segunda-feira, 2 de maio de 2011

Jovem eleva ritmo de troca de emprego // Engenharias

Autor(es): Marcelo Rehder
O Estado de S. Paulo - 01/05/2011
 

Rotatividade no emprego dos jovens entre 15 e 18 anos, medida num período de 12 meses, passou de 41,16% em 1999 para 71,44% em 2009
 - O Estado de S.Paulo
Os jovens são os mais prejudicados pela rotatividade no emprego formal brasileiro, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O entra e sai de jovens de 15 a 18 anos no mercado, no período de 12 meses, aumentou 73,5% em dez anos: a taxa passou de 41,16%, em 1999, para 71,44%, em 2009, último dado disponível da Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
Seria como se dois em cada três brasileiros nessa faixa etária, com carteira de trabalho assinada, trocassem de emprego em um ano. Porém, a proporção é menor, porque, além do dinamismo do próprio mercado de trabalho, muitos trocam de emprego mais de uma vez no ano, diz o economista Márcio Pochmann, presidente do Ipea.
O estudante de supletivo do ensino médio Lucas Augusto Barbosa, de 18 anos, por exemplo, trocou de emprego este ano e já procura nova colocação no mercado de trabalho. Depois de seis meses, ele resolveu trocar o call center de uma escola profissionalizante de São Paulo para ganhar mais numa escola de inglês. Mas não se adaptou ao novo emprego. Na semana passada, Barbosa foi ao Centro de Apoio ao Trabalhador em busca de nova oportunidade. "Não está fácil, porque ainda não completei o ensino médio."
"A taxa de rotatividade nos call centers é altíssima, ao redor de 90%", diz o especialista em relações do trabalho José Pastore. "É muita pressão por pouco salário."
O presidente do Ipea avalia que a alta rotatividade no emprego na faixa etária de até 20 anos é pressionada por problemas relacionados à procura do primeiro emprego.
"A rotatividade é mais concentrada entre os jovens justamente por causa da sua dificuldade de entrar no mercado e determinar uma profissão pela qual tenha horizonte de longo prazo para perseguir", afirma Pochmann.
Além disso, acrescenta o professor Pastore, os jovens têm menos experiência profissional. "Por isso, sua inserção no mercado é permeada por uma sucessão de interrupções."
A questão é que a rotatividade é alta em todas as faixas etárias (ver quadro acima), comparada com padrões internacionais. Por exemplo, nos Estados Unidos, a rotatividade está abaixo de 20%. "Nós só vamos ter isso nos segmentos de 50 anos ou mais", observa o presidente do Ipea, Márcio Pochmann.
Para ele, o fenômeno pode ser explicado em parte pela baixa confiança existente nas relações de trabalho no País. "A empresa, por qualquer problema, muitas vezes opta pela demissão do trabalhador como medida de redução de custos. E o trabalhador, por sua vez, não pensa duas vezes diante da oferta de uma remuneração um pouco melhor."
Em geral, a rotatividade decorre mais da decisão das empresas de trocar funcionários. São vários os motivos: inadequação de recém-contratado, oportunidade de contratar funcionário mais qualificado ou redução de custos, substituindo salários mais altos por outros menores.


Radar: edição especial sobre mão de obra no Brasil e crescimento

Leia o Radar nº 12 na íntegra 

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/110315_radar12.pdf

O indicador “taxa de desemprego entre os engenheiros”, entretanto, não pôde ser observado. Não obstante,
Nascimento  et al. (2010) e o estudo de Maciente e Araújo (2011), este publicado neste número do Radar,
trabalham com uma proxy bastante útil: a proporção de engenheiros formados empregados nas ocupações típicas de sua área de formação. Este indicador, construído a partir dos dados de emprego e de conclusão dos cursos de graduação, enuncia que, em 2009, 38% da força de trabalho brasileira com diploma de nível superior na área de engenharia, construção e produção estavam empregadas nas ocupações próprias da área.
Não se trata, é verdade, de um dado relacionado ao desemprego, mas tem o potencial de antecipar a
persistência ou não de pressões salariais sobre as ocupações típicas de engenheiros, na medida em que dimensiona o tamanho do “exército de reserva” de engenheiros distribuídos por diversas outras ocupações. Tendências de queda na proporção de engenheiros que atuam em suas áreas de formação sugeririam perspectivas de desvalorização destas carreiras. Em assumindo uma espiral crescente, este indicador sinalizaria que, em cenários de crescimento econômico mais robusto, as firmas estariam passíveis de incorrer em custos crescentes de contratação e de retenção de sua força de trabalho especializada – seja nas carreiras típicas de engenheiros e profissionais afins, seja nas carreiras em que estes profissionais competem com outros advindos de outras áreas de formação.


