domingo, 1 de maio de 2011

O reflexo da pobreza

Autor(es): Ana Elisa Santana
Correio Braziliense - 30/04/2011
 

Em 132 mil lares, crianças de 10 a 14 anos são responsáveis pelo sustento da família, o que para o IBGE é a confirmação do trabalho infantil. No Nordeste, 80,3% das residências sobrevivem com um salário mínimo por mês


O Brasil tem, de acordo com os dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56,5 milhões de domicílios ocupados. E mais da metade deles — 32,2 milhões — vive com apenas um salário mínimo per capita ao mês. A triste realidade da baixa renda presente se mostra também em outros números, que são igualmente preocupantes apesar de estatisticamente pequenos se olhados de maneira proporcional. Em 132 mil lares brasileiros, número maior do que o de habitantes do Gama, os chefes de família são crianças de 10 a 14 anos. Outros 61 mil jovens, com idades entre 15 e 19 anos, aparecem nas estatísticas como responsáveis pelos domicílios onde moram.
No Nordeste, a renda de 80,3% das casas é de apenas R$ 545 mensais. A região, no entanto, é a que apresenta situação melhor quanto às casas sustentadas por crianças. A maior proporção aparece no Centro-Oeste, onde 0,26% dos lares é chefiado por menores de 14 anos. O Distrito Federal fica acima da média nacional, de 0,22%, e aparece em 8º lugar no país, com 2.026 das 774.922 casas com responsáveis de até 14 anos (veja quadro acima).
A partir dos 16
Entre os estados, Amapá e Amazonas são as que têm situação mais preocupante, mesmo com números absolutos baixos. São 582 e 2.906 domicílios nestas condições, respectivamente. O equivalente a 0,37% e 0,36% do total. Segundo o presidente do IBGE, apesar dos valores proporcionais serem baixos, o Censo 2010 indica que pelo menos 132 mil crianças trabalham de forma irregular no país. “É mais uma evidência da existência do trabalho infantil, e que em muitas famílias é a principal fonte de renda”, afirma Eduardo Pereira Nunes.
A Constituição de 1988 admite o trabalho a partir dos 16 anos, exceto nos casos em que o ofício é exercido no período da noite, em situações perigosas ou insalubres, quando a idade mínima passa a ser 18 anos. É possível trabalhar ao completar 14 anos, mas apenas na condição de aprendiz.
Pelo país
    * Em todo o Brasil, 132.033 domicílios são chefiados por crianças de 10 a 14 anos. Representam 0,22% do total nacional de lares (57.428.017)

    * Proporcionalmente, o Amapá é a unidade da Federação que tem o maior quantidade de crianças no comando dos lares. São 582 residências. Ou seja, 0,37% das 156.818 dos imóveis amapaenses.

    * O Distrito Federal aparece em 8º lugar no ranking dos lares chefiados por crianças. Está acima da média nacional. Por aqui, são 2.026 casas sustentadas por pessoas com até 14 anos, o representa 0,26% do total de 774.922 residências brasilienses.

    * Já o Piauí é a unidade de Federação que, proporcionalmente, tem a menor quantidade de lares comandados por crianças. São 1.055 residências — 0,12% do total.

Sem esgoto e sem coleta de lixo

Autor(es): Edson Luiz
Correio Braziliense - 30/04/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/30/sem-esgoto-e-sem-coleta-de-lixo
 

Apesar do crescimento do acesso da população aos serviços básicos, o número de pessoas que não tem nenhum tipo de atendimento é grande no Brasil. Segundo os dados do Censo 2010, das 57.324.185 de residências no país, 3.562.671 (6,2%) não tinham banheiros, enquanto outras 7.218.693 (12,5%) não contam com a coleta de lixo regular. O Distrito Federal ficou com os melhores índices entre todas as unidades da Federação, mas os números do IBGE mostraram que o problema ainda existe, apesar de ter diminuído nos últimos 10 anos.
Os números do IBGE também apontaram que 728.512 casas não contam com energia elétrica e, em outras 9.830.741 não há abastecimento de água. Rondônia ficou os menores índices de domicílios com rede de distribuição de água: 38%, um aumento de 8% em relação ao Censo de 2000. O melhor número é do DF, que tem 95,11% das residências com rede de água e 99.91% de esgoto. Além do Distrito Federal, todos os estados do Centro-Oeste ficaram nas primeiras colocações em relação aos serviços básicos.
Mas os dados mostram que o DF ainda tem problemas no atendimento básico. Quem mora principalmente na periferia de Brasília ou no Entorno do Distrito Federal sente ainda mais a falta dos serviços. Nos finais da tarde, o passatempo de Griziela Rodrigues dos Santos é assistir uma partida de futebol dos filhos e de outras crianças em uma das ruas da Estrutural. Grávida, ela deixou de coletar material reciclável para ficar em sua casa, localizada em uma rua sem calçamento, com coleta de lixo precária e com esgotos a céu aberto, onde os meninos praticam esporte. Para sair de casa, Gerson dos Santos usa seu instrumento de trabalho, que é a carroça. Sua rua, também na Estrutural, fica cheia de lixo que não é recolhido. “Lá não tem nem fossa”, diz Gerson, revelando que quando o lixo acumula, ele mesmo joga fora.
Gerson reclama da falta de coleta de lixo na Estrutural: "Não tem nem fossa"
Cota dos vizinhos
No condomínio Sol Nascente, na Ceilândia, os problemas são os mesmos de 25.538.131 moradias em todo o país, que não têm rede de esgotamento sanitário. Isso corresponde a 55.45% das residências brasileiras, que é 7% a mais do que no Censo de 2000. “Aqui não tem esgoto, só a promessa de que um dia teremos”, afirma Edmilson Carlos Hertel, um dos mais antigos moradores do condomínio. Assim como em outros lugares do DF, a coleta de lixo existe, mas de forma precária. Para evitar que o lixo acumule em casa à espera do caminhão os vizinhos fizeram uma cota e fabricaram uma lixeira coletiva.
Os estados da Região Norte são os que mais apresentam problemas em relação aos serviços básicos, segundo o Censo 2010 do IBGE. Na questão do saneamento básico, apenas 13,98% dos 3.975.533 domicílios são atendidos por este tipo de serviço. Apesar de o crescimento das residências no Norte nos últimos 10 anos ter sido de 6,75%, a melhoria do saneamento avançou apenas 3,64%. A mesma situação ocorreu no Nordeste, que teve um crescimento de domicílios de 13,07% e aumento do saneamento básico de 7,5% em relação ao Censo 2000.

