Autor(es): Alda do Amaral Rocha | De São Paulo |
Valor Econômico - 23/05/2011 |
Há 13 anos, quando chegou ao Brasil, a neozelandesa Fonterra via o país basicamente como um mercado importador de seus produtos lácteos. Na metade da década passada, o Brasil começou a ser considerado pela empresa uma potencial plataforma de exportação de lácteos. Hoje, o cenário mudou: o foco da maior cooperativa de leite do mundo, que faturou US$ 13,3 bilhões em 2010, voltou-se para o mercado doméstico brasileiro, mas agora o plano é ampliar a venda de produtos de maior valor agregado para a indústria de alimentos e também fabricá-los no Brasil num futuro próximo. E mais: a Fonterra também planeja ter produtos no varejo e vai iniciar a produção de leite no Brasil numa fazenda-piloto que acaba de adquirir no Estado de Goiás. O projeto prevê a utilização de genética neozelandesa e a produção de leite a pasto, como ocorre na Nova Zelândia. As recentes mudanças fazem parte de um processo de reorganização da Fonterra no Brasil, afirma o gerente geral da múlti para o Cone Sul, Fabrizio Jorge. Ele explica que, no início, a empresa funcionava, no país, apenas como um escritório comercial que coordenava a exportação de lácteos produzidos na Nova Zelândia para o Brasil. Na recente reorganização, o país virou sede do escritório regional da Fonterra para o Cone Sul, que compreende ainda Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. Além do potencial de demanda do mercado brasileiro, a reorganização também pode ser atribuída à frustrada expectativa da Fonterra de fazer do Brasil uma plataforma de venda de lácteos para outros países. Em 2008, por exemplo, o Brasil bateu o recorde na exportação de lácteos, com vendas de US$ 452,6 milhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), beneficiado por forte demanda, que elevou preços internacionais, e pelo câmbio favorável. Mas durou pouco. A demanda internacional segue firme, os preços também, mas o Brasil perdeu competitividade por causa do real valorizado, problemas de infraestrutura e baixa produtividade, observa Adriano Fortuna, gerente financeiro da Fonterra para o Cone Sul. "É um desafio enorme [o Brasil] se tornar um exportador sustentável". Nesse cenário de dificuldade para vender ao exterior a partir do Brasil, a Fonterra percebeu que as exportações teriam de ser absorvidas pela Nova Zelândia, afirma Fabrizio Jorge. Hoje, a Fonterra vende no Brasil produtos importados da Nova Zelândia e também fabricados nas unidades da Dairy Partners Americas (DPA) no Brasil, joint venture entre a cooperativa neozelandesa e a suíça Nestlé, formada em 2002, na captação de leite e processamento. As fábricas da DPA no país estão localizadas em Ibirá (MG), Ituitaba (MG), Rialma (GO), Itabuna (BA) e Palmeira dos Índios (RS). Nessas unidades, a Fonterra fabrica produtos destinados à indústria de alimentos, como leite em pó, gordura anidra de leite e creme de leite. Produtos de maior valor, como caseinato lácteo e concentrado proteico, usados pelas indústrias de iogurte e requeijão, são provenientes de fábricas da Fonterra na Nova Zelândia. "Há espaço para crescer em produtos para as indústrias", diz Jorge. Inicialmente, a meta é ampliar as vendas desses itens de maior valor e, no futuro, ter produção também no Brasil. A neozelandesa planeja ainda entrar com sua marca no varejo brasileiro, com produtos como queijo e manteiga, num primeiro momento, trazidos de sua subsidiária no Chile, a Soprole. Tanto para os produtos industriais mais elaborados como para os de varejo, o plano da Fonterra é implantar linhas de produção no Brasil num futuro próximo. Ainda que o foco da reorganização no país seja o mercado doméstico, a Fonterra, que é a maior exportadora de lácteos do mundo, segue exportando a partir do Brasil quando há competitividade. Atualmente, por exemplo, envia ao exterior, com regularidade, gordura anidra do leite, usada na indústria de alimentos. A China, um dos mercados que mais sustenta o avanço da demanda por lácteos no mundo, é atendida pela Fonterra na Nova Zelândia, segundo Jorge. "O que se afirma, no setor, é que se a China continuar no mesmo ritmo acelerado de consumo seria preciso uma Nova Zelândia a cada ano", comenta o executivo. O país da Oceania produz por ano 2 milhões de toneladas de lácteos. |
terça-feira, 24 de maio de 2011
Brasil ganha importância na estratégia da Fonterra
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