É esse aumento de custo que aparentemente tem levado a alertas sobre um possível “apagão” de mão
de obra, em especial de engenheiros. A situação até então experimentada pelos contratantes era confortável,
com certo excedente disponível no mercado, o que permitia contratações a salários relativamente baixos.
O deslocamento, no passado, de um grande número de engenheiros para ocupações não específicas de engenharia é uma evidência deste excedente.
O que se ressalta aqui é que a solução para essa possível falta de engenheiros não reside simplesmente
(ou necessariamente) no aumento do número de vagas em cursos de engenharia.

Questões de qualidade (do ensino superior e da educação básica que forma os que nele ingressam), políticas de incentivo ao ingresso e à conclusão em cursos de caráter técnico-científico, bem como de formação continuada nas próprias firmas, devem ser pensadas em paralelo. Ademais, como boa parte dos engenheiros formados não tem atuado na área, é indispensável atentar também para a qualificação dos profissionais com os quais eles competem em funções não específicas da engenharia.
De todo modo, em termos gerais, os problemas de escassez de mão de obra especializada podem ser
resolvidos via ajuste salarial e mobilidade espacial da força de trabalho. Quando o problema extrapola regiões e setores econômicos específicos do país e se torna generalizado, é necessário pensar em dois conjuntos de iniciativa, cada um deles para diferentes horizontes de tempo.
No curto e no médio prazos, a solução passa por: i) maior investimento das firmas em qualificação e em
especialização da força de trabalho entrante no mercado; ii) retenção de profissionais com maior experiência;
iii) atração e requalificação de profissionais que tenham saído do mercado ou se deslocado para outras funções; e iv) redução das barreiras do mercado à entrada de profissionais estrangeiros. Quaisquer destas abordagens, entretanto, deverão trazer custos adicionais aos contratantes.


FATOS ESTILIZADOS SOBRE O ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO
Malgrado o formalismo das denominações, sempre será possível, com os devidos cuidados, olhar o ensino superior brasileiro segundo os tipos de instituições que o oferecem. No marco legal presente, elas são as universidades, os centros universitários, as faculdades e, mais recentemente destacados, os institutos tecnológicos.
Ao final dos anos 1960 idealizou-se que as universidades seriam o modelo nuclear de instituição no sistema
brasileiro, e se fez um esforço para que as federais e as do sistema paulista de universidades concretizassem este propósito. Nem todas, apesar do nome, se desenvolveram como o idealizado; a formação pós-graduada e a indissociabilidade ensino-pesquisa nem sempre predominaram. Num certo momento, vários conglomerados de escolas superiores pleitearam e obtiveram o título e as prerrogativas de universidades, apresentando-se como research universities, a despeito de se concentrarem, em verdade, na mera formação profissional e de demonstrarem raro ativismo em pesquisa científica e tecnológica. Inúmeras outras entidades conformaram-se em não exibir aquela denominação, optando por serem designadas como centros universitários e faculdades.
De todo modo, segundo a lei de Diretrizes e Bases da Educação (lDB) de 1996, universidades seriam 
aquelas “instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, 
de extensão e de domínio e cultivo do saber humano”, às quais se atribuiria o escopo de realizar “produção 
intelectual institucionalizada”, e que precisariam dispor de pelo menos um terço de seus quadros docentes 
titulados em pós-graduação stricto sensu e com dedicação em tempo integral. A partir daí, instituições com 
estruturas e funções bem variadas adquiriram tal denominação.
Há alguns anos, o diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP)
enfrentou este desafio de conceituação com uma base empírica concreta, de que resultou uma classificação mais apropriada (quadro 1). Funda-se na constatação das funções que tais instituições desempenham no sistema, traduzidas nas oportunidades de formação que proporcionam e no ativismo na pesquisa. Nela, o estrato 1 corresponde mais acuradamente ao que americanos e europeus denominam research university.