190 milhões em um retrato

Autor(es): Débora Álvares e Renata Mariz
Correio Braziliense - 30/04/2011
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/30/190-milhoes-em-um-retrato
 

Brasileiro. Um povo, segundo o IBGE, que cresceu 12% em 10 anos - no DF, o o avanço foi o dobro -, envelheceu, criou coragem para enfrentar preconceitos, mas ainda enfrenta problemas estruturais, como o trabalho infantil e o analfabetismo


Uma população 12,48% maior que há 10 anos, na maioria mulheres, cada dia mais velha e com famílias cada vez menores. Eis a realidade brasileira retratada no Censo 2010, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Brasil passou de 169,5 milhões de habitantes, registrados no levantamento de 2000, para 190,7 milhões. Apesar do crescimento significativo da população em quase 140 anos — o primeiro recenseamento foi realizado em 1872, quando éramos 10.112.061—, foi registrado um crescimento médio anual de 1,17% — a menor taxa observada desde que começou a pesquisa domiciliar.
Na contramão da tendência está o Distrito Federal, que ficou na casa dos 2,28% no quesito aumento do número de habitantes. Do levantamento de 2000 para o do ano passado, o número de moradores na capital federal pulou de 2 milhões para 2,5 milhões, fazendo com que Brasília saísse do sexto para o quarto lugar no ranking de municípios mais populosos do país.
Para Sonia Baena Maciel, da Supervisão de Disseminação de Informações do IBGE, a alta taxa de crescimento da população na capital do país está relacionada ao poder de atração que o local mantém. “O DF continua sendo um polo para onde vêm pessoas em busca de emprego, de saúde, de oportunidades melhores de vida”, afirma a especialista. Ela destaca também que, mantido o ritmo atual, no próximo Censo, a ser realizado em 2020, Brasília subirá uma posição na escala dos populosos, ocupando o lugar que atualmente é de Salvador.
Histórias como a da gaúcha Renata Zortea Fadanelli, 29 anos, ilustram bem o inchaço enfrentado pela capital. Cansada de trabalhar em agências bancárias em seu estado de origem, a economista mudou-se para Brasília há cerca de um ano, transferida para a Fundação Banco do Brasil, onde exerce funções na área financeira. Apesar de morar sozinha e sentir falta da família, Renata diz gostar da cidade. “A qualidade de vida aqui se equipara com a de Porto Alegre. As pessoas são legais, estou adorando”, destaca a jovem, que reclama apenas da dificuldade de encontrar locais que toquem rock na “capital do rock”.
A Região Sul, de Renata, foi a que menos teve aumento populacional, com taxa de 0,87%, influenciada pelas baixas no Paraná (0,89%) e no Rio Grande do Sul (0.49%), o estado que menos cresceu anualmente nestes 10 anos e passou a ocupar a 15ª posição no ranking das unidades da Federação mais populosas. Nas regiões Norte e Centro-Oeste, houve os maiores incrementos na quantidade de habitantes. O Amapá saiu na frente, com 40,7% — passou de 475,8 mil, em 2000, para 669,5 mil. Palmas foi a capital com o maior índice de crescimento anual de moradores: 5,2%, em 10 anos. Segundo o IBGE, o avanço, como no caso do DF, é impulsionado pela migração.
Muita gente
O termo populoso significa de população densa, onde há muitos habitantes. Quando se fala em povoamento, refere-se à densidade demográfica (divisão da quantidade de habitantes por área ocupada). Devido à extensão territorial brasileira, o país é considerado populoso, mas pouco povoado. Ou seja, com baixa densidade demográfica.

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