quarta-feira, 25 de maio de 2011

Aumento do cultivo de cana eleva valor de arrendamento no sudoeste de GO

Canaviais ocupam área 69% maior que a da safra passada

Agência Estado
Venilson Ferreira
A expansão do cultivo de cana-de-açúcar para atender a demanda por matéria-prima pelas destilarias está impulsionando o valor de arrendamento da terra na região de Rio Verde, no sudoeste de Goiás. A demanda por terras para cultivo de cana, principalmente nas áreas próximas às unidades industriais, onde é possível utilizar a vinhaça das destilarias para adubação das lavouras, elevou o valor de 10 sacas para 15 sacas de soja por hectare. A soja é a moeda de troca utilizada para calcular o valor do arrendamento.

A preocupação em relação ao impacto da cana sobre a produção de milho e soja cresce na mesma medida em que os canaviais avançam no sudoeste goiano. Na região, que responde por 60% da produção estadual de grãos, estão instalados os complexos industriais da BR Foods (Perdigão), que é a maior empregadora e consumidora de soja, milho e sorgo em Goiás. Para preservar as atividades relacionadas ao cultivo de grãos, a prefeitura de Rio Verde baixou em 2008 um decreto limitando o plantio da cana a 20% da área do município, mas a iniciativa foi considerada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.

Os dados da agência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no município mostram que na safra passada foram cultivados 20,680 hectares de cana em Rio Verde, dos quais 11,5 mil de canaviais em produção e 9,180 mil hectares de áreas novas. Na safra atual, os canaviais ocupam 35 mil hectares, com aumento de 69% em relação à safra passada. As áreas em produção tiveram expansão de 74%, para 20 mil hectares, e os canaviais em formação aumentaram 63%, para 15 mil hectares.

Apesar da expansão recente, a área de canaviais corresponde a pouco mais de 10% do total cultivado com grãos em Rio Verde. A soja é o destaque, com 265 mil hectares nesta safra, área 8% (20 mil hectares) superior aos 245 mil hectares plantados na safra passada. A soja avançou sobre áreas de milho de verão, que teve redução de 73%, para 4 mil hectares, e de sorgo, que recuou 33%, para 30 mil hectares. Nesta safra, os agricultores do município investiram mais no milho safrinha, que é semeado após a colheita da soja. A área de safrinha aumentou em 20 mil hectares (25%), para 100 mil hectares


Na opinião do assessor técnico da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Pedro Arantes, apesar das preocupações dos agricultores, não existe o risco de a cana avançar ainda mais sobre as áreas de cultivo de grãos do sudoeste goiano, pois a atual conjuntura de altos preços do açúcar no mercado internacional não deve persistir no longo prazo. Ele acredita que a cana vai se consolidar na região sul de Goiás, ocupando áreas de pastagens.

O analista Anderson Galvão, da Céleres Consultoria, comenta que a rentabilidade dos grãos nesta safra mostrou-se competitiva em relação à cana-de-açúcar, fato que muitos achavam impossível há cinco anos. Segundo ele, o produtor que colheu na safra de verão entre 50 a 55 sacas de soja por hectare e na safrinha mais 110 sacas de milho obteve o mesmo rendimento pago pelos arrendamentos

Os cálculos da Céleres para a soja em Primavera do Leste (MT) mostram uma receita de R$ 2,2 mil e R$ 1,4 mil por hectare, respectivamente. 

– A rentabilidade foi de US$ 500 por hectare e ficou acima da média histórica de US$ 100 a US$ 150 – explica Galvão.

No caso do milho, as contas feitas pela Céleres para a região de Rio Verde mostram uma receita de R$ 3,3 mil e um custo de R$ 1,7 mil. Neste ano, a rentabilidade do milho só perde para o algodão.

Galvão foi um dos palestrantes do ciclo de palestras do Circuito Aprosoja, que está percorrendo os principais polos agrícolas do País. O evento é uma iniciativa da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). Em sua palestra, o analista afirmou que as perspectivas são de alta para os preços dos grãos, em virtude da demanda crescente, dos baixos estoques de passagem e do risco de quebra da safra norte-americana, cujo plantio está atrasado por causa das adversidades climáticas. 

Entretanto, segundo ele, existem as variáveis macroeconômicas que podem interferir negativamente nos mercados, como os desdobramentos da crise financeira dos países da zona do euro. No caso do mercado interno, a valorização do real pode limitar o ganho dos produtores rurais. 

– O dólar a R$ 1,60 é ruim, mas abaixo de R$ 1,50 seria uma catástrofe – diz o analista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário