terça-feira, 24 de maio de 2011

Inspiração em Anísio Teixeira

Correio Braziliense - 23/05/2011
 
O Caic retomou os ideais do professor Anísio Teixeira para Brasília. As crianças que ingressavam no sistema de ensino, o chamado primeiro grau, deveriam permanecer oito horas nos colégios da rede. Durante metade desse período, ficariam na escola classe e, no restante, iriam para a escola parque, onde desenvolveriam atividades esportivas, culturais e de lazer. O Caic, porém, unificou os dois métodos e as crianças deixaram de ter que almoçar em casa. As unidades iam além das aulas regulares de disciplinas como português e matemática. Ofereciam atendimentos individuais de reforço, assistência médica e odontológica e atividades de esportes e lazer, como treinamento de futebol de salão e de campo, atletismo, basquete, vôlei e ginástica. O Caic nasceu para atender comunidades carentes. O projeto inicial se perdeu com o passar do tempo. O presidente Collor anunciou, no lançamento da iniciativa, que 50 unidades seriam inauguradas somente no Distrito Federal até o fim de 1992. Atualmente, existem apenas 14 Caics no DF.

Caic, 20 anos depois

Autor(es): Lucas Tolentino
Correio Braziliense - 23/05/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/5/23/caic-20-anos-depois
 

Originalmente uma ideia que agregaria qualidade de vida a milhares de crianças, o modelo educacional criado em 1991, hoje, parece ter perdido a capacidade de promover boa formação. Mas o GDF tem propostas para voltar a oferecer ensino de qualidade


O pequeno Kauã Cavalcante, de 6 anos, passou por um experiência que poucas crianças vivenciaram. Aos 3 anos, começou a frequentar o Caic Júlia Kubitschek, em Sobradinho 2. Passava o dia na escola. Almoçava, desenvolvia atividades lúdicas, lia histórias, jantava e só no início da noite voltava para casa. O garoto nem percebia que aprendia enquanto brincava. A mãe do menino, a auxiliar de serviços gerais Andréia Cavalcante, 35, aprovava a iniciativa. “Dava para trabalhar com a segurança de que meu filho recebia um ensino de qualidade”, lembra.
A caçula da família, porém, não terá o mesmo privilégio. Maria Vitória Cavalcante, 3 anos, ingressou no colégio há poucos meses. Mas a instituição abandonou o regime integral. Quem estuda pela manhã deixa a escola por volta de meio-dia. A jornada do restante dos alunos começa depois do almoço e termina no fim da tarde. Como Kauã e Maria Vitória, muitas crianças pelo Distrito Federal afora experimentam a decadência dos ideais e projetos definidos pelo governo federal para as instituições de ensino que levam o nome de Caic.
Em 1991, durante a gestão do presidente Fernando Collor de Mello, o Ministério da Educação criou um novo modelo com a construção do Centro de Atenção Integral à Criança, o Caic. O programa completa 20 anos em outubro e não passa nem perto do que era à época. As consultas médicas se foram, assim como as aulas regulares de educação física e as oficinas artísticas.
Com duas torres e um ginásio em formato triangular ao lado, os pavilhões de arquitetura inconfundível abrigam hoje um número muito superior de jovens. Em vez de cerca de 400 alunos, como era no começo, a quantidade de estudantes ultrapassa a casa dos milhares. Somente no Júlia Kubitschek, há 2,1 mil matrículas, divididas em 83 turmas.
O inchaço prejudicou o andamento das atividades do programa. O atendimento nas áreas de artes, esportes e saúde no período inverso ao das aulas (veja Para saber mais) quase não existe mais. “A demanda foi aumentando e o número de colégios construídos não acompanhou esse crescimento. Viramos uma escola classe gigante”, constata a diretora do Caic Júlia Kubitschek, Mábia Neves. A professora reprova a destruição do modelo inicial. “O Caic foi concebido para poucos alunos e teria mais qualidade. As coisas se inverteram.”
O expediente não ocorre o dia inteiro por falta de profissionais. Segundo Mábia, os nove monitores que trabalham no Júlia Kubitschek não são suficientes para ajudar os professores das turmas da creche. A diretora acrescenta que muitos deles pedem demissão porque passam em concursos melhores, e o quadro de funcionários fica sem reposição. Com isso, as crianças de 2 e 3 anos só permanecem no local em meio período. Apenas 56 meninas e meninos do 1º ao 5º ano frequentam o Caic de Sobradinho 2 no sistema de ampliação de horário, com aulas de reforço e almoço.
Mobilização
As mudanças e dificuldades fazem parte da rotina da maioria das unidades. O primeiro Caic da história, o Santa Paulina, fica no Paranoá. Os docentes e gestores tentam fazer os preceitos iniciais funcionarem, mas esbarram em empecilhos administrativos. A diretora da instituição, Neila Bretas, ressalta que o prédio tem problemas nas redes elétrica e hidráulica. O ginásio precisa de pintura nova e o campo de futebol não tem grama.
O decreto de morte do modelo integral do colégio foi assinado sete anos depois da inauguração. Em 1998, o Governo do DF alterou a modulação do Santa Paulina para o formato de escola classe. “O Caic era um referência para a comunidade. Tinha apoio psicológico, nutricionista, dentista. É isso que a gente almeja”, planeja Neila. Quando assumiu a chefia do local, em 2007, a professora mobilizou diretores de outros Caics do DF.
O corpo docente, formado por 42 professores regentes e quatro coordenadores pedagógicos, é insuficiente para conduzir atividades além das classes regulares. Do total de 1,1 mil estudantes, cerca de 400 são os únicos que participam de atividades extras.
A professora Benedita Martins, 46 anos, matriculou a filha Lídia, 8, no Santa Paulina, onde leciona. A menina participa de atividades extraclasse duas vezes por semana no local. A mãe queria que fossem mais frequentes. “Acabo colocando-a em cursos por fora. Para ela e para todos, o ideal seria ficar em período integral mesmo. É o único jeito de estimular os estudos, a leitura”, conclui.
Por toda parte
Veja onde ficam as unidades do DF:
Brazlândia
Caic Professor Benedito Carlos de Oliveira
Área Especial 5, Setor Tradicional
Ceilândia
Caic Bernardo Sayão
QNN 28, Área Especial H a K, Guariroba
Caic Professor Anísio Teixeira
QNO 10, Área Especial A, Setor O
Gama
Caic Carlos Castello Branco
EQ 20/23, Setor Oeste
Núcleo Bandeirante
Caic Juscelino Kubitschek
SMPW Quadra 16, Área Especial 2
Paranoá
Caic Santa Paulina
Quadra 5, Conjunto C
Planaltina
Caic Assis Chateaubriand
Área Especial 3, Setor Leste 1
Samambaia
Caic Ayrton Senna
QR 117, Setor Urbano
Caic Helena Reis
QR 409, Área Especial 1
Santa Maria
Caic Albert Sabin
EQ 304/307, Lote E
Caic Santa Maria
EQ 215/315, Lote B
São Sebastião
Caic Unesco
Quadra 5, Conjunto A, Área Especial
Sobradinho 2
Caic Júlia Kubitschek
AR 13, Conjunto 3, Área Especial 1
Taguatinga
Caic Professor Walter José de Moura
QS 7, Área Especial 2

