Autor(es): Horge Freitas |
Correio Braziliense - 22/05/2011 |
Produtores se voltam para variedades mais finas, que são vendidas por um preço até 30% maior que as convencionais. Ao mesmo tempo, aumenta o número de pessoas que dizem apreciar os sabores marcantes das marcas sofisticadas, servidas por diversas novas cafeterias No que depender dos planos dos produtores, no futuro o Brasil vai vender cafés como a França e a Itália comercializam vinhos. Com a vantagem adicional de se manter como maior produtor de matéria-prima e o segundo consumidor mundial. Também oferecerá sabores cobiçados por especialistas e atrairá investimentos na produção e no marketing das bebidas com a possibilidade de alcançar altos lucros. Neste ano, o Brasil deve colher 43,54 milhões de sacas de 60 quilos de café, das quais 30 milhões serão exportadas, com receitas de US$ 7 bilhões. A produção é de um milhão de sacas de cafés especiais, cuja cotação internacional é cerca de 30% maior. O mercado interno consome 300 mil sacas desses itens mais finos. Desde a metade do ano passado, os preços internacionais do café vêm subindo, o que permitiu o aumento de renda dos produtores — o valor passou de R$ 250 para R$ 550 a saca. A recuperação de preços nos cafés tradicionais se reflete nos especiais. Uma demonstração do novo mercado que vai se consolidando foi o recorde do valor alcançado, durante o 11º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil — Cup of Excellence 2010, promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), pela Alliance for Coffee Excellence (ACE) e pela Agricoffee Consultoria em Café. Um consórcio formado pelas empresas japonesas Saza, Ponpon, Tabei e Maruyama e pela brasileira Lucca Cafés Especiais deu um lance de US$ 25,05 por libra peso do café da Fazenda Grota São Pedro, em Carmo (MG). Isso equivale a US$ 3.313,49 por uma saca — ao todo, foram 20. O produtor recebeu US$ 66.271,03. O valor total de US$ 738.506,40 pago pelos cafés ofertados foi o mais elevado em todas as edições do Cup of Excellence realizadas no mundo, afirma o presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais, Luiz Paulo Dias Pereira Filho. “Entre as centenas de amostras brasileiras enviadas para o concurso, foram selecionadas 126 para a fase nacional, das quais 47 se classificaram para a internacional. Todas as amostras foram avaliadas pelo júri até se chegar aos 31 vencedores, que se consagraram como os melhores cafés do Brasil na safra 2010 e obtiveram o direito de participar do disputado leilão comprador via internet”, afirma. José Antonio Guerra, pesquisador da Embrapa Cerrados, observa que os fatos vêm comprovando uma tese do governo, no fim dos anos 1990, quando a política de aquisição da safra e venda indiscriminada da produção pelo critério da quantidade foi substituída pela pesquisa e a conquista de mercados especializados. “Havia mais volume do que produto de qualidade. Mas o Brasil conta com tecnologia e pode fazer com faz a Alemanha, hoje o maior exportador mundial de café, embora não produza nenhum grão. Hoje, o Brasil tem um grande mercado consumidor e conta com aromas diferenciados”, diz. Orgânico O técnico em Planejamento Energético e Ambiental Márcio Jório produz café orgânico em cinco hectares no Lago Oeste, no Distrito Federal. Com 10 mil mudas dos tipos cataui-rubi, bourbon e iapar 59, a colheita é vendida a restaurantes de Brasília e entregue sob encomenda para brasileiros que levam o produto para degustá-lo no exterior. “Nessa semana, embarquei um lote para uma brasileira casada com um italiano que sempre vem ao Brasil comprar nosso café. Também mandamos para Trieste, uma cidade que cheira a café e que tem linha direta com o Porto de Santos”, revela. Em Brasília, o hábito de beber café de qualidade diferenciada se espalha. Os consumidores buscam produtos das linhas especiais nos supermercados, mas preferem a sofisticação de quiosques e cafeterias que contam com baristas, profissionais especializados no preparo de bebidas feitas com café. Os empresários Camila Roxo, Stela Campos e Jorge Roxo montaram uma loja da Suplicy cafés, que tem sete pontos em São Paulo. Eles disputam um nicho de mercado com estabelecimentos como as cafeterias Grenat e Antonello Monardo e o restaurante Quitinete. “Trabalhamos com vários tipos de cafés especiais. Todos são rastreados na origem, de qualidade superior. Sabemos como eles foram plantados, colhidos, secados”, diz Stela. Segundo Camila, o importante são os quatro “M” envolvidos: “Precisamos reunir boa máquina, bom moinho, boa mão e boa mistura.” Mais caro A gerente comercial Silvana Vieira tem reservado dinheiro para beber o café-machiatto, que custa mais caro do que o convencional café com leite ao qual ela está habituada. “Venho aqui com as colegas de trabalho e gosto desse café mais encorpado. Mas não posso comprar todos os dias, por causa do preço”, afirma. Cortesia O casal Paulo Levi e Celeste Ribeiro consome capuccino e manifesta entusiasmo com as dimensões da taça e com o sabor, sem saber de antemão a origem do produto e seus predicados. “O café especial é bom, mas viemos porque podemos usar o computador no wi-fi”, diz Celeste, antes de consumir a bebida oferecida como cortesia pela dona da cafeteria, numa estratégia que começa a ser adotada pelos restaurantes. |
segunda-feira, 23 de maio de 2011
País aposta nos cafés especiais
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