terça-feira, 31 de maio de 2011

BB Mapfre persegue liderança

Autor(es): Aline Lima | De São Paulo
Valor Econômico - 30/05/2011
 

O imponente edifício de 22 andares da seguradora Mapfre localizado na Marginal Pinheiros, em São Paulo, já não é suficiente para comportar todos os funcionários. Os 700 colaboradores do grupo espanhol que trabalham no local ganharam, nos últimos três meses, a companhia de cerca de 300 pessoas vindas das empresas de seguros do Banco do Brasil (BB) - resultado da sociedade firmada há um ano e que será formalizada nos próximos dias em assembleia interna. Até o fim deste mês, os crachás de acesso ao prédio serão uniformizados, passando a contar com as logomarcas da seguradora e do banco estampadas.
Mas se a integração tecnológica e de pessoas está praticamente concluída, os reflexos da fusão nos negócios ainda estão por vir. A expectativa de executivos do BB é que, no segundo semestre, as operações da Mapfre ajudem a impulsionar as receitas de seguros do banco de cinco a dez pontos percentuais. Assim, a projeção inicial de crescer em linha com o mercado, ao redor de 15% no ano, passa para algo entre 20% e 25%. "Além da consolidação dos negócios, que aumentará o resultado do banco via equivalência patrimonial, os ganhos também virão do aumento das atividades", explica Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente de cartões, novos negócios e varejo do BB.
A ideia é que a tecnologia de desenvolvimento de produtos e a experiência de comercialização da Mapfre se somem ao poder de abrangência do Banco do Brasil, com suas 5 mil agências e 55 milhões clientes (incluindo 2,176 milhões de empresas). Há poucos meses, por exemplo, passaram a ser oferecidos na rede de agências do banco seguros de viagem. Outra frente de sinergia importante está na área de grandes riscos, na qual o BB sequer atuava. Aproveitando a carteira de clientes do banco no setor naval, a Mapfre acaba de fechar um seguro marítimo para sete cascos de navio com prêmio no valor de R$ 5 milhões.
BB e Mapfre, que juntos formam o segundo maior grupo segurador do país, se impuseram o desafio de alcançar a liderança do setor. A organização encerrou 2010 com R$ 8,3 bilhões em prêmios emitidos (excluindo VGBL), equivalente a uma participação de mercado de 12,84%, de acordo com ranking do Sindicato dos Corretores de Seguros e Resseguros no Estado de São Paulo (Sincor-SP), elaborado a partir das demonstrações financeiras das empresas do setor.
O primeiro lugar é do Bradesco e superá-lo não vai ser tarefa simples. Com R$ 12,5 bilhões em prêmios em 2010, sua participação no mercado de seguros, de 19,35%, subiu em relação a 2009, quando a fatia era de 19,11%. BB e Mapfre, ao contrário, apresentaram nesse mesmo período um recuo de 0,3 ponto percentual.
O Bradesco projeta crescimento entre 10% e 13% nos prêmios de seguros em 2011 (incluindo previdência). BB e Mapfre, portanto, terão de crescer acima disso se quiserem reduzir a distância do concorrente.
Os segmentos de atuação da Mapfre BB SH2 - holding criada para atuar no ramo de automóveis, seguro massificado e de grandes riscos - são justamente aqueles em que a seguradora espanhola mais tem a contribuir na parceira, com seu exército de 10 mil corretores espalhados pelo país. Não à toa, a estrutura acionária da holding conta com a participação da Mapfre em 50% do capital total. No desenho da outra holding, a BB Mapfre SH1, responsável pela comercialização de seguros de vida (incluindo prestamistas), imóveis e agrícola - produtos mais fáceis de serem vendidos em agências -, o BB tem 74,99% do capital total. As marcas dos produtos serão preservadas em função do canal de distribuição: Mapfre para corretores e BB Seguros para as agências.
A presidência executiva da Mapfre BB SH2 ficará com Marcos Eduardo Ferreira, em substituição a Antônio Cassio dos Santos, que saiu em abril depois de comandar a seguradora espanhola no Brasil por oito anos e conduzir o processo de união com o BB. Além do desafio natural de suceder Santos, Ferreira, há 22 anos na Mapfre e até então responsável pelas operações da Nossa Caixa Vida e Previdência, terá de encarar agora o concorrido ramo de veículos, principal negócio da SH2. "A atuação comercial junto aos corretores não sofrerá qualquer mudança", esclarece Ferreira. "Serão mantidas a política de subscrição e condições de coberturas."
Somadas, as carteiras de Mapfre e BB (sem o seguro obrigatório DPVAT) ocupam o segundo lugar de mercado de seguro de automóveis, com 15,67% de participação. A posição é incômoda, já que está longe da primeira colocação, ocupada por Porto Seguro Itaú Unibanco - com 27,1% de participação de mercado - e colada no terceiro lugar, do Bradesco, que detém fatia de 14,12%.
Os desafios de crescer começam dentro de casa. A Brasilveículos, empresa do BB que compõe a holding SH2, apresentou um número alto de cancelamento de apólices (29%) entre o primeiro trimestre de 2010 e o primeiro trimestre de 2011. Nesse período, a frota segurada manteve-se praticamente estável - 1,030 milhão de veículos em março, evolução de 0,9%. O chamado índice de sinistralidade, que mede a diferença entre os prêmios recebidos e as indenizações pagas, aumentou de 60,3% no primeiro trimestre de 2010 para 70,1% nos primeiros três meses de 2011. O desempenho nesse período foi compensado pela reversão de provisionamentos e ganhos financeiros.
No segmento de pessoas (sem VGBL), que responde por 75% da carteira da BB Mapfre SH1, embora a empresa apareça na primeira posição, com R$ 2,85 bilhões em prêmios e 18,15% de participação de mercado, a situação não parece ser tão mais confortável. O Bradesco vem logo atrás, com R$ 2,71 bilhões em prêmios e 17,29% de participação de mercado, prometendo uma disputa acirrada. "Manter a liderança talvez seja pior que conquistá-la", diz Roberto Barroso, da Aliança do Brasil e que assume a presidência executiva da BB Mapfre SH1.
A unidade de vida saiu na frente e foi a primeira a ser integrada sob o guarda-chuva da nova organização. Trabalham hoje no Edifício Mapfre todos funcionários dos diferentes ramos de seguro. As áreas de apoio - administrativa, financeira, controle, tecnologia e RH - estão distribuídas por outros dois edifícios do BB, em São Paulo.
A ideia é ter todos os funcionários reunidos num só lugar, com exceção da unidade carioca. "Estamos estudando a possibilidade de um "site" único. Separados, perdemos em integração, em ambiente", diz Caffarelli, do BB, que assume a presidência do conselho da Mapfre BB SH2 - na presidência do conselho da BB Mapfre SH1 ficará Wilson Toneto, da Mapfre. A possibilidade de venda do edifício não foi descartada por Rafael Casas, conselheiro delegado da Mapfre América. "Mas não estamos com pressa para resolver isso", apressou-se em esclarecer Caffarelli.

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