamos tendo um ciclo virtuoso no mercado de trabalho."
Câmbio. Desde 2008, o Fed (banco central americano) tenta estimular a maior economia do planeta por meio de operações que enfraquecem o valor do dólar, tornando seus produtos mais baratos no mercado global. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou essa atuação de "guerra cambial". Em março, a indústria manufatureira perdeu 5 mil vagas, no Brasil, enquanto a americana criou 37 mil.
"Já que o governo não consegue desvalorizar o real, está ajudando a indústria", avaliou João Saboia, professor titular de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Mas, enquanto não há resultado das medidas, a indústria vai continuar com dificuldades de gerar empregos." A situação de pleno emprego em algumas regiões como Belo Horizonte e Porto Alegre limita a criação de vagas, segundo Carlos Alberto Ramos, professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB).
"Se o Brasil crescer mais, vai encontrar limitação na oferta, porque não tem trabalhadores, o que pode aumentar os salários, pressionar a inflação e levar o Banco Central a aumentar os juros", afirmou. "Em termos setoriais, da indústria, é um problema, mas em termos sociais não está se refletindo na taxa de desemprego, que ainda está muito baixa." De fato, enquanto Obama precisa encarar uma taxa de desemprego de 8,2%, registrada em março, a presidente Dilma administra desocupação de apenas 5,7% no Brasil.
Produção industrial na Colômbia sobe 3,2% no bimestre
21 de abril de 2012 | 13h 33
AE - Agencia Estado
BOGOTÁ - A produção industrial da Colômbia aumentou 4,5% em fevereiro ante o mesmo mês de 2011, de acordo com dados disponíveis no site do Departamento Administrativo Nacional de Estadística (DANE, na sigla em espanhol). No primeiro bimestre, a produção real do setor fabril aumentou 3,2%, ante igual período de 2011, quando havia registrado uma variação de 4,8%.
Segundo o comunicado do DANE, 28 dos 48 subsetores industriais registraram incremento na sua produção no comparativo de fevereiro com o mesmo mês de 2011. Os destaques foram as indústrias de ferro e aço (38,1%), confecção (28,6%), minerais não metálicos (8,7%), carnes e pescados (15,3%), outros produtos químicos (5,1%) e as usinas de açúcar e moinhos de farinha (13,5%).
O número de pessoas empregadas na indústria cresceu 1,5% em fevereiro, ante o mesmo mês de 2011, enquanto as vendas industriais apontaram expansão de 3,5%. Os dados não incluem o desempenho do setor cafeicultor do país.
As vendas do varejo colombiano aumentaram 9,4% na comparação mensal. O resultado foi liderado pelo aumento de 28% das vendas de equipamentos de informação para domicílios, enquanto as vendas de carros e motocicletas cresceram 17% na mesma base comparativa. As informações são da Dow Jones.
Argentina tranquiliza Brasil em relação à Petrobras
20 de abril de 2012 | 19h 52
TÂNIA MONTEIRO - Agencia Estado
BRASÍLIA - Durante encontro nesta sexta-feira com a presidente Dilma Rousseff, o ministro do Planejamento e Investimentos Públicos da Argentina, Julio De Vido, tranquilizou o governo brasileiro em relação às explorações da Petrobras naquele país. O Brasil, por outro lado, informou que a Petrobras vai continuar com os investimentos na Argentina.
A informação é da secretaria de Imprensa da Presidência da República, que contou ainda que a reunião foi curta e estavam presentes, além de Dilma e De Vido, o ministro de Minas e Energia brasileiro, Edison Lobão, e o embaixador da Argentina no Brasil, Juan Pablo Lohlé.
Suíça vai garantir manutenção da taxa de câmbio, diz BC
21 de abril de 2012 | 18h 17
FILIPE DOMINGUES - Agencia Estado
WASHINGTON - O Banco Central da Suíça vai agir como for necessário para garantir que a taxa de câmbio do franco suíço seja mantida, afirmou neste sábado o recém-nomeado presidente do Banco Nacional da Suíça, Thomas Jordan. "Nossa política monetária é clara", disse Jordan à imprensa, em Washington. "Temos um limite no valor do franco suíço e vamos reforçar essa política sob todas as circunstâncias. Esta será nossa política no futuro".
Ele acrescentou que, embora tenha sido positivo os membros do Fundo Monetário Internacional (FMI) terem concordado em impulsionar os recursos do Fundo, a Europa precisa estar preparada para ajudar a si mesma antes de pedir auxílio às instituições criadas em Bretton Woods. "O muro de proteção é a primeira linha de defesa" para a zona do euro, segundo Jordan. "Apenas quando isso não for suficiente, mais fundos podem ser disponibilizados." As informações são da Dow Jones.
