terça-feira, 31 de maio de 2011

Pesos pesados retornam ao setor florestal

Autor(es): Stella Fontes | De São Paulo
Valor Econômico - 30/05/2011
 

A Eco Brasil Florestas, projeto de reflorestamento constituído pelo empresário Osmar Zogbi, que foi dono da antiga fabricante de papéis Ripasa, acaba de ganhar sócios de peso e investidores tradicionais da indústria brasileira de celulose e papel. Com aporte total de R$ 141 milhões, entraram no capital social da empresa representantes da família Safra, que foi controladora da Aracruz, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e fundos geridos pela Claritas, entre outros investidores institucionais de grande porte e pessoas físicas.
Com a operação, liquidada na sexta-feira, o capital total da Eco Brasil Florestas subiu a R$ 241 milhões. A holding ZDA, que reúne antigos acionistas da Ripasa, entre eles Zogbi e membros da família Derani, manteve-se como principal acionista e ficou com 36% da empresa. A fabricante de papéis foi, durante anos, controlada pelos Zogbi, Derani e Zarzur. Em seguida, aparecem fundos da Claritas, com 29% do capital. Os 35% restantes estão nas mãos de outros fundos, dos quais participam a família Safra (que ficou com fatia de 14%) e investidores institucionais, entre os quais o BNDES - que, ao lado de outras instituições, levou participação de 21%, por meio do fundo Projetos Ecoflorestais.
De acordo com o diretor de operações da Eco Brasil, Romeu Alberti Sobrinho, a recente chamada de capital decorreu do crescimento rápido do projeto de reflorestamento que está sendo implantado em Tocantins. Sem revelar números considerados estratégicos para o negócio, o executivo, que já respondeu pela diretoria financeira da Ripasa, contou que hoje a empresa possui 70 mil hectares no Estado, embora ainda não tenha iniciado o plantio efetivo de florestas de eucalipto.
"Temos, por enquanto, alguns experimentos", afirmou Sobrinho ao Valor. Não há também definição sobre os locais que poderão receber investimentos. "Trata-se de um projeto situado no Tocantins, sem localização específica. As áreas serão definidas conforme características técnicas e de logística." A empresa, contudo, já determinou que trabalhará com eucalipto, com vistas à produção de madeira que poderá ser direcionada para os setores de carvão, biomassa e pellets (fonte de energia renovável cujo uso é crescente na Europa) ou para as indústrias de construção civil e celulose. "Nosso negócio é ter uma floresta multiuso", resumiu.
De acordo com o diretor da Eco Brasil Florestas, não há planos, até agora, de investir em uma fábrica própria de celulose. "Não temos nem o tamanho do projeto de reflorestamento definido até esse momento. Isso será decidido ao longo do tempo", comentou. A expectativa é de que o primeiro corte de eucalipto da empresa possa ocorrer entre 2017 e 2018 - com ganhos de produtividade, esse prazo poderia cair para 2016.
O negócio de reflorestamento no país, reconhecido globalmente pela alta produtividade média de espécies como eucalipto, tem atraído gigantes de outras áreas. Em maio, por exemplo, a mineradora Vale anunciou a criação de um fundo de R$ 650 milhões, em parceria com Petros, Funcef e BNDES, para recuperar 300 mil hectares de florestas nativas com madeiras nobres e plantar mais 150 mil de florestas de eucalipto.
Dentre os frigoríficos, o JBS Friboi está debruçado sobre os planos de integração de sua unidade de celulose, Eldorado Brasil, cuja fábrica já está em obras em Três Lagoas (MS), com a Florestal Brasil, empresa de reflorestamento da qual é sócia com Funcef e Petros.
O potencial dessa indústria, relativamente jovem no Brasil, foi percebido por Zogbi, que deixou a indústria de celulose e papel após a venda da Ripasa para as concorrentes Suzano Papel e Celulose e Votorantim Celulose e Papel, em 2004, por US$ 720 milhões. À época, VCP e Suzano se uniram para evitar que algum grupo estrangeiro assumisse o controle da Ripasa e ganhasse musculatura no disputado mercado doméstico de papéis. O objetivo das brasileiras não apenas foi alcançado como a Ripasa acabou transformada em consórcio, batizado Conpacel, com participações idênticas dos sócios.
Desde então, a indústria brasileira de celulose e papel passou por pelo menos uma grave crise e processo de consolidação que resultou na fusão da VCP e da Aracruz na Fibria e na assunção da totalidade do Conpacel pela Suzano. Nomes tradicionais da indústria de celulose, entre os quais os das famílias Safra e Lorentzen, que pertenciam ao bloco de controle da Aracruz, saíram de cena - no que tange a investimentos no setor florestal. Com o lançamento da Eco Brasil Florestas, os Safra retornam ao setor, mesmo que apenas na produção de madeira.
O Brasil reúne as duas maiores produtoras mundiais de celulose branqueada de eucalipto (Fibria e Suzano) e é palco de uma série de projetos que vão consolidar a posição do país como líder global no segmento. De 2012 a 2015, uma nova unidade de produção deverá entrar em operação por ano.

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