Há poucas diferenças substanciais entre uma parte destas universidades e os centros universitários. O decreto
nº 5.786/2006 abrigou parte das entidades que optaram por não adotar a denominação de universidades; elas também são “instituições de ensino superior pluricurriculares”. Porém, desde logo – nesta definição legal – se reconhece que elas se “caracterizam pela excelência do ensino oferecido, pela qualificação do seu corpo docente e pelas condições de trabalho acadêmico oferecidas à comunidade”. Tomam o nome de centros universitários e se lhes exige dedicação integral para apenas um quinto de seus quadros docentes, mantido o patamar de um terço para a titulação pós-graduada stricto sensu. Em outros termos, também são agrupamentos de escolas profissionais superiores não necessariamente comprometidas com o binômio ensino-pesquisa e possuem padrões de qualidade também muito variados

Isto posto, conforme referido anteriormente, o sistema seria formado, de acordo com dados de 2009,
por duas centenas de universidades, 127 centros universitários e 2 mil faculdades e institutos de educação 
tecnológica. O importante a verificar é, de um lado, como seus quase 6 milhões de alunos se distribuem entre 
os diferentes tipos de IES – e, pois, entre diferentes classes de oportunidades educativas; e, de outro lado, o 
contingente de graduados que sai de cada um deles. Isto é apresentado nos gráficos 1 e 2.




Pouco mais de metade dos alunos se encontra nas universidades; e menos de um quarto deles em 
universidades públicas. Somados, os alunos em universidades, centros universitários e faculdades privadas 
constituem um contingente de 3,7 milhões, 73,5%, ou quase três quartos, do total. vale dizer que ainda há uma parcela pequena em instituições com melhores padrões de oferta e desempenho acadêmico, a que realmente se pode aplicar o qualificativo de “superior”. Uma proporção muito elevada é atendida no que – como se faz na Europa – se chamaria de educação terciária ou pós-secundária.
Ao se observar esta distribuição, convém ter em conta aquelas diferenças essenciais entre os tipos de
instituições antes referidas, que não se expressam nas suas denominações.

As avaliações de estrutura e desempenho – como a que o INEP aplica às instituições, atribuindo-lhe, ao
cabo, um Índice geral de Cursos (IgC) – mostra que as universidades alcançam um IgC médio de 3,11 (ou 
62% do “ideal”, o conceito máximo, que é igual a 5). Entre elas, as federais vão a 3,92 (78%), as estaduais 
a 3,17(63%) e as privadas a 2,97(59% do “ideal”). Em contraste, os centros universitários se equiparam às 
universidades privadas (exibem IgC de 2,97), enquanto as faculdades caem para 2,57 (51%). Ressalte-se que apenas 2,3% dos estudantes se encontram nas nove universidades federais que alcançaram conceito 5.
A “saída” do sistema é simétrica a este dimensionamento. São quase 830 mil pessoas ao ano obtendo 
diplomas de grau superior. Grosso modo, o setor privado provê 77% dos graduados, enquanto tem apenas 73% do alunado; tende, pois, a apresentar um “fluxo de saída” algo superior ao do setor público, apesar dos seus baixos indicadores de desempenho.


FORMAÇÃO DE PESSOAL TÉCNICO-CIENTÍFICO NO BRASIL
Uma questão daí decorrente seria a de se saber em quais áreas de conhecimento estes alunos estão sendo
formados, e quais proporções das conclusões de curso correspondem às diferentes destinações profissionais,
em especial as de caráter técnico-científico. Pois é daí que provêm os que seguirão para o setor produtivo ou 
os que ainda continuarão seus estudos em nível de pós-graduação, a qual atende à produção e disseminação 
de pesquisa e desenvolvimento.
De modo geral (ver gráfico 3), as universidades públicas e os institutos tecnológicos federais e estaduais 
detêm maior proporção de conclusões de curso nas áreas de ciências físicas, biológicas e de agricultura. 
Historicamente também concentrada nestas instituições, a formação nas engenharias e em muitas das áreas 
de exatas já é mais concentrada no setor privado do que no setor público. Centros universitários e faculdades 
concentram a oferta de formação de educadores, bem como a de formação nas ciências sociais aplicadas 
e em humanidades.




