Alta das commodities foi a principal razão para aumento dos preços no mundo
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, nesta terça-feira (26), que o governo deve usar todas as armas possíveis para combater a inflação no Brasil. “Não devemos poupar armas, sejam elas monetárias ou fiscais”, disse, durante a 37ª reunião ordinária do pleno do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), realizado no Palácio do Planalto, em Brasília.
Para Mantega, o controle da inflação é um ajuste importante num momento em que o mundo vive o que chamou de “surto inflacionário”. Ele deu exemplos de vários países com forte alta na inflação nos últimos 12 meses, como a China. Em março de 2011, a inflação chinesa registrou alta de 5,4%, contra 2,4% no mesmo mês em 2010.
“No Reino Unido, a inflação está subindo forte e na Rússia, também. Os Estados Unidos ainda não captaram a inflação do petróleo, mas a inflação já está subindo para mais de 4%", esclareceu.
Nesse contexto, destacou que o crescimento da inflação no Brasil é menor que em outros países. A inflação oficial brasileira, medida pelo IPCA, somou 6,3% em 12 meses até março, contra 5,2% no mesmo período de 2010. “Em matéria de inflação, o Brasil não está mal na foto mundial, de modo que conseguimos conter a inflação mais do que outros países”, declarou o ministro.
Durante o evento, que reuniu governo, setor privado, sindicatos e sociedade civil, Mantega apresentou uma análise das perspectivas para a economia brasileira em 2011, tendo como cenário comparativo a situação mundial.
“O Brasil superou a crise [de 2008] e agora temos que fazer ajustes para garantir a continuidade do crescimento sustentável nos próximos anos e para enfrentar os problemas nacionais e internacionais que se apresentam em 2011”, declarou Mantega.
A alta no preço das commodities (produtos com grande participação e cotação no mercado internacional) está entre esses problemas. O ministro apresentou dados que apontam aumento de 37,8% nos preços de todas commodities nos últimos 12 meses. As commodities alimentares foram as que apresentaram maior alta (43,2%) no mesmo período.
O choque de oferta desses produtos foi a razão principal dessa alta, aliada à crise no Oriente Médio e Norte da África, à especulação financeira e às políticas monetárias expansionistas de nações avançadas, como os Estados Unidos e países da Europa.
A preocupação está concentrada principalmente no petróleo, cujos preços atuais só se comparam aos da década de 70. O ministro não descartou, portanto, a possibilidade de crise no mercado do combustível.
“O petróleo é uma commodity importante, que influi nos preços da economia mundial e que tem a possibilidade de criar uma crise de energia com consequências para todos os países”, alertou.
Crescimento - Durante sua apresentação o ministro fez um relato sobre as ações de governo nos três primeiros meses, necessárias para manter o crescimento sustentável próximo de 5%.
A primeira delas é a consolidação fiscal, tendo como primeiro passo a reversão total dos estímulos concedidos nos dois últimos anos, como a redução de subsídios, a volta dos impostos que foram reduzidos na época da crise com a intenção de estimular o consumo.
Ele citou também o corte de R$ 50 bilhões nos gastos públicos para diminuir a demanda no setor, reconstituir a situação fiscal observada antes da crise e permitir a expansão do investimento, abrindo caminho para a redução do juro básico da economia.
O ministro salientou, no entanto, que esse processo não ocorrerá neste momento de alta na inflação. “Quando as condições forem adequadas e esse gasto se consolidar, teremos criado as condições para uma nova relação entre o fiscal e o monetário”, avaliou o ministro, indicando que, assim, o Banco Central poderá operar com juros mais baixos.
Superávit - A repercussão desse corte nas despesas já pode ser vista no resultado primário do Governo Central de março, divulgado hoje pela Secretaria do Tesouro Nacional.
No mês passado, conforme anunciou Mantega, o superávit foi de R$ 9,1 bilhões, contra um déficit de R$ 4,5 bilhões no terceiro mês do ano passado. A meta fiscal do governo também teve resultado expressivo no trimestre, com R$ 25,9 bilhões ante a meta de R$ 22,9 bilhões para o primeiro quadrimestre deste ano.
“Estamos cumprindo à risca esse corte de despesas estabelecido no começo do ano. Estamos cumprindo com folga as metas primárias”, comemorou o ministro.
Na composição de gastos do governo, a receita líquida teve um bom crescimento, na opinião do ministro, com alta de 17,7% nominal na comparação entre os primeiros trimestres de 2011 e 2010. As despesas tiveram queda de janeiro a março, de 19,3% (2010-2009) para 7,1% (2011-2010).
A receita líquida teve crescimento real 5,2% no acumulado do trimestre, acima do PIB nominal, contra –4,4% de variação nas despesas. “Isso mostra que estamos cumprindo a tese de que a despesa cresce menos do que o PIB. Essa é uma medida salutar”, concluiu Mantega, reforçando que o país é um dos que registram maior solidez fiscal no mundo.
Câmbio – Ao comentar sobre o atual cenário do mercado de câmbio, o ministro da Fazenda disse que há um "tsunami" de capital externo na economia brasileira.
De janeiro a março de 2011, o ingresso de dólares no país somou US$ 35,22 bilhões, ou 44,6% a mais que a entrada da moeda americana em todo ano passado (US$ 24,35 bilhões). Segundo ele, essa entrada de divisas tem resultado na baixa a cotação do dólar.
Mantega ressaltou que as medidas tomadas pelo governo, até o momento, foram importantes para conter a valorização do real. Sem elas, dólar já estaria abaixo de R$ 1,40, declarou o ministro.
Download da apresentação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante a 37ª Reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (26/04/11)
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