Esforço e mudanças

Correio Braziliense - 23/05/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/5/23/esforco-e-mudancas
 

Apesar dos entraves, os responsáveis pelos colégios se esforçam para oferecer um bom ensino aos estudantes. Com recursos próprios vindos de eventos beneficentes, o Caic Bernardo Sayão, em Ceilândia, tem um parquinho novo e até piscina. Dentistas e oftalmologistas fazem atendimentos esporádicos no local. “A gente funciona de maneira precária. Não dá para todos, mas a gente tenta”, afirma a diretora, Neuza Maria da Silva. A instituição ainda consegue receber 120 alunos do ensino fundamental em regime integral.
O novo formato de educação integral proposto pelo GDF deve sair do papel ainda este ano. O currículo escolar da rede pública vai passar por uma reformulação para que o horário de atividades pedagógicas e extraclasse seja ampliado e alcance estudantes de todas escolas, não só os matriculados no Caic. Professores e profissionais da área discutem como será o atendimento.
Mais espaço
A proposta é um pouco diferente. A subsecretária para Educação Integral, Cidadania e Direitos Humanos, Gícia Falcão, explica que a concepção ultrapassa os limites físicos do colégio. “As crianças não vão ficar o dia inteiro somente na escola. Para atingir o desenvolvimento psicológico, cognitivo e social, é preciso sair da lógica de tempo e pensar em espaço. As atividades também devem ser feitas fora da escola, com visitas a museus e outras coisas”, detalha.
As mudanças na modalidade envolvem a reformulação do currículo escolar e dos conteúdos trabalhados em sala. A segunda etapa da implantação do programa, segundo Gícia, incluirá a reforma das instituições de ensino. “Temos 649 escolas. A maioria delas precisa de uma nova estrutura e de espaços como quadra de esportes e teatro”, explica.
O atendimento em creches públicas também é uma das questões consideradas prioritárias pelo GDF. De acordo com a subsecretária, apenas mil crianças de até 3 anos são atendidas em instituições do sistema. Outras 10 mil frequentam estabelecimentos conveniados ao órgão.

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