Raphael Salomão | São Paulo (SP)
A indústria de carne suína cobra uma ação mais ágil do governo para a recuperação do mercado russo. Oembargo do país a frigoríficos brasileiros, que vigora desde junho, é apontado como principal responsável pela queda nas exportações em julho. Na carne bovina, a cobrança é a mesma. Mas a indústria frigorífica destaca que o impacto do embargo russo no setor é bem menor.
A Rússia responde por mais de 40% das exportações de carne suína brasileira. E essa concentração é apontada como o principal problema, com forte influência no resultado das exportações. No geral, em relação a julho do ano passado, a queda foi de 17% no volume e de 13% na receita. Só nas exportações para a Rússia, o volume foi 20% menor de janeiro a julho deste ano, em relação ao mesmo período em 2010.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, o fim do embargo é a única solução para a retomada das exportações.
– A gente não pode ficar com esses problemas permanentes. Eu estava certo de que essa situação se resolveria nesta semana ou até na semana que vem. Tudo o que a gente escutava era nessa linha. Agora está confuso, o Ministério não explica o que está acontecendo. Está muito difícil entender o que acontece – relata.
Mas o analista de mercado da MBAgro, César de Castro Alves, afirma que simplesmente a reabertura do mercado russo pode não ser suficiente.
– Não basta reabrir o mercado. Precisa que tenha volume sendo demandado. Então, temos muita incerteza em relação a esse parceiro porque eles tem investido muito nas criações de frango e suínos locais. Isso tem feito eles sinalizarem que vão importar menos, e já estão fazendo isso – ressalta.
Carne bovina
A Rússia também é o principal comprador da carne bovina brasileira. Mas, segundo analistas, o impacto do embargo sobre os negócios é bem menor, comparando com a carne suína. Isso porque o país europeu é bem mais dependente da carne bovina importada e o Brasil é um importante fornecedor.
No geral, as exportações de carne bovina também caíram. Em relação a julho de 2010, o volume foi 35% menor e a receita caiu 18%. No acumulado dos primeiros sete meses do ano, o volume vendido para a Rússia foi um dos que menos caiu: apenas 4%. Para o Irã, a queda foi de 27%, para o Egito, 35% e para a União Europeia, 5%.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, explica que as maiores dificuldades do setor são as questões políticas e religiosas no mundo árabe, além dos problemas econômicos na Europa.
– A Europa, agora com essa manifestação candente de problemas na zona do euro, ratifica a posição de que não tem interesse nenhum em importar a carne do Brasil pelas razões manifestadas no controle de propriedades, nas dificuldades de execução do Hilton, na dificuldade de cumprir o acordo de compensações pela entrada da Romênia e da Bulgária – afirma.
Apesar disso, a entidade mantem a projeção positiva para este ano.
– A perspectiva para os próximos meses é ter uma numerologia parecida. Mesmo assim, as perspectivas do setor para a finalização do ano ainda são de um aumento da ordem de 10% a 15% na receita e o mesmo proporcional no que diz respeito ao volume, no comparativo ao ano passado – conta Camardelli.
Já o analista de mercado aposta em crescimento apenas da receita com as exportações de carne bovina.
– O resultado das exportações seguramente será maior neste ano do que no ano passado. Em receita, em dólares, porque o volume, dificilmente a gente consegue superar o volume do ano passado, que já foi ruim. Temos visto muita incerteza econômica, muitas dúvidas em relação à situação da Europa, só que para os preços de carne bovina, isso dificilmente vai impactar. Se tiver uma recessão muito forte, vai impactar, mas não trabalhamos com esse cenário principal – opina.
Rússia pede interrupção imediata de embarques de 37 frigoríficos
Comunicado ignora pedido do governo brasileiro sobre data do novo embargo
O Serviço de Inspeção Sanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor, em russo) pediu que o Brasil tome medidas urgentes para interromper os embarques de carnes por parte de 37 frigoríficos embargados na semana passada com aval do próprio governo brasileiro. Esses estabelecimentos fazem parte de uma lista paralela apresentada pelo Brasil aos russos, já que teriam alguns empecilhos para exportar no momento (como a falta de análises laboratoriais), mas cujas pendências seriam sanadas até o final de setembro.
A lista foi entregue durante reunião em Moscou em 6 de julho e fazia parte da proposta pela qual o governo brasileiro cancelaria a lista atual de 240 plantas credenciadas e passaria a considerar aptas a exportar 88 unidades. Mas no dia 28 de julho o governo russo enviou uma mensagem ao Brasil dizendo que descredenciaria essas 37 unidades temporariamente a partir do dia 6 de julho, sem se manifestar sobre as 88 unidades defendidas pelo governo brasileiro.
O anúncio desta sexta, dia 5, ignora também o pedido do governo brasileiro, que havia sugerido que o embargo as 37 plantas começasse a vigorar em 2 de agosto para que os embarques em tramitação não fossem prejudicados. Em comunicado divulgado nesta sexta, o Rosselkhoznadzor diz que os frigoríficos continuaram a embarcar carnes para a Rússia e pede "medidas urgentes para interromper as remessas de produtos de tais empresas".
Nesta quinta, dia 4, o Ministério da Agricultura enviou um novo documento às autoridades sanitárias russas reforçando as propostas brasileiras já feitas aos importadores de carnes no início do mês passado. Não há, no entanto, uma data prevista para uma resposta por parte dos compradores.
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