Grupo El Tejar, que se instalou em Mato Grosso há oito anos, colheu 17% mais que o brasileiro Eraí Maggi Scheffer
Empresa conta com 150 hectares próprios e um volume equivalente em terras arrendadas; há outros grupos no país
GUSTAVO HENNEMANN
DE SÃO PAULO
Oito anos após se instalar em Mato Grosso, o grupo argentino El Tejar se transformou no maior produtor de soja em terras brasileiras.
Na última safra, colheu 673 mil toneladas do grão em 220 mil hectares plantados no Brasil e passou o então "rei da soja" Eraí Maggi Scheffer, do grupo Bom Futuro.
O brasileiro colheu 577,5 mil toneladas, 14% a menos que os novos líderes.
Em dois anos, o El Tejar duplicou seu volume de produção em fazendas espalhadas pelo Estado de Mato Grosso, onde detém 150 mil hectares próprios e arrenda um volume equivalente.
Fundado em 1987 por produtores familiares do interior da Província de Buenos Aires, o grupo atua, além da Argentina, também no Uruguai e na Bolívia.
No Brasil, o grupo argentino chegou em 2003, quando montou a sede em Primavera do Leste (240 km de Cuiabá).
Foi atraído pelo "clima privilegiado" do Centro-Oeste.
O Brasil hoje representa de 35% a 40% da área total plantada pelo El Tejar.
O grupo opera com um modelo de arrendamento no qual os donos da terra compartilham riscos e lucros.
Considerada uma empresa "discreta" por analistas argentinos, o grupo se define como um "gestor da atividade agrícola", que fornece tecnologia e informações aos parceiros para "ampliar a própria escala de produção".
A expansão do grupo -que se transformou em sociedade anônima- é impulsionada por fundos de investimento estrangeiros, que detêm 53% da ações.
Os sócios fundadores continuam com pouco mais de 40%. Uma abertura do capital na Bolsa de Valores de Nova York ou de São Paulo é analisada.
OUTROS PRODUTORES
O novo "rei da soja" não é o único grupo argentino que expande sua área de produção no Brasil.
O Los Grobo, que chegou ao país em 2008 para cultivar terras do "Mapito" -região que abrange fronteiras agrícolas de Maranhão, Piauí e Tocantins- agora avança no Centro-Oeste.
Já a MSU, empresa familiar com origem na Província de Santa Fe, produziu 73 mil toneladas de soja na Bahia e em Mato Grosso do Sul na última safra.
O grupo, que também tem um fundo estrangeiro como acionista, chegou ao Brasil em 2007.
MIGRAÇÃO
Segundo o professor do GV Agro (centro de pesquisa em agronegócios da FGV) Paulo Furquim de Azevedo, os argentinos começaram a chegar ao Brasil na última década para fugir de um ambiente "desfavorável e incerto" .
Esse clima ruim para o agronegócio, segundo Azevedo, foi criado nos governos de Néstor e Cristina Kirchner.
"A estabilidade das regras do jogo no Brasil, em relação ao país vizinho, premiam os investimentos agrícolas. O Estado brasileiro intervém menos e não eleva as tarifas de exportação como lá."
Na Argentina, o governo fica com um terço da renda das exportações de soja.
Já a gerente de agroenergia da Informa Economics FNP, Jacqueline Bierhals, afirma que os grupos argentinos são atraídos pelos preços das terras no Brasil.
Aqui, as terras ainda são relativamente baratas, uma vez que no país vizinho resta pouca área disponível.
Procurado pela reportagem, o grupo Bom Futuro, de Eraí Maggi, disse que os representantes não se encontravam para comentar a redução da área plantada com soja na safra passada.
Grupo Maggi vai plantar na Argentina
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2108201105.htm
Conglomerado brasileiro arrendou 5.000 hectares no país vizinho e começará a produzir na próxima safra
Custo operacional menor e facilidade logística para exportar são as principais vantagens apontadas
DE SÃO PAULO
Enquanto empresas da Argentina ganham espaço na produção agrícola brasileira, o Grupo André Maggi, que tem como sócio o senador Blairo Maggi (PR-MT), faz o caminho inverso.
Começará a produzir soja em 5.000 hectares arrendados no país vizinho a partir da próxima safra.
O grupo, que tem sede em Rondonópolis (218 km de Cuiabá, MT), afirma que os principais atrativos da Argentina são os menores custos operacionais e a facilidade logística para exportar.
Além de oferecer solos que demandam menor investimento em fertilizantes e defensivos, o país vizinho exige deslocamentos menores até os portos.
A distância média é de 300 km, enquanto no Brasil pode chegar a 2.000 km.
Essas vantagens, no entanto, são anuladas pelo alto preço de arrendamentos e pela tributação argentina.
Segundo o grupo brasileiro, com tudo somado, "os custos [finais nos dois países] acabam se equivalendo".
ESCALA
O Grupo André Maggi não dá detalhes do novo projeto, mas, para Paulo Furquim de Azevedo, do GV Agro, trata-se de uma estratégia para ganhar escala e reduzir riscos.
"Eles colocam o pé em outra canoa. Lá, os riscos climáticos são diferentes dos do Centro-Oeste brasileiro."
Para Jacqueline Bierhals, da Informa Economics FNP, os brasileiros podem estar focando mais na produção de derivados de soja.
Isso porque a Argentina é "supereficiente" no processamento do grão para transformá-lo em óleo, farelo ou biodiesel.
"As unidades de beneficiamento estão na boca do porto, [a produção] sai de dentro da indústria direto para os navios", diz Jacqueline.
O processo de internacionalização do Grupo André Maggi começou em 2008, com a abertura de um escritório na Holanda.
Em 2010, a empresa brasileira instalou-se em Buenos Aires e, desde abril deste ano, comercializa soja argentina com os mercados europeu e asiático. (GH)
Nenhum comentário:
Postar um comentário