O fato é que grande parte das conclusões de cursos de graduação ocorrem nessas últimas áreas, sendo ainda
minoritárias as conclusões nas chamadas áreas de hard science (exatas, biológicas, computação e engenharias), como se vê nas comparações internacionais exibidas na tabela 1.

t1


Quanto à formação avançada, especialmente na pós-graduação stricto sensu, não se podem fazer queixas
significativas. É quase como se os alicerces estivessem frágeis, mas a casa ostentasse um belo e sólido telhado.
Tem sido bem destacada a capacidade de produção do sistema brasileiro de pós-graduação, cujo indicador
básico – o de titulação anual de doutores – ultrapassa já a cifra dos 10 mil. O seu volume de atendimento 
alcança 85 mil estudantes no nível de mestrado e cerca de 50 mil no doutorado; além disso, os recém-instaurados mestrados profissionais atendem a mais de 8 mil estudantes a cada ano. Releva notar, ainda, o perfil das titulações por áreas de conhecimento, em que se destacam as de saúde e ciências agrárias – esta sempre associada à magnitude do sistema Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) –, e há uma boa expressão em engenharias e ciências da computação.

Contudo, é consenso que há muito ainda a avançar no campo da formação profissional especializada 
posterior à graduação, e este é um ponto crítico especialmente na transição de engenheiros do mundo 
acadêmico para o da produção. É um sintoma o fato de não haver sido implantado ainda um sistema que
permita registrar correntemente suas dimensões e características, embora se saiba que as próprias instituições
de ensino superior, e mais salientemente o sistema Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), vêm
atuando crescentemente nesta área.

FORMAÇÃO DE ENGENHEIROS NO BRASIL
Em 2009, foram oferecidas, em todas as instituições, 3,2 milhões de vagas em cursos de graduação, às quais 
concorreram 6,2 milhões de candidatos. Por áreas, a de ciências sociais foi a que recebeu mais candidatos – 
2,3 milhões – para seu 1,3 milhão de vagas. Seguiu-se-lhe a área de saúde. A área de engenharias foi a quarta em tamanho das candidaturas (777 mil), mas ofereceu o quinto maior volume de vagas. A tabela 2 permite comparar os graus de competição pelas vagas em cada área.




Um segundo indicador importante, também reportado na tabela 2, é o que reflete o grau de dificuldade
para entrar nos cursos de graduação: o da relação entre os ingressantes (aprovados nos vestibulares) e a
quantidade de concorrentes. Nas engenharias, pouco menos de um quarto dos candidatos logra ocupar uma
das vagas oferecidas. E é ainda mais difícil quando se trata de universidades, embora nesta área seja maior a
oferta neste tipo de instituição. Por isso, em geral, apenas metade das vagas são efetivamente ocupadas pelos
aprovados nos vestibulares.
É preciso registrar um duplo fenômeno nesse aspecto. De uma parte, o indicador de procura – candidatos
por vaga – pode ser limitado exatamente pela baixa expectativa de o candidato ser aprovado, principalmente
nos cursos oferecidos por universidades mais prestigiadas. Em seus vestibulares, são requeridas notas mais altas, especialmente em matemática e física, e estas matérias são justamente as que os alunos menos dominam ao final do ensino médio. Desse modo, candidatos procedentes de escolas com menores níveis de proficiência por vezes nem se arriscam a disputar vagas em engenharia, para não perderem tempo, preferindo deslocar-se para outras áreas e cursos. Além disso, os cursos de engenharia tendem a exigir mais tempo para estudo, notadamente nas etapas iniciais, o que contribui para afastar candidatos que precisam estudar e trabalhar e/ou que só conseguiriam ingressar em escolas menos seletivas, porém pagas.
Todavia, é animador observar que, nos anos mais recentes, não só a procura por cursos de engenharia, como também sua oferta, vêm quebrando tendências passadas e mostrando certa aceleração. Isto se percebe tanto nos indicadores de candidatos por vaga (tabela 2) quanto no aumento das candidaturas e das vagas (gráfico 4).




Deve-se observar, ademais, que os cursos de engenharia são conhecidos por seus elevados índices de evasão. Num cálculo aproximativo, um quinto de uma geração de ingressantes conclui um curso em dez semestres – se focalizadas apenas as universidades públicas, a proporção é um pouco menor. Nas engenharias, esta proporção cai para 15% da coorte inicial, tanto nas universidades como nos demais tipos de instituição. Sem embargo, em termos absolutos o número de concluintes dos cursos de engenharia tem se elevado significativamente nos últimos anos (gráfico 5).




Em resumo, é possível afirmar que o Brasil não está mal servido em suas estruturas de formação de engenheiros.
Certamente as dimensões destas estruturas parecem insuficientes para o porte da economia nacional, quando
comparadas com países que as vêm desenvolvendo desde o século XIX ou que, como a Coreia do Sul, realizaram um esforço ímpar de modernização produtiva nos anos recentes. Entretanto, não se pode desconhecer que seus limitantes se originam, principalmente, da consabida precariedade qualitativa da educação básica. Mesmo se for possível materialmente implantar novas unidades formadoras de boa qualidade – do nível daquelas que, como se verá na seção 5, têm sido responsáveis pela formação de parcela minoritária dos engenheiros que ingressaram no mercado de trabalho nos últimos anos –, não se encontrará facilmente quem possa ter acesso a elas e alcançar bom desempenho ao frequentá-las.

A QUALIDADE DOS ENGENHEIROS FORMADOS
Outro aspecto importante a considerar é o da proficiência acadêmica dos cursos que formam os engenheiros
brasileiros. Sem adotar uma postura pessimista, preocupa constatar que a maioria dos concluintes dos cursos da área de engenharias – avaliados pelo Enade, seja em 2005 seja em 2008 – obtiveram seu diploma em instituições tidas como de baixo desempenho. 
Entre os dois anos de avaliação dos cursos, o percentual de egressos oriundos dessas instituições oscilou de 
41,0% para 42,3%. Apesar de este dado indicar uma qualidade sofrível na formação de engenheiros no Brasil, o lado alentador da história é que a taxa de conclusões em instituições de alto desempenho nas engenharias cresceu 2 pontos percentuais entre 2005 e 2008 – e isto sobre uma base também maior. De todo modo, como se vê na tabela 3, menos de 30% do fluxo de novos engenheiros sai destas instituições.

t3


As universidades públicas constituem a maioria esmagadora do grupo que oferece cursos de alto
desempenho. A tabela 4 mostra, por um lado, que assim foi tanto em 2005 quanto em 2008. Por outro, porém, revela um dado interessante: os cursos oferecidos por instituições privadas de ensino superior aumentaram significativamente sua participação na formação de engenheiros de alto desempenho no Enade. É possível que este dado esteja a refletir uma adaptação de tais IES às exigências da avaliação oficial, mas, mesmo se isto for verdade, não tira o mérito de ter havido melhoria relativa deste tipo de instituição na formação de engenheiros mais qualificados.

t4


Esses indicadores sugerem que se faz necessário aprofundar o estudo das características dos cursos de
engenharias que figuram sistematicamente no estrato denominado de alto desempenho – e que poderão ser um guia mais seguro das políticas de incentivo à expansão e melhoria das formações nesta área. Afinal, conforme o quarto e o quinto ensaios desta edição do boletim  Radar, não é meramente a quantidade de oferta de diplomados em engenharia o determinante dos chamados gargalos de mão de obra no Brasil nos próximos anos.

CONSIDERAÇÃO FINAIS
Sempre se tem a pretensão de que, com alguns indicadores bem selecionados, se possa dar uma visão compreensiva e a mais simples e aclaradora possível de realidades que soem ser bastante complexas. É o caso aqui, quando é necessário mobilizar um sistema de educação superior do porte de que dispomos hoje, para dar conta das demandas emergentes – e, diga-se, não tão bem dimensionadas – que se expressam no debate cotidiano sob termos como “escassez”, “apagão” e semelhantes.
Os recortes aqui apresentados apontam, não casualmente, para um dos espaços preferenciais na busca de alternativas para uma boa calibragem de oferta e demanda de graduados em engenharias no médio prazo: as universidades públicas de melhor desempenho. E, na sua esteira, para os institutos tecnológicos federais e estaduais, que despontam como outro dos segmentos de educação de qualidade (SANTIAgO et al., 2008).
Este cenário básico geral – que se cinge às graduações – precisa ser complementado, oportunamente, por dois outros: o de estruturas que confiram maior eficácia à difícil transição do mundo escolar ou acadêmico para o mundo do trabalho; e o da formação de agentes de inovação que conectem a produção de conhecimento com o avanço das capacidades tecnológicas e competitivas do sistema produtivo.

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