Autor(es): agência o globo: José Meirelles Passos e Henrique Gomes Batista* |
O Globo - 27/05/2011 |
Seminário do FMI vê novo cenário global, no qual emergentes serão investidores RIO e PARIS. Os crescentes fluxos de capital para os países emergentes não são mais temporários. E a maioria das aplicações deixou de ser especulativa: os investidores apostam, agora, na perspectiva de bom retorno tanto a médio quanto a longo prazo. Por isso, os governos que mantiverem um regime econômico estável serão beneficiados, desde que tenham ferramentas eficazes para lidar com os riscos de tal abundância - como pressões inflacionárias, valorização da moeda, demanda agregada e crédito excessivo para os consumidores. Essa foi a conclusão das discussões ontem entre banqueiros, acadêmicos, autoridades da área econômica de vários países e técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI), em seminário promovido por este no Rio, com patrocínio de Ministério da Fazenda e Banco do Brasil. O tema é "Como administrar fluxos de capital em países emergentes". - O mundo está mudando. Pela primeira vez está havendo uma diversificação, de fato, nos mercados. Isso (o fluxo abundante para os emergentes) é a nova norma, e chegou para ficar - disse o representante de uma das maiores financeiras globais. O FMI determinou que os jornalistas convidados para os debates, ontem e hoje, não revelassem os autores das opiniões expostas. Um dos banqueiros, refletindo o clima de otimismo cauteloso, disse que o acúmulo das reservas internacionais dos emergentes está a ponto de criar um novo fenômeno: - Podemos estar chegando à curiosa situação em que os emergentes invistam essas injeções de capitais em outros países emergentes. O FMI ainda não sabe lidar com essa questão de forma efetiva. O único consenso é o de que não existe um remédio que funcione para todos. Quebrando a regra do silêncio, Min Zhu, assessor especial do diretor-gerente da instituição, falou oficialmente ao admitir a situação: - Nós não temos todas as respostas. É por isso que estamos aqui nessa discussão. No seminário, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sugeriu que todos os países adotem o sistema de flutuação cambial, para reduzir a manipulação do câmbio. E disse que, para administrar melhor o fluxo global de capitais, seria necessário que os países ricos saíssem mais rapidamente da crise e que houvesse uma reforma financeira global. Lagarde visitará Brasil e China em breve Mantega citou outros fatores que contribuíram para esse excesso de capitais: as diferentes taxas de crescimento dos países, os desequilíbrios fiscais nas nações ricas, a alta das commodities e a desregulamentação do setor financeiro mundial. E garantiu: - É muito melhor perder o sono pelo excesso de capital do que pela falta dele, como acontecia no passado. Ele ressaltou que as medidas do governo para tentar conter a alta do real têm sido eficazes e que, se não fosse por elas, a moeda americana estaria "em torno de R$1,30, R$1,40". A ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, revelou ontem que planeja visitar em breve países emergentes, como Brasil e China, em busca de apoio à sua candidatura ao FMI. Não há datas marcadas. |
Fluxo para emergentes é de longo prazo, diz analista do JP Morgan
Autor(es): Fernando Dantas |
O Estado de S. Paulo - 27/05/2011 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/5/27/fluxo-para-emergentes-e-de-longo-prazo-diz-analista-do-jp-morgan |
Para Joyce Chang, causa principal é o fato de instituições estarem diversificando suas carteiras de investimento Os grandes fluxos de capital que estão valorizando as moedas dos países emergentes, como o Brasil, podem ser um fenômeno permanente, ou de muito longo prazo. Essa visão foi sustentada ontem por Joyce Chang, chefe de pesquisa de mercados emergentes do JP Morgan, em conversa com a imprensa num intervalo do seminário sobre fluxos de capitais organizado no Rio pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), com apoio do governo brasileiro. Para Joyce, a alta liquidez internacional - apontada por muitos analistas como uma das causas da sobrevalorização das moedas dos emergentes - não explica o grande volume dos fluxos de capital para os emergentes hoje. A causa principal, para ela, é que instituições de investimentos de países ricos, especialmente dos Estados Unidos, como fundos de pensão e seguradoras, estão diversificando suas carteiras na direção dos países emergentes. Ela observou que os investidores institucionais americanos - fundos de pensão e seguradoras - têm patrimônio de US$ 3,7 trilhões, "mais do que as reservas da China". Hoje, esses investidores colocam 2,1% dos seus recursos nos países emergentes, sendo 0,3% em renda fixa e 1,8% em ações. Os investidores institucionais americanos, porém, dizem que aquela proporção deve chegar a 7%, o que significa um enorme aumento dos fluxos de capital para os emergentes. "Nós ainda não estamos nem em 20% (do processo de realocação)", disse Joyce. As razões da realocação de capitais rumo aos emergentes, para a executiva, estão ligadas aos melhores fundamentos dessas economias, e não a um modismo. Em relação aos países ricos, os emergentes têm perspectivas de crescimento melhores, dívidas menores e trajetórias do endividamento mais saudáveis. Ela observou que 61% dos mercados emergentes são credores líquidos em moeda estrangeira. Além disso, os juros pagos nesses países estão muito altos, considerando o risco que representam. Assim, a dívida do mercado de títulos americanos de melhor classificação, apesar de ter o mesmo rating (classificação de risco) que os papéis em moeda local de alguns países emergentes, pagam juros muito mais baixos. Para Joyce, esses fatores que provocam os fluxos para os emergentes podem até ter uma característica cíclica, mas seria um ciclo muito longo, de 25 a 50 anos. Durante o seminário, foram apresentadas várias visões sobre fluxos e controles de capital, e valorização de moedas emergentes. Foi lembrado, por exemplo, que, na realocação de portfólio dos investidores americanos, o fluxo aos emergentes aumenta, mas, quando o processo estiver concluído o fluxo se estabilizará num nível mais baixo que o atual. Assim, pode ser perigoso para países como o Brasil se acostumarem a financiar grandes déficits em conta corrente, por causa da atual sobra de recursos. |
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