Índia: é impossível baixar mais os juros, diz ministro
21 de abril de 2012 | 18h 23
POR FILIPE DOMINGUES - Agencia Estado
WASHINGTON - O ministro de Finanças da Índia, Pranab Mukherjee, afirmou neste sábado que "não foi possível" reduzir mais a taxa de juros do país, apesar de pedidos da indústria para que se estimule o investimento doméstico e se acelere o crescimento econômico.
Na última terça-feira, o Banco de Reserva da Índia diminuiu a taxa de juros de 8,5% para 8% ao ano pela primeira vez em três anos - esperava-se queda de apenas 0,25 ponto porcentual. O movimento pretende ajudar a impulsionar o crescimento em uma economia atingida pelos custos do crédito e pela queda da demanda global.
"Não há como reduzir mais, não agora", afirmou Mukherjee em entrevista. Qualquer ação futura do banco central vai depender da possibilidade de a pressão inflacionária se tornar um problema, segundo o ministro. O comentário sugere que a autoridade monetária só irá reduzir mais as taxas de juros se a inflação não subir. As informações são da Dow Jones.
Déficit orçamentário de Portugal sobe 84% no 1º trimestre
Déficit foi de € 1,64 bilhão; receita obtida pelo governo caiu 4,4% no período, devido a uma queda de 5,8% nas receitas fiscais
20 de abril de 2012 | 18h 29
Roberto Carlos dos Santos, da Agência Estado
LISBOA - O governo de Portugal levantou menos dinheiro de impostos e gastou mais no 1º trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2011, segundo dados divulgados pelo Ministério das Finanças. O déficit orçamentário para o trimestre foi de € 1,64 bilhão, número 84% maior do que os € 892 milhões registrados no mesmo intervalo do ano passado.
A receita obtida pelo governo caiu 4,4% no período, devido a uma queda de 5,8% nas receitas fiscais. O ministério informou que os novos aumentos de impostos não influenciaram nos números deste trimestre.
As despesas, por sua vez, aumentaram 3,5% no período, principalmente devido a uma transferência de € 348 milhões para a estatal de televisão RTP, usados para pagar uma dívida da emissora. O país também gastou mais em subsídios de desemprego.
O ministério informou, porém, que, utilizando a metodologia exigida por seus credores internacionais - a União Europeia e do Fundo Monetário Internacional - o déficit do 1º trimestre foi de € 450 milhões, muito inferior ao limite estabelecido no âmbito do seu resgate.
Portugal está no meio da implementação de severas medidas de austeridade no âmbito do programa de recuperação, que poderá levar a uma contração econômica de até 3,3% este ano. Economistas temem que as metas orçamentárias possam ser prejudicadas por uma queda nas receitas do governo e pelo aumento dos custos nos benefícios para desempregados. As informações são da Dow Jones.
Nova onda de emergentes começa a se formar, diz indiano em livro
Autor(es): Lucianne Carneiro |
O Globo - 22/04/2012 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/4/22/nova-onda-de-emergentes-comeca-a-se-formar-diz-indiano-em-livro |
Economista do Morgan Stanley afirma que gastos altos deixarão o Brasil de fora
ENTREVISTA
O indiano Ruchir Sharma administra nada menos que US$ 25 bilhões em mercados emergentes pelo Morgan Stanley. E é com essa experiência que se propõe a explicar a expansão das economias emergentes na última década e apontar quais serão os novos vencedores em "Breakout Nations - In Pursuit of the Next Economic Miracles" (Nações em ascensão - em busca dos próximos milagres econômicos, em tradução livre). Recém lançado nos EUA - e previsto para chegar ao Brasil em agosto pela Campus/Elsevier - o livro lista Turquia, Indonésia, Sri Lanka, Filipinas, Tailândia, Polônia, República Tcheca, Coreia do Sul e Nigéria como nações que devem crescer acima das expectativas nos próximos anos. Sharma diz que o Brasil é um mercado chave. Mas, pressionado pelos gastos elevados do governo, deve continuar a crescer em ritmo fraco, de 3% ao ano. Além disso, a dependência de commodities deve ser tratada com atenção.
O GLOBO: O que houve de diferente para as economias emergentes na última década?
RUCHIR SHARMA: Se olharmos para os últimos 50 anos, o crescimento médio dos mercados emergentes foi de 5% ou pouco mais. Mas, se separarmos isso por décadas, o comportamento é diferente. Nos anos 50, 60 e 70, a taxa foi de 5%. Já nas décadas de 80 e 90, essa taxa desacelerou para 3,5%. O que vimos a partir de 2003 foi que a expansão dos emergentes se acelerou muito fortemente. De 2003 até 2007, antes da explosão da crise, o crescimento econômico foi de 7,5% ao ano. É uma força poderosa, quando a onda levanta todos os barcos. Em 2007, apenas três economias no mundo registraram contração, enquanto mais da metade teve crescimento superior a 5%. Este foi verdadeiramente um período de exceção, se considerarmos o contexto histórico. Em 2007, no auge do boom, esse crescimento foi tão uniforme que todos os mercados emergentes estavam indo bem e a metade deles estava crescendo acima de 5%.
SHARMA: A razão para esse crescimento excepcional é, em parte, porque se começou de uma base pequena. Mas o motivo mais forte foi a onda global de liquidez, quando bancos centrais de todo o mundo injetaram recursos na economia, que foram direcionados aos emergentes. Isso reduziu significativamente o custo do capital. Outro fator que contribuiu foi o boom de exportação dos países emergentes, favorecido pelo consumo americano. Mas acho que em muitos países isso (o crescimento) foi mal interpretado. Esses países acharam que era tudo em função deles, de como mudaram e de como foi seu desempenho. Na minha opinião, no entanto, isso é muito longe de ser uniforme. A expressão Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) se tornou popular simplesmente porque são os quatro maiores emergentes, mas são mercados diferentes. A razão de países como Brasil e Rússia terem se beneficiado foi o crescimento ainda mais acelerado da China, o que elevou a demanda por commodities.
SHARMA: As taxas de crescimento das economias emergentes estão voltando à média histórica, que é de cerca de 5% ao ano. Isso ocorre porque o ritmo de expansão da China está desacelerando - o que terá impacto sobre a demanda por commodities - e as condições de dinheiro fácil estão se alterando.
SHARMA: O apelo de mercados emergentes sempre existiu. Mas apenas alguns conseguem manter um crescimento robusto. As chances de um país emergente crescer 5% ou mais em uma década é de uma a cada três. A possibilidade cai de uma a cada quatro se pensarmos em duas décadas. Apenas seis países - Malásia, Coreia, Cingapura, Tailândia, Taiwan e Hong Kong - mantiveram essa expansão por quatro décadas. E só dois - Coreia e Taiwan - cresceram 5% por 50 anos. As chances de um emergente sustentar crescimento forte por muito tempo são poucas. Se olhar para a lista de estrelas das últimas décadas, verá que é diferente da de hoje. A taxa de mortalidade dos países é tão alta quanto a de ações no mercado financeiro. Há algumas estrelas cadentes, mas poucas vencedoras permanentes.
SHARMA: Esta resposta é complicada, não há uma única fórmula vencedora. Se olharmos para Coreia e Taiwan, as razões são muito diversas, desde ter base industrial consolidada, câmbio competitivo e orientação para o exterior. Nenhum deles produz commodities. As chances de um país com economia baseada em commodities manter crescimento sustentado são poucas, pois os preços tendem a cair em algum momento.
SHARMA: A questão das commodities sempre existiu. O verdadeiro problema do Brasil é o gasto elevado do governo e os impostos também elevados. O boom de commodities tem sido capaz de compensar esses problemas. O crescimento do Brasil de 4% na última década foi alto, se considerar a média do país, mas não foi tão impressionante que o de outros emergentes.
SHARMA: Este é um tema importante hoje e tem a ver com a taxa de câmbio. As economias que se destacaram na última década tinham taxa de câmbio competitiva, o que o Brasil não tem. É a mais cara entre os emergentes. E vemos isso nos preços de hotéis e restaurantes, por exemplo. O fato de o Brasil ter déficit em conta corrente de 3% do PIB em pleno boom de commodities é intrigante. Se os preços caem, o que ocorre? Acho que o Brasil é capaz de resolver a questão central que é um governo grande, mas não será capaz de crescer em ritmo significativo. O grande risco é se os preços de commodities caírem, que espero para os próximos anos. A economia chinesa está se movendo em direção a um crescimento mais lento. Mas não vejo uma crise (no país). O Brasil faz um belo trabalho ao administrar sua macroeconomia, mas o que eu vejo é que as taxas de crescimento não serão muito expressivas. Algo em torno de 3%, enquanto outros emergentes crescerão 5% e os EUA, 2,5%.
SHARMA: O que define uma nação em ascensão é o crescimento acima das expectativas. Se a China cresce de 6% a 7% e a Índia, entre 5% e 6%, por que não são nações em ascensão? As pessoas esperam um crescimento maior. Se a China crescer 7% nos próximos anos vai desapontar muita gente. Outra questão para definir esses países é o nível de renda per capita. É importante saber a que clube o país pertence: quanto mais rico, mais difícil é o crescimento. Para um país com renda per capita de US$ 20 mil crescer 4% é muito expressivo. Por outro lado, esse crescimento é muito baixo para um país com renda de US$ 5 mil.
SHARMA: Minha lista inclui Turquia, Indonésia, Sri Lanka, Filipinas, Tailândia, Polônia, República Tcheca, Coreia do Sul e Nigéria. Esses países serão capazes de crescer mais rápido do que as pessoas esperam. E a renda per capita também vai avançar. A Nigéria precisa de expansão de 6% a 7% para se sair bem e acho que vai conseguir. O mesmo deve ocorrer com a Indonésia. Países como Brasil e Índia terão oportunidades. Nas outras nações, no entanto, a surpresa deve ser maior e as oportunidades também.
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