quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Olam e Renuka se associam para investir em cana


Autor(es): Fabiana Batista
Valor Econômico - 17/08/2011
 

O grupo Olam International, de Cingapura, e a indiana Shree Renuka Sugars, firmaram parceria no Brasil para investir em açúcar e etanol. Segundo apurou o Valor, o acordo não inclui compartilhar ativos já pertencentes à companhia indiana, mas apenas a atuação conjunta em novos projetos e aquisições sucroalcooleiras no país. O primeiro alvo da dobradinha asiática são os ativos do grupo Clealco, com duas usinas em São Paulo que somam capacidade industrial para moer 9 milhões de toneladas de cana por safra.
De acordo com fontes ouvidas do mercado, a Olam não definiu o valor a ser investido no segmento sucroalcooleiro do Brasil. O objetivo é entrar e estabelecer uma posição no mercado brasileiro de cana-de-açúcar.
Globalmente, a atuação da Olam - que em 2010 faturou US$ 8,6 bilhões - vai de originação de commodities, passa por processamento em algumas cadeias do agronegócio e inclui também logística. No Brasil, a empresa até agora só opera como trading mas, segundo as fontes, tem em seu plano entrar em outros elos de algumas cadeias de agronegócio no país, estratégia que não se limita ao segmento de cana-de-açúcar.
Do outro lado da parceria está a indiana Shree Renuka Sugars, com faturamento global de US$ 1,7 bilhão na temporada 2009/10. A companhia investiu pesado nos últimos dois anos no Brasil comprando quatro usinas de açúcar e etanol - duas em São Paulo e duas no Paraná - pelas quais pagou cerca de R$ 600 milhões e assumiu dívidas da ordem de R$ 1,5 bilhão.
A indiana administra também investimentos em ampliações industriais e agrícolas no país que ultrapassam R$ 400 milhões. Atualmente, das cerca de 20 milhões de toneladas de cana que a empresa processa, 13,6 milhões estão no Brasil e o restante, na Índia.
Agora, diante da venda da Clealco - sua vizinha em uma das unidades de São Paulo -, a Renuka não quer perder a oportunidade estratégica de agregar mais esses ativos, dizem fontes.
Com a Olam, a indiana fica mais forte para brigar pela Clealco que também é disputada por gigantes do setor, entre eles, a Raízen (Cosan / Shell), Guarani / Petrobras Biocombustíveis e a petroleira francesa Total. Procuradas, Olam, Renuka, Clealco e Guarani não comentaram. Executivos da Total não foram encontrados. A Raízen apenas confirmou que está na negociação.
Tanto a Olam como a Renuka têm capital aberto em bolsas de valores na Ásia (Cingapura e Mumbai, respectivamente).
Fora do Brasil, a Olam chegou a conversar com o grupo francês Louis Dreyfus Commodities no ano passado sobre uma possível fusão. Mas em fevereiro deste ano, a companhia de Cingapura informou que foram encerradas as negociações, colocando fim às especulações de que as duas empresas poderia se associar, segundo reportagem publicada no começo deste ano pelo "Wall Street Journal".
A Clealco é considerada uma das últimas oportunidades de ativos sucroalcooleiros de médio porte à venda no Centro-Sul. A decisão de se desfazer do negócio se deveu a discordâncias entre os sócios. Com administração profissionalizada, o grupo teve na última safra, a 2010/11, lucro de R$ 60,2 milhões, 130% maior do que o resultado líquido, também positivo, registrado na temporada anterior.
A dívida com empréstimos e financiamentos da Clealco cresceu 7,4% até 31 de março deste ano para R$ 447,5 milhões, dos quais R$ 83,1 milhões no curto prazo e R$ 354,4 milhões no longo.
Além das duas usinas - localizadas nos municípios paulistas de Clementina e Queiroz (uma delas com cogeração de energia) -, o grupo também negocia um projeto de outra usina no município de Tupã, distante 50 quilômetros das outras duas unidades. Ainda entram no pacote mais dois projetos greenfield (construção a partir do zero) no mesmo "cluster" de produção. As terras das usinas e a cana, que atende cerca de um terço da demanda das unidades, não entraram na negociação.
Segundo fontes de mercado, a Clealco estima que seus ativos valem cerca de US$ 150 por tonelada de cana de capacidade instalada, o equivalente a R$ 2,2 bilhões. A empresa estendeu para esta sexta-feira o prazo para entrega das propostas definitivas, uma vez que as pretendentes já concluíram auditorias nos ativos e balanços do grupo. A expectativa do mercado é de que um escolhido seja anunciado até o fim deste